Livro nascido por “geração
espontânea”.
Pedro
J. Bondaczuk
Há bons livros que
“nascem”, não diria que por acaso, mas quase isso. Ou seja, que são escritos
sem essa finalidade específica, mas que se revelam tão bons, que seus autores
resolvem publicá-los. Vários acabam, até, se tornando best-sellers, sucessos
inegáveis de vendas, dada sua utilidade, ou o interesse que despertam, ou ambas
as coisas, o que nem mesmo é tão raro. São os casos, por exemplo, de teses
universitárias de doutorado, ou de pesquisas de várias ordens (científicas,
sociológicas, históricas, literárias etc.), que se transformam em volumes
impressos e são comercializados pelas respectivas editoras. Contudo, esses não
são os únicos casos. Muitos livros “nascem” da reunião de textos esparsos
(quase sempre crônicas, mas não apenas estas) publicados pelos autores ou em
jornais em que sejam colunistas, ou em revistas, ou, mais recentemente, em
blogs. Ou seja, que são redigidos não especificamente para esse fim.
Com romances, por razões
compreensíveis, isso é mais raro de acontecer, embora às vezes aconteça. Muitos
contos, escritos para determinada revista, acabam se revelando tão bons, têm
tamanha aceitação da parte dos leitores, que seus autores decidem ampliá-los,
estendê-los, adaptá-los e publicá-los como peças desse complexo gênero. E,
salvo exceções, tornam-se sucessos. Alguns, até, são premiados e conferem, por
conseqüência, prestígio e credibilidade aos escritores que têm esse tipo de
inspiração. Romances, em geral, tendem a ser rigorosamente planejados. Alguns
têm planejamento tão meticuloso, que podem ser comparados a plantas de
edifícios.
Todavia, mesmo estes,
raramente seguem rigorosamente o plano pré-estabelecido. Determinados
personagens, por exemplo, criados para serem meramente “figurantes”, crescem de
importância no desenvolvimento do enredo e acabam se transformando, se não nos
principais da história, pelo menos em protagonistas. Quem já escreveu e
publicou algum livro sabe do que estou falando. Não raro, “abortamos” determinadas
obras meticulosamente planejadas, por uma série de razões desnecessárias de
serem declinadas e nunca mais retomamos aquele projeto, aquela idéia que um dia
nos pareceu tão promissora, nem mesmo sob outra aparência. Comigo isso já
aconteceu, e mais de uma vez. Com vários dos meus amigos também.
E onde pretendo chegar
com todo esse bla-bla-blá? Simples: à revelação que mais um livro meu acaba de
“nascer” por geração espontânea, o que é impossível na natureza, mas não na
Literatura. Refiro-me à série de textos comentando a vida e a obra de Machado
de Assis, que partilhei com vocês desde o início de fevereiro deste volátil
2015. Eles “nasceram” praticamente ao sabor do acaso. A idéia inicial era a de
que fossem, no máximo, cinco, atendendo solicitações de leitores, feitas por
e-mail.
Todavia, o tema é tão
rico, rendeu tanto e empolguei-me de tal sorte com o assunto, que, em vez de
redigir cinco comentários, como planejado, redigi mais de sessenta! E olhem que
deixei de lado aspectos importantíssimos da vida e da obra de Machado de Assis,
o que talvez aborde no futuro. Fiquei empolgado, sobretudo, quando alguém me
informou que estava imprimindo cada um desses textos e os arquivando em pastas
específicas. Meu entusiasmo cresceu ainda mais quando um leitor revelou que a
série, nascida praticamente por acaso, estava sendo de grande utilidade nas
suas aulas de Literatura em determinada faculdade de letras. Que bom!
Lendo calmamente os
textos, concluí que, reunidos, e com alguns ajustes, dariam um livro de ensaios
até que razoável. Ademais, eles podem ser lidos tanto isoladamente (em forma de
artigos ou de crônicas, como queiram) quanto em conjunto, sem que, em nenhum
dos casos, percam a coerência. Cada comentário tem começo, meio e fim. Esta não
é a primeira obra minha que nasceu dessa maneira. Pelo menos outras três
surgiram assim. São os casos do panorama literário de Brasília, que escrevi em
2010, quando do cinqüentenário de fundação da Capital da Esperança; dos
principais ficcionistas da Bahia e “Copas ganhas e perdidas”, retrospecto de
todos os mundiais de futebol que pude acompanhar, desde o de 1950 ao de 2014,
que culminou com os acachapantes e humilhantes 7 a 1 da Alemanha.
Nenhum desses livros
foi publicado e nem sei se algum, ou se todos eles virão a ser, algum dia.
Intuo que sim, mas... Mesmo se não forem, todavia, o fato é que eles “existem”,
estão prontinhos, pré-editados e revisados e, o que é melhor, estão à
disposição dos internautas, que podem acessar texto por texto que os compõem e
fazer deles o uso que melhor lhes aprouver (desde que respeitem, claro, meus
direitos autorais, sobretudo o de autoria, que deve sempre ser explicitada).
Quem sabe se desta vez alguma editora se interesse por este novo livro, ainda
sem título, mesmo que tratando de assunto tão batido, mas jamais esgotado. Não
raro as circunstâncias favorecem esse tipo de surpresa. Enfim...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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