Dumping externo
Pedro J. Bondaczuk
As
importações, em especial nos setores oligopolizados da economia brasileira, têm
servido para evitar abusos ainda maiores do que os normalmente cometidos em
termos de preços. Os produtos importados estabelecem uma sadia competição no
mercado, beneficiando os consumidores.
Mas
para que os produtores externos coloquem suas mercadorias à venda entre nós, de
formas a atrair compradores, é indispensável que respeitem tanto as normas
vigentes no Brasil quanto as regras internacionais, consagradas na chamada
Rodada Uruguaia do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), cujo acordo foi
firmado em abril passado, em Marrakesh. Nem sempre, todavia, isso acontece.
Se
é verdade que as importações tendem a estabilizar, quando não baixar, os
preços, é certo, também, que suprimem empregos no País. O expediente, portanto,
é algo que deve ser usado com parcimônia e muito critério.
As
empresas brasileiras prejudicadas, por outro lado, preparam-se para contra
atacar essa invasão num mercado que julgavam cativo. Encaminharam ao ministro
da Fazenda, Rubens Ricupero, um projeto de lei de comércio internacional, que
prevê maior rigor no combate a determinadas práticas de fabricantes
estrangeiros que são, não apenas condenáveis, do ponto de vista ético, como
contrárias aos princípios do acordo do Gatt. Uma delas, e a principal, é a
questão do dumping.
Muitos
desses exportadores vendem seus produtos a preços inferiores aos próprios
custos de produção. Como a economia não se confunde com benemerência, alguma
intenção têm esses dumpistas. E essa, certamente, não é nobre. E não é difícil
de se confundir qual seja. Pretendem, sobretudo, eliminar a concorrência,
impondo aos concorrentes prejuízos que muitas vezes acabam sendo insuportáveis
e os levam à bancarrota.
Trata-se,
pois, de prática condenável, capaz de enfraquecer e ameaçar a indústria
nacional. Por isso, o governo precisa de muito, muitíssimo critério ao
incentivar, por qualquer motivo que seja, as importações. O ideal seria a
inexistência de oiligopólios e que a competição se desenvolvesse em âmbito
interno, entre empresas brasileiras.
As
que fossem mais competentes, capazes de oferecer produtos de boa qualidade a
baixos preços, automaticamente conquistariam o mercado, até sem fazer muita
força. E sem que centenas ou milhares de trabalhadores se vissem privados dos
seus empregos.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 19 de julho de 1994).
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