Tuesday, December 08, 2015

Cidadão comum não vê necessidade de guerra



Pedro J. Bondaczuk


A proximidade de uma guerra, que vai começar, oficialmente – embora não necessariamente num campo de batalha nessa data – a partir do primeiro minuto da quarta-feira, caso o presidente iraquiano, Saddam Hussein, não retire, total e incondicionalmente, suas tropas do Kuwait, está forçando as pessoas, em várias partes do mundo, a saírem da sua rotina para meditar sobre a necessidade e as implicações desse conflito.

Os apologistas do recurso militar para a solução de pendências estão tendo cada vez mais dificuldades para convencer os cidadãos da eficiência e da moralidade desse meio. É evidente, até para as mentes broncas, que matar nunca foi um ato nobre.

O homem, deste fim de milênio, a despeito da aparência de alienado que possui, tem muito maior consciência sobre asa questões mundiais e o jogo do poder, disputado na arena internacional, do que os seus predecessores do início do século. Ele sabe no que resultaram duas guerras mundiais.

Vivemos em plena era da comunicação. E a despeito dos instrumentos da informação poderem ser usados para manipular a opinião, especialmente das massas – Hitler já dizia que estas são “virgens histéricas, loucas para serem estupradas” –, o advento da televisão via satélite torna esse exercício cada vez mais difícil.

Um expert em propaganda política, como o nazista Goebbels, não teria muita chance, hoje em dia, diante do espírito crítico mais aguçado que existe, em especial entre as pessoas mais jovens. Muito do que se diz, ou do que se escreve, sobre a crise do Golfo Pérsico, traz a marca sutil – e às vezes ostensiva – dos interesses antagônicos em jogo.

A imprensa ocidental, por exemplo, pinta George Bush e as forças multinacionais estacionadas na Arábia Saudita como autênticos campeões da liberdade. Em contraposição, o iraquiano Saddam Hussein é descrito como um ditador sanguinário e cruel, terrível agressor, que, virtualmente, estuprou a nação kuwaitiana, matando cidadãos indiscriminadamente, pilhando a economia do emirado e ameaçando repetir a dose com a Arábia Saudita.

O interessante é que, há somente quatro anos, o presidente do Iraque era pintado, por esses mesmos meios de comunicação, como um político pragmático, um estrategista hábil e um homem elegante, que prestava um favor ao mundo ao conter o fanatismo dos sombrios aiatolás iranianos.

Sua invasão ao Kuwait foi, de fato, abominável. Por mais que tente, nunca conseguirá justificar este ato estúpido. Mas seria o homem contemporâneo tão burro a ponto de não conhecer outro meio de conter um estadista delinqüente, a não ser mediante uma guerra das proporções que se planeja no Golfo Pérsico?

Estariam os grandes “business men”, os artistas, os ecologistas, os idealistas e os que ainda crêem na sensatez humana dispostos a enterrar suas causas e ideais nas areias do deserto saudita?
       
(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 13 de janeiro de 1991)


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