Friday, July 03, 2015

O melhor da espécie humana


Pedro J. Bondaczuk


A partir do próximo dia 19, portanto em menos de duas semanas, milhares de pessoas de todo o mundo estarão congregadas na cidade norte-americana de Atlanta --- e mais de um bilhão de outras vão se fazer presentes pela imagem da televisão --- para uma "guerra" diferente, sem mortos, feridos e sem destruição. Pelo contrário, será dado um exemplo de como o homem pode viver de forma harmoniosa e cooperativa, sem deixar de ser competitivo.

Vai começar o festival de graça, beleza, saúde, força e competência que se repete, a cada quatro anos (à exceção do período das duas guerras mundiais), há já um século. São os Jogos Olímpicos, ou Olimpíadas, revivendo o congraçamento que ocorria aos pés do Monte Olimpo na Grécia Antiga, há quase três milênios.

Se fosse possível reunir em um só homem (ou uma só mulher) as melhores características dos atletas ganhadores das medalhas de ouro em cada modalidade --- alguém que corresse 100 metros em menos de 10 segundos, nadasse a mesma distância em menos de 50, saltasse com vara mais de 6,10 metros, sem ela quase 9 metros, ou em três saltos ultrapassasse os 18 metros, ou em um só arranque levantasse mais de 500 quilos) --- esse seria um ser humano fisicamente perfeito.

Recordes que pareciam impossíveis de serem quebrados foram há muito superados. Outras dezenas deles, certamente, vão cair ainda em Atlanta. É o homem em busca dos seus limites. São a garra, a lealdade, a disciplina, o "fairplay", a graça, a beleza, a força e a competência em exibição. Durante duas semanas, estarão reunidos na capital da Geórgia os melhores exemplares físicos da humanidade, daquilo que todos os homens e mulheres deveriam ser, mas não são.

De duas décadas para cá, os jogos mudaram, assim como o mundo. Embora muitos países ainda façam da competição (ou tentem fazer) uma propaganda de ideologias e sistemas políticos, o que conta de fato é o talento dos atletas. São o seu coração, a sua garra, o seu treinamento, o seu autodomínio e a sua capacidade de superação dos próprios limites.

Com a profissionalização verificada de 1980 para cá, através de patrocínios oficiais ou privados, os participantes desse desafio esportivo quadrienal aproximam-se da perfeição nas respectivas modalidades. Dedicam-se exclusivamente ao esporte e com isso aniquilam recordes e mais recordes, aparentemente impossíveis de quebrar, mas que continuam caindo.

As Olimpíadas na Grécia Antiga tinham um fundo também cultural. Entre as competições, havia disputas de canto e composição. Claudius Aenobarbus, que se tornaria imperador romano com o nome de Nero, foi, na juventude, campeão olímpico.

Os Jogos da era moderna, principalmente desde Moscou, são caracterizados por espetáculos notáveis de música e coreografia, na abertura e no encerramento das competições. É possível que as Olimpíadas do futuro --- quem sabe nas de 2096 --- abram espaço para os "atletas do intelecto e da sensibilidade". Se isso acontecer, a juventude sadia e bonita do Planeta irá compor, de forma coletiva, o perfil do homem ideal: mente sã, num corpo absolutamente sadio.


(Artigo publicado no caderno de Esportes do Correio Popular, em 3 de julho de 1996)

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