Data e local ideais para a cúpula
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente dos EUA, Ronald Reagan, e o líder soviético,
Mikhail Gorbachev, que tanto desejam ter um encontro de cúpula, embora neguem
essa ansiedade, deveriam se reunir numa data e num local bem específicos: no
dia 6 de agosto próximo, na cidade japonesa de Hiroshima. E há uma explicação
muito simples para essa sugestão.
É que neste ano se completa o
quadragésimo aniversário (infausta data) de quando os homens tomaram contato
direto com a mais poderosa e indefensável arma jamais fabricada: a bomba
atômica.
É mais do que provável que Ronald
Reagan e Mikhail Gorbachev, que em nome dos seus países correm atrás da
supremacia nuclear, jamais tenham visto, nem mesmo em filmes, os estragos que,
na prática, essas diabólicas engenhocas podem causar.
Nada melhor do que uma reunião,
na cidade mártir da bomba, portanto, para inspirar os dois poderosos do mundo a
trabalharem pelo banimento dessas infernais obras humanas, capazes de destruir
todas as outras.
Quando o dia surgiu, ensolarado e
claro, em 6 de agosto de 1945, nem o mais paranóico e fantasioso dos moradores
de Hiroshima poderia imaginar o destino que estaria reservado a essa metrópole.
Dois dias antes, aviões norte-americanos haviam sobrevoado aa região e deixado
cair panfletos que diziam, apenas: “esta cidade será destruída, a menos que seu
governo se renda”. Seus habitantes, certamente, não deram maior atenção ao
fato.
Certamente atribuíram a
advertência a simples brincadeira, ou quase isso. Afinal, a propaganda,
conforme sabiam, era uma das armas usadas nessa selvagem e dantesca guerra,
envolvendo toda a área do Pacífico. Por essa razão, ninguém jamais poderia
prever o que viria a acontecer apenas 48 horas depois. Nem mesmo os fabricantes
da bomba.
Naquela manhã, quando a
superfortaleza voadora B-29, do 509º Grupo Misto da 20ª Força Aérea
Norte-Americana levantou vôo, para a sua missão, os tripulantes mal sabiam que
estariam escrevendo uma das piores páginas de horror da História.
Tinham conhecimento de que a
bomba que iriam lançar sobre Hiroshima era muito mais destruidora do que tudo o
que haviam visto até então. Mas não atinavam, de maneira alguma, até que ponto
o artefato era arrasador.
O “Enola Gay” (nome que havia
sido dado ao avião, em homenagem à mãe de seu jovem piloto, Paul Tibetts
Junior), sobrevoou Hiroshima ao amanhecer. Muitos dos moradores ainda estavam
na cama. E a B-29, finalmente, desovou a “Litle Boy”, como os cientistas,
criadores da bomba de urânio, de 20 mil toneladas de TNT e de um custo de US$ 2
bilhões, a denominaram. O que a tripulação pôde ver do alto, então, foi
qualquer coisa de aterrador! E o que ocorreu na cidade foi, obviamente, pior e
indescritível!
Os sobreviventes (pouquíssimos)
atestam terem visto a princípio o que é chamado de “pika”, uma explosão
ofuscante de luz rosa, azul, vermelha ou amarela (nenhum deles consegue definir
precisamente), mais intensa do que o brilho de mil sóis, mas de diâmetro de
apenas 110 metros.
A temperatura chegou à incrível
marca de 300 mil graus centígrados. Num raio de mil metros do local da
explosão, prédios de granito derreteram-se, pontes de aço e de pedra queimaram,
o rio ferveu, telhados sumiram, pessoas evaporaram, deixando suas silhuetas
“fotografadas”, como negativos de raios-x, nas paredes e nas ruas. Em segundos,
seis quilômetros quadrados da cidade foram arrasados.
Cento e oito mil pessoas tiveram morte horrível em apenas
uma hora. Outras cem mil viriam a morrer tempos depois, lentamente, vítimas de
queimaduras e dos efeitos da radiação. Ao ver o cogumelo de fumaça, de quinze
quilômetros de altura, resultante da explosão, o co-piloto do Enola Gay,
capitão Robert Lewis, só pôde exclamar, horrorizado: “Santo Deus! O que
fizemos!”. Todos os relógios da cidade, pelo efeito da ionização, pararam na
mesma hora: 8h15.
Existe, portanto, cenário mais
eloqüente e apropriado para que um acordo sobre o desarmamento nuclear seja
obtido? E é bom que se frise que a bomba de Hiroshima, hoje, é tão
insignificante, que mal serve de estopim para os poderosíssimos armamentos que
as superpotências dispõem.
Será que aqueles que determinaram
a fabricação, o teste e o armazenamento dessas armas sabem, exatamente, qual é
o seu real efeito? Se têm esse conhecimento, e mesmo assim não dão um fim a
elas, precisam ser internados, e com urgência, em um manicômio!
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 12
de junho de 1985).
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