Presidente põe o dedo nas feridas
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, demonstrou,
ontem, que a sua política de transparência (que devolveu a voz à sociedade do
seu país), conhecida pela palavra russa “glasnost”, deve valer não somente para
a cidadania, mas, e principalmente, para o Partido Comunista, que sempre
pretendeu um “status”de representante do povo, mas que em 72 anos somente
trouxe frustrações ao cidadão comum.
Na abertura do fundamental 28º
Congresso partidário, foi o senhor absoluto da situação. Colocou o dedo bem
cima das mais doloridas “feridas” do país, apontando os culpados e
ridicularizando os que querem atribuir todas as mazelas nacionais às suas
reformas, que se propõem, exatamente, a sanar esses males.
Advertiu que as paixões menores,
o fanatismo ideológico inconseqüente e os mesquinhos interesses pessoais têm
que ser deixados de lado, por terem “enojado” a população. Gorbachev mostrou,
sobretudo, ter domínio da situação. Deu uma exibição do seu magní9fico poder de
convencimento, cuja base é a sinceridade que sempre mostrou em seus
pronunciamentos.
É claro que num primeiro dia de
um encontro de tamanha importância, programado para ter uma duração de dez, é
absolutamente impossível dizer qual deverá ser o resultado final. Todavia, os
adversários declarados da Perestroika, os acomodados burocratas que não se
preocupam com quem quer que seja, a não ser com seus próprios protegidos, por
razões óbvias, sentiram que a “parada” não será tão fácil quanto imaginaram.
Mesmo contando com esmagadora
maioria dos delegados, os conservadores terão que fazer muito mais do que meras
críticas à situação do país (que o mais alienado dos cidadãos soviéticos sabe o
quanto é grave) e atribuir tudo isso, sem nenhuma prova, ao atual presidente,
para conseguir o seu afastamento.
Dos 72 anos de existência do
regime comunista, essa facção ocupou o poder por 67. E o que fez? Arrebentou a
economia do país, transformando-o num “Estado de segunda classe”, como
Gorbachev frisou ontem em seu discurso.
Descuidou do solo, dos rios, das
florestas e principalmente do bem estar do povo, em busca de uma miragem, da
implantação desse sistema no mundo inteiro, como se ele fosse a panacéia para
todos os males planetários.
Isolou a nação da comunidade
internacional, no que diz respeito ao intercâmbio comercial pacífico, a
transformando numa superpotência no campo militar, mas numa sociedade arcaica e
retrógrada nos aspectos econômico e social.
Se os conservadores cumprirem as
ameaças feitas nos dias que precederam o 28º Congresso, entre as quais a de
afastar Gorbachev, conseguirão somente uma coisa, com toda a certeza: uma
irremediável divisão partidária, meio caminho para o suicídio político.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 3
de julho de 1990).
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