Paz
tem que ser conquistada
Pedro J. Bondaczuk
Os romanos diziam, há já alguns séculos: “Se queres
a paz, prepara-te para a guerra”. Apesar do mundo ter se transformado, demais,
desde aqueles remotos tempos, a doutrina dominante hoje ainda é a mesma. Entretanto,
existem anos-luz de distância entre as épocas, principalmente no que diz
respeito aos riscos e à quantidade de pessoas afetadas por um eventual conflito
global. A principal delas (e a única que deve ser levada, realmente, em conta)
é que os romanos, embora já conhecessem as teorias dos filósofos atomistas
gregos, principalmente de Demócrito de Abdera e de Leucipo de Mileto (que datam
do século V AC), jamais poderiam supor que o homem viria a fazer uso prático
desse conhecimento. E muito menos (nem em seus sonhos mais delirantes) tinham
consciência que essas partículas tão pequenas (que eles acreditavam ser as
menores parcelas da matéria), colocariam um dia em risco até a sobrevivência da
humanidade.
Em resumo, a grande diferença está na existência das
armas atômicas. Hoje, se alguém desejar a paz deve, não apenas preparar-se, mas
lutar por ela. É o que inúmeros grupos de pacifistas pelo mundo afora estão
fazendo. São pessoas que se recusam a aceitar a condição de números, de meras
cifras estatísticas, de massa de manobra, condição que querem nos impor a todo
o custo, e pensam. E, em pensando, sabem dos riscos, já nem tanto de uma guerra
nuclear (que são óbvios), mas da mera existência desses terríveis artefatos de
morte e destruição.
Os perigos são de toda a ordem. Vão, desde a
possibilidade das armas atômicas caírem em mãos de tresloucados terroristas,
até ao de uma explosão acidental. Ou do conflito fatal ser deflagrado por
falhas no radar (que pode detectar, por
exemplo, a queda de algum meteorito sobre o Planeta e levar os responsáveis por
apertar o fatídico botão que dispara os mísseis de qualquer das superpotências
a interpretarem a presença, nas telas, desse corpo estranho, como sendo um
ataque do inimigo e iniciarem a guerra). As possibilidades, múltiplas, vão por
aí afora, o que é aterrador!
Por todos os motivos expostos, portanto, é algo
digno de renovar as esperanças a vitória, obtida ontem, por pacifistas
holandeses que, como resultado das pressões que vêm exercendo sobre seu
Parlamento Nacional, conseguiram que a instalação de 48 mísseis Cruise
norte-americanos no território da Holanda fosse adiada até 1988.
É um minúsculo passo numa longa, perigosa, mas vital
caminhada. Mas tem importância transcendental, no sentido de conduzir os líderes
mundiais a um mesmo (e único) objetivo: o bom senso de banirem do Planeta essas
amaldiçoadas e perigosas engenhocas de guerra.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do
Correio Popular, em 2 de junho de 1984)
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