Sunday, December 13, 2015

Presidente põe o dedo nas feridas


Pedro J. Bondaczuk


O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, demonstrou, ontem, que a sua política de transparência (que devolveu a voz à sociedade do seu país), conhecida pela palavra russa “glasnost”, deve valer não somente para a cidadania, mas, e principalmente, para o Partido Comunista, que sempre pretendeu um “status”de representante do povo, mas que em 72 anos somente trouxe frustrações ao cidadão comum.

Na abertura do fundamental 28º Congresso partidário, foi o senhor absoluto da situação. Colocou o dedo bem cima das mais doloridas “feridas” do país, apontando os culpados e ridicularizando os que querem atribuir todas as mazelas nacionais às suas reformas, que se propõem, exatamente, a sanar esses males.

Advertiu que as paixões menores, o fanatismo ideológico inconseqüente e os mesquinhos interesses pessoais têm que ser deixados de lado, por terem “enojado” a população. Gorbachev mostrou, sobretudo, ter domínio da situação. Deu uma exibição do seu magní9fico poder de convencimento, cuja base é a sinceridade que sempre mostrou em seus pronunciamentos.

É claro que num primeiro dia de um encontro de tamanha importância, programado para ter uma duração de dez, é absolutamente impossível dizer qual deverá ser o resultado final. Todavia, os adversários declarados da Perestroika, os acomodados burocratas que não se preocupam com quem quer que seja, a não ser com seus próprios protegidos, por razões óbvias, sentiram que a “parada” não será tão fácil quanto imaginaram.

Mesmo contando com esmagadora maioria dos delegados, os conservadores terão que fazer muito mais do que meras críticas à situação do país (que o mais alienado dos cidadãos soviéticos sabe o quanto é grave) e atribuir tudo isso, sem nenhuma prova, ao atual presidente, para conseguir o seu afastamento.

Dos 72 anos de existência do regime comunista, essa facção ocupou o poder por 67. E o que fez? Arrebentou a economia do país, transformando-o num “Estado de segunda classe”, como Gorbachev frisou ontem em seu discurso.

Descuidou do solo, dos rios, das florestas e principalmente do bem estar do povo, em busca de uma miragem, da implantação desse sistema no mundo inteiro, como se ele fosse a panacéia para todos os males planetários.

Isolou a nação da comunidade internacional, no que diz respeito ao intercâmbio comercial pacífico, a transformando numa superpotência no campo militar, mas numa sociedade arcaica e retrógrada nos aspectos econômico e social.

Se os conservadores cumprirem as ameaças feitas nos dias que precederam o 28º Congresso, entre as quais a de afastar Gorbachev, conseguirão somente uma coisa, com toda a certeza: uma irremediável divisão partidária, meio caminho para o suicídio político.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 3 de julho de 1990).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk     

No comments: