Saturday, December 05, 2015

País ingovernável



Pedro J. Bondaczuk


O endividamento público, conforme revelaram nesta semana os ministros do Planejamento, Paulo Haddad, e da Fazenda, Gustavo Krause, é superior a US$ 93 bilhões. É claro que o governo federal não dispõe de todos estes recursos, ou pelo menos de parte deles, para saldar este exorbitante débito.

Além disso, a Previdência Social, O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e outros órgãos e instituições ostentam elevados déficits. Caso não sejam encontradas soluções urgentes para tais problemas, é ingenuidade esperar um controle eficiente da inflação, trazendo as taxas para patamares “civilizados” --- mesmo em termos de Terceiro Mundo --- algo em torno de 7% a 8% mensais.

Da forma que está, nem é preciso ser economista ou técnico em administração para se concluir que o País é hoje virtualmente ingovernável. Não se trata de saber se o presidente em exercício, Itamar Franco, é lerdo ou não na tomada de decisões ou se vem se deixando levar por um certo populismo em questões de caráter social.

Caso não se encontre uma fórmula para a rolagem da dívida estatal, sem a necessidade de emitir títulos de curtíssimo prazo e que sejam atrativos ao público --- pagando juros exorbitantes --- ninguém, absolutamente ninguém terá condições de governar com eficiência e seriedade.

É até possível que a propalada reforma fiscal não seja o caminho certo para a correção das distorções existentes. De nada adianta aumentar a carga tributária se a já existente, que não é das menores, não vem sendo arrecadada, em função do altíssimo grau de sonegação.

Mas há que se tentar algo. Todavia, há uma questão que não sai da cabeça do leigo, que não faz muito ouvia a todo o instante falar de “milagre econômico” ou lia extensas matérias explicando como o País conseguia Ter um crescimento anual de 10% em seu Produto Interno Bruto. A pergunta que se faz é: por que o Brasil chegou a esta situação?

Onde estão os responsáveis por tanta incúria administrativa, por tamanha incompetência, pela ausência de probidade na condução dos negócios públicos? Afinal, com recessão ou sem ela, os brasileiros continuam trabalhando (e como!), riquezas seguem sendo geradas, e no entanto, as carências, ao invés de diminuírem, só aumentam.

O que está faltando para retomarmos (ou entrarmos se é que nunca estivemos nela) a trilha do desenvolvimento sustentado? Trabalho é que não é. Gente competente, em todos os setores, não falta. O País tem até de sobra profissionais criativos, a ponto de ser um dos grandes exportadores mundiais de mão de obra qualificada.

Parece que aquilo que está faltando é um pouco de senso de nacionalidade. A grande ausente da sociedade brasileira tem sido a solidariedade, a busca incessante do bem comum, o espírito de equipe, a visão de coletividade. Falta consciência aos homens públicos de que os cargos para os quais são guindados não são funções honoríficas, mas oportunidades que lhes são conferidas. É em busca desta consciência que a Nação se mobilizou no recente caso de impeachment do presidente Fernando Collor. O País não pode abrir mão dessa meta.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de novembro de 1992).


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