As Candelárias deles
Pedro J. Bondaczuk
Os
recentes episódios de violência ocorridos no Brasil – as chacinas da
Candelária, da Favela do Vigário Geral e a mal explicada morte de índios
ianomâmis – pioraram ainda mais a imagem internacional do Brasil. Claro que
ninguém vai ser maluco de justificar o injustificável.
A opinião pública brasileira deve insistir no
esclarecimento completo desses casos e exigir a punição dos culpados. Mas essas
providências devem ser cobradas não em decorrência do repúdio ou das pressões
externas. Já afirmamos inúmeras vezes e reiteramos que os problemas ocorridos
aqui são de nossa exclusiva competência.
Até porque, aqueles que nos acusam, têm inúmeros
“esqueletos nos armários”. Chega a ser redundante repetir os crimes e as atrocidades
que ocorrem diariamente no Exterior. Os incêndios criminosos de neonazistas na
Alemanha, os serial-killers norte-americanos, os massacres diários na África do
Sul e outras perversidades mais (sem se esquecer da selvajaria que ocorre nos
Balcãs, mais especificamente na Bósnia-Herzegovina) freqüentam as manchetes
diariamente.
O relatório anual da Anistia Internacional,
referente a 1992, comprovou que 111 países, de todos os continentes e de vários
graus de desenvolvimento econômico, político, social e cultural, violaram
gravemente os direitos humanos.
Ninguém, portanto, tem moral para nos atirar a primeira
pedra. A investida contra o Brasil leva-nos a concluir que há uma campanha
orquestrada contra nós (não se sabe a que propósito), que tem componentes de
preconceito e discriminação. Muitos dos que nos atacam nem mesmo são capazes de
localizar nosso país no mapa, a despeito de se tratar do quinto maior do mundo
em território.
Veja-se o que ocorreu no dia 28 de agosto passado,
em Cádiz, na Espanha, durante as disputas do Troféu Ramón de Carranza. Um
árbitro de futebol espanhol, com autoridade, portanto, restrita somente ao
campo de jogo, exigiu, antes da partida disputada entre o São Paulo e o
Palmeiras, os passaportes de todos os jogadores, para conferir se estavam em
ordem. O mais grave não foi isso. Foram suas declarações de que “os brasileiros
são todos marginais”.
O que esse imbecil incompetente (tão ruim que
estragou o referido jogo com graves erros de arbitragem) conhece do Brasil? O
fato é bastante revelador acerca do desgaste da imagem do País lá fora.
Poderíamos citar outros tantos incidentes semelhantes, narrados por campineiros
que regressaram do Exterior recentemente. Este único, porém, já basta para nos
opilar o fígado.
A maldade humana não tem pátria e nem tempo certo.
Generalizações são, não apenas preconceituosas, mas também estúpidas. A
propósito, o poema de Benedito Sampaio, escrito há quase meio século, mas que é
atualíssimo e diz: “Primavera, primavera, folhas verdes!/A Terra, que linda
corbelha de flores/vagando no espaço!//--- E por que tantas víboras dentro/de
um cesto de flores?”
Esta é uma pergunta que sempre esteve presente na
mente de líderes religiosos, de filósofos, de sociólogos, de psicólogos, de
juristas, de antropólogos e de outros mais. Só se pode chegar à mesma conclusão
de André Malraux: “O mal é um mistério”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 7 de setembro de 1993).
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