Depende
de boa vontade
Pedro J. Bondaczuk
Os grupos interessados em fazer fracassar o plano de
paz proposto pelo presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz de 1987, Oscar
Arias Sanchez, firmado pelos cinco mandatários centro-americanos na Guatemala,
em 7 de agosto passado, procuram dar a entender que a teimosia do dirigente
nicaragüense, Daniel Ortega, estaria retardando a sua implementação.
O líder sandinista está batendo pé firme quanto à
negociação direta com os “contras”, preferindo conversar com o seu mentor, o
governo dos Estados Unidos, que se recusa a estabelecer esse diálogo.
Ocorre que de todos os países signatários do
documento, a Nicarágua foi aquele que mais passos positivos deu para a
consecução prática do projeto. Anistiou guerrilheiros que depusessem armas,
suspendeu a censura sobre a rádio católica e o jornal “La Prensa” e está
negociando diretamente com a oposição política.
Já o presidente salvadorenho, José Napoleón Duarte,
a quem Reagan considera um “baluarte da democracia” na América Central, viu o
processo paralisar em El Salvador, em virtude do estúpido assassinato de
Herbert Anaya, presidente da Comissão dos Direitos Humanos local, ocorrido
segunda-feira passada na capital.
O crime, por suas circunstâncias e características,
tem todos os aspectos dos inúmeros outros perpetrados pelos ultradireitistas
esquadrões da morte. Entre estes, está a chacina do arcebispo de San Salvador,
Oscar Romero, abatido, barbaramente, sobre o altar em que rezava missa, outra
vítima da violência política, há sete anos.
Esse assassinato nunca chegou a ser devidamente
esclarecido, como, ademais, milhares de outros, atribuídos aos grupos que
pretendem manter o status quo reinante, em que El Salvador se situa entre os
países com maior injustiça social e maior miséria do mundo.
É evidente que esses obstáculos que se interpõem no
caminho dos mentores do histórico plano pacificador, que deverá ser
implementado dentro de três dias, não seriam suficientes para fazer com que ele
abortasse. Isso, se houver sinceridade de certos políticos e países, que
fizeram da América Central seu feudo particular, uma espécie de chacrinha, onde
mandam e desmandam, sem nenhuma preocupação com o destino dos seus infelizes
habitantes.
Arias assinalou que o “7 de novembro é o início de
um processo, e não o término dele”. Mas há quem deseje que seja o contrário,
pois esse continente é um pretexto ideal para desviar as atenções de problemas
internos sérios das potências, expediente adotado por soviéticos e
norte-americanos, que envolveram os centro-americanos em suas divergências.
É indispensável, porém, que os líderes conscientes
da região não se deixem tapear mais uma vez. Que coloquem, acima dos interesses
pessoais (mesquinhos e transitórios) aqueles que são maiores e mais importantes:
o das suas respectivas sociedades nacionais. O plano de Arias tem tudo para dar
certo. Basta um pouquinho mais de boa vontade das partes envolvidas, direta ou
indiretamente, na questão.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do
Correio Popular, em 3 de novembro de 1987)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment