Thursday, July 30, 2015

Livro nascido por “geração espontânea”.

Pedro J. Bondaczuk

Há bons livros que “nascem”, não diria que por acaso, mas quase isso. Ou seja, que são escritos sem essa finalidade específica, mas que se revelam tão bons, que seus autores resolvem publicá-los. Vários acabam, até, se tornando best-sellers, sucessos inegáveis de vendas, dada sua utilidade, ou o interesse que despertam, ou ambas as coisas, o que nem mesmo é tão raro. São os casos, por exemplo, de teses universitárias de doutorado, ou de pesquisas de várias ordens (científicas, sociológicas, históricas, literárias etc.), que se transformam em volumes impressos e são comercializados pelas respectivas editoras. Contudo, esses não são os únicos casos. Muitos livros “nascem” da reunião de textos esparsos (quase sempre crônicas, mas não apenas estas) publicados pelos autores ou em jornais em que sejam colunistas, ou em revistas, ou, mais recentemente, em blogs. Ou seja, que são redigidos não especificamente para esse fim.

Com romances, por razões compreensíveis, isso é mais raro de acontecer, embora às vezes aconteça. Muitos contos, escritos para determinada revista, acabam se revelando tão bons, têm tamanha aceitação da parte dos leitores, que seus autores decidem ampliá-los, estendê-los, adaptá-los e publicá-los como peças desse complexo gênero. E, salvo exceções, tornam-se sucessos. Alguns, até, são premiados e conferem, por conseqüência, prestígio e credibilidade aos escritores que têm esse tipo de inspiração. Romances, em geral, tendem a ser rigorosamente planejados. Alguns têm planejamento tão meticuloso, que podem ser comparados a plantas de edifícios.

Todavia, mesmo estes, raramente seguem rigorosamente o plano pré-estabelecido. Determinados personagens, por exemplo, criados para serem meramente “figurantes”, crescem de importância no desenvolvimento do enredo e acabam se transformando, se não nos principais da história, pelo menos em protagonistas. Quem já escreveu e publicou algum livro sabe do que estou falando. Não raro, “abortamos” determinadas obras meticulosamente planejadas, por uma série de razões desnecessárias de serem declinadas e nunca mais retomamos aquele projeto, aquela idéia que um dia nos pareceu tão promissora, nem mesmo sob outra aparência. Comigo isso já aconteceu, e mais de uma vez. Com vários dos meus amigos também.

E onde pretendo chegar com todo esse bla-bla-blá? Simples: à revelação que mais um livro meu acaba de “nascer” por geração espontânea, o que é impossível na natureza, mas não na Literatura. Refiro-me à série de textos comentando a vida e a obra de Machado de Assis, que partilhei com vocês desde o início de fevereiro deste volátil 2015. Eles “nasceram” praticamente ao sabor do acaso. A idéia inicial era a de que fossem, no máximo, cinco, atendendo solicitações de leitores, feitas por e-mail.

Todavia, o tema é tão rico, rendeu tanto e empolguei-me de tal sorte com o assunto, que, em vez de redigir cinco comentários, como planejado, redigi mais de sessenta! E olhem que deixei de lado aspectos importantíssimos da vida e da obra de Machado de Assis, o que talvez aborde no futuro. Fiquei empolgado, sobretudo, quando alguém me informou que estava imprimindo cada um desses textos e os arquivando em pastas específicas. Meu entusiasmo cresceu ainda mais quando um leitor revelou que a série, nascida praticamente por acaso, estava sendo de grande utilidade nas suas aulas de Literatura em determinada faculdade de letras. Que bom!

Lendo calmamente os textos, concluí que, reunidos, e com alguns ajustes, dariam um livro de ensaios até que razoável. Ademais, eles podem ser lidos tanto isoladamente (em forma de artigos ou de crônicas, como queiram) quanto em conjunto, sem que, em nenhum dos casos, percam a coerência. Cada comentário tem começo, meio e fim. Esta não é a primeira obra minha que nasceu dessa maneira. Pelo menos outras três surgiram assim. São os casos do panorama literário de Brasília, que escrevi em 2010, quando do cinqüentenário de fundação da Capital da Esperança; dos principais ficcionistas da Bahia e “Copas ganhas e perdidas”, retrospecto de todos os mundiais de futebol que pude acompanhar, desde o de 1950 ao de 2014, que culminou com os acachapantes e humilhantes 7 a 1 da Alemanha.

Nenhum desses livros foi publicado e nem sei se algum, ou se todos eles virão a ser, algum dia. Intuo que sim, mas... Mesmo se não forem, todavia, o fato é que eles “existem”, estão prontinhos, pré-editados e revisados e, o que é melhor, estão à disposição dos internautas, que podem acessar texto por texto que os compõem e fazer deles o uso que melhor lhes aprouver (desde que respeitem, claro, meus direitos autorais, sobretudo o de autoria, que deve sempre ser explicitada). Quem sabe se desta vez alguma editora se interesse por este novo livro, ainda sem título, mesmo que tratando de assunto tão batido, mas jamais esgotado. Não raro as circunstâncias favorecem esse tipo de surpresa. Enfim...


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