Debate na TV deve decidir a
eleição
Pedro J. Bondaczuk
A
campanha presidencial norte-americana vai "pegar fogo", de fato,
nesta próxima semana, quando os dois candidatos vão travar debate pela
televisão, na Carolina do Sul. Já se tornou uma tradição nos Estados Unidos
esse evento ser o decisivo na corrida pela Casa Branca. Isto aconteceu, por
exemplo, em 1960, quando John Kennedy, com a sua juventude, impressionou o
eleitorado, mais pela aparência do que pelas idéias que possa eventualmente ter
apresentado, ocasião em que se confrontou com um Richard Nixon nervoso e que se
descuidou do visual. Em 1972, porém, este daria o troco, já mais preocupado com
a imagem e sem pensar muito no conteúdo daquilo que viesse a dizer, pois
percebeu que não era isso o que o público queria. Nos Estados Unidos a coisa
funciona assim.
Antes
do debate pela TV, todavia, o vice-presidente George Bush procura se garantir,
na eventualidade de não se sair bem, tendo por "cabo eleitoral" um
campeão de popularidade no país, Ronald Reagan. O encontro que ele manteve,
ontem, na Casa Branca, com o chanceler soviético, Eduard Shevardnadze, foi
voltado mais para o eleitor norte-americano, do que para alguma eventual
negociação de paz com Moscou. O candidato buscou, sobretudo, ressaltar que foi
nesta administração, que o postulante republicano pretende dar continuidade,
que as superpotências finalmente abandonaram a "guerra fria" (que em
várias ocasiões chegou a ameaçar não somente esquentar, mas até ferver) para
não somente dialogar, como até mesmo cooperar entre si.
O
ministro soviético, por seu turno, não se fez de rogado para comparecer a tal
encontro, embora certamente tenha intuído qual era o seu real objetivo. Afinal,
a União Soviética, embora publicamente e em nível oficia se mantenha (como se
poderia esperar) neutra nessa disputa, não esconde de ninguém que preferiria
uma vitória de George Bush em 8 de novembro próximo. O efeito psicológico que
isso pode ter sobre o eleitor norte-americano é devastador, podendo anular
todos os esforços de uma campanha bem elaborada e executada com grande correção
por Michael Dukakis.
Como
se vê, embora prestígio seja algo intransferível, o carisma de Reagan é tão
forte que ele pode até conseguir mudar essa regra. E só não terá sucesso nisso
se George Bush, que é um político experiente e acostumado a confrontos verbais
(já que foi embaixador do seu país nas Nações Unidas), vier a tropeçar em
alguma pergunta mais embaraçosa acerca do escândalo "Irã-contras" e
fizer um papel ridículo no debate da próxima semana. Essa questão certamente
virá à baila. E o governador de Massachusetts tentará usá-la como uma poderosa
arma, como um "Exocet" para torpedear o adversário e procurar chegar
à Casa Branca. Se o candidato republicano souber "sair pela tangente" nesse assunto,
poderá vencer o pleito até com mais de um mês de antecedência. É só conferir.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 24 de setembro de
1988).
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