Deu para o gasto
Pedro J. Bondaczuk
A
vitória da seleção brasileira sobre a Rússia confirmou alguns temores, desfez
outros, trouxe algumas surpresas agradáveis, outras nem tanto, mas deu para o
gasto. Como primeiro passo, numa caminhada que se pretende vitoriosa,
culminando com uma final, em 17 de julho próximo, no Rose Bowl de Los Angeles,
o saldo foi positivo.
Mas
o time terá que --- e acreditamos que irá --- evoluir muito até alcançar o
objetivo maior, que é a conquista do tão sonhado tetra. O temor confirmado no
jogo de anteontem foi o que se refere à falta de criatividade do meio de campo.
Prova
disso é que Romário, o nosso "matador", recebeu somente quatro bolas
em condições mais ou menos ideais. Uma, de escanteio, colocou nas redes russas.
Em duas outras, sofreu penalidades máximas, das quais só uma foi marcada. E a
quarta foi uma cabeçada que deu, na pequena área, no segundo tempo. No mais, a
bola sequer chegou aos seus pés.
O
temor desfeito foi a respeito de Raí, que teve uma atuação soberba, lembrando
os bons tempos do São Paulo. Combateu, tabelou, lançou, comandou a equipe e
chamou para si a responsabilidade do jogo. Certamente nos sonhos da maioria
esboçou-se, com mais nitidez, a imagem do nosso capitão recebendo a taça, se
Deus quiser, em 17 de julho.
A
surpresa agradável foi a bela partida disputada por Leonardo. Não que ele
tivesse deixado dúvidas acerca de seu talento ou competência. Está muitos,
muitíssimos furos acima de Branco. Ocorre que não vinha jogando na lateral
esquerda há muito. Precisou readaptar-se à posição em menos de um mês. E
saiu-se além das expectativas.
A
surpresa desagradável ficou por conta da contusão de Ricardo Rocha. Ao que tudo
indica, o vigoroso quarto zagueiro não jogará mais nessa Copa, seguindo os
passos do seu xará, o Gomes, que sofreu distensão muscular no amistoso contra
El Salvador.
Embora
estejamos otimistas com a Seleção, não vamos cair no exagero de afirmar que a
equipe fez, anteontem, uma partida primorosa. Mas tem tudo para evoluir e,
certamente, irá. Pena que o futebol alegre, mágico, com a beleza plástica do
balé, seja coisa do passado. Não somente em relação ao Brasil, mas também ao
resto do mundo.
Camarões
e Colômbia, cantados e decantados em verso e prosa como os sucessores do
talento brasileiro de épocas não muito distantes (basta que nos lembremos de
1982), mostraram que não são nada disso. Aos camaronenses falta objetividade e
sobra irresponsabilidade. Já os colombianos confundiram tudo e pensaram que a
Copa fosse um baile a fantasia: mostraram uma máscara como poucas vezes se viu.
(Artigo
publicado na página 2, do caderno "Copa 94" do Correio Popular, em 22
de junho de 1994).
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