Drama aproxima-se do final
Pedro J. Bondaczuk
O
drama que se desenrola desde 2 de agosto do ano passado no Golfo Pérsico se
aproxima do seu desfecho. A se acreditar nos informes dos comandantes aliados
baseados na Arábia Saudita, o desmoronamento do regime de Saddam Hussein ---
pintado ao longo de todo o desenrolar da crise como o grande vilão da história
--- é uma questão de no máximo dez dias.
Teme-se,
todavia, que mais uma vez os generais do Pentágono tenham sido acometidos dos
seus tão freqüentes ataques de otimismo. Que as forças da coalizão irão vencer
a guerra é algo que ninguém, em momento algum --- a não ser, evidentemente, o
próprio presidente do Iraque --- jamais colocou em questão.
O
que se contesta é o tom de um arrogante triunfalismo utilizado pelos generais
norte-americanos, que não cai bem numa época como a nossa, quando os exageros
ressaltam com a maior facilidade.
A
despeito do aparente êxito das forças aliadas em sua operação terrestre,
iniciada no sábado (dia 23 de fevereiro), parece que a retirada do palco dos
acontecimentos do vilão do drama ainda irá demorar um pouco. Quem sabe umas
três semanas, e não os dez dias previstos pelos estrategistas ocidentais.
De
qualquer forma, já é o momento de se pensar no pós-guerra. Qual será o panorama
encontrado pela família real kuwaitiana ao retornar ao seu emirado? Tudo leva a
crer que será caótico, infernal, dramático, digno da pena de um Dante Aligheri
quando este pinta o Inferno em sua "Divina Comédia". Os poços de
petróleo foram incendiados, as refinarias destruídas e o país completamente
saqueado. A família Al-Sabah irá retomar um território arrasado, de aspecto
sombrio e desolador.
Uma
das principais conseqüências da guerra --- que deverá perdurar por muitos anos,
por algumas décadas até --- será a irremediável divisão do mundo árabe. As
feridas deixadas pela conflagração levarão muito tempo para cicatrizar.
O
presidente egípcio, Hosni Mubarak, no poder desde 1981, quando do assassinato
de Anwar El-Sadat, deverá enfrentar uma crescente oposição dos fundamentalistas
islâmicos, principalmente se ele não fizer algo para melhorar o miserável nível
de vida atual do seu povo.
O
seu colega sírio, Hafez Assad, que não conhece o termo "eleição"
sequer num dicionário --- governa a Síria com mão de ferro há mais de 20 anos
--- tenderá a ficar mais isolado ainda do que esteve até agora.
Para
esses dirigentes e as monarquias árabes do Golfo, o perigo será suas populações
desejarem a tão apregoada e pouco praticada democracia. Pois como disse Victor
Hugo --- que se estivesse vivo faria aniversário hoje --- "uma invasão de
exércitos se pode resistir, mas não a uma idéia, quando chega o seu momento
apropriado".
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 26 de fevereiro
de 1991).
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