País ingovernável
Pedro J. Bondaczuk
O endividamento público,
conforme revelaram nesta semana os ministros do Planejamento, Paulo Haddad, e
da Fazenda, Gustavo Krause, é superior a US$ 93 bilhões. É claro que o governo
federal não dispõe de todos estes recursos, ou pelo menos de parte deles, para
saldar este exorbitante débito.
Além
disso, a Previdência Social, O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e outros
órgãos e instituições ostentam elevados déficits. Caso não sejam encontradas
soluções urgentes para tais problemas, é ingenuidade esperar um controle
eficiente da inflação, trazendo as taxas para patamares “civilizados” --- mesmo
em termos de Terceiro Mundo --- algo em torno de 7% a 8% mensais.
Da
forma que está, nem é preciso ser economista ou técnico em administração para
se concluir que o País é hoje virtualmente ingovernável. Não se trata de saber
se o presidente em exercício, Itamar Franco, é lerdo ou não na tomada de
decisões ou se vem se deixando levar por um certo populismo em questões de caráter
social.
Caso
não se encontre uma fórmula para a rolagem da dívida estatal, sem a necessidade
de emitir títulos de curtíssimo prazo e que sejam atrativos ao público ---
pagando juros exorbitantes --- ninguém, absolutamente ninguém terá condições de
governar com eficiência e seriedade.
É
até possível que a propalada reforma fiscal não seja o caminho certo para a
correção das distorções existentes. De nada adianta aumentar a carga tributária
se a já existente, que não é das menores, não vem sendo arrecadada, em função
do altíssimo grau de sonegação.
Mas
há que se tentar algo. Todavia, há uma questão que não sai da cabeça do leigo,
que não faz muito ouvia a todo o instante falar de “milagre econômico” ou lia
extensas matérias explicando como o País conseguia Ter um crescimento anual de
10% em seu Produto Interno Bruto. A pergunta que se faz é: por que o Brasil
chegou a esta situação?
Onde
estão os responsáveis por tanta incúria administrativa, por tamanha
incompetência, pela ausência de probidade na condução dos negócios públicos?
Afinal, com recessão ou sem ela, os brasileiros continuam trabalhando (e
como!), riquezas seguem sendo geradas, e no entanto, as carências, ao invés de
diminuírem, só aumentam.
O
que está faltando para retomarmos (ou entrarmos se é que nunca estivemos nela)
a trilha do desenvolvimento sustentado? Trabalho é que não é. Gente competente,
em todos os setores, não falta. O País tem até de sobra profissionais
criativos, a ponto de ser um dos grandes exportadores mundiais de mão de obra
qualificada.
Parece
que aquilo que está faltando é um pouco de senso de nacionalidade. A grande
ausente da sociedade brasileira tem sido a solidariedade, a busca incessante do
bem comum, o espírito de equipe, a visão de coletividade. Falta consciência aos
homens públicos de que os cargos para os quais são guindados não são funções
honoríficas, mas oportunidades que lhes são conferidas. É em busca desta
consciência que a Nação se mobilizou no recente caso de impeachment do
presidente Fernando Collor. O País não pode abrir mão dessa meta.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de novembro de 1992).
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