Tuesday, December 01, 2015

Limites da força



Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano Ronald Reagan está passando, desde sexta-feira (guardadas as devidas proporções), com o seqüestro do Boeing 727 da TWA feito por muçulmanos xiitas, o mesmo tipo de problema que Jimmy Carter teve que enfrentar em 1980, no affaire da detenção de 53 reféns dos EUA em Teerã, pelos fundamentalistas iranianos.

Aquele caso, entretanto, foi muito mais complicado e longo (embora não se saiba quanto tempo o atual pode durar). Começou em 4 de novembro de 1979, quando a embaixada norte-americana foi ocupada, numa Teerã em plena efervescência revolucionária. E só terminou 444 dias depois, a 20 de janeiro de 1981, dia exato da posse de Reagan na Casa Branca.

Naquela oportunidade, o caso dos reféns acabou sendo fatal para as pretensões de Jimmy Carter à reeleição. Seu opositor, na cômoda condição de pedra, e não de vidraça, esmagou o oponente nas urnas, explorando sua incompetência em solucionar um problema que sempre preocupou os norte-americanos.

Muitos analistas afirmam que o aiatolá Khomeini agiu assim deliberadamente (retendo os reféns durante toda a campanha presidencial) com o objetivo de punir o ex-presidente democrata, por ele ter acolhido o ex-xá Rheza Pahlevi, acometido de câncer e, virtualmente, moribundo.

Em outubro de 1980, poucos dias antes das eleições, Reagan chegou a encostar Carter, publicamente, contra a parede, durante um debate transmitido pela TV dos EUA para várias partes do mundo (inclusive para o Brasil). Exigiu que o então presidente explicasse para o eleitorado o que estava fazendo para conseguir a libertação dos 53 reféns. E Carter, não tendo como justificar que a maior superpotência do Planeta estivesse se curvando ante um bando de fanáticos, num país caótico e desorganizado, só pôde balbuciar desenxabidas desculpas.

Como poderia explicar, por exemplo, o fiasco incrível da desastrosa operação de resgate da Força Delta, em abril de 1980, no deserto salgado iraniano de Tabas? A explicação era ainda mais difícil quando se sabia que a frustrada tentativa de resgate tinha se dado apenas seis meses após a outra superpotência haver colocado, em questão de horas, com uma precisão fantástica, mais de cem mil homens no Afeganistão. Ali, naquele debate, Jimmy Carter perdeu a reeleição. E, provavelmente, encerrou sua carreira política.

Hoje, Ronald Reagan vê-se numa situação parecida. Mais de trinta norte-americanos estão em mãos de fanáticos (por coincidência, também xiitas), buscando chantagear a Casa Branca. Em 1980, os estudantes fundamentalistas exigiam de Carter apenas que os EUA admitissem seus “crimes no Irã”, durante o regime do antigo xá. Mas o presidente não se submeteu.

A exigência atual é mais concreta e muito mais difícil de atender. Não apenas por envolver uma questão de princípios, em especial o de não negociar com terroristas, mas porque os xiitas exigem a libertação de comparsas que nem mesmo estão em poder dos EUA.

Querem que 800 de seus companheiros, encarcerados em Israel, sejam postos em liberdade. E que o mesmo aconteça em relação a dois outros, prisioneiros na Espanha. Reagan, embora possa influenciar os governos desses seus dois aliados, se sente duplamente constrangido. E dificilmente aceitará esse tipo de solução.

Então, como resolver o impasse? Intervindo no Líbano? De que adiantaria? Como ele pode saber onde estão os reféns, após estes terem sido retirados do avião? Bombardeando Beirute, para que inocentes pagassem juntamente com os devedores?

Seria contraproducente e despertaria a ira internacional contra os EUA, que já não são, atualmente, um primor de popularidade. O que fazer? Essa é uma situação em que a força do forte acaba sendo, justamente, a sua fraqueza. Jimmy Carter que o diga...

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 18 de junho de 1985).


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