Empregados
do saber
Pedro J. Bondaczuk
O presente século começou com dois sistemas
políticos, filosóficos, econômicos e sociais antagônicos, disputando espaço
entre os povos: capitalismo e comunismo. Um, teoricamente, atribuía ao Estado o
papel secundário, de mero árbitro nas relações entre as diversas classes
sociais e agentes econômicos. O outro, considerando-o um verdadeiro Deus, um
senhor absoluto das mentes e vontades das pessoas que pretensamente seriam
niveladas por cima, mas que, literalmente, escravizou multidões.
Ambos faliram, só que, enquanto os comunistas já
sabem disso – embora chineses e cubanos teimem em negar a evidência – os
capitalistas ortodoxos, rotulados de “selvagens”, ainda não chegaram a essa
descoberta.
O norte-americano Peter F. Drucker, lançador da
chamada “Terceira Onda”, vislumbra o surgimento de algo novo na sociedade, uma
espécie de redivisão de papéis, uma virtual autogestão dos vários setores que a
compõem.
Em recente trabalho, o escritor constatou: “O novo
pluralismo da sociedade tem a forma de organizações de objetivo único, cada uma
voltada para uma tarefa social: criação de riquezas, educação, saúde ou
formação de valores ou hábitos da juventude. É totalmente apolítico”.
Mais adiante, Drucker explica onde está a diferença
dessas entidades com o sistema tradicional. Escreve: “As novas instituições não
são baseadas no poder e sim na ‘função’. Entretanto, embora não políticas –
aliás, apolíticas – cada uma tem que possuir considerável grau de poder sobre
as pessoas – poder de contratar, de colocar, de transferir, de demitir, poder
de atribuir tarefas, de estabelecer padrões de funcionamento, de manter a
disciplina e de fiscalizar as horas de serviço. Cada vez mais essas
instituições proporcionam às pessoas nos países desenvolvidos meios de
subsistência, profissões e oportunidade para contribuírem, serem bem-sucedidas
e produtivas”.
Este novo sistema, tão recente que os sociólogos e
cientistas políticos sequer tiveram tempo, ainda, de rotular, já finca raízes,
inclusive em países mais organizados do Terceiro Mundo, embora enfrentando as
dificuldades naturais neles existentes, como suas oligarquias e elites
aferradas ao poder.
Drucker, no texto mencionado, avança mais detalhes
sobre esse fenômeno e classifica essa sociedade emergente de “empregados do
saber”. E detalha: “Não são nem explorados, nem exploradores, que
individualmente não são capitalistas, mas que, coletivamente, possuem os meios
de produção através de seus fundos de pensão para a compra de títulos, e suas
poupanças; que são subordinadas, mas também muitas vezes patrões. São pessoas
ao mesmo tempo independentes e dependentes. Têm mobilidade, mas também precisam
de acesso a alguma organização – como consultores senão como empregados – para
demonstrar qualquer eficiência”.
A porta de acesso a esse novo sistema,
evidentemente, é a educação, a formação profissional, a informação farta e
precisa, que os povos do Terceiro Mundo, evidentemente, não dispõem. Daí, mais
uma vez, por omissão das suas elites – ou talvez proposital, quem sabe – parte
considerável da humanidade está em vias de permanecer à margem do progresso, do
bem-estar e da própria civilização”.
(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio
Popular, em 28 de junho de 1992)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment