Friday, July 31, 2015

Miguel de Cervantes, ao criar o Dom Quixote, seu emblemático personagem, certamente não pretendeu lhe emprestar o significado que ganhou ao longo do tempo. Sua intenção foi a de satirizar a figura dos cavaleiros andantes de então, que incendiavam a imaginação dos moços, pela coragem, hombridade, cortesia e vasto elenco de outras virtudes que, parece, estão cada vez mais escassas. E claro que conseguiu. Na verdade, foi além: criou um símbolo, um paradigma ou, quem sabe, um estereótipo de quem nutre algum ideal. Tanto que já existem palavras derivadas de Quixote, como “quixotear”, “quixotesco” e vai por aí afora.  Todo moço saudável, com boa formação ética e intelectual, nascido em lar que merece esse nome e que não seja (como infelizmente é a maioria no mundo) autêntica sucursal do inferno, tende a ser idealista, antes de se confrontar com a realidade. Sonha, por exemplo, com as três virtudes mais raras e escassas na sociedade: igualdade, solidariedade e fraternidade. Abraça causas que, aparentemente, têm essas bandeiras (nem sempre têm) e muitos jovens pagam com a vida por tamanha ousadia. Todavia, o tempo se encarrega de, em princípio, atenuar esse fogo interior e, finalmente, de apagá-lo. À medida que amadurecem, esses moços ousados e que se sentem invulneráveis, réplicas do Dom Quixote, cedem à realidade. Enquadram-se no “sistema”, assumem o “status quo” reinante e muitos deles chegam, até mesmo, ao extremo de combater com maior vigor o que um dia os mobilizou à luta.


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ONU só autoriza libertar Kuwait


Pedro J. Bondaczuk


O saudoso jornalista David Nasser afirmou, certa feita, num de seus comentários na extinta revista “O Cruzeiro” que “é difícil alguém saber se uma guerra é ou não necessária. Mas sabemos que todas as guerras são desnecessárias”.

A que está sendo travada no Golfo Pérsico, por conseqüência, também poderia (e deveria) ser evitada pela sua desnecessidade. As conseqüências desse conflito se farão sentir por muitos e muitos anos. A destruição do Iraque, por exemplo, tenderá a trazer desequilíbrios muito mais perigosos para a região do que as atuais ambições hegemônicas de Saddam Hussein. Isto, porém, é omitido.

Além disso, sob o pretexto de “estratégia de combate”, a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que autorizou o uso de força para libertar o Kuwait vem sendo usada de maneira distorcida pela coalizão anti-Bagdá, sem que o organismo se manifeste a respeito.

O desabafo feito por uma cidadã iraquiana, na semana passada, cujas palavras foram veiculadas para o mundo todo através da cadeia de televisão a cabo CNN, dos Estados Unidos, será uma das imagens marcantes desta guerra quando ela terminar.

Mostra que, ao contrário daquilo que ocorria tempos atrás, só mesmo os alienados, aqueles que se encontram na contramão da história, ainda acham que o recurso às armas solucione qualquer coisa. Hoje em dia fica cada vez mais difícil os propagandistas da “pax romana”, a dos cemitérios, convencerem quem quer que seja da justiça de suas teses.

Sua defesa do uso dos avanços tecnológicos financiados com os esforços de tantos para destruir cidades, extirpar vidas, impor situações, são como uma patética mensagem de um demente, um confuso discurso de algum paranóico, tão carente de lógica e sentido ela se mostra ser.

A referida cidadã iraquiana alertou para um fato que tem fugido da atenção dos “analistas”, engajados numa causa que não é a de defesa do ser humano (que é  concreto), mas de sistemas e de ideologias (que não passam de abstrações). Disse que a ONU autorizou a expulsão das tropas iraquianas do Kuwait e não a destruição de Bagdá e outras cidades do Iraque. E esta é a pura verdade.

Os políticos mostraram, no correr deste século, especialmente agora quando as notícias chegam aos lares das pessoas praticamente no instante em que os fatos ocorrem – quando se permite o trabalho abnegado dos que as reportam – sua absoluta incompetência.

A Alemanha conseguiu sua reunificação muito mais em virtude dos alemães orientais terem saído às ruas das grandes cidades para dar um basta ao comunismo, do que por decisões de estadistas do Oriente e do Ocidente. Os checos reconquistaram sua autonomia através da “Revolução de Veludo”, movida por seus cidadãos e não por seus parlamentares ou militares.

David Nasser foi extremamente oportuno quando ressaltou: “A única forma de manter o mundo de liberdade em que vivemos não será o silêncio mas o grito. Nós vamos ganhar a batalha democrática no grito”. Serão pessoas, e não sistemas, que irão implantar uma nova ordem mundial, em que as guerras serão consideradas o que de fato são: crimes contra a humanidade.

(Artigo publicado na página 15, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 5 de fevereiro de 1991).
  

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A crítica que vale a pena

Pedro J. Bondaczuk

A crítica, seja lá a o que e a quem for – a uma pessoa, uma ideologia, uma situação qualquer, uma pintura, um livro etc.etc.etc. – é, antes e acima de tudo, ato de coragem. Sobretudo se quem critica o faz assiduamente. Ou seja, se a torna atividade profissional. Quem faz essa opção tem que ter nervos e estômago fortes. Deve estar consciente (e geralmente está) que fará muitos desafetos (para não dizer, inconciliáveis inimigos). No fundo, no fundo, ninguém gosta de ser criticado, mesmo que diga o contrário ou que tenha plena consciência de que o mereça (o que, certamente, não revela a ninguém). Mais complicado ainda é criticar artistas de qualquer arte, cuja característica principal (salvo raríssimas exceções) é a vaidade, posto que em graus de intensidade dos mais variáveis. Alguns são vaidosos ao extremo. Outros nem tanto. Mas todos, em certa medida, o são.

É errado ter orgulho do que se é ou do que se faz? Depende! Se não se incorrer em exagero, entendo que não. Defendo a postura do indivíduo que raciocina da seguinte maneira: “Fulano, Sicrano e Beltrano são bons, mas também sou”. Claro, se for de fato. Isso é mais do que mera vaidade. É autoconfiança. Em contrapartida condeno quem se ache o suprassumo da excelência, aquele que considere que ninguém pode sequer igualá-lo, quanto mais superá-lo. Há muita gente assim e, por estranho que pareça, quase sempre são pessoas que podem ser tudo, menos excelentes. Não são sequer competentes. Dá para se prever no que essa vaidade exacerbada irá resultar, não é mesmo? Mais cedo ou mais tarde, as circunstâncias acabarão esfregando no nariz desses vaidosos extremados a verdade nua e crua. A decepção será tão grande, que provavelmente irão recorrer ao álcool e/ou às drogas na tentativa vã de minorar o que poderia ser evitado com um tiquinho só de autocrítica honesta e sensata.

Não se pode colocar todo e qualquer tipo de crítica num mesmo e único balaio. Depende, por exemplo, de quem critica e de a o que tem restrições. E, principalmente, de como o faz. O pressuposto mínimo que o bom senso exige é o de que o crítico tenha conhecimento de causa do que se propõe a criticar. Se não tiver... ficará claro que sua intenção é a de somente ofender. Correrá, todavia, o risco de cair em ridículo (e dificilmente escapará disso), caso quem ou o que critique não seja criticável. Outra condição é que fundamente sua avaliação. Não deve, pois, criticar tendo por parâmetro exclusivamente o gosto pessoal, na base do “não gostei”, ou do “gostei”. E no caso de não gostar daquilo que está criticando (e nem toda a crítica que se preze é, ou tem que ser necessariamente negativa), aponte as razões objetivas para desgostar ou para gostar. Que mostre as falhas ostensivas, se for o caso de fazer restrições, até para que o autor da obra criticada repare o erro (caso ainda for possível a reparação).

Atendidos esses pressupostos, vem a parte mais importante de tudo: o “como” criticar. Qual a linguagem a ser utilizada? Se você tiver restrições a fazer a uma obra (ou a uma ideologia, uma causa, uma pessoa etc. não importa), e se for instado a emitir opinião a propósito, profissionalmente ou não (muitas vezes nem é), não precisa, por isso, recorrer a termos ofensivos, chulos, e muito menos a ostensivos xingamentos. Sua crítica terá muito mais força e credibilidade se feita de forma educada, respeitosa, ponderada e inteligente. A menos que você queira desafiar o criticado para uma briga, o que será outra coisa e terá que arcar com as consequências.

Alguns recorrem à ironia, achando que não irão ofender o criticado. Depende. Este não é recurso para “amadores”. Exige talento de quem o utiliza, pois é muito fácil, facílimo, descambar-se para a mordacidade e o deboche, que equivalem a dizer ou a escrever impropérios, posto que não dos “cabeludos”, já que em linguagem supostamente “elegante”. No caso de críticos literários, pouquíssimos foram acatados pelos escritores cujos livros criticaram. Não digo que não tenham existido. Existiram e ainda existem. Mas... são relativamente poucos.

Eu, por exemplo, acataria de muito bom grado (e me sentiria honrado) críticas aos meus livros ou textos esparsos vindas de Machado de Assis, caso isso fosse possível. Claro que não é! Embora não tenha firmado reputação nesse gênero, nosso maior escritor foi um dos primeiros (muitos asseguram que foi o primeiro) a exercitar essa (convenhamos, antipática) atividade. Preenchia todos os requisitos de uma crítica literária honesta, inteligente, isenta, competente e, sobretudo, construtiva. Ainda assim... granjeou uma grande legião de desafetos. Pena que tenha se constituído em rara exceção.


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Thursday, July 30, 2015

O personagem Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, é um dos mais fascinantes da literatura mundial de todos os tempos. Tornou-se uma espécie de paradigma dos idealistas que, não raro, despendem seus maiores esforços e melhores talentos em busca de sonhos aparentemente irrealizáveis, de fantasias que (infelizmente) só existem em suas cabeças e de situações que se confrontam com a horrenda realidade que nos rodeia e se mostram anos-luz distantes dela. Jorge Luís Borges era fascinado por essa caricata figura ficcional. Evidentemente, também sou. Nesse aspecto, portanto – como em tantos e tantos outros – não sou nada original. Como ser nesse caso? Ademais, prefiro trocar uma possível originalidade, que admito e confesso não ter, por essa ilustre companhia, no caso a de Borges (que igualmente me fascina, tanto quanto Dom Quixote).


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Debate na TV deve decidir a eleição


Pedro J. Bondaczuk


A campanha presidencial norte-americana vai "pegar fogo", de fato, nesta próxima semana, quando os dois candidatos vão travar debate pela televisão, na Carolina do Sul. Já se tornou uma tradição nos Estados Unidos esse evento ser o decisivo na corrida pela Casa Branca. Isto aconteceu, por exemplo, em 1960, quando John Kennedy, com a sua juventude, impressionou o eleitorado, mais pela aparência do que pelas idéias que possa eventualmente ter apresentado, ocasião em que se confrontou com um Richard Nixon nervoso e que se descuidou do visual. Em 1972, porém, este daria o troco, já mais preocupado com a imagem e sem pensar muito no conteúdo daquilo que viesse a dizer, pois percebeu que não era isso o que o público queria. Nos Estados Unidos a coisa funciona assim.

Antes do debate pela TV, todavia, o vice-presidente George Bush procura se garantir, na eventualidade de não se sair bem, tendo por "cabo eleitoral" um campeão de popularidade no país, Ronald Reagan. O encontro que ele manteve, ontem, na Casa Branca, com o chanceler soviético, Eduard Shevardnadze, foi voltado mais para o eleitor norte-americano, do que para alguma eventual negociação de paz com Moscou. O candidato buscou, sobretudo, ressaltar que foi nesta administração, que o postulante republicano pretende dar continuidade, que as superpotências finalmente abandonaram a "guerra fria" (que em várias ocasiões chegou a ameaçar não somente esquentar, mas até ferver) para não somente dialogar, como até mesmo cooperar entre si.

O ministro soviético, por seu turno, não se fez de rogado para comparecer a tal encontro, embora certamente tenha intuído qual era o seu real objetivo. Afinal, a União Soviética, embora publicamente e em nível oficia se mantenha (como se poderia esperar) neutra nessa disputa, não esconde de ninguém que preferiria uma vitória de George Bush em 8 de novembro próximo. O efeito psicológico que isso pode ter sobre o eleitor norte-americano é devastador, podendo anular todos os esforços de uma campanha bem elaborada e executada com grande correção por Michael Dukakis.

Como se vê, embora prestígio seja algo intransferível, o carisma de Reagan é tão forte que ele pode até conseguir mudar essa regra. E só não terá sucesso nisso se George Bush, que é um político experiente e acostumado a confrontos verbais (já que foi embaixador do seu país nas Nações Unidas), vier a tropeçar em alguma pergunta mais embaraçosa acerca do escândalo "Irã-contras" e fizer um papel ridículo no debate da próxima semana. Essa questão certamente virá à baila. E o governador de Massachusetts tentará usá-la como uma poderosa arma, como um "Exocet" para torpedear o adversário e procurar chegar à Casa Branca. Se o candidato republicano souber  "sair pela tangente" nesse assunto, poderá vencer o pleito até com mais de um mês de antecedência. É só conferir.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 24 de setembro de 1988).


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Livro nascido por “geração espontânea”.

Pedro J. Bondaczuk

Há bons livros que “nascem”, não diria que por acaso, mas quase isso. Ou seja, que são escritos sem essa finalidade específica, mas que se revelam tão bons, que seus autores resolvem publicá-los. Vários acabam, até, se tornando best-sellers, sucessos inegáveis de vendas, dada sua utilidade, ou o interesse que despertam, ou ambas as coisas, o que nem mesmo é tão raro. São os casos, por exemplo, de teses universitárias de doutorado, ou de pesquisas de várias ordens (científicas, sociológicas, históricas, literárias etc.), que se transformam em volumes impressos e são comercializados pelas respectivas editoras. Contudo, esses não são os únicos casos. Muitos livros “nascem” da reunião de textos esparsos (quase sempre crônicas, mas não apenas estas) publicados pelos autores ou em jornais em que sejam colunistas, ou em revistas, ou, mais recentemente, em blogs. Ou seja, que são redigidos não especificamente para esse fim.

Com romances, por razões compreensíveis, isso é mais raro de acontecer, embora às vezes aconteça. Muitos contos, escritos para determinada revista, acabam se revelando tão bons, têm tamanha aceitação da parte dos leitores, que seus autores decidem ampliá-los, estendê-los, adaptá-los e publicá-los como peças desse complexo gênero. E, salvo exceções, tornam-se sucessos. Alguns, até, são premiados e conferem, por conseqüência, prestígio e credibilidade aos escritores que têm esse tipo de inspiração. Romances, em geral, tendem a ser rigorosamente planejados. Alguns têm planejamento tão meticuloso, que podem ser comparados a plantas de edifícios.

Todavia, mesmo estes, raramente seguem rigorosamente o plano pré-estabelecido. Determinados personagens, por exemplo, criados para serem meramente “figurantes”, crescem de importância no desenvolvimento do enredo e acabam se transformando, se não nos principais da história, pelo menos em protagonistas. Quem já escreveu e publicou algum livro sabe do que estou falando. Não raro, “abortamos” determinadas obras meticulosamente planejadas, por uma série de razões desnecessárias de serem declinadas e nunca mais retomamos aquele projeto, aquela idéia que um dia nos pareceu tão promissora, nem mesmo sob outra aparência. Comigo isso já aconteceu, e mais de uma vez. Com vários dos meus amigos também.

E onde pretendo chegar com todo esse bla-bla-blá? Simples: à revelação que mais um livro meu acaba de “nascer” por geração espontânea, o que é impossível na natureza, mas não na Literatura. Refiro-me à série de textos comentando a vida e a obra de Machado de Assis, que partilhei com vocês desde o início de fevereiro deste volátil 2015. Eles “nasceram” praticamente ao sabor do acaso. A idéia inicial era a de que fossem, no máximo, cinco, atendendo solicitações de leitores, feitas por e-mail.

Todavia, o tema é tão rico, rendeu tanto e empolguei-me de tal sorte com o assunto, que, em vez de redigir cinco comentários, como planejado, redigi mais de sessenta! E olhem que deixei de lado aspectos importantíssimos da vida e da obra de Machado de Assis, o que talvez aborde no futuro. Fiquei empolgado, sobretudo, quando alguém me informou que estava imprimindo cada um desses textos e os arquivando em pastas específicas. Meu entusiasmo cresceu ainda mais quando um leitor revelou que a série, nascida praticamente por acaso, estava sendo de grande utilidade nas suas aulas de Literatura em determinada faculdade de letras. Que bom!

Lendo calmamente os textos, concluí que, reunidos, e com alguns ajustes, dariam um livro de ensaios até que razoável. Ademais, eles podem ser lidos tanto isoladamente (em forma de artigos ou de crônicas, como queiram) quanto em conjunto, sem que, em nenhum dos casos, percam a coerência. Cada comentário tem começo, meio e fim. Esta não é a primeira obra minha que nasceu dessa maneira. Pelo menos outras três surgiram assim. São os casos do panorama literário de Brasília, que escrevi em 2010, quando do cinqüentenário de fundação da Capital da Esperança; dos principais ficcionistas da Bahia e “Copas ganhas e perdidas”, retrospecto de todos os mundiais de futebol que pude acompanhar, desde o de 1950 ao de 2014, que culminou com os acachapantes e humilhantes 7 a 1 da Alemanha.

Nenhum desses livros foi publicado e nem sei se algum, ou se todos eles virão a ser, algum dia. Intuo que sim, mas... Mesmo se não forem, todavia, o fato é que eles “existem”, estão prontinhos, pré-editados e revisados e, o que é melhor, estão à disposição dos internautas, que podem acessar texto por texto que os compõem e fazer deles o uso que melhor lhes aprouver (desde que respeitem, claro, meus direitos autorais, sobretudo o de autoria, que deve sempre ser explicitada). Quem sabe se desta vez alguma editora se interesse por este novo livro, ainda sem título, mesmo que tratando de assunto tão batido, mas jamais esgotado. Não raro as circunstâncias favorecem esse tipo de surpresa. Enfim...


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Wednesday, July 29, 2015

Estou disposto, na busca dos meus ideais, a tentar, tentar e tentar, insistente e incansavelmente, até alcançar o objetivo. Mesmo que errando a cada passo, mas disposto a sempre consertar o que errar. Estou consciente que, por maior que seja meu empenho (e creiam, é imenso), cometerei ainda muitos erros, não apenas ao longo da carreira profissional, mas da vida. Vou errar no amor, nos relacionamentos sociais e profissionais, nas escolhas, nas decisões, na avaliação das amizades etc.etc.etc. E sofrerei com isso. Pudera, sou humano. Saberei, no entanto (e espero saber mesmo), pedir perdão quando ofender alguém, perdoar quando ofendido, reconciliar-me com quem brigar, evitar celeumas desnecessárias, mas aprender, e aprender muito, se e quando cometer esses erros. Há, todavia, um equívoco que considero bastante grave, embora comum, e que certamente não cometerei: o de achar que os amigos têm que se entender, sempre, e em tudo, sem nenhuma divergência. Não é bem assim. Amigos também divergem, discutem e brigam, sem que a amizade seja abalada, comprometida, ou sequer arranhada. A esse respeito, George Eliot observou: “Talvez as melhores amizades sejam aquelas em que haja muita discussão, muita disputa e, mesmo assim, muito afeto”

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Desespero infundado


Pedro J. Bondaczuk


A Ponte Preta está vivendo ainda a "síndrome do rebaixamento". Afinal, foram dois no ano passado, o da série A-1 do Campeonato Paulista e o da Segunda Divisão do Brasileiro. A torcida, que viveu esses dramas em 1995, está sensibilíssima. Ao primeiro insucesso do time (aliás, à exceção do empate em casa com o Olímpia, as derrotas frente a Bragantino, Portuguesa Santista e Lousano Paulista foram resultados absolutamente normais) volta o baixo astral. Haveria motivos para desânimo? Claro que não! Há muita água ainda para rolar na competição, que mal chega à sua metade.

O ano, para a Ponte Preta, começou incerto. O novo presidente, Nivaldo Baldo, assumiu em meio à pior crise já vivida na história do clube. Contas se acumulavam aos montões. Não havia dinheiro em caixa sequer para as despesas básicas, quanto mais para se montar um time forte. A torcida estava desanimada e, pior, humilhada. Optou-se por uma solução caseira. Não havia outro remédio. Antes do início do campeonato, as expectativas dos torcedores mais ferrenhos estavam longe de um retorno à série A-1. Os objetivos básicos eram o saneamento das finanças, a reorganização da administração e manter a Ponte em uma posição intermediária na tabela.

Todavia, o time "feijão com arroz" surpreendeu nos primeiros jogos. Estreou com uma vitória de raça em Santo André. E o adversário não era nenhuma "galinha morta", como demonstrou mais tarde. A seguir, arrancou um excelente empate em Ribeirão Preto, frente ao Comercial. Até o jogo com o Olímpia, vinha vencendo todos os jogos no Moisés Lucarelli. E vai continuar vencedor. O que não se pode, nesta fase da disputa, é se deixar levar pelo desânimo e nem dar ouvidos aos "corneteiros". De repente, surge até uma chance concreta de volta à série A-1, já que serão três a subir. Por que não?! Claro que se deve cobrar empenho do time. Se este, tecnicamente, não é brilhante (e não é mesmo), precisa suprir suas deficiências com raça e combatividade. E com calma. O ataque não pode continuar perdendo tanto gol. É necessário mais chutes de fora da área, sem medo de errar.

A defesa até que vem cumprindo seu papel. E mais do que isso, extrapola sua função. É só verificar o retrospecto. Mais da metade dos gols da Ponte Preta foram feitos por zagueiros. Mas o meio de campo precisa colocar-se melhor. Os volantes têm que proteger com maior eficácia os avanços dos laterais e eventualmente dos centrais. O meia-armador deve estar mais atento aos rebotes na área adversária, atuar como o fator surpresa e impedir contra-ataques. E, acima de tudo, o time deve jogar cada partida como se fosse a final de uma Copa do Mundo, em termos de garra.

Por falar nisso, cabe o registro do lançamento do livro "Enciclopédia dos Mundiais de Futebol", do jornalista Orlando Duarte (Editora Makron Books), com patrocínio de José Ermírio de Moraes, presidente do Grupo Votorantim. A nova edição já está atualizada, com o tetra dos EUA. É a memória do nosso futebol preservada graças ao talento de um dos melhores (senão o melhor) cronistas esportivos do País.


(Artigo publicado no caderno de Esportes do Correio Popular, em setembro de 1994).


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Algumas lições que aprendi com Machado de Assis

Pedro J. Bondaczuk

A obra de Machado de Assis, sobretudo seus romances (mas não somente eles) influenciou e segue influenciando um número incontável de escritores (e não somente do Brasil, mas de várias partes do mundo). Alguns têm a humildade de confessar essa influência e apontam no que, e por qual livro foram influenciados. Afinal, não há demérito algum em tal admissão. Muito pelo contrário, é uma atitude até de respeito por seus leitores, fazendo-os uma espécie de confidentes e de justiça com o mestre.  Outros tantos escritores, todavia, omitem esse detalhe. Porém seus textos, quando submetidos à mais superficial das análises, refletem escancarada semelhança estilística com os do nosso maior literato. A vaidade, no entanto, impede-nos de admitir o que é óbvio.

Da minha parte, confesso, até com orgulho, que fui, e continuo sendo influenciado por tão magnífico mestre. E não apenas na minha obra ficcional, mas em outros gêneros, como a poesia, a crônica e os tantos ensaios que escrevo. Pondero, no entanto, que “ser influenciado” não significa “escrever igual”. Cada escritor tem seu próprio estilo, de acordo com sua realidade, com sua cultura, temperamento, gosto, personalidade e vai por aí afora. Ademais, teria que ser um gênio (o que não sou) para escrever, já não digo igual, mas razoavelmente parecido com Machado de Assis. Além do que, nenhum escritor sofre influências só de um único grande mestre da Literatura. Confesso que aprendi muito com inúmeros deles, através das tantas e tantas leituras que já fiz.

Por exemplo, a todo o momento admito ter sido influenciado por Jorge Luís Borges. Quando faço tal confissão, não estou exagerando e nem particularizando. Explico. Isso não quer dizer que ele seja “o” meu modelo, ou seja, o único, mas que é “um” deles, como também o são Mário Quintana, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Graciliano Ramos etc.etc.etc. e tantos e tantos e tantos outros. E, sobretudo... Machado de Assis, sem dúvida. Qual dos citados (e dos milhares que sequer nomeei) me influenciou mais? É uma avaliação impossível (e ademais desnecessária) de fazer. Até porque, muito dessas influências tem caráter exclusivamente subconsciente. Ou seja, nem eu sou capaz de identificar em que aspecto fui influenciado, e por quem, embora tenha convicção de ter sido.

Com Machado de Assis aprendi, por exemplo, que não há nada de errado em fazer dos textos, não importa se ficcionais ou não, diálogo com o leitor, mesmo que apenas monologando. O curioso é que a grande maioria dos manuais de redação não somente não recomendam esse procedimento, como consideram-no “deficiência de estilo”. Ou seja, algo que o redator não deve fazer. Ora, ora, ora. Nesse aspecto, vivi, inclusive, uma experiência que me fez adotar maior cautela sobre o que alguns teóricos tentam nos transmitir.

Há alguns anos, quando mal começava a empreender meus primeiros “rabiscos” literários (pelo menos eu julgava que o fossem), sonhando em me tornar escritor, decidi fazer um desses tantos cursos de redação, em busca de um estilo próprio que ainda não tinha. Não nego que, em termos formais, de organização dos textos, aprendi alguma coisa nessas aulas. Todavia, em certa ocasião veio à baila essa questão referente a se o redator deve ou não “conversar” com o leitor, como se este estivesse cara a cara com ele. O professor disse (baseado em não sei o que) que esse procedimento era impróprio, incorreto e, portanto, errado e que arruinava um bom texto.

Por coincidência, nessa mesma ocasião eu estava lendo, pela primeira vez, o romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis (que reli “n” vezes). E o que encontrei nele, desde o primeiro capítulo? Exatamente o tal diálogo do autor com o leitor, que o mestre do tal curso de redação dizia ser inadequado e condenável. A partir desse dia, resolvi deixar de freqüentar as aulas. Sabem por que? Porque fiz o seguinte raciocínio: “Como querem me ensinar que é errado o recurso que o maior escritor brasileiro de todos os tempos utilizou com tamanha freqüência?!!!! Em quem acreditar? No professor do curso de redação ou em Machado de Assis? Nem é preciso revelar a conclusão a que cheguei, não é mesmo?

Claro que essa não foi a única influência que recebi do Bruxo do Cosme Velho. Aprendi com ele, por exemplo, o valor de ser eclético, de aprender (e aplicar) tudo o que me fosse possível. Aprendi, na poesia, a valorizar, sobretudo, a reflexão, o sentimento, a emoção em vez de centralizar meus poemas na descrição, com uso e abuso de uma enxurrada de metáforas, muitas das quais incabíveis e até surreais. Aprendi, na criação de personagens, não me restringir a descrever seu aspecto físico e sua indumentária e nem em me limitar a narrar suas ações e conseqüências, mas voltar-me para seu interior e revelar o que pensam, o que sentem e as motivações de cada um de seus atos. Aprendi que a ironia (recurso de dificílimo manejo), quando inteligente, sutil e não agressiva, é expediente imbatível para criticar tudo o que considere errado. Foram tantas as coisas que aprendi com Machado de Assis que seria necessário todo um tratado para nomeá-las uma a uma e, mesmo assim, faltaria uma infinidade delas por não lembrá-las  todas.                


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Tuesday, July 28, 2015

O exercício de correção de obras, de idéias e até mesmo de rumos, deve se transformar em hábito, para que jamais o que fizermos ou pensarmos se torne envelhecido, defasado ou ultrapassado. Principalmente nos relacionamentos, mesmo que pareçam perfeitos, convém fazer periódicos reparos. Isaac Bashevis Singer, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1978, confessou: “Corrigir é tudo o que faço o tempo todo. Sem isso não haveria literatura ou civilização. Mesmo o amor às vezes precisa disso”. Eu diria, de minha parte, que “principalmente o amor” requer constante correção. Nenhuma obra verdadeiramente valiosa, que sobreviva ao tempo e ao esquecimento, pode ser produzida se não colocarmos nela alma, talento e paixão. As grandes realizações são frutos de crença, empenho, vontade, persistência e de tamanha convicção, a ponto de deitarmos “chispas pelos olhos”. Nesse intenso empenho, todavia, sempre estaremos sujeitos a errar, por maiores que sejam nosso treinamento, perícia e conhecimento de causa. Devemos estar preparados para isso e para efetuar, claro, a devida correção. Mas precisamos encarar a empreitada sem excessivos temores. Um certo medinho todos temos (aquele clássico friozinho na barriga), principalmente face aos grandes desafios. Ele, porém, não pode e nem deve nos deter e paralisar. Quem teme se expor, por medo de fracasso, frustra-se, invariavelmente, e dessa frustração resulta intenso sofrimento, mental, que tende a se transformar em físico. Da minha parte, prefiro pecar por excesso a me omitir

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Presente do Dia dos Pais

Dê ao seu amigão o melhor dos presentes neste Dia dos Pais: presenteie com livros. Dessa forma, você será lembrado não apenas nessa data. Mas em todos ops dias do ano, por anos e anos a fio.

Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária”José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso”Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br
“Um dia como outro qualquer” – Fernando Yanmar Narciso.

Com o que presentear:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista).Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro.Preço: R$ 20,90.

Como comprar:

Pela internetWWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.        

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Afinal, andamos para a frente



Pedro J. Bondaczuk


O “Plano de Inflação Zero”, posto em prática pelo governo do presidente José Sarney, completou, anteontem, o seu primeiro mês de implantação e, segundo as primeiras avaliações, feitas pelas autoridades, deverá superar, no período, todas as expectativas. Não apenas vai zerar a inflação, que já havia se acomodado no patamar dos 15%, como ainda produzir um fato inédito na história brasileira. Ou seja, conseguir a nossa primeira deflação. Os preços, na média geral, sofreram um decréscimo entre 1,5 e 2%.

Há quem esteja apostando, entretanto, no arrefecimento da fúria fiscalizadora da população, que foi o fator decisivo para o imediato sucesso da medida. Caso isso ocorra, ou seja, se porventura voltarmos à atitude passiva e omissa de antes, estará formada a primeira brecha na muralha defensiva contra esse insidioso monstro econômico, que age subrepticiamente e solapa a economia popular. Nesse caso, corremos o risco de que os preços, represados, subitamente venham a explodir.

Entretanto, após experimentar a delícia de poder planejar as finanças domésticas, o consumidor, que pela primeira vez assumiu de fato o seu papel de cidadão, certamente irá querer perpetuar esse estado de coisas tranqüilizador. E os “fiscais do Sarney” (pelo menos assim se espera), continuarão mais vigilantes do que nunca, brandindo tabelas de congelamento diante dos especuladores, garantindo a viabilidade de todo o projeto.

Aliás, este não irá se restringir tão somente ao combate inflacionário. Seus objetivos são muito mais profundos e a segunda etapa deverá vir já neste próximo mês, mais especificamente no dia 14 ou 15 de abril, quando o presidente da República deverá anunciar medidas de grande impacto na área social. Possivelmente serão providências para distribuir melhor a renda nacional, uma das mais concentradas que se conhece no mundo.

Quanto ao Plano Cruzado, constata-se, nesse um mês que ele existe, que não foram apenas os consumidores que lucraram. Em conversa com vários pequenos comerciantes, constatamos que eles estão eufóricos com o crescimento de seus negócios. E o fenômeno tem uma explicação bem simples.

Com o congelamento dos preços, o morador de um determinado bairro já não tem mais necessidade de se deslocar de onde reside para o centro da cidade, para efetuar sua compra, especialmente dos gêneros de maior consumo doméstico. Tem condições, agora, de adquirir essas mercadorias ali mesmo, pertinho de casa, sem filas, aglomerações, confusões para estacionar o seu automóvel etc.

Para os grandes supermercados, há, também, algumas vantagens. Eles têm condições, agora, de atender com maior facilidade a sua clientela e a concorrência, doravante, desloca-se do campo dos preços para o setor de atendimento. Quem tiver mais jogo de cintura, sairá na frente e dificilmente alguém poderá anular, mais adiante, essa importante dianteira.

Outro setor que lucrou bastante, pelo menos neste primeiro mês, com o projeto de “Inflação Zero”, foi o voltado para o turismo. O cidadão da chamada classe média “média”, isto é, aquele que possui um certo status, um determinado padrão de vida, mas que não recebe salário tão condizente assim para manter determinados luxos, já pode planejar o seu orçamento. E, espremendo aqui, ali e acolá, sempre acaba extraindo alguma sobra. E esta, pelo menos em março, acabou sendo gasta em lazer. Na região serrana próxima a Campinas, os hotéis permanecem, literalmente, lotados nesta Semana Santa e as perspectivas são de que o movimento virá a dobrar doravante.

A rigor, só não lucrou com o fim da indexação quem vivia da especulação. Ou seja, quem apostava na inflação futura e nela depunha toda a sua confiança, raras vezes frustrada, pelo menos nos derradeiros quatro anos. Mas, mesmo diante destes, abre-se um leque extraordinário de oportunidades para investimentos de alto retorno e que, ao contrário da prática anterior, unem essa agradabilidade já assinalada antes ao aspecto da utilidade, satisfazendo a interesses nacionais.

Estão aí as bolsas de valores, instrumento voltado à capitalização de empresas saudáveis e de grande potencial. Está aí o mercado imobiliário, ávido por investimentos, com promessas de lucros bastante compensadores. E outros negócios mais estão à sua frente, estranhamente inexplorados durante tanto tempo.

A rigor, numa economia organizada, não há perdedores. A lógica indica que as transações acabam se transformando numa grande bola de neve, que só tende a crescer. A produtividade aumenta, já que quem trabalha sente que seu esforço é recompensado. As vendas tendem a crescer, obrigando o setor produtivo a gerar mais e mais mercadorias para atender essa demanda.

Crescem, por conseqüência, empregos, arrecadação de impostos e o próprio Brasil. É verdade que há, ainda, pontos de estrangulamento a serem corrigidos. Como a questão da dívida externa, que drena preciosos recursos de um país razoavelmente pobre. Como os gastos públicos, que doravante passarão a ser, também, controlados pelos atentos “fiscais do Sarney”. E tantos outros, que precisam ser, urgentemente, extintos. Mas o primeiro passo foi dado. E ninguém deterá essa caminhada do brasileiro, orgulhoso de ter recuperado a sua cidadania.      

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de março de 1986)


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