Saturday, July 04, 2015

Novo astro em ascensão


Pedro J. Bondaczuk


A cidade de Nova York costuma inovar, em termos políticos, e isto ocorre não é de hoje. Muita gente ainda se recorda, por exemplo, do prefeito Fiorello la Guardia, homem de origem italiana (morreu vítima de câncer), que na década de 40 livrou essa metrópole da bancarrota e a governou por quatro gestões.

Em 1977, o irrequieto e até um tanto folclórico Edward Irving Koch repetiu o feito, embora não no mesmo tempo de administração. Obteve "apenas" três mandatos, já que o quarto que postulava ele perdeu, anteontem, ao ser derrotado nas eleições primárias do Partido Democrata. Estas consagraram um nome que já vinha em ascensão nas fileiras partidárias e que agora ganha a chance de uma projeção definitiva, de um destaque em âmbito nacional. Trata-se de David Dinkins.

Em novembro próximo, esse político, fiel ao reverendo Jesse Jackson, pode fazer história e tornar-se o primeiro prefeito negro de Nova York. Frise-se que a cidade tem vivido periódicos surtos de violência racial. Aliás, está mal saindo de um deles, agora, originado há três semanas, quando um grupo de rapazes brancos assassinou a porretadas, com um bastão de beisebol, um jovem negro.

O líder democrata, agora candidato oficial do Partido à prefeitura, conquistou a fama de pacificador justamente nesse episódio. Críticos seus acusam-no de ter agido com "oportunismo". Seus defensores, no entanto, contra-argumentam que Dinkins teve, isto sim, foi um extraordinário senso de "oportunidade".

De qualquer forma, tudo indica que pode estar surgindo, agora, nesta que é uma autêntica "capital do mundo capitalista" (embora não seja, sequer, a sede do Estado do mesmo nome), um novo astro, em nível nacional, com aspirações, inclusive (posto que a longo prazo) a uma candidatura à Presidência da República. Talvez não no pleito de 1992, pois que nesse, provavelmente, o reverendo Jesse Jackson deverá fazer a sua última tentativa de disputar a Casa Branca. Mas no de 1996, certamente, se nenhum acidente de percurso em sua carreira política acontecer, isso deverá fatalmente se verificar.

Quanto a Koch, ao que nos parece, o que aconteceu foi um reflexo da campanha presidencial do ano passado. Recordamo-nos que o prefeito novaiorquino, na oportunidade, sustentou uma polêmica com o então pré-candidato negro e fez, inclusive, algumas colocações desastradas, consideradas racistas.

O pessoal do Harlem, do Bronx, de Manhattan e de outras comunidades negras não o perdoou. A maioria cerrou fileiras em torno de Dinkins. E, convenhamos, nem todos agiram dessa forma por convicção, apenas, de que ele seja o melhor. Koch, ao que se depreende, pecou por falar demais, e quando não deveria.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 14 de setembro de 1989).


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