Ingredientes
para um conflito
Pedro J.
Bondaczuk
A humanidade recorda, na próxima sexta-feira, um dos
seus momentos mais trágicos e deprimentes (e estes não foram poucos nos cerca
de dez mil anos de civilização), que foi o início da Segunda Guerra Mundial.
Muitos prefeririam esquecer essa data, como se assim procedendo, pudessem
exorcizar o fantasma de uma terceira conflagração planetária que, embora
improvável, é sempre uma sombra a pairar ameaçadora sobre as nossas cabeças.
Com a agravante de, se vier a acontecer, tenderá, fatalmente, a ser de caráter
nuclear. Ou seja, provavelmente será aquilo que os povos de língua inglesa
chamam de "doomsday". E este termo significa, nada mais, do que
"Juízo Final". Mas a humanidade não precisa, necessariamente, recorrer
à violência para resolver as pendências que se avolumam.
Os líderes nacionais que conduzem os seus povos às
guerras deveriam se conscientizar da gravidade de seus atos. Ter noção das
desgraças que vão causar. Precisariam entender a real natureza do poder que
lhes é outorgado. Necessitariam ter em mente o todo, e se conscientizar que o
período que vivem é um mero segmento de algo muito maior, infinitamente mais
amplo, que é o eterno.
Não há glória alguma em destruir, causar dor, matar. E nem
há ciência. Frederico, o Grande, imperador germânico, certa feita, fazendo
considerações acerca dos conflitos armados que apavoravam a Europa do seu
tempo, exclamou: "Quem somos nós, míseros átomos humanos, para fazermos
projetos que custam tanto sangue!!!". Na verdade, não somos nada. Somos
menos do que um piscar de olhos na eternidade. E no entanto, alguns de nossos
atos têm um alcance tão grande, que continuam a produzir efeitos através dos
anos. Às vezes, até por séculos. Muito tempo depois da nossa extinção como
pessoas.
Uma das causas da guerra é a passividade com que os
indivíduos de determinada sociedade nacional, num dado tempo, a encaram. Alguns
se deixam levar por palavras grandiosas de políticos incendiários e por marchas
exuberantes de bandas marciais, sem que se dêem conta de que estão sendo
inocentes úteis aos propósitos em geral nada nobres de líderes megalomaníacos.
Dos que se deixaram corromper pelo poder, permitindo que este lhes subisse à
cabeça como o álcool, numa embriaguez que quando passa também tende a deixar os
efeitos devastadores de uma "ressaca".
Mas não é somente este tipo de corrupção que pode
conduzir um povo à guerra. Por mais paradoxal que pareça, a fraqueza moral de
uma sociedade também leva a tal desastre. A esse propósito, o escritor Eric
Hoffer observou: "O poder corrompe uns poucos, ao passo que a fraqueza
corrompe muitos. O ódio, a maldade, a grosseria, a intolerância e a
desconfiança são frutos da fraqueza". E podem existir ingredientes mais
explosivos, capazes de provocar horrores tão grandes, quanto os da Segunda
Guerra Mundial, do que estes?!!?
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do
Correio Popular, em 29 de agosto de 1989).
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