Friday, January 24, 2014

Olho nas Olimpíadas


Pedro J. Bondaczuk

A Coréia do Sul foi, durante o corrente ano, um dos países que mais freqüentaram as manchetes internacionais. Esse interesse todo explica-se não somente por causa dos graves incidentes políticos que lá se verificaram, mas principalmente em virtude dessa República asiática ter sido designada para sediar os Jogos Olímpicos de Verão, a serem realizados no próximo ano.


É evidente que com turbulência e descontentamento generalizado, as condições para se oferecer segurança a visitantes do mundo todo acabam ficando muito mais difíceis, se não impossíveis. O que se deseja, sobretudo, evitar é, mais uma vez, a interferência de problemas políticos na seara desportiva.


Há muito que os Jogos não conseguem ser, mais, o que eram. Ou seja, uma oportunidade para que a juventude sadia e bem disposta do mundo se confraternize e possa competir apenas pelos recordes e medalhas, sem outro objetivo que não seja a competição em si.


É verdade que não é de agora que as Olimpíadas vêm sendo usadas para promover ideologias, sistemas de governo e idéias absurdas de superioridade de uma raça sobre outra. Mas os que agiram dessa forma foram, invariavelmente, punidos pelas próprias circunstâncias das disputas.


Já se tornou lendária a humilhação que o extraordinário atleta negro norte-americano, Jesse Owens, infligiu ao ditador nazista Adolf Hitler, em 1936. Na oportunidade, os Jogos aconteceram na capital onde o paranóico líder jurava existir o Reich de Mil Anos. Ele apostava na superioridade física dos arianos, ditos puros (que tamanha balela!). Mas nas competições na pista, o genial atleta dos Estados Unidos, sem pose, sem arrogância, sem ostentar qualquer mania de grandeza (que não tinha), apenas com disciplina e capacidade de concentração, conquistou quatro medalhas de ouro.


Isso fez, até, que o ditador deixasse o Estádio Olímpico de Berlim humilhado e sumamente irritado, para não ter que entregar o prêmio da conquista ao grande vencedor. Foi a grande vingança dos “deuses dos estádios”.


Nas últimas Olimpíadas, soviéticos e norte-americanos não puderam medir forças, em decorrência de estúpidos boicotes das partes, motivados por razões políticas. Por causa da invasão russa ao Afeganistão, a delegação dos Estados Unidos recusou-se a competir em Moscou.


Os comunistas deram o troco em Los Angeles, tirando grande parte do brilho desses Jogos. Em Seul, ambos se farão presentes. Por isso, nada mais justo que encontrem um país reconciliado e pacificado, para que não venham a Ter qualquer desculpa para eventuais fracassos nas pistas, nas quadras, nos campos e nas piscinas. A Coréia do Sul tem tudo parta promover a melhor das Olimpíadas deste século. Basta que os sul-coreanos tenham um pouquinho de cabeça, só isso.

 

(Artigo publicado na página 21, Internacional, do Correio Popular, em 27 de dezembro de 1987).

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