Friday, January 31, 2014

Não raro passamos a vida esperando que outros façam o que só a nós compete fazer. Esperamos muito de um alguém, que nos valorize, engrandeça e nos faça felizes, quando essa pessoa não pode ou não quer fazer o que achamos que possa ou deva. Não podemos pôr o comando de nossa nau em mãos alheias. Depender dos outros para a realização pessoal ou para obter a felicidade é como procurar determinada estrela, numa noite clara, entre bilhões de pontos de luz no firmamento. A possibilidade de frustração é infinita. Temos potencial enorme que, se desenvolvido, nos tornará quase auto-suficientes. Mas é preciso querer e fazer acontecer. Sigamos o conselho do poeta Virgílio Ferreira que faz este questionamento: “Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela?”. E, a seguir, nos dá a fórmula do sucesso: “Põe-na lá!!!”. Coloquemos, pois, a estrela da felicidade no firmamento das nossas vidas.


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Treze aspirantes disputam a Casa Branca


Pedro J. Bondaczuk


A corrida sucessória norte-americana apresentou, nessa linha de largada, que foi a eleição primária do Estado de Iowa, 13 aspirantes a candidatos presidenciais, sendo seis republicanos e sete democratas. Os partidários do presidente Ronald Reagan, que têm a pretensão de o suceder na Casa Branca, são: Robert Dole, senador pelo Kansas e líder do seu partido no Senado; George Bush, atual vice-presidente da República; general Alexander Haig, ex-secretário de Estado; pastor Pat Robertson; deputado Jack Kemp e o ex-governador do Delaware, Pete du Pont.

Os opositores democratas, que sonham com a presidência, são: Gary Hart, ex-senador pelo Colorado; Richard Gephardt, deputado pelo Missouri; Paul Simon, senador pelo Illinois; Michael Dukakis, governador de Massachusetts; Bruce Babitt, ex-governador do Arizona; Albert Gore, senador pelo Tennessee e o pastor Jesse Jackson, negro, ativista pelos direitos civis.

Neste primeiro “braço-de-ferro”, Dole e Gephardt levaram a melhor, em seus respectivos partidos. Isso não quer dizer, no entanto, que os demais devam desistir agora. O impacto das primárias de Iowa é meramente psicológico. Pode dar alento a uma candidatura aparentemente inviável (como ocorreu com Jimmy Carter em 1976) ou levar alguém considerado favorito à desistência.

Mas pode, também, não Ter efeito algum. Afinal, é só o início de uma longa caminhada, que vai culminar com as convenções: democratas, em Atlanta, na Geórgia, em julho próximo e republicanas, um mês depois, em Nova Orleans, na Louisiana.

A despeito da péssima performance do senador Hart, em Iowa, para nós ele continua sendo o favorito do seu partido e quiçá da própria campanha sucessória deste ano. Briga bonita, porém, deve acontecer entre Bush e Dole. Por mera questão de palpite, apostamos no primeiro, que por sinal, teve dois êxitos consecutivos, com a prévia do seu Estado natal, o Kansas, no domingo e a primária de ontem.

Conseguiu, dessa forma, uma vantagem que se souber administrar adequadamente, poderá somente se ampliar daqui para a frente. Vemos muito mais consistência em sua campanha e em suas propostas do que nas dos seus cinco oponentes republicanos. E o senador do Kansas não tem contra si o fantasma do escândalo “Irã-contras”, como o seu mais direto rival.

É evidente que é extremamente prematuro fazer qualquer prognóstico sério, por enquanto. Bush, no entanto, jamais saiu da “promessa”. Embora conte com vasta experiência política, desde que deixou o Texas para ocupar a direção da Agência Central de Inteligência, a CIA, e por duas vezes a vice-presidência, nunca se caracterizou por gestos grandiloqüentes, desses que impressionam o eleitorado.

E, para complicar, tem um “Irangate” a lhe enredar os passos. Contudo, não se pode considerar esse milionário texano batido por antecipação. Muita água ainda vai rolar até as convenções republicanas. Por isso, o jeito é esperar...


(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 9 de fevereiro de 1988).

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Paixão pelo ser humano

Pedro J. Bondaczuk

A grande paixão da vida de Oswaldo Dias da Costa não foi, como se pode supor, a Literatura, embora seu talento literário fosse tamanho que ele é, sem dúvida alguma, escritor de presença obrigatória em qualquer antologia de ficção que se preze, pela qualidade, originalidade e criatividade dos seus contos. Ademais, é acatado, “quase” que consensualmente (raramente existe consenso no mundo literário), como um dos maiores ficcionistas que a Bahia e o País conheceram em todos os tempos. Não digo que não gostasse de escrever, pois fazer uma afirmação dessas seria até irresponsabilidade, se não grosseira heresia. Afirmo, no entanto, por todos os seus antecedentes, que não acreditava na Literatura como forma de lhe assegurar a imortalidade do nome. Aliás, nem era, sequer, algo que cogitasse.

A paixão que acompanhou Dias da Costa a vida toda era a utopia socialista, a da igualdade, fraternidade, solidariedade e justiça social, ideal que, na prática, nunca chegou a ser concretizado e do qual nenhum regime sequer se aproximou, mesmo que remotamente. Era, em última análise, o homem, sobretudo o simples e oprimido, privado de inalienáveis direitos. Antirreligioso, agnóstico e sumamente cético, “só tinha fé no povo e na Revolução, que o elevaria a patamares mais altos de vida e dignidade, nos ideais sagrados do Socialismo”, como acentua Gil Francisco, em cujo perfil biográfico que escreveu, a propósito desse escritor, colhi a maior parte das informações que fundamentam estes descompromissados comentários.

Coerente com seus ideais, Dias da Costa filiou-se, em 1935, ao Partido Comunista, do qual viria a se desligar vinte e cinco anos após, em 1960, naquele seu período de vida em que começou a se retrair, se afastar dos amigos e se isolar por completo, atitude que até hoje permanece incompreensível, porquanto, agindo como agiu, jogou pela janela todas as oportunidades de projeção, tanto literárias quanto sociais. Quando se filiou ao PC, essa ideologia empolgava a juventude idealista, e não somente brasileira, mas praticamente do mundo todo, que acreditou na utopia da plena justiça social. A guerra civil da Espanha estava em andamento e milhares de jovens comunistas alistaram-se, como voluntários, para combater o fascismo, representado pelo general espanhol Francisco Franco, que contava com o apoio logístico, material e principalmente militar dos ditadores Benito Mussolini e Adolf Hitler. O Brasil vivia, há já cinco anos, sob a ditadura de Getúlio Vargas, que “namorava”, ostensivamente, com o nazifascismo e movia, por conseqüência, implacável perseguição aos adeptos da esquerda.

Ressalte-se, porém, que apesar das suas convicções, Dias da Costa jamais fez do talento literário instrumento de propaganda da ideologia que o fascinava e mobilizava. Separou uma coisa da outra e essa separação foi mais um dos fatores que lhe emprestaram a credibilidade de que goza até hoje. É claro que, de uma forma ou de outra, suas idéias igualitárias influenciaram os enredos que criou e, sobretudo, os personagens que brotaram de sua inspiração. Gil Francisco observa a respeito: “Sua obra, de um modo geral, parece ter sido fecundada por um sentimento de solidariedade do homem como partícula social, sem que esse sentimento, entretanto, se apouque a reduzir-se a manifesto político”.

E prossegue, mais adiante: “O tom humano de sua criação a torna atemporal, ainda que tendo como cenário a Bahia, o que não o impede que sejam realizações duradouras, marca inconfundível de um grande escritor”. Todavia, há que se ressaltar seu talento descritivo, seu estilo limpo, direto e claro, que lembra mais um inspirado poema em prosa que propriamente a narrativa nua e crua das maldades e contradições humanas que caracterizam quase todas as obras de ficção. Isso fica claro, por exemplo, na forma com que encerrou o conto “Um simples farol no mar”, publicado em “Histórias da Bahia” (Edições GDR, 1963), antologia que tomei por referência para esta série de estudos sobre alguns dos principais ficcionistas baianos. Confiram:

“(...) As estrelas estavam brilhando, o mar estava sossegado, as vagas se espraiavam, mansas, na praia sem ruídos. Dentro de casa Mariana estava dormindo, talvez sonhando. Agora não havia grilos cantando, nem o coaxar dos sapos rasgava a noite da lagoa no fundo. Os coqueiros estavam aprumados e tranqüilos, com as palmas rendilhadas decorando a noite quieta. A paz era absoluta sob as estrelas. Mas essa paz não era possível para eles. E isso lhe dizia o farol, lá de longe, do outro lado da baía, enviando a mensagem de seu clarão vermelho que deslizava de leve pela superfície das águas paradas.

Leonardo estava lá embaixo, o saveiro pronto, o cachimbo brilhando na escuridão da noite agora sem mistérios.

Carlos olhou as estrelas, olhou o mar imóvel, olhou o colar de luzes da cidade defronte, abarcou, num último olhar, o pequeno mundo, que procurava prendê-lo. Então, decidido de uma vez, esperou que o falor brilhasse de novo e novamente se apagasse.; Depois, abaixou-se devagar, enfiou a carta para Mariana por baixo da porta, ergueu-se num repelão e estirou os braços longos para distender os músculos entorpecidos. Só então, sem olhar para trás nem uma vez, marchou em passos medidos pela praia, procurando o saveiro pequeno de Leonardo, enquanto no céu as estrelas continuavam cintilando infatigavelmente”.

Como se vê, é linguagem de “poeta”, que de certa forma Dias da Costa foi, no sentido original da palavra “poesia”, em sua raiz grega, usada para descrever “ação”. O que a meu ver é mais relevante na vida desse escritor é o fato dele ter “vivido” o que sempre acreditou, ao contrário de muitos e muitos pseudo-idealistas, cujo ideal é somente de fachada, do tipo “faça o que falo, mas não o que faço” e que em última análise é mero “devaneio de solteirona” ou seu equivalente. Mesmo pagando preço muito alto, proibitivo, por sua desconfiança no próprio talento, jogando, literalmente, o sucesso “pela janela”, admiro e respeito a coerência de Dias Costa que, a despeito de tudo, e à sua revelia, é, e sempre será, “imortal”, modelo a ser seguido por escritores das gerações futuras quando o assunto for ficção.


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Thursday, January 30, 2014

A beleza, mesmo a física, não tem idade e se manifesta em todas as fases da  vida. Inúmeras obras de arte retratam pessoas nas mais diversas das suas etapas de existência, desde a de bebê à de vivido ancião. É inspirador, por exemplo, vermos um recém-nascido saudável e feliz, na glória da sua inocência. Crianças brincando, alegres e despreocupadas, formam quadros de imenso encanto e poesia, assim como adolescentes, no esplendor da juventude. E, se repararmos bem, acharemos belas, igualmente, pessoas idosas, apesar das suas rugas e dos cabelos grisalhos, ou graças a eles, pois estes lhes sugerem vivência e experiência. Reitero, beleza não tem idade, mas exige espontaneidade. Qualquer artificialismo compromete a visão do belo. Faz com que aquilo que é bonito já não o seja tanto. Robert Brasillach constatou, a propósito: “Cada idade tem a sua beleza e essa beleza deve ser sempre uma liberdade”.


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Deu para o gasto


Pedro J. Bondaczuk


A vitória da seleção brasileira sobre a Rússia confirmou alguns temores, desfez outros, trouxe algumas surpresas agradáveis, outras nem tanto, mas deu para o gasto. Como primeiro passo, numa caminhada que se pretende vitoriosa, culminando com uma final, em 17 de julho próximo, no Rose Bowl de Los Angeles, o saldo foi positivo.

Mas o time terá que --- e acreditamos que irá --- evoluir muito até alcançar o objetivo maior, que é a conquista do tão sonhado tetra. O temor confirmado no jogo de anteontem foi o que se refere à falta de criatividade do meio de campo.

Prova disso é que Romário, o nosso "matador", recebeu somente quatro bolas em condições mais ou menos ideais. Uma, de escanteio, colocou nas redes russas. Em duas outras, sofreu penalidades máximas, das quais só uma foi marcada. E a quarta foi uma cabeçada que deu, na pequena área, no segundo tempo. No mais, a bola sequer chegou aos seus pés.

O temor desfeito foi a respeito de Raí, que teve uma atuação soberba, lembrando os bons tempos do São Paulo. Combateu, tabelou, lançou, comandou a equipe e chamou para si a responsabilidade do jogo. Certamente nos sonhos da maioria esboçou-se, com mais nitidez, a imagem do nosso capitão recebendo a taça, se Deus quiser, em 17 de julho.

A surpresa agradável foi a bela partida disputada por Leonardo. Não que ele tivesse deixado dúvidas acerca de seu talento ou competência. Está muitos, muitíssimos furos acima de Branco. Ocorre que não vinha jogando na lateral esquerda há muito. Precisou readaptar-se à posição em menos de um mês. E saiu-se além das expectativas.

A surpresa desagradável ficou por conta da contusão de Ricardo Rocha. Ao que tudo indica, o vigoroso quarto zagueiro não jogará mais nessa Copa, seguindo os passos do seu xará, o Gomes, que sofreu distensão muscular no amistoso contra El Salvador.

Embora estejamos otimistas com a Seleção, não vamos cair no exagero de afirmar que a equipe fez, anteontem, uma partida primorosa. Mas tem tudo para evoluir e, certamente, irá. Pena que o futebol alegre, mágico, com a beleza plástica do balé, seja coisa do passado. Não somente em relação ao Brasil, mas também ao resto do mundo.

Camarões e Colômbia, cantados e decantados em verso e prosa como os sucessores do talento brasileiro de épocas não muito distantes (basta que nos lembremos de 1982), mostraram que não são nada disso. Aos camaronenses falta objetividade e sobra irresponsabilidade. Já os colombianos confundiram tudo e pensaram que a Copa fosse um baile a fantasia: mostraram uma máscara como poucas vezes se viu.

(Artigo publicado na página 2, do caderno "Copa 94" do Correio Popular, em 22 de junho de 1994).


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Várias formas de analfabetismo

Pedro J. Bondaczuk

O Brasil é o oitavo país do mundo em número de analfabetos com mais de quinze anos de idade. É, pelo menos, o que leio em matéria da “Folha de S. Paulo” on line, na edição de 29 de janeiro de 2014. Mais esta! Esse é um ranking que gostaria que não figurássemos jamais. Ainda mais em uma posição tão desvantajosa e lamentável. É certo que o Brasil está nessa colocação por ser um dos cinco países mais populosos do mundo (é exatamente o quinto). Tanto que quem ocupa a liderança mundial nesse quesito é a Índia, seguida da China. Nesse caso, inverteram-se, apenas, as posições em relação ao número total de habitantes. Os indianos constituem o segundo maior contingente populacional do mundo e os chineses são os primeiros. O Paquistão, que é o terceiro em número de adultos analfabetos, leva desvantagem, pois tem população total bem menor que o Brasil.

Para nós, todavia, ganha relevância a situação brasileira. Ademais, não se trata, propriamente dito, de questão numérica, ou da posição que cada país ocupa nesse lamentável ranking. A existência de um único analfabeto já é preocupante. Imaginem 13,2 milhões (os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)!!!. Essas cifras, é verdade, podem ser menores, mas podem, também, ter crescido, já que se referem a 2012.

Com todas as possíveis atenuantes, todavia, essa quantidade de adultos analfabetos preocupa, e muito. Sobretudo, particularmente, a nós, que garantimos nossa sobrevivência econômica com a produção de textos. É óbvio que, quanto mais forem as pessoas que não saibam ler, menor será a quantidade de nossos leitores potenciais. E no caso brasileiro, estamos perdendo pelo menos 13,2 milhões deles. Claro que não somos apenas nós que perdemos com isso. Todos, absolutamente todos perdem, mesmo que muitos achem que não. Ninguém, rigorosamente ninguém sai ganhando. Em termos proporcionais, para um país de 202 milhões de habitantes, a cifra não chega a ser alarmante. Insisto, todavia, que não se trata de quantidade. Trata-se de um contingente nada desprezível de brasileiros que nada mais têm a oferecer à sociedade (sem contar às suas famílias) senão, e exclusivamente, a força muscular de seus braços (isso se a tiverem).

O levantamento da Organização das Nações Unidas para a Educação,  a Ciência e a Cultura (Unesco), não leva em conta o imenso contingente de analfabetos funcionais, nem no Brasil e nem no mundo. Deveria levar. Quem está nessas condições não sabe, de fato, ler e nem escrever. Analfabeto funcional, recordo, é aquele sujeito que sabe “escrever” (na verdade “        desenhar”) o nome, consegue juntar letras para formar palavras, mas não entende bulhufas do que lê. Pois então, onde a dúvida? Por que a diferença de classificação? É analfabeto, sim senhor, e ponto!!! Se formos considerar esse grupo, que em 2012 atingia 27,8 milhões de brasileiros, teremos um total de 41 milhões de nossos leitores potenciais a menos. É muita gente! É pouco menos do que o equivalente à população total da França!!!

Imaginem, então, se fôssemos adotar o critério de analfabetismo detectado por Mário Quintana! Para quem não sabe a que me refiro, informo que o poeta escreveu certa feita: “O pior analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê”. Por este parâmetro, as cifras de brasileiros nessas condições iriam às nuvens, talvez às estrelas. Chego a desconfiar que girariam ao redor dos 90%. Exagero meu? Nem tanto! É só atentar para as estatísticas de leitura. E estas indicam que o brasileiro lê, em média, dois livros por ano!!! Isso mesmo, apenas dois!!!. Essa quantidade é a mesma que muitos leitores compulsivos (pena que não sejam tantos quantos desejaríamos) lêem, e não muito raro, em somente um único dia. Já nem sonho com uma cifra astronômica dessas. Já me contentaria se a média de leitura dos brasileiros fosse de doze livros por ano, ou um por mês. É muito? Claro que não!!!

Fico imaginando quantos seriam os analfabetos, e não somente no Brasil (porém principalmente nele), mas no mundo, se o critério de analfabetismo fosse o proposto pelo escritor e futurólogo norte-americano, Alvin Toffler, que afirmou: “O analfabeto no século XXI não será aquele que não consegue ler nem escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”. Quantos contam com essa habilidade? Poucos, pouquíssimos, talvez meia dúzia de gatos pingados. Este sim é monumental desafio para qualquer pessoa, incluindo intelectuais. Implica em reconhecimento de erro no aprendizado e em saudável e inteligente volta atrás. Só acho que Toffler foi otimista demais em sua previsão. Ela deixou implícito que neste século, que vai caminhando para sua segunda década, não teria mais ninguém que não soubesse ler e nem escrever. Enganou-se. Só de adultos, conforme a Unesco, ou seja, só de pessoas com mais de quinze anos de idade, o mundo tem 774 milhões de analfabetos (e isso sem contar os “funcionais”). Que atividade mais maluca é esta que escolhemos para assegurar nossa sobrevivência!!!


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Wednesday, January 29, 2014

Sonhar não implica em nenhuma capacidade especial de ninguém ou sequer qualquer tipo de esforço. Basta que nos deitemos, à noite, para que o cérebro projete inúmeros sonhos na mente. Esquecemos quase todos, tão logo venhamos a despertar. Dizem os especialistas que os animais também sonham. Há, porém, um tipo de sonho muito especial (que temos quando estamos bem acordados) que são os objetivos e desejos que nutrimos. Estes, porém, requerem esforço, muito esforço, preparo e dedicação, para que se transformem em realidade. Mas poucos se dispõem a lutar, de fato, por eles, esperando (em vão) que se materializem por si sós. O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu, a propósito, em uma de suas crônicas: “Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho”. Mas é essa dificuldade que valoriza as conquistas, as torna tão saborosas e especiais, dignas de serem buscadas com persistência e vigor.


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Verbas para educação

  
Pedro J. Bondaczuk


A educação, que é o único caminho para o Brasil sair do seu atraso, resgatar a cidadania da maior parte de sua população e promover o desenvolvimento auto-sustentado, com justiça social, é encarada, infelizmente, por sucessivos (se não por todos) governos como uma área secundária.

E não nos referimos somente à destinação de recursos financeiros, insuficientes e aplicados um tanto aleatoriamente, de maneira dispersiva. A própria doutrina de ensino do País, em muitos aspectos, é equivocada. Os administradores, por exemplo, priorizam a construção de prédios, em detrimento de salários justos para os professores, compatíveis com a importância da sua nobre missão.

Esta semana o Tribunal de Contas da União apresentou números sobre as despesas do governo, no ano passado, com a educação, que mostram que os diagnósticos de anos anteriores não serviram para nada. O TCU constatou que a maior parte dos recursos é aplicada no ensino superior em detrimento do básico.

Quem ler de forma desatenta o relatório irá concluir que o Brasil é um país de doutores, o que está muito longe da realidade. Claro que a universidade é importante e, quando possível, merece receber não somente a verba que recebeu no ano passado, mas o dobro, o triplo, ou seja que múltiplo for dessa quantia. Só que nunca em detrimento da eliminação do analfabetismo e da universalização do ensino fundamental.

Aliás, essa atitude viola a atual Constituição. Não se pode culpar apenas o governo de Itamar Franco por este deslize. Desde 1988, essa violação vem se repetindo. O texto constitucional, no artigo 60 das Disposições Transitórias, determina que a metade dos 18% arrecadados com impostos pela União --- ou seja, 9% --- seja destinada à eliminação do analfabetismo e à universalização do ensino de base.

Contudo, o TCU vem constatando, nos últimos seis anos, que os investimentos oscilam entre 4% e 4,2%. Menos da metade daquilo que deveria. Que ninguém nos interprete mal e pense que sejamos contrários à educação universitária. Defendemos não a redução de verbas às universidades, mas sua máxima multiplicação. E, sobretudo, sua aplicação racional, com prioridade para a pesquisa, setor no qual o Brasil ainda é muito carente. Mas, convenhamos, é um absurdo esse menosprezo atual pelo ensino de base!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de junho de 1994).


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Escritor refratário ao sucesso

Pedro J. Bondaczuk

A obra literária do baiano Oswaldo Dias da Costa, em ficção e em não-ficção, é relativamente escassa. Consiste, se não me falha a memória, de três livros publicados. Ou melhor, a rigor, considera-se que, de fato, foram quatro os que publicou, já que o primeiro a ser lançado foi escrito a “seis mãos”. “Como?”, perguntará o leitor intrigado, como eu fiquei. Ocorre que, em 1929, ele escreveu uma novela, em parceria com dois dos seus maiores amigos e companheiros da Academia dos Rebeldes: Jorge Amado e Edison Carneiro. O livro em questão recebeu o título de “Lenita” e foi publicado um ano depois, no Rio de Janeiro, por Coelho Branco Filho Editor.

Se já são raras as parcerias literárias envolvendo dois escritores, imaginem as de três! Não afirmo que não existam, mas não conheço nenhuma (a não ser esta, que citei). O curioso é que nem Dias da Costa, nem Edison Carneiro e muito menos Jorge Amado reconhecem a “paternidade” dessa novela. Todos os três renegaram-na. Todavia, o livro existe: foi escrito, publicado e vendido. Portanto, queiram ou não seus autores (pelo menos oficialmente) essa publicação desprezada por eles consta, mesmo que à revelia, de seus respectivos currículos. E, cá para nós, supondo que seja um livro muito ruim (o que não é), “Lenita” não conseguiria depreciar a obra posterior desse trio de ouro da ficção brasileira. Vá se entender a cabeça de determinados escritores! Enfim, fica registrado que os três renegaram essa novela até a hora da morte.

Os outros três livros de Dias da Costa foram: “Canção do beco” (Editora Guaíra, Rio de Janeiro), um primor literário, considerado como sua obra-prima; “Mirante dos aflitos” (Difusão Europeia do Livro), ambos de contos e “Bumba-meu-boi” (Caderno de Folclore-Companhia Nacional de Folclore-MEC), uma espécie de ensaio sobre essa importante manifestação folclórica brasileira. Nosso personagem, apesar de nunca haver se empolgado com a Literatura e de, no final da vida, ter confessado seu profundo desencanto e decepção em relação à atividade, foi daqueles escritores de poucos livros, mas todos fundamentais para as letras.

Tanto isso é verdade, que mesmo transcorridos 34 anos da sua morte (ocorrida, no Rio de Janeiro, em 6 de fevereiro de 1979, aos 72 anos de idade), não há uma única antologia de ficção que se preze que não tenha um conto seu. Inclusive “Histórias da Bahia” (Edições GDR, 1963), que tomei como referência para esta série de estudos sobre os principais ficcionistas baianos. Suas histórias são profundas, humanas, cheias de piedade e compreensão pelos que sofrem em  que se destaca sua profunda solidariedade para com os fracos e oprimidos. Não há como não gostar dos seus contos. São coisas de gênio.

Pena que Dias da Costa publicasse tão pouco. E olhem que tinha tudo na mão para lançar livros e mais livros. Por exemplo, foi chefe de publicidade de uma das maiores editoras do País no seu tempo, a José Olympio, no Rio de Janeiro, cargo em que sucedeu o amigo Jorge Amado e que assumiu por indicação deste. Seu livro “Canção do beco”, composto por 22 histórias, cada uma melhor do que a outra, foi muitíssimo bem recebido tanto pela crítica, quanto pelo público. Esgotou, rapidamente, a primeira edição. Todavia, quando a editora o procurou para lançar uma segunda (e provavelmente, terceira, quarta e vai por aí afora), ele recusou, argumentado que essa obra impecável tinha inúmeras falhas (que, evidentemente, não tinha).

O mesmo ocorreu em relação a “Mirante dos aflitos”, lançado apenas 21 anos depois do livro de estréia (se considerarmos que este não foi “Lenita”, que ele renegou). Foi uma edição caprichada, nos mínimos detalhes, do tipo que consagra qualquer escritor, oportunidade que todos eles aspiram e com a qual sonham. Essa obra integrava a coleção “Novela Brasileira”, dirigida por ninguém menos que Bráulio Pedroso, com capa e ilustrações de Glauco Rodrigues. O livro foi estrondoso sucesso de público. Esgotou rapidamente nas prateleiras das livrarias. Mas... Dias da Costa não aproveitou esse momento em que estava na crista da onda. E mais uma vez...

Em 1963, quando da publicação de “Histórias da Bahia”, ocasião em que estava com 56 anos de idade, era voz corrente, confirmada, inclusive, pelo próprio escritor, que ele estava preparando dois novos livros. Um deles, provavelmente, foi “Mirante dos aflitos”. Já o outro, que seria de memórias... ninguém sabe e ninguém viu. Se o escreveu, não o publicou. Não consta de nenhum catálogo de qualquer editora e não há a mínima referência de que chegou a “existir”. Foi uma pena, claro!

É o primeiro caso que conheço – e nem sei se existe algum outro – em que uma pessoa, e não importa sua atividade, recusa o “sucesso”, por não acreditar nele. Quem conhece sua história pessoal, a forma como morreu, esquecido, abandonado, quase cego, enfrentando inúmeros problemas financeiros, talvez até lhe dê alguma razão. Porquanto, mesmo fugindo da fama e do lado bom (pouca coisa) que esta proporciona, Dias da Costa não deixou de ser famoso, pelo menos no seu meio. No entanto... quando mais precisou de solidariedade e amparo, não pôde contar com ninguém. Tanto que, quando morreu, deixou sua amada esposa, Beatriz da Costa (com quem havia se casado em 1930), praticamente na indigência. Ela sofreu um derrame, seguido de esclerose, e terminou seus dias em um asilo de idosos, o que, certamente, seu ilustre e talentoso marido jamais quis.


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Tuesday, January 28, 2014

O ser humano é a criatura mais bem-sucedida da criação graças à razão. E esta se manifesta por duas funções: a inteligência (que é a capacidade de entendimento) e a imaginação (a possibilidade de criar imagens do que sequer existe, mas que pode existir se alguém o fizer). Entender é fundamental e possibilita a geração de idéias. Imaginar, porém, é mais nobre, pois se trata do dom de criar conceitos, idéias e teorias e obras materiais, casas, templos, túmulos, monumentos, cidades e civilizações. Pode-se afirmar, pois, que foi através da imaginação que o homem criou boa parte do que utiliza para sobreviver, se valendo dos recursos da natureza. Foi por seu intermédio que foram criadas as ciências (astronomia, física, química etc.), a tecnologia e as artes. Charles Baudelaire, diante disso, concluiu: “Como foi a imaginação que criou o mundo, ela o governa”. Nada mais justo e verdadeiro, não é fato?

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Livros que recomendo:

“Balbúrdia Literária” José Paulo Lanyi – Contato: jplanyi@gmail.com
“A Passagem dos Cometas” – Edir Araújo – Contato: edir-araujo@hotmail.com
“Aprendizagem pelo Avesso” Quinita Ribeiro Sampaio – Contato: ponteseditores@ponteseditores.com.br

O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista).Preço: R$ 23,90.

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Como comprar:

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O desabafo do ministro


Pedro J. Bondaczuk


O desentendimento entre os ministros Oscar Dias Corrêa, da Justiça (hoje ex-titular dessa pasta) e Mailson da Nóbrega, da Fazenda, desencadeado na semana passada, com o anúncio da astronômica taxa de 28,76% para a inflação de julho, teve, anteontem, o desfecho esperado. Afinal, dois servidores de um mesmo governo não podem ficar se acusando, a torto e a direito, ainda mais numa administração carente de popularidade, às voltas com as investidas dos candidatos à sucessão do presidente José Sarney.

No entanto, que o renunciante está cheio de razões em suas críticas, disso não temos a mínima dúvida. Índices inflacionários, como este, depois de um doloroso Plano Verão, tendem a desestabilizar o País. Podem gerar inquietação na sociedade, que passou angustiantes cinco anos à espera de uma solução, que teimou em não ser encontrada, para uma crise econômica sem fim.

Há quem afirme que Dias Corrêa fez o seu desabafo de olho numa eventual e extemporânea candidatura presidencial. Partidos à procura de candidatos não faltam, embora o bom senso diga que dessa infinidade de nomes postulando a presidência, somente três ou quatro têm chances reais de êxito.

Mas de qualquer forma, o ministro renunciante disse o que todos nós tínhamos vontade de dizer e não podíamos. Está difícil de saber o que nossas autoridades econômicas entendem por hiperinflação. Seriam necessárias taxas centenárias, como as da Argentina? Milionárias, como as da Alemanha da década de 1920? Mesmo que fossem, isso não importa.

Nos Estados Unidos, o ex-presidente Jimmy Carter ficou politicamente queimado com uma inflação anual em torno de 7%. O que nós, brasileiros, não daríamos para termos um índice mensal desses! E, no entanto, essa taxa selou a carreira política desse homem público nas eleições presidenciais norte-americanas de 1980.

Ainda há tempo para que este governo, detentor do recorde hiperinflacionário absoluto da nossa história, venha a se redimir do insucesso econômico. Mas isso não será conseguido, de forma alguma, se conformando com taxas num patamar em torno de 30% mensais, ou seja, de 1% ao dia, e nem dando suspiros de alívio com os 28,76% registrados em julho passado.  

(Artigo publicado sob pseudônimo de Alex H. Bentley, na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1989)


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Um implacável autocrítico

Pedro J. Bondaczuk

O escritor baiano Dias da Costa é um exemplo típico do autodidata, daquele que não ostenta uma relação interminável de títulos acadêmicos, mas que, ainda assim, legou à posteridade uma produção (escassa) de tamanha qualidade, que tem, necessariamente, que ser incluído entre os maiores ficcionistas da Bahia e do País. Há poucas referências biográficas a seu respeito. Porém, colhi as informações que precisava no excelente perfil que dele traçou o escritor Gil Francisco. Chamam-me a atenção, em especial, algumas particularidades da sua vida, que certamente influenciaram a sua maneira de ser, de entender e de descrever o mundo.

Oswaldo Dias da Costa é o sexto escritor, cujo conto, intitulado “Um simples farol no mar”, foi publicado na antologia “Histórias da Bahia” (Edições GDR, 1963), que tomei como referência para esta série de estudos a propósito de alguns dos principais ficcionistas baianos. Nasceu em 29 de agosto de 1907, no Largo da Piedade, em Salvador. Perdeu o pai, José Dias da Costa, quando sequer havia completado sete anos de idade. A mãe, Arminda de Queiroz Costa, era portuguesa e prima do célebre romancista, Eça de Queiroz. Se isso influenciou ou não em sua vocação para a Literatura, não se sabe. Apenas se pode especular a propósito. Minha intuição, todavia, é que essa ascendência familiar, esse ilustre parentesco, teve, sim, alguma influência, embora não se possa saber quanta.

Depois de perder o pai, prematuramente, não tardou para perder também a mãe. Assim, ainda menino, ele e seus três irmãos (Jayme Dias da Costa, Walkyria Dias da Costa e Anayde Dias da Costa) foram criados pela madrinha, Dindinha Margarida, que os acompanhou, e também aos filhos dos quatro, enquanto viveu. Fica claro que o futuro escritor sempre nutriu afeição filial por essa generosa figura. E nem poderia ser diferente.

Gil Francisco informa, em seu citado perfil biográfico, sobre como e onde transcorreram os estudos de Oswaldo Dias da Costa: “(...) Começou seus estudos (aos 12 anos de idade) no Ginásio Ipiranga, onde se destacou como aluno, um dos primeiros da turma. Mais tarde, ao transferir-se para o Ginásio da Bahia para fazer o curso de Humanidades, encontrou muitas dificuldades na disciplina de matemática, principalmente nos cálculos de álgebra”. Não chegou a se formar. Após quatro anos, abandonou os bancos escolares e passou a levar vida boêmia, para desgosto de Dindinha Margarida. Convenhamos, quem conhece Salvador sabe que não faltam tentações para jovens que queiram gozar os prazeres da vida. E Dias da Costa tinha, na oportunidade, apenas 22 anos de idade.

Não tardou, porém, para entender que tinha necessidade de trabalhar para obter seu sustento. Arranjou, pois, um emprego de revisor no jornal “O Democrata”, pertencente ao Partido Democrático da Bahia. Foi lá que iniciou carreira jornalística, que duraria cinqüenta anos, desenvolvida não apenas em Salvador, mas também no Rio de Janeiro, para onde viria a se mudar anos mais tarde. Foi também nessa ocasião que descobriu a vocação literária, embora nunca tenha se dado conta do talento que tinha. Pelo contrário.

Vários dos seus amigos mais íntimos testemunham que Dias da Costa não tinha a exata noção do seu valor. Ou seja, tinha atitude diametralmente oposta da imensa maioria dos escritores, muitos dos quais se perdem pelo caminho por excesso de vaidade. No seu caso, quase se perdeu também, mas por contar com “excessiva humildade”. Tanto que publicou poucos livros e em todos eles colocou, invariavelmente, defeitos que só ele enxergava e que, por isso, não permitia que passassem da primeira edição. Dias da Costa era, antes e acima de tudo, “implacável autocrítico”. Não fosse o bom escritor que era, certamente hoje sequer saberíamos de sua existência. Felizmente, para os amantes da boa literatura, isso não aconteceu.

Dias da Costa começou a escrever – e quase sempre contos, de caráter urbano, com personagens e cenários de Salvador, sua cidade natal – antes de se empregar no jornal, em 1927, quando mal havia completado vinte anos de idade. Guardava, no entanto, seus textos, mantendo-os a salvo de “olhares indiscretos”.  Como homem ligado à imprensa, posto que em função, então, considerada “secundária”, a de revisor, não tardou a fazer amizade com jovens e promissores escritores. Daí a ligar-se ao grupo literário, liderado por Pinheiro Viegas – o que veio a ocorrer em 1929 – foi só um pulo. Esse personagem caracterizava-se pela rebeldia, péla sem cerimônia, e pela irreverência, por se opor aos cânones literários então vigentes em boa parte do País, que considerava ultrapassados e demodés, sete anos após haver ocorrido, em São Paulo, a tal “Semana da Arte Moderna de 1922”.

Não por acaso, esse grupo ficou conhecido como a “Academia dos Rebeldes”. E põe rebeldia nisso!!! Contava entre seus integrantes com figuras que, anos depois (e não muitos) comporia a nata dos escritores brasileiros, alguns com projeção mundial. Exagero meu? Não! Por exemplo, faziam parte do grupo, entre outros, figuras como Édison Carneiro, João Cordeiro, Sosigenes Costa, Alves Ribeiro, Clóvis Amorim e... Jorge Amado. Sim, caro leitor, o futuro autor de “Gabriela cravo e canela”, “Tieta do agreste”, “Jubiabá”, “Cacau”, “Suor” e tantos outros marcos da literatura, integrava a tal “Academia dos Rebeldes”. Claro que Dias da Costa só tinha a lucrar com essa companhia e com essa influência. E lucrou, posto que em sentido literário e não financeiro.

Desde então, entre outras coisas, manteve sólida amizade com Jorge Amado, que durou muitos e muitos anos. E o que esse grupo, liderado por “um velho satânico” (como era então conhecido), no caso Pinheiro Viegas, conseguiu com sua atuação? Gil Francisco revela em seu citado perfil biográfico o que: “Declarou guerra à burrice, à literatice, ao arrivismo e a outros males. O grupo destruiu, na Bahia, muita glória fácil, muita burrice fátua. Eram os jovens diabólicos, comandados por um velho satânico Viegas, que a ninguém perdoava”. E Dias da Costa era um deles.


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