Monday, July 27, 2015

Paz tem que ser conquistada



Pedro J. Bondaczuk


Os romanos diziam, há já alguns séculos: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Apesar do mundo ter se transformado, demais, desde aqueles remotos tempos, a doutrina dominante hoje ainda é a mesma. Entretanto, existem anos-luz de distância entre as épocas, principalmente no que diz respeito aos riscos e à quantidade de pessoas afetadas por um eventual conflito global. A principal delas (e a única que deve ser levada, realmente, em conta) é que os romanos, embora já conhecessem as teorias dos filósofos atomistas gregos, principalmente de Demócrito de Abdera e de Leucipo de Mileto (que datam do século V AC), jamais poderiam supor que o homem viria a fazer uso prático desse conhecimento. E muito menos (nem em seus sonhos mais delirantes) tinham consciência que essas partículas tão pequenas (que eles acreditavam ser as menores parcelas da matéria), colocariam um dia em risco até a sobrevivência da humanidade.

Em resumo, a grande diferença está na existência das armas atômicas. Hoje, se alguém desejar a paz deve, não apenas preparar-se, mas lutar por ela. É o que inúmeros grupos de pacifistas pelo mundo afora estão fazendo. São pessoas que se recusam a aceitar a condição de números, de meras cifras estatísticas, de massa de manobra, condição que querem nos impor a todo o custo, e pensam. E, em pensando, sabem dos riscos, já nem tanto de uma guerra nuclear (que são óbvios), mas da mera existência desses terríveis artefatos de morte e destruição.

Os perigos são de toda a ordem. Vão, desde a possibilidade das armas atômicas caírem em mãos de tresloucados terroristas, até ao de uma explosão acidental. Ou do conflito fatal ser deflagrado por falhas no radar  (que pode detectar, por exemplo, a queda de algum meteorito sobre o Planeta e levar os responsáveis por apertar o fatídico botão que dispara os mísseis de qualquer das superpotências a interpretarem a presença, nas telas, desse corpo estranho, como sendo um ataque do inimigo e iniciarem a guerra). As possibilidades, múltiplas, vão por aí afora, o que é aterrador!

Por todos os motivos expostos, portanto, é algo digno de renovar as esperanças a vitória, obtida ontem, por pacifistas holandeses que, como resultado das pressões que vêm exercendo sobre seu Parlamento Nacional, conseguiram que a instalação de 48 mísseis Cruise norte-americanos no território da Holanda fosse adiada até 1988.

É um minúsculo passo numa longa, perigosa, mas vital caminhada. Mas tem importância transcendental, no sentido de conduzir os líderes mundiais a um mesmo (e único) objetivo: o bom senso de banirem do Planeta essas amaldiçoadas e perigosas engenhocas de guerra. 

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 2 de junho de 1984)


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