Olho
nas Olimpíadas
Pedro J. Bondaczuk
A Coréia do Sul foi, durante o corrente ano, um dos países que mais
freqüentaram as manchetes internacionais. Esse interesse todo explica-se não
somente por causa dos graves incidentes políticos que lá se verificaram, mas
principalmente em virtude dessa República asiática ter sido designada para
sediar os Jogos Olímpicos de Verão, a serem realizados no próximo ano.
É evidente que com turbulência e descontentamento generalizado, as
condições para se oferecer segurança a visitantes do mundo todo acabam ficando
muito mais difíceis, se não impossíveis. O que se deseja, sobretudo, evitar é,
mais uma vez, a interferência de problemas políticos na seara desportiva.
Há muito que os Jogos não conseguem ser, mais, o que eram. Ou seja, uma
oportunidade para que a juventude sadia e bem disposta do mundo se
confraternize e possa competir apenas pelos recordes e medalhas, sem outro
objetivo que não seja a competição em si.
É verdade que não é de agora que as Olimpíadas
vêm sendo usadas para promover ideologias, sistemas de governo e idéias
absurdas de superioridade de uma raça sobre outra. Mas os que agiram dessa
forma foram, invariavelmente, punidos pelas próprias circunstâncias das
disputas.
Já se tornou lendária a humilhação que o
extraordinário atleta negro norte-americano, Jesse Owens, infligiu ao ditador
nazista Adolf Hitler, em 1936. Na oportunidade, os Jogos aconteceram na capital
onde o paranóico líder jurava existir o Reich de Mil Anos. Ele apostava na
superioridade física dos arianos, ditos puros (que tamanha balela!). Mas nas
competições na pista, o genial atleta dos Estados Unidos, sem pose, sem
arrogância, sem ostentar qualquer mania de grandeza (que não tinha), apenas com
disciplina e capacidade de concentração, conquistou quatro medalhas de ouro.
Isso fez, até, que o ditador deixasse o Estádio
Olímpico de Berlim humilhado e sumamente irritado, para não ter que entregar o
prêmio da conquista ao grande vencedor. Foi a grande vingança dos “deuses dos
estádios”.
Nas últimas Olimpíadas, soviéticos e
norte-americanos não puderam medir forças, em decorrência de estúpidos boicotes
das partes, motivados por razões políticas. Por causa da invasão russa ao
Afeganistão, a delegação dos Estados Unidos recusou-se a competir em Moscou.
Os comunistas deram o troco em Los Angeles,
tirando grande parte do brilho desses Jogos. Em Seul, ambos se farão presentes.
Por isso, nada mais justo que encontrem um país reconciliado e pacificado, para
que não venham a Ter qualquer desculpa para eventuais fracassos nas pistas, nas
quadras, nos campos e nas piscinas. A Coréia do Sul tem tudo parta promover a
melhor das Olimpíadas deste século. Basta que os sul-coreanos tenham um
pouquinho de cabeça, só isso.
(Artigo publicado na página 21, Internacional,
do Correio Popular, em 27 de dezembro de 1987).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment