Limites da força
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente norte-americano Ronald Reagan está passando,
desde sexta-feira (guardadas as devidas proporções), com o seqüestro do Boeing
727 da TWA feito por muçulmanos xiitas, o mesmo tipo de problema que Jimmy Carter
teve que enfrentar em 1980, no affaire da detenção de 53 reféns dos EUA em
Teerã, pelos fundamentalistas iranianos.
Aquele caso, entretanto, foi
muito mais complicado e longo (embora não se saiba quanto tempo o atual pode
durar). Começou em 4 de novembro de 1979, quando a embaixada norte-americana
foi ocupada, numa Teerã em plena efervescência revolucionária. E só terminou
444 dias depois, a 20 de janeiro de 1981, dia exato da posse de Reagan na Casa
Branca.
Naquela oportunidade, o caso dos
reféns acabou sendo fatal para as pretensões de Jimmy Carter à reeleição. Seu
opositor, na cômoda condição de pedra, e não de vidraça, esmagou o oponente nas
urnas, explorando sua incompetência em solucionar um problema que sempre
preocupou os norte-americanos.
Muitos analistas afirmam que o
aiatolá Khomeini agiu assim deliberadamente (retendo os reféns durante toda a
campanha presidencial) com o objetivo de punir o ex-presidente democrata, por
ele ter acolhido o ex-xá Rheza Pahlevi, acometido de câncer e, virtualmente,
moribundo.
Em outubro de 1980, poucos dias
antes das eleições, Reagan chegou a encostar Carter, publicamente, contra a
parede, durante um debate transmitido pela TV dos EUA para várias partes do
mundo (inclusive para o Brasil). Exigiu que o então presidente explicasse para
o eleitorado o que estava fazendo para conseguir a libertação dos 53 reféns. E
Carter, não tendo como justificar que a maior superpotência do Planeta
estivesse se curvando ante um bando de fanáticos, num país caótico e
desorganizado, só pôde balbuciar desenxabidas desculpas.
Como poderia explicar, por
exemplo, o fiasco incrível da desastrosa operação de resgate da Força Delta, em
abril de 1980, no deserto salgado iraniano de Tabas? A explicação era ainda
mais difícil quando se sabia que a frustrada tentativa de resgate tinha se dado
apenas seis meses após a outra superpotência haver colocado, em questão de
horas, com uma precisão fantástica, mais de cem mil homens no Afeganistão. Ali,
naquele debate, Jimmy Carter perdeu a reeleição. E, provavelmente, encerrou sua
carreira política.
Hoje, Ronald Reagan vê-se numa
situação parecida. Mais de trinta norte-americanos estão em mãos de fanáticos
(por coincidência, também xiitas), buscando chantagear a Casa Branca. Em 1980,
os estudantes fundamentalistas exigiam de Carter apenas que os EUA admitissem
seus “crimes no Irã”, durante o regime do antigo xá. Mas o presidente não se
submeteu.
A exigência atual é mais concreta
e muito mais difícil de atender. Não apenas por envolver uma questão de
princípios, em especial o de não negociar com terroristas, mas porque os xiitas
exigem a libertação de comparsas que nem mesmo estão em poder dos EUA.
Querem que 800 de seus
companheiros, encarcerados em Israel, sejam postos em liberdade. E que o mesmo
aconteça em relação a dois outros, prisioneiros na Espanha. Reagan, embora
possa influenciar os governos desses seus dois aliados, se sente duplamente
constrangido. E dificilmente aceitará esse tipo de solução.
Então, como resolver o impasse?
Intervindo no Líbano? De que adiantaria? Como ele pode saber onde estão os
reféns, após estes terem sido retirados do avião? Bombardeando Beirute, para
que inocentes pagassem juntamente com os devedores?
Seria contraproducente e
despertaria a ira internacional contra os EUA, que já não são, atualmente, um
primor de popularidade. O que fazer? Essa é uma situação em que a força do
forte acaba sendo, justamente, a sua fraqueza. Jimmy Carter que o diga...
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 18
de junho de 1985).
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