O melhor da espécie humana
Pedro J. Bondaczuk
A
partir do próximo dia 19, portanto em menos de duas semanas, milhares de
pessoas de todo o mundo estarão congregadas na cidade norte-americana de
Atlanta --- e mais de um bilhão de outras vão se fazer presentes pela imagem da
televisão --- para uma "guerra" diferente, sem mortos, feridos e sem
destruição. Pelo contrário, será dado um exemplo de como o homem pode viver de
forma harmoniosa e cooperativa, sem deixar de ser competitivo.
Vai
começar o festival de graça, beleza, saúde, força e competência que se repete,
a cada quatro anos (à exceção do período das duas guerras mundiais), há já um
século. São os Jogos Olímpicos, ou Olimpíadas, revivendo o congraçamento que
ocorria aos pés do Monte Olimpo na Grécia Antiga, há quase três milênios.
Se
fosse possível reunir em um só homem (ou uma só mulher) as melhores
características dos atletas ganhadores das medalhas de ouro em cada modalidade
--- alguém que corresse 100 metros em menos de 10 segundos, nadasse a mesma
distância em menos de 50, saltasse com vara mais de 6,10 metros, sem ela quase
9 metros, ou em três saltos ultrapassasse os 18 metros, ou em um só arranque
levantasse mais de 500 quilos) --- esse seria um ser humano fisicamente
perfeito.
Recordes
que pareciam impossíveis de serem quebrados foram há muito superados. Outras
dezenas deles, certamente, vão cair ainda em Atlanta. É o homem em busca dos
seus limites. São a garra, a lealdade, a disciplina, o "fairplay", a
graça, a beleza, a força e a competência em exibição. Durante duas semanas,
estarão reunidos na capital da Geórgia os melhores exemplares físicos da
humanidade, daquilo que todos os homens e mulheres deveriam ser, mas não são.
De
duas décadas para cá, os jogos mudaram, assim como o mundo. Embora muitos
países ainda façam da competição (ou tentem fazer) uma propaganda de ideologias
e sistemas políticos, o que conta de fato é o talento dos atletas. São o seu
coração, a sua garra, o seu treinamento, o seu autodomínio e a sua capacidade
de superação dos próprios limites.
Com
a profissionalização verificada de 1980 para cá, através de patrocínios
oficiais ou privados, os participantes desse desafio esportivo quadrienal
aproximam-se da perfeição nas respectivas modalidades. Dedicam-se exclusivamente
ao esporte e com isso aniquilam recordes e mais recordes, aparentemente
impossíveis de quebrar, mas que continuam caindo.
As
Olimpíadas na Grécia Antiga tinham um fundo também cultural. Entre as
competições, havia disputas de canto e composição. Claudius Aenobarbus, que se
tornaria imperador romano com o nome de Nero, foi, na juventude, campeão
olímpico.
Os
Jogos da era moderna, principalmente desde Moscou, são caracterizados por
espetáculos notáveis de música e coreografia, na abertura e no encerramento das
competições. É possível que as Olimpíadas do futuro --- quem sabe nas de 2096
--- abram espaço para os "atletas do intelecto e da sensibilidade".
Se isso acontecer, a juventude sadia e bonita do Planeta irá compor, de forma
coletiva, o perfil do homem ideal: mente sã, num corpo absolutamente sadio.
(Artigo publicado no caderno de Esportes do Correio
Popular, em 3 de julho de 1996)
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