ONU só autoriza libertar Kuwait
Pedro J. Bondaczuk
O saudoso jornalista David
Nasser afirmou, certa feita, num de seus comentários na extinta revista “O
Cruzeiro” que “é difícil alguém saber se uma guerra é ou não necessária. Mas
sabemos que todas as guerras são desnecessárias”.
A
que está sendo travada no Golfo Pérsico, por conseqüência, também poderia (e
deveria) ser evitada pela sua desnecessidade. As conseqüências desse conflito
se farão sentir por muitos e muitos anos. A destruição do Iraque, por exemplo,
tenderá a trazer desequilíbrios muito mais perigosos para a região do que as
atuais ambições hegemônicas de Saddam Hussein. Isto, porém, é omitido.
Além
disso, sob o pretexto de “estratégia de combate”, a resolução do Conselho de
Segurança das Nações Unidas que autorizou o uso de força para libertar o Kuwait
vem sendo usada de maneira distorcida pela coalizão anti-Bagdá, sem que o
organismo se manifeste a respeito.
O
desabafo feito por uma cidadã iraquiana, na semana passada, cujas palavras
foram veiculadas para o mundo todo através da cadeia de televisão a cabo CNN,
dos Estados Unidos, será uma das imagens marcantes desta guerra quando ela
terminar.
Mostra
que, ao contrário daquilo que ocorria tempos atrás, só mesmo os alienados,
aqueles que se encontram na contramão da história, ainda acham que o recurso às
armas solucione qualquer coisa. Hoje em dia fica cada vez mais difícil os
propagandistas da “pax romana”, a dos cemitérios, convencerem quem quer que
seja da justiça de suas teses.
Sua
defesa do uso dos avanços tecnológicos financiados com os esforços de tantos
para destruir cidades, extirpar vidas, impor situações, são como uma patética
mensagem de um demente, um confuso discurso de algum paranóico, tão carente de
lógica e sentido ela se mostra ser.
A
referida cidadã iraquiana alertou para um fato que tem fugido da atenção dos
“analistas”, engajados numa causa que não é a de defesa do ser humano (que
é concreto), mas de sistemas e de
ideologias (que não passam de abstrações). Disse que a ONU autorizou a expulsão
das tropas iraquianas do Kuwait e não a destruição de Bagdá e outras cidades do
Iraque. E esta é a pura verdade.
Os
políticos mostraram, no correr deste século, especialmente agora quando as
notícias chegam aos lares das pessoas praticamente no instante em que os fatos
ocorrem – quando se permite o trabalho abnegado dos que as reportam – sua
absoluta incompetência.
A
Alemanha conseguiu sua reunificação muito mais em virtude dos alemães orientais
terem saído às ruas das grandes cidades para dar um basta ao comunismo, do que
por decisões de estadistas do Oriente e do Ocidente. Os checos reconquistaram
sua autonomia através da “Revolução de Veludo”, movida por seus cidadãos e não
por seus parlamentares ou militares.
David
Nasser foi extremamente oportuno quando ressaltou: “A única forma de manter o
mundo de liberdade em que vivemos não será o silêncio mas o grito. Nós vamos
ganhar a batalha democrática no grito”. Serão pessoas, e não sistemas, que irão
implantar uma nova ordem mundial, em que as guerras serão consideradas o que de
fato são: crimes contra a humanidade.
(Artigo
publicado na página 15, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 5 de
fevereiro de 1991).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment