Crise penaliza
indústria editorial
Pedro
J. Bondaczuk
As crises econômicas,
com suas perversas conseqüências sociais, são todas, sem exceção, originadas
também (diria que principalmente) por conflitos políticos e não somente por
equívocos e incompetência administrativos, como se pensa. Entre os setores
afetados por elas, o mercado editorial é, invariavelmente, um dos mais
penalizados, porquanto ainda persiste a idéia burra de que livro é bem supérfluo, do qual se pode prescindir,
notadamente em ocasiões em que é preciso “apertar o cinto” para equilibrar
orçamentos, quer estatais, quer familiares. Obviamente que não é! Mas é o que
vem acontecendo ao longo de todo este tenso, polêmico, sombrio e conflituoso
2015, com perspectivas nada alentadoras para 2016.
Editoras e livrarias
vêem seus faturamentos minguarem e os que vivem de Literatura (“também” dela,
mas raramente “exclusivamente” dela) é que, ao fim e ao cabo, findam por
pagarem o pato. Suas oportunidades, que nunca foram fartas, se tornam
crescentemente menores, forçando-os a abortarem ou a adiarem potenciais
promissores projetos literários. Refiro-me aos escritores, tão desprotegidos
que sequer são considerados profissionais. A grande prejudicada será, óbvio, a
cultura nacional. Ou seja, será toda a sociedade, uns mais e outros menos. Não
entrarei no mérito sobre quais são os culpados pela atual crise econômica –
que, aliás, é internacional e que afeta até economias poderosíssimas como as da
China e dos Estados Unidos – já que este espaço não é o apropriado e adequado
para isso. Proponho-me, apenas, a fazer algumas reflexões residuais a propósito
dessas freqüentes e recorrentes dificuldades que são cíclicas, conforme
registra a própria História.
Crises econômicas
sempre afetaram todos os povos, impérios e países com conseqüências sociais e
políticas variáveis, conforme as formas como foram enfrentadas. Em alguns
casos, foram trágicas. Em tantos outros, foram mais amenas e pouco duradouras.
O poderosíssimo Império Romano, por exemplo, enfrentou diversas delas,
transferindo, porém, seu ônus para os países que submetia a poder de armas em suas conquistas militares, lhes cobrando
escorchantes tributos. Na Idade Média, poderosos reis recorriam a empréstimos,
raramente saldados, para financiar seus gastos irresponsáveis, nababescos e
perdulários. Enfim, não há uma única sociedade nacional que tenha ficado livre
de crises econômicas.
Em abril de 1993,
quando eu era editor de Economia do Correio Popular de Campinas, recebi, na
redação, a seguinte receita para a manutenção do desejável equilíbrio das
finanças de qualquer país: “O orçamento nacional deve ser equilibrado. As
dívidas públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser
moderada e controlada. Os pagamentos aos governos estrangeiros devem ser
reduzidos, se a nação não quiser ir à falência. As pessoas devem novamente
aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”. Essa prudente e sábia
receita não foi feita por nenhum célebre economista, digamos, ganhador do Prêmio
Nobel de Economia. Esta citação foi-me enviada à redação por um jovem estudante
secundarista da cidade, que se identificou, somente, como “Marcos”. Claro que
ele não foi seu ator e muito menos ex-ministros da Fazenda ou do Planejamento,
como Delfim Netto ou Roberto Campos, ou outro qualquer, dos atuais. Nem partiu
de qualquer membro deste governo ou dos passados ou de seus principais
opositores. Sequer é recente.
Essa “receita” para o
equilíbrio econômico de qualquer país é antiga, antiqüíssima. Data, para ser
exato, de 55 antes de Cristo. E é de autoria do tribuno e senador romano Marcus
Tulius Cícero. Apesar
da observação ter sido feita, portanto, há mais de dois milênios, como é atual
e como se encaixa, feito uma luva, à presente situação brasileira!!!!
Conclui-se que parte considerável da culpa de estarmos atravessando uma crise
como jamais o País enfrentou antes se deve ao fato de as nossas autoridades,
notadamente políticos, e não somente do governo central, mas de estados e de
municípios, repetirem erros milenares, primários, palmares, inconcebíveis para
administradores com um mínimo de competência e bom senso.
Dos setores que entendo
devam ser protegidos e estimulados, nesta época de “vacas magras”, o principal
é o da indústria editorial. Entre os “produtos” essenciais e indispensáveis à
sociedade, o livro é tão importante quanto é o alimento. Enquanto este nutre o
corpo, aquele nutre o espírito, possibilitando que se encontrem soluções
inteligentes e factíveis para o fim não só da crise econômica, mas de todas as
demais, incluindo e enfatizando, a ética e a da ignorância e obtusidade, que
estimulam a intolerância e a violência. É inconcebível que num país, como o
Brasil, com tamanhas deficiências na educação, a ferramenta que pode corrigir
essas distorções se torne cada vez mais cara e, portanto, rara. Tomara que o
escritor inglês, H. G. Wells, que afirmou, certa feita, que “a crise de hoje é
a anedota de amanhã”, esteja coberto de razão. Tomara!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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