Vai surgir uma nova Europa
Pedro J. Bondaczuk
O processo de reunificação das duas Alemanhas, que é
irreversível e que desde quando esse país foi dividido, se esperava que viesse
a ocorrer em algum momento, teve início oficial, ontem, em Bonn. É verdade que
nesta fase estão sendo apenas estabelecidas as regras que irão nortear os
trabalhos. É a etapa da elaboração da agenda, que tem lá a sua importância, mas
não é fundamental. Até porque, a Alemanha Oriental está às vésperas de
importantes eleições, as primeiras livres e multipartidárias de sua história,
que vão definir com quem a Alemanha Ocidental e as quatro potências vencedoras
da Segunda Guerra Mundial ---- EUA, União Soviética, Grã-Bretanha e França ---
vão debater. Mas é importante assinalar a data exata do início do processo
reunificador, tendente a alterar toda a geografia política européia.
Há dois grandes obstáculos para que o sonho
germânico se concretize. O primeiro, virtualmente, está prestes a ser removido,
depois da declaração recente do Parlamento alemão ocidental, de que irá
respeitar a atual demarcação de sua fronteira com a Polônia. Embora os
poloneses ainda não estejam de todo convencidos de que estão seguros com essa
medida, a questão perdeu muito daquele clima passional que vinha tendo,
principalmente após desastradas declarações a respeito feitas pelo chanceler
Helmut Kohl. A outra barreira, embora maior, também não é irremovível.
Refere-se à integração ou não, do Estado germânico reunificado, à Organização
do Tratado do Atlântico Norte. O Ocidente defende sua ligação com a Otan. A
União Soviética não admite tal hipótese. Exige a neutralidade da Alemanha
reunificada.
Mas muita água ainda vai rolar sobre o tema.
Certamente, a verdadeira maratona diplomática acabará por desembocar numa
solução de consenso. Alguns visionários entendem que a segurança européia,
diante da nova realidade que se desenha no continente, haverá de ser
estruturada mediante um processo totalmente diferente daquele estabelecido no
pós-guerra. Estes acham que os tempos da política de blocos terminaram, com o
fim da Guerra Fria.
Outros, porém, mais realistas, prevêem a manutenção
das duas alianças, Otan e Pacto de Varsóvia, pelo menos até o final da década.
Mas com os dois organismos francamente modificados, com características muito
diferentes das atuais. Atuando em conjunto, em estreita colaboração, ao invés
de se chocarem. Ou seja, sendo mais órgãos políticos do que militares. A
tendência, pelo menos, que se desenha com maior nitidez, é esta.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do
Correio Popular, em 15 de março de 1990)
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