Pontos para diplomatas da América Latina
Pedro J. Bondaczuk
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, o
diplomata peruano Javier Perez de Cuellar, está para obter o maior êxito da sua
brilhante carreira internacional, com a iminência do fim da guerra do Golfo
Pérsico. Muita gente está impressionada com o fato de, mesmo depois do
dramático anúncio, feito pelo Irã, na segunda-feira, aceitando
incondicionalmente os termos da Resolução 598, do Conselho de Segurança, que
prevê um cessar-fogo no conflito, o Iraque tenha intensificado os seus ataques.
Isto, porém, era esperado. As
pessoas do ramo, acostumadas a lidar com tais situações, sabem que a deposição
das armas sempre leva, em ocasiões como esta, uma ou várias semanas após a aceitação
da trégua.
Se Cuellar conseguir sucesso, e
estamos certos de que conseguirá, este será o segundo grande êxito de
diplomatas da América do Sul neste ano, em questões cruciais. O outro foi a
obtenção do acordo, em Genebra, entre União Soviética, Afeganistão, Paquistão e
Estados Unidos, para a retirada das tropas de Moscou de território afegão.
Embora o cumprimento desse trato
venha enfrentando as já esperadas dificuldades, por causa das hostilidade da
guerrilha muçulmana às tropas invasoras, a saída russa vem se processando em
relativa rapidez.
Quem obteve, no entanto, este
acordo, é poucas vezes mencionado no noticiário. Trata-se do diplomata
equatoriano, Diego Cordovez, cogitado pelo presidente eleito do seu país,
Rodrigo Borja (que toma posse no início do próximo mês) para ser o novo
chanceler do Equador, e com muita justiça.
O bom de tudo isso foi que a
decisão iraniana de aceitar a Resolução 598 ocorreu exatamente na presidência
rotativa do Conselho de Segurança da ONU de um brasileiro, o nosso embaixador
nas Nações Unidas, Paulo Nogueira Batista.
É confortador saber que a nossa América Latina dispõe de
excelentes diplomatas, que estão prestando um serviço inestimável para toda a
humanidade. Da mesma forma como o presidente da Costa Rica, Oscar Arias
Sanchez, mereceu o Prêmio Nobel da Paz de 1987, pelo acordo de paz da América
Central – que parece estar se deteriorando a olhos vistos – Cuellar, caso
obtenha êxito em sua gestão pacificadora, se tornará merecedor de uma honraria
igual. E talvez até com mais méritos e por envolver uma soma de problemas por
trás dessa guerra muito maior do que o leigo pode supor.
Se a pacificação entre o Irã e o
Iraque realmente vier, este será, não somente o maior êxito do diplomata
peruano, mas da própria organização que ele preside, que pouquíssimas
pendências mundiais conseguiu solucionar nos seus quase 43 anos de existência.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 23
de julho de 1988).
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