Tuesday, January 28, 2014

O desabafo do ministro


Pedro J. Bondaczuk


O desentendimento entre os ministros Oscar Dias Corrêa, da Justiça (hoje ex-titular dessa pasta) e Mailson da Nóbrega, da Fazenda, desencadeado na semana passada, com o anúncio da astronômica taxa de 28,76% para a inflação de julho, teve, anteontem, o desfecho esperado. Afinal, dois servidores de um mesmo governo não podem ficar se acusando, a torto e a direito, ainda mais numa administração carente de popularidade, às voltas com as investidas dos candidatos à sucessão do presidente José Sarney.

No entanto, que o renunciante está cheio de razões em suas críticas, disso não temos a mínima dúvida. Índices inflacionários, como este, depois de um doloroso Plano Verão, tendem a desestabilizar o País. Podem gerar inquietação na sociedade, que passou angustiantes cinco anos à espera de uma solução, que teimou em não ser encontrada, para uma crise econômica sem fim.

Há quem afirme que Dias Corrêa fez o seu desabafo de olho numa eventual e extemporânea candidatura presidencial. Partidos à procura de candidatos não faltam, embora o bom senso diga que dessa infinidade de nomes postulando a presidência, somente três ou quatro têm chances reais de êxito.

Mas de qualquer forma, o ministro renunciante disse o que todos nós tínhamos vontade de dizer e não podíamos. Está difícil de saber o que nossas autoridades econômicas entendem por hiperinflação. Seriam necessárias taxas centenárias, como as da Argentina? Milionárias, como as da Alemanha da década de 1920? Mesmo que fossem, isso não importa.

Nos Estados Unidos, o ex-presidente Jimmy Carter ficou politicamente queimado com uma inflação anual em torno de 7%. O que nós, brasileiros, não daríamos para termos um índice mensal desses! E, no entanto, essa taxa selou a carreira política desse homem público nas eleições presidenciais norte-americanas de 1980.

Ainda há tempo para que este governo, detentor do recorde hiperinflacionário absoluto da nossa história, venha a se redimir do insucesso econômico. Mas isso não será conseguido, de forma alguma, se conformando com taxas num patamar em torno de 30% mensais, ou seja, de 1% ao dia, e nem dando suspiros de alívio com os 28,76% registrados em julho passado.  

(Artigo publicado sob pseudônimo de Alex H. Bentley, na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 2 de agosto de 1989)


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