Wednesday, December 16, 2015

Crises tornam-se corriqueiras



Pedro J. Bondaczuk


A palavra que provavelmente mais foi usada no correr de toda a década de 1980, cujo final está a apenas 92 dias, foi “crise”. E situações críticas, quer no plano político, quer no econômico, quer no social e mesmo no moral (ou talvez principalmente neste), não faltaram.

“Pacotes” governamentais de medidas, por seu turno, objetivando consertaram essas questões, abundaram. E como abundaram! Todos, senão a maioria, redundaram em fracassos. A China, por exemplo, ensaiou a liberalização econômica, chegando até mesmo a abrir um esboço de Bolsa de Valores em Xangai. Em pouco tempo, se viu às voltas com o monstro da inflação e se recolheu. Bateu em retirada para o nicho confortável para seus burocratas da economia estatizada.

Agora é o Leste da Europa que procura saídas para o seu impasse. União Soviética, Polônia, Hungria e Iugoslávia, com estratégias diferentes, pelo menos em termos de graduação, desenvolvem projetos reformistas. Para o sucesso dessa empreitada, no entanto, requerem um aporte considerável de capitais.

Estes, se não forem próprios, mas tomados por empréstimo, tendem a trazer consigo ônus que muitas vezes findam por se tornar insuperáveis. Desenvolver-se às custas alheias pode redundar, na verdade, num retrocesso, na maioria dos casos, sem volta. Veja-se o que está ocorrendo no Terceiro Mundo, que se empolgou, na década de 70, com o “espírito humanitário” do chamado sistema financeiro internacional.

Naquele tempo, com um pouquinho só de conversa, qualquer governo de país da América Latina, África ou Ásia conseguiria “generosos” financiamentos para obras que nem sempre eram necessárias, ou pelo menos prioritárias. O choque do petróleo de 1974 havia acumulado capitais em excesso, tirados na maioria dos casos dos mesmos países que reivindicavam esses empréstimos (como o Brasil), que estavam ociosos.

Houve até bancos que induziram governos a se endividar, mesmo sem necessidade. E estes caíram direitinho na armadilha. Em pouco tempo, no entanto, os que foram vítimas do engodo, perceberam a bobagem que tinham feito. Mas já era tarde para retroceder.

Agora, são as sociedades marxistas que se vêm mostrando sobretudo desinformadas e que caminham para cair na mesmíssima “esparrela”. Ao invés de amealharem capitais mediante poupança interna, querem recuperar séculos de erros em alguns poucos anos. Mas por caminhos equivocados, que já se mostraram danosos para o Terceiro Mundo. Tomara que estejamos errados nessa nossa projeção.

Todavia, tudo indica que nos anos 90, a dívida externa vai continuar no topo da relação dos problemas mundiais, desta vez sufocando também o Leste europeu. E a palavra “crise” tende a continuar sendo a mais usada, em especial nos meios de comunicação de massas.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 30 de setembro de 1989).


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