Wednesday, July 29, 2015

Desespero infundado


Pedro J. Bondaczuk


A Ponte Preta está vivendo ainda a "síndrome do rebaixamento". Afinal, foram dois no ano passado, o da série A-1 do Campeonato Paulista e o da Segunda Divisão do Brasileiro. A torcida, que viveu esses dramas em 1995, está sensibilíssima. Ao primeiro insucesso do time (aliás, à exceção do empate em casa com o Olímpia, as derrotas frente a Bragantino, Portuguesa Santista e Lousano Paulista foram resultados absolutamente normais) volta o baixo astral. Haveria motivos para desânimo? Claro que não! Há muita água ainda para rolar na competição, que mal chega à sua metade.

O ano, para a Ponte Preta, começou incerto. O novo presidente, Nivaldo Baldo, assumiu em meio à pior crise já vivida na história do clube. Contas se acumulavam aos montões. Não havia dinheiro em caixa sequer para as despesas básicas, quanto mais para se montar um time forte. A torcida estava desanimada e, pior, humilhada. Optou-se por uma solução caseira. Não havia outro remédio. Antes do início do campeonato, as expectativas dos torcedores mais ferrenhos estavam longe de um retorno à série A-1. Os objetivos básicos eram o saneamento das finanças, a reorganização da administração e manter a Ponte em uma posição intermediária na tabela.

Todavia, o time "feijão com arroz" surpreendeu nos primeiros jogos. Estreou com uma vitória de raça em Santo André. E o adversário não era nenhuma "galinha morta", como demonstrou mais tarde. A seguir, arrancou um excelente empate em Ribeirão Preto, frente ao Comercial. Até o jogo com o Olímpia, vinha vencendo todos os jogos no Moisés Lucarelli. E vai continuar vencedor. O que não se pode, nesta fase da disputa, é se deixar levar pelo desânimo e nem dar ouvidos aos "corneteiros". De repente, surge até uma chance concreta de volta à série A-1, já que serão três a subir. Por que não?! Claro que se deve cobrar empenho do time. Se este, tecnicamente, não é brilhante (e não é mesmo), precisa suprir suas deficiências com raça e combatividade. E com calma. O ataque não pode continuar perdendo tanto gol. É necessário mais chutes de fora da área, sem medo de errar.

A defesa até que vem cumprindo seu papel. E mais do que isso, extrapola sua função. É só verificar o retrospecto. Mais da metade dos gols da Ponte Preta foram feitos por zagueiros. Mas o meio de campo precisa colocar-se melhor. Os volantes têm que proteger com maior eficácia os avanços dos laterais e eventualmente dos centrais. O meia-armador deve estar mais atento aos rebotes na área adversária, atuar como o fator surpresa e impedir contra-ataques. E, acima de tudo, o time deve jogar cada partida como se fosse a final de uma Copa do Mundo, em termos de garra.

Por falar nisso, cabe o registro do lançamento do livro "Enciclopédia dos Mundiais de Futebol", do jornalista Orlando Duarte (Editora Makron Books), com patrocínio de José Ermírio de Moraes, presidente do Grupo Votorantim. A nova edição já está atualizada, com o tetra dos EUA. É a memória do nosso futebol preservada graças ao talento de um dos melhores (senão o melhor) cronistas esportivos do País.


(Artigo publicado no caderno de Esportes do Correio Popular, em setembro de 1994).


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