Verbas
para educação
Pedro J. Bondaczuk
A educação, que é o único caminho para o Brasil sair
do seu atraso, resgatar a cidadania da maior parte de sua população e promover
o desenvolvimento auto-sustentado, com justiça social, é encarada,
infelizmente, por sucessivos (se não por todos) governos como uma área
secundária.
E não nos referimos somente à destinação de recursos
financeiros, insuficientes e aplicados um tanto aleatoriamente, de maneira
dispersiva. A própria doutrina de ensino do País, em muitos aspectos, é
equivocada. Os administradores, por exemplo, priorizam a construção de prédios,
em detrimento de salários justos para os professores, compatíveis com a
importância da sua nobre missão.
Esta semana o Tribunal de Contas da União apresentou
números sobre as despesas do governo, no ano passado, com a educação, que
mostram que os diagnósticos de anos anteriores não serviram para nada. O TCU
constatou que a maior parte dos recursos é aplicada no ensino superior em
detrimento do básico.
Quem ler de forma desatenta o relatório irá concluir
que o Brasil é um país de doutores, o que está muito longe da realidade. Claro
que a universidade é importante e, quando possível, merece receber não somente
a verba que recebeu no ano passado, mas o dobro, o triplo, ou seja que múltiplo
for dessa quantia. Só que nunca em detrimento da eliminação do analfabetismo e
da universalização do ensino fundamental.
Aliás, essa atitude viola a atual Constituição. Não
se pode culpar apenas o governo de Itamar Franco por este deslize. Desde 1988,
essa violação vem se repetindo. O texto constitucional, no artigo 60 das
Disposições Transitórias, determina que a metade dos 18% arrecadados com
impostos pela União --- ou seja, 9% --- seja destinada à eliminação do
analfabetismo e à universalização do ensino de base.
Contudo, o TCU vem constatando, nos últimos seis
anos, que os investimentos oscilam entre 4% e 4,2%. Menos da metade daquilo que
deveria. Que ninguém nos interprete mal e pense que sejamos contrários à
educação universitária. Defendemos não a redução de verbas às universidades,
mas sua máxima multiplicação. E, sobretudo, sua aplicação racional, com
prioridade para a pesquisa, setor no qual o Brasil ainda é muito carente. Mas,
convenhamos, é um absurdo esse menosprezo atual pelo ensino de base!
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 25 de junho de 1994).
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