Thursday, January 23, 2014

Ingredientes para um conflito

  
Pedro J. Bondaczuk

A humanidade recorda, na próxima sexta-feira, um dos seus momentos mais trágicos e deprimentes (e estes não foram poucos nos cerca de dez mil anos de civilização), que foi o início da Segunda Guerra Mundial. Muitos prefeririam esquecer essa data, como se assim procedendo, pudessem exorcizar o fantasma de uma terceira conflagração planetária que, embora improvável, é sempre uma sombra a pairar ameaçadora sobre as nossas cabeças. Com a agravante de, se vier a acontecer, tenderá, fatalmente, a ser de caráter nuclear. Ou seja, provavelmente será aquilo que os povos de língua inglesa chamam de "doomsday". E este termo significa, nada mais, do que "Juízo Final". Mas a humanidade não precisa, necessariamente, recorrer à violência para resolver as pendências que se avolumam.

Os líderes nacionais que conduzem os seus povos às guerras deveriam se conscientizar da gravidade de seus atos. Ter noção das desgraças que vão causar. Precisariam entender a real natureza do poder que lhes é outorgado. Necessitariam ter em mente o todo, e se conscientizar que o período que vivem é um mero segmento de algo muito maior, infinitamente mais amplo, que é o eterno.

Não há glória alguma em destruir, causar dor, matar. E nem há ciência. Frederico, o Grande, imperador germânico, certa feita, fazendo considerações acerca dos conflitos armados que apavoravam a Europa do seu tempo, exclamou: "Quem somos nós, míseros átomos humanos, para fazermos projetos que custam tanto sangue!!!". Na verdade, não somos nada. Somos menos do que um piscar de olhos na eternidade. E no entanto, alguns de nossos atos têm um alcance tão grande, que continuam a produzir efeitos através dos anos. Às vezes, até por séculos. Muito tempo depois da nossa extinção como pessoas.

Uma das causas da guerra é a passividade com que os indivíduos de determinada sociedade nacional, num dado tempo, a encaram. Alguns se deixam levar por palavras grandiosas de políticos incendiários e por marchas exuberantes de bandas marciais, sem que se dêem conta de que estão sendo inocentes úteis aos propósitos em geral nada nobres de líderes megalomaníacos. Dos que se deixaram corromper pelo poder, permitindo que este lhes subisse à cabeça como o álcool, numa embriaguez que quando passa também tende a deixar os efeitos devastadores de uma "ressaca".

Mas não é somente este tipo de corrupção que pode conduzir um povo à guerra. Por mais paradoxal que pareça, a fraqueza moral de uma sociedade também leva a tal desastre. A esse propósito, o escritor Eric Hoffer observou: "O poder corrompe uns poucos, ao passo que a fraqueza corrompe muitos. O ódio, a maldade, a grosseria, a intolerância e a desconfiança são frutos da fraqueza". E podem existir ingredientes mais explosivos, capazes de provocar horrores tão grandes, quanto os da Segunda Guerra Mundial, do que estes?!!?

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 29 de agosto de 1989).

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