Thursday, July 30, 2015

Debate na TV deve decidir a eleição


Pedro J. Bondaczuk


A campanha presidencial norte-americana vai "pegar fogo", de fato, nesta próxima semana, quando os dois candidatos vão travar debate pela televisão, na Carolina do Sul. Já se tornou uma tradição nos Estados Unidos esse evento ser o decisivo na corrida pela Casa Branca. Isto aconteceu, por exemplo, em 1960, quando John Kennedy, com a sua juventude, impressionou o eleitorado, mais pela aparência do que pelas idéias que possa eventualmente ter apresentado, ocasião em que se confrontou com um Richard Nixon nervoso e que se descuidou do visual. Em 1972, porém, este daria o troco, já mais preocupado com a imagem e sem pensar muito no conteúdo daquilo que viesse a dizer, pois percebeu que não era isso o que o público queria. Nos Estados Unidos a coisa funciona assim.

Antes do debate pela TV, todavia, o vice-presidente George Bush procura se garantir, na eventualidade de não se sair bem, tendo por "cabo eleitoral" um campeão de popularidade no país, Ronald Reagan. O encontro que ele manteve, ontem, na Casa Branca, com o chanceler soviético, Eduard Shevardnadze, foi voltado mais para o eleitor norte-americano, do que para alguma eventual negociação de paz com Moscou. O candidato buscou, sobretudo, ressaltar que foi nesta administração, que o postulante republicano pretende dar continuidade, que as superpotências finalmente abandonaram a "guerra fria" (que em várias ocasiões chegou a ameaçar não somente esquentar, mas até ferver) para não somente dialogar, como até mesmo cooperar entre si.

O ministro soviético, por seu turno, não se fez de rogado para comparecer a tal encontro, embora certamente tenha intuído qual era o seu real objetivo. Afinal, a União Soviética, embora publicamente e em nível oficia se mantenha (como se poderia esperar) neutra nessa disputa, não esconde de ninguém que preferiria uma vitória de George Bush em 8 de novembro próximo. O efeito psicológico que isso pode ter sobre o eleitor norte-americano é devastador, podendo anular todos os esforços de uma campanha bem elaborada e executada com grande correção por Michael Dukakis.

Como se vê, embora prestígio seja algo intransferível, o carisma de Reagan é tão forte que ele pode até conseguir mudar essa regra. E só não terá sucesso nisso se George Bush, que é um político experiente e acostumado a confrontos verbais (já que foi embaixador do seu país nas Nações Unidas), vier a tropeçar em alguma pergunta mais embaraçosa acerca do escândalo "Irã-contras" e fizer um papel ridículo no debate da próxima semana. Essa questão certamente virá à baila. E o governador de Massachusetts tentará usá-la como uma poderosa arma, como um "Exocet" para torpedear o adversário e procurar chegar à Casa Branca. Se o candidato republicano souber  "sair pela tangente" nesse assunto, poderá vencer o pleito até com mais de um mês de antecedência. É só conferir.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 24 de setembro de 1988).


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