Controle de inflação
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente Itamar Franco pode ser até uma pessoa muito bem intencionada, mas
quando faz declarações de cunho econômico, é um desastre. Especialmente quando
o assunto enfocado refere-se à inflação. Como muita gente, confunde causa com
efeito. Ou seja, a disparada dos preços, com a desvalorização do
desmoralizadíssimo cruzeiro --- nesta sexta-feira, pasmem, entra em circulação
a cédula de Cr$ 500 mil.
Não
faz muito, quem fosse possuidor de Cr$ 1 milhão gozava de um "status"
especial. Integrava o seleto grupo dos "milionários". E hoje? Essa
importância está abaixo do menor salário do País!
A
sociedade não tem condições, mesmo que pretendesse, num arroubo suicida, de
gerar inflação. Sofre, isto sim, as conseqüências da emissão tresloucada de
moeda sem lastro na produção. E quem tem autoridade para emitir cruzeiros? Os
empresários? Os supermercados? Os bancos?
Não!
Apenas a Casa da Moeda, instituição do governo, tem este poder! E por que o
faz? Para cobrir os contumazes déficits governamentais. Havendo maior volume de
moeda no mercado --- incluindo papéis depositados em bancos --- os preços
tenderão a disparar.
Quaisquer
medidas de caráter artificial para a contenção dessa disparada, tipo controle,
ou congelamento ou "acordos de cavalheiros", estarão,
invariavelmente, fadadas ao fracasso. As experiências tentadas em anos recentes
comprovaram isto. O ministro da Fazenda, Paulo Haddad, sabe disso.
Provavelmente, o presidente também.
Todavia,
a impressão que dá é que Itamar Franco se sente obrigado a dar explicações à
sociedade cada vez que os índices inflacionários dão pinotes como agora em
janeiro, quando se espera que cresçam em torno de dois pontos percentuais ou
mais em relação a dezembro.
Caso
não houvesse moeda em excesso na economia --- e o Banco Central tem condições
para retirar esse excedente do mercado --- de nada valeria indústrias,
farmácias, supermercados, etc., elevarem os preços de seus produtos e serviços.
Tais estabelecimentos permaneceriam literalmente às moscas.
Ninguém,
ou quase ninguém, teria condições de pagar. A maquininha que imprime cédulas é
mais perversa do que aquela que remarca preços. Quando o governo conseguir
controlar suas contas, gastar rigorosamente dentro do montante que arrecada, sem
precisar de empréstimos, tomados da sociedade mediante a emissão de títulos a
juros tentadores, ou, o que é pior, da forma mais desastrosa que existe,
emitindo moeda sem lastro --- uma espécie de cheque sem fundo --- a inflação
poderá, num primeiro instante, ser detida, para a seguir ser controlada ou até
mesmo vencida.
Entrevistas
desastradas, como a que o presidente deu na segunda-feira, insinuando que pode
haver pacote após o Carnaval --- o que precisou de uma nota de esclarecimento
para evitar interpretações de que um novo choque estaria sendo preparado ---
não trazem nenhum efeito benéfico para a já tão combalida economia.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de janeiro de 1993).
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