Sunday, July 05, 2015

Drama aproxima-se do final


Pedro J. Bondaczuk


O drama que se desenrola desde 2 de agosto do ano passado no Golfo Pérsico se aproxima do seu desfecho. A se acreditar nos informes dos comandantes aliados baseados na Arábia Saudita, o desmoronamento do regime de Saddam Hussein --- pintado ao longo de todo o desenrolar da crise como o grande vilão da história --- é uma questão de no máximo dez dias.

Teme-se, todavia, que mais uma vez os generais do Pentágono tenham sido acometidos dos seus tão freqüentes ataques de otimismo. Que as forças da coalizão irão vencer a guerra é algo que ninguém, em momento algum --- a não ser, evidentemente, o próprio presidente do Iraque --- jamais colocou em questão.

O que se contesta é o tom de um arrogante triunfalismo utilizado pelos generais norte-americanos, que não cai bem numa época como a nossa, quando os exageros ressaltam com a maior facilidade.

A despeito do aparente êxito das forças aliadas em sua operação terrestre, iniciada no sábado (dia 23 de fevereiro), parece que a retirada do palco dos acontecimentos do vilão do drama ainda irá demorar um pouco. Quem sabe umas três semanas, e não os dez dias previstos pelos estrategistas ocidentais.

De qualquer forma, já é o momento de se pensar no pós-guerra. Qual será o panorama encontrado pela família real kuwaitiana ao retornar ao seu emirado? Tudo leva a crer que será caótico, infernal, dramático, digno da pena de um Dante Aligheri quando este pinta o Inferno em sua "Divina Comédia". Os poços de petróleo foram incendiados, as refinarias destruídas e o país completamente saqueado. A família Al-Sabah irá retomar um território arrasado, de aspecto sombrio e desolador.

Uma das principais conseqüências da guerra --- que deverá perdurar por muitos anos, por algumas décadas até --- será a irremediável divisão do mundo árabe. As feridas deixadas pela conflagração levarão muito tempo para cicatrizar.

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, no poder desde 1981, quando do assassinato de Anwar El-Sadat, deverá enfrentar uma crescente oposição dos fundamentalistas islâmicos, principalmente se ele não fizer algo para melhorar o miserável nível de vida atual do seu povo.

O seu colega sírio, Hafez Assad, que não conhece o termo "eleição" sequer num dicionário --- governa a Síria com mão de ferro há mais de 20 anos --- tenderá a ficar mais isolado ainda do que esteve até agora.

Para esses dirigentes e as monarquias árabes do Golfo, o perigo será suas populações desejarem a tão apregoada e pouco praticada democracia. Pois como disse Victor Hugo --- que se estivesse vivo faria aniversário hoje --- "uma invasão de exércitos se pode resistir, mas não a uma idéia, quando chega o seu momento apropriado".

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 26 de fevereiro de 1991).


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