O poeta e a natureza
Pedro
J. Bondaczuk
O homem é fruto da
natureza. Isso é ponto pacífico. Aliás, é afirmação que parece acaciana, de tão
óbvia. Todavia muitos (diria a maioria) não se dão conta dessa obviedade.
“Agridem”, de forma estúpida e irracional, esta que é sua matriz e, sobretudo,
nutriz, que os alimenta e assegura sua vida. O chamado Homo Sapiens age como se
fosse o único ser vivo que devesse ser levado em conta, desprezando as demais
8,7 milhões de espécies animais vivas, conhecidas (6,5 milhões terrestres e 2,2
milhões aquáticas), excluídos vírus e bactérias. Esse número estratosférico
está longe de ser definitivo, sendo atualizado, constantemente, face
descobertas praticamente diárias de novas espécies.
É verdade que o homem
leva considerável vantagem sobre esses “companheiros” na espaçonave Terra, que
singra o espaço rumo a um destino que não se conhece qual seja: conta com a
capacidade de entendimento, com a razão, com a chamada inteligência. Essa
característica, se lhe dá suposta vantagem, confere-lhe, em contrapartida, algo
que esse ser pensante parece não se dar conta: responsabilidade. Tem a
obrigação de proteger essa entidade abstrata que lhe assegura a vida e não
depredá-la, como faz há tempo, sobretudo de uns três séculos para cá, a partir
da tal Revolução Industrial.
Por isso, não se pode
deixar de dar razão ao teólogo, músico, filósofo, médico e humanista alemão
Albert Schweitzer (ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1952), quando afirmou: “O
mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza
antes de se dominarem a si mesmos”. É esse domínio sem responsabilidade, sem
estar preparado para tal, que tende a levar a espécie à extinção. Há, porém,
pessoas que se constituem em exceção a esse comportamento destrutivo,
predatório e irracional. São os poetas. Se não protegem a natureza, pelo menos
não a agridem. Pelo contrário, veneram-na. Fazem dela fonte de inspiração.
Tentam, com os recursos de que dispõem, conscientizar multidões.
Não me surpreendo,
portanto, que Harry Wiese tenha dedicado a maior parte do seu livro “IbirAMARes
e outros poemas” (Editora Nova Letra) a essa entidade que é a fonte de toda
vida. Destina a segunda das cinco vertentes temáticas desse precioso volume à
natureza, sob o título “Ecologia”. Em 18 inteligentes e sensíveis composições,
louva os rios, riachos e ribeirões de Ibirama, cidade à qual dedica seu livro,
além das montanhas que a circundam, da mata atlântica quase intocável ali, das
nuvens, das plantas, dos bichos, da chuva etc.etc.etc.
Desta vertente
temática, destaco o poema “IbirAMARes”, que dá título ao livro, que diz:
“Como
serpente resoluta,
Oh,
rio ligeiro,
Corres
sobre as pedras lisas
Transportando
divisas.
Tuas
águas rolantes sobre o pétreo chão
São
vestígios da longínqua nação,
Original.
Não
desanimes, não chores
São
ibiramares, irmão!
No
caminho das águas longas
Ainda
vistorias a metamorfose da flora monumental
E
dos vales e montanhas adjacentes.
Não
te constranjas, não te entristeças,
Tuas
lutas ibiramares,
São
cantares em construção.
O
murmúrio dos ventos
Da
Mirador gigante
Vem
da distância que isola
E
das montanhas circundantes,
São
ibiramares transmudados em cantares,
Oração.
O
meu povo
Nas
lutas progressistas,
Não
cultiva violências,
Constrói
castelos singulares,
Como
se fossem cantares.
Ah,
são ibiramares,
Com
perfeição”.
Como é essa Ibirama,
que Harry Wiese tanto ama? É uma dessas bucólicas cidadezinhas do interior
catarinense, situada no Vale do Itajaí, de cerca de vinte mil habitantes, que
em 8 de novembro completará 118 anos de fundação. Suas belezas naturais atraem
milhares de turistas anualmente, que se deliciam com sua luxuriante natureza.
Foi fundada por imigrantes italianos e, principalmente alemães, com economia
baseada na agricultura e nas indústrias têxteis e moveleiras. Ibirama é a prova
de que o homem pode conviver harmoniosamente com a natureza, auferindo de todos
os benefícios que ela lhe proporciona, sem depredá-la, emporcalhá-la e destruir
suas belezas que tanto encantam poetas, como o inspirado Harry Wiese. Faz jus,
portanto, ao significado do seu nome: “terra promissora”. Afinal, como
perguntou o filósofo francês Blaise Pascal, “o que é o homem na natureza?”. E,
em seguida, o sábio respondeu: “Um nada em relação ao infinito, um tudo em
relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo”. E não é?!!!
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