Sunday, January 05, 2014

As Candelárias deles


Pedro J. Bondaczuk


Os recentes episódios de violência ocorridos no Brasil – as chacinas da Candelária, da Favela do Vigário Geral e a mal explicada morte de índios ianomâmis – pioraram ainda mais a imagem internacional do Brasil. Claro que ninguém vai ser maluco de justificar o injustificável.

A opinião pública brasileira deve insistir no esclarecimento completo desses casos e exigir a punição dos culpados. Mas essas providências devem ser cobradas não em decorrência do repúdio ou das pressões externas. Já afirmamos inúmeras vezes e reiteramos que os problemas ocorridos aqui são de nossa exclusiva competência.

Até porque, aqueles que nos acusam, têm inúmeros “esqueletos nos armários”. Chega a ser redundante repetir os crimes e as atrocidades que ocorrem diariamente no Exterior. Os incêndios criminosos de neonazistas na Alemanha, os serial-killers norte-americanos, os massacres diários na África do Sul e outras perversidades mais (sem se esquecer da selvajaria que ocorre nos Balcãs, mais especificamente na Bósnia-Herzegovina) freqüentam as manchetes diariamente.

O relatório anual da Anistia Internacional, referente a 1992, comprovou que 111 países, de todos os continentes e de vários graus de desenvolvimento econômico, político, social e cultural, violaram gravemente os direitos humanos.

Ninguém, portanto, tem moral para nos atirar a primeira pedra. A investida contra o Brasil leva-nos a concluir que há uma campanha orquestrada contra nós (não se sabe a que propósito), que tem componentes de preconceito e discriminação. Muitos dos que nos atacam nem mesmo são capazes de localizar nosso país no mapa, a despeito de se tratar do quinto maior do mundo em território.

Veja-se o que ocorreu no dia 28 de agosto passado, em Cádiz, na Espanha, durante as disputas do Troféu Ramón de Carranza. Um árbitro de futebol espanhol, com autoridade, portanto, restrita somente ao campo de jogo, exigiu, antes da partida disputada entre o São Paulo e o Palmeiras, os passaportes de todos os jogadores, para conferir se estavam em ordem. O mais grave não foi isso. Foram suas declarações de que “os brasileiros são todos marginais”.

O que esse imbecil incompetente (tão ruim que estragou o referido jogo com graves erros de arbitragem) conhece do Brasil? O fato é bastante revelador acerca do desgaste da imagem do País lá fora. Poderíamos citar outros tantos incidentes semelhantes, narrados por campineiros que regressaram do Exterior recentemente. Este único, porém, já basta para nos opilar o fígado.

A maldade humana não tem pátria e nem tempo certo. Generalizações são, não apenas preconceituosas, mas também estúpidas. A propósito, o poema de Benedito Sampaio, escrito há quase meio século, mas que é atualíssimo e diz: “Primavera, primavera, folhas verdes!/A Terra, que linda corbelha de flores/vagando no espaço!//--- E por que tantas víboras dentro/de um cesto de flores?”

Esta é uma pergunta que sempre esteve presente na mente de líderes religiosos, de filósofos, de sociólogos, de psicólogos, de juristas, de antropólogos e de outros mais. Só se pode chegar à mesma conclusão de André Malraux: “O mal é um mistério”.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de setembro de 1993).


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