Resgate da autoestima
Pedro J. Bondaczuk
A
Copa do Mundo conseguiu aquilo que políticos de várias tendências, campanhas
diversas e pregações de pessoas idealistas que ainda confiam nos destinos do
País ainda não conseguiram: unir os brasileiros em torno de um objetivo comum,
que é a busca do tetracampeonato. Isto é errado? Pode ser se servir para
mascarar os graves problemas que o Brasil possui.
Mas
achar que isso vai voltar a ocorrer agora em 1994 é duvidar da inteligência do
povo. Além disso, a realidade é tão brutal que, por mais que se queira, será
impossível nos alienarmos da miséria que nos cerca. Se houver risco nesse
sentido, bastará dar um passeio pelas ruas das grandes cidades para se retornar
à realidade.
Há,
contudo, um outro aspecto a considerar. Um eventual sucesso na Copa --- e estas
considerações estão sendo escritas antes da estréia da Seleção contra a Rússia
--- pode devolver ao brasileiro um pouco da autoestima que ele perdeu.
Tem
condições de reverter o derrotismo, esse complexo de inferioridade que nos
acompanhou ao longo de praticamente toda a nossa história e que nada construiu.
Quem faz esse tipo de pregação, o de que somos uns incompetentes, sim, é
pernicioso ao País.
Sob
o pretexto de evitarmos a alienação, abstraindo-nos de nossos problemas e
carências --- como se isso fosse possível a esta altura --- estamos nos
deixando, inocentemente, alienar e num sentido muito mais perverso. Aceitamos
(até inconscientemente) a perniciosa mensagem, às vezes sutil e outras
ostensiva, de que estamos fadados ao fracasso. De que nossos políticos são
todos corruptos, nossos empresários são gananciosos e que o melhor a fazer é
aplicar a tática do "cada um por si".
O
brasileiro, contudo, não é melhor nem pior do que qualquer outro povo. Talvez
seja um pouco imaturo, mas estamos ainda no processo de formação da nossa
nacionalidade. Vivemos a fase, sempre traumática, da auto-afirmação. E a
despeito das crises, dos tropeços e do caos social, se atentarmos para os fatos
com isenção e sem derrotismos, veremos que ainda assim progredimos em inúmeros
aspectos.
Falta
progredir no sentido da conscientização. Do exercício pleno do direito de
cidadania, que não consiste apenas em transferir nossos problemas para o
governo ou para quem quer que seja, mas em resolver as questões que nos afetam
e contribuir para a solução das que atingem nossos semelhantes.
Mesmo
se a Seleção não conquistar o tetra --- tomara que isso não ocorra --- o Brasil
é um dos seis únicos campeões do mundo de futebol, entre os mais de 180
filiados à Fifa. Somos, portanto, competentes em algo. Mesmo que esse algo se
restrinja a um mero esporte coletivo.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de junho de 1994).
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