Tuesday, January 14, 2014

Depende de boa vontade


Pedro J. Bondaczuk


Os grupos interessados em fazer fracassar o plano de paz proposto pelo presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz de 1987, Oscar Arias Sanchez, firmado pelos cinco mandatários centro-americanos na Guatemala, em 7 de agosto passado, procuram dar a entender que a teimosia do dirigente nicaragüense, Daniel Ortega, estaria retardando a sua implementação.

O líder sandinista está batendo pé firme quanto à negociação direta com os “contras”, preferindo conversar com o seu mentor, o governo dos Estados Unidos, que se recusa a estabelecer esse diálogo.

Ocorre que de todos os países signatários do documento, a Nicarágua foi aquele que mais passos positivos deu para a consecução prática do projeto. Anistiou guerrilheiros que depusessem armas, suspendeu a censura sobre a rádio católica e o jornal “La Prensa” e está negociando diretamente com a oposição política.

Já o presidente salvadorenho, José Napoleón Duarte, a quem Reagan considera um “baluarte da democracia” na América Central, viu o processo paralisar em El Salvador, em virtude do estúpido assassinato de Herbert Anaya, presidente da Comissão dos Direitos Humanos local, ocorrido segunda-feira passada na capital.

O crime, por suas circunstâncias e características, tem todos os aspectos dos inúmeros outros perpetrados pelos ultradireitistas esquadrões da morte. Entre estes, está a chacina do arcebispo de San Salvador, Oscar Romero, abatido, barbaramente, sobre o altar em que rezava missa, outra vítima da violência política, há sete anos.

Esse assassinato nunca chegou a ser devidamente esclarecido, como, ademais, milhares de outros, atribuídos aos grupos que pretendem manter o status quo reinante, em que El Salvador se situa entre os países com maior injustiça social e maior miséria do mundo.

É evidente que esses obstáculos que se interpõem no caminho dos mentores do histórico plano pacificador, que deverá ser implementado dentro de três dias, não seriam suficientes para fazer com que ele abortasse. Isso, se houver sinceridade de certos políticos e países, que fizeram da América Central seu feudo particular, uma espécie de chacrinha, onde mandam e desmandam, sem nenhuma preocupação com o destino dos seus infelizes habitantes.

Arias assinalou que o “7 de novembro é o início de um processo, e não o término dele”. Mas há quem deseje que seja o contrário, pois esse continente é um pretexto ideal para desviar as atenções de problemas internos sérios das potências, expediente adotado por soviéticos e norte-americanos, que envolveram os centro-americanos em suas divergências.

É indispensável, porém, que os líderes conscientes da região não se deixem tapear mais uma vez. Que coloquem, acima dos interesses pessoais (mesquinhos e transitórios) aqueles que são maiores e mais importantes: o das suas respectivas sociedades nacionais. O plano de Arias tem tudo para dar certo. Basta um pouquinho mais de boa vontade das partes envolvidas, direta ou indiretamente, na questão.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 3 de novembro de 1987)


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