Wednesday, January 15, 2014

Pontos para diplomatas da América Latina


Pedro J. Bondaczuk


O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, o diplomata peruano Javier Perez de Cuellar, está para obter o maior êxito da sua brilhante carreira internacional, com a iminência do fim da guerra do Golfo Pérsico. Muita gente está impressionada com o fato de, mesmo depois do dramático anúncio, feito pelo Irã, na segunda-feira, aceitando incondicionalmente os termos da Resolução 598, do Conselho de Segurança, que prevê um cessar-fogo no conflito, o Iraque tenha intensificado os seus ataques.

Isto, porém, era esperado. As pessoas do ramo, acostumadas a lidar com tais situações, sabem que a deposição das armas sempre leva, em ocasiões como esta, uma ou várias semanas após a aceitação da trégua.

Se Cuellar conseguir sucesso, e estamos certos de que conseguirá, este será o segundo grande êxito de diplomatas da América do Sul neste ano, em questões cruciais. O outro foi a obtenção do acordo, em Genebra, entre União Soviética, Afeganistão, Paquistão e Estados Unidos, para a retirada das tropas de Moscou de território afegão.

Embora o cumprimento desse trato venha enfrentando as já esperadas dificuldades, por causa das hostilidade da guerrilha muçulmana às tropas invasoras, a saída russa vem se processando em relativa rapidez.

Quem obteve, no entanto, este acordo, é poucas vezes mencionado no noticiário. Trata-se do diplomata equatoriano, Diego Cordovez, cogitado pelo presidente eleito do seu país, Rodrigo Borja (que toma posse no início do próximo mês) para ser o novo chanceler do Equador, e com muita justiça.

O bom de tudo isso foi que a decisão iraniana de aceitar a Resolução 598 ocorreu exatamente na presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU de um brasileiro, o nosso embaixador nas Nações Unidas, Paulo Nogueira Batista.

É confortador saber que a nossa América Latina dispõe de excelentes diplomatas, que estão prestando um serviço inestimável para toda a humanidade. Da mesma forma como o presidente da Costa Rica, Oscar Arias Sanchez, mereceu o Prêmio Nobel da Paz de 1987, pelo acordo de paz da América Central – que parece estar se deteriorando a olhos vistos – Cuellar, caso obtenha êxito em sua gestão pacificadora, se tornará merecedor de uma honraria igual. E talvez até com mais méritos e por envolver uma soma de problemas por trás dessa guerra muito maior do que o leigo pode supor.

Se a pacificação entre o Irã e o Iraque realmente vier, este será, não somente o maior êxito do diplomata peruano, mas da própria organização que ele preside, que pouquíssimas pendências mundiais conseguiu solucionar nos seus quase 43 anos de existência.


(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 23 de julho de 1988).

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