Crises tornam-se corriqueiras
A palavra que provavelmente
mais foi usada no correr de toda a década de 1980, cujo final está a apenas 92
dias, foi “crise”. E situações críticas, quer no plano político, quer no
econômico, quer no social e mesmo no moral (ou talvez principalmente neste),
não faltaram.
“Pacotes”
governamentais de medidas, por seu turno, objetivando consertaram essas
questões, abundaram. E como abundaram! Todos, senão a maioria, redundaram em
fracassos. A China, por exemplo, ensaiou a liberalização econômica, chegando
até mesmo a abrir um esboço de Bolsa de Valores em Xangai. Em pouco tempo, se
viu às voltas com o monstro da inflação e se recolheu. Bateu em retirada para o
nicho confortável para seus burocratas da economia estatizada.
Agora
é o Leste da Europa que procura saídas para o seu impasse. União Soviética,
Polônia, Hungria e Iugoslávia, com estratégias diferentes, pelo menos em termos
de graduação, desenvolvem projetos reformistas. Para o sucesso dessa empreitada,
no entanto, requerem um aporte considerável de capitais.
Estes,
se não forem próprios, mas tomados por empréstimo, tendem a trazer consigo ônus
que muitas vezes findam por se tornar insuperáveis. Desenvolver-se às custas
alheias pode redundar, na verdade, num retrocesso, na maioria dos casos, sem
volta. Veja-se o que está ocorrendo no Terceiro Mundo, que se empolgou, na
década de 70, com o “espírito humanitário” do chamado sistema financeiro
internacional.
Naquele
tempo, com um pouquinho só de conversa, qualquer governo de país da América
Latina, África ou Ásia conseguiria “generosos” financiamentos para obras que
nem sempre eram necessárias, ou pelo menos prioritárias. O choque do petróleo
de 1974 havia acumulado capitais em excesso, tirados na maioria dos casos dos
mesmos países que reivindicavam esses empréstimos (como o Brasil), que estavam
ociosos.
Houve
até bancos que induziram governos a se endividar, mesmo sem necessidade. E
estes caíram direitinho na armadilha. Em pouco tempo, no entanto, os que foram
vítimas do engodo, perceberam a bobagem que tinham feito. Mas já era tarde para
retroceder.
Agora,
são as sociedades marxistas que se vêm mostrando sobretudo desinformadas e que
caminham para cair na mesmíssima “esparrela”. Ao invés de amealharem capitais
mediante poupança interna, querem recuperar séculos de erros em alguns poucos
anos. Mas por caminhos equivocados, que já se mostraram danosos para o Terceiro
Mundo. Tomara que estejamos errados nessa nossa projeção.
Todavia,
tudo indica que nos anos 90, a dívida externa vai continuar no topo da relação
dos problemas mundiais, desta vez sufocando também o Leste europeu. E a palavra
“crise” tende a continuar sendo a mais usada, em especial nos meios de
comunicação de massas.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 30 de setembro de
1989).
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