Prolífico escritor
grapiuna
Pedro
J. Bondaczuk
A trajetória literária
de Adonias Filho foi das mais férteis e vitoriosas da Literatura brasileira. Em
seus quase 75 anos de vida (nasceu em Itajuipe, na Bahia, em 27 de novembro de
1915 e morreu, em sua fazenda Iracema, em Inema, Sul do Estado, em 2 de agosto
de 1990), legou à posteridade 21 livros, entre romances, ensaios, novelas e
crítica, foi guindado (em 1965) à Academia Brasileira de Letras, na cadeira de
número 21 da casa fundada por Machado de Assis, além de ter obras traduzidas
para vários idiomas, entre os quais inglês, francês, alemão, espanhol e
eslovaco. Foi, portanto, um dos escritores de maior relevo da Bahia, do Brasil
e, por que não, do mundo.
Não por acaso Adonias
Aguiar Filho teve o privilégio de abrir a antologia “Histórias da Bahia”
(Edições GDR Rio de Janeiro, 1963), com o conto “O Brabo e sua índia”, que tomei como referencial para esta informal
série de estudos a propósito dos ficcionistas baianos. E mais, dada sua
projeção, já na ocasião do lançamento da citada obra, coube-lhe a tarefa de
redigir o prefácio, o que o fez com perícia e exatidão. Recorde-se que na época
da publicação do livro, o escritor grapiuna, embora já contando com
reconhecimento público e dos mais eruditos e prestigiosos círculos literários,
ainda não era membro da Academia Brasileira de Letras, reconhecimento que
viria, apenas, dois anos depois.
Há tempos que eu
pretendia escrever sobre Adonias Filho, em cuja obra me debruço há já cerca de
vinte anos, mas outros assuntos, talvez nem mesmo tão urgentes, foram se
atropelando em minha pauta e não encontrava pretexto adequado para fazê-lo. Até
que cismei em reler esta preciosa antologia de contos, “Histórias da Bahia”,
que adquiri quando do seu lançamento, em 1963, posto que feita sem nenhum
estardalhaço. Na época da primeira leitura desse livro, não lhe dei maior
importância, mesmo me deliciando com seu conteúdo. Até que, semanas atrás,
cismei em relê-lo e, coincidentemente, tal releitura ocorreu cinqüenta anos
após sua publicação.
Convenhamos, embora em
termos históricos, meio século seja um tempo até irrisório, na vida e na
carreira de qualquer pessoa é bastante relevante. Em um período, como este, de cinco décadas,
muita “promessa” se confirma ou se frustra, muita experiência pode (e
geralmente é) ser adquirida e muitas circunstâncias, favoráveis ou contrárias,
ocorrem para confirmar ou derrubar expectativas a propósito de quem quer que
seja. E Adonias Filho apenas confirmou (e em muitos aspectos superou) o que se
esperava dele, nos anos posteriores a 1963, quando tinha 48 anos de idade. E
teve que viver exatos 50 anos para ter seus inegáveis e indiscutíveis méritos
literários plenamente reconhecidos, ao ponto de se tornar “imortal” da ABL.
A maior parte da sua
carreira, o escritor baiano, e mais, um “grapiuna” – designação dada ao
característico tipo da região cacaueira do Sul da Bahia, tal qual Jorge e James
Amado e Jorge Medauar – desenvolveu no Rio de Janeiro, então capital federal do
País, para onde se mudou em 1936, quando concluiu o curso secundário, feito em
Salvador, no raiar dos seus 21 anos de idade. A essa altura, já havia iniciado,
na terra natal, promissora carreira jornalística, à qual deu continuidade na
Cidade Maravilhosa, aprendendo coisas novas e adquirindo experiência em
redações recheadas de “monstros sagrados” do jornalismo. Teve a cautela, porém, de concentrar-se no
que se constituía na sua paixão e que sabia fazer muito bem: a Literatura.
Tornou-se respeitado crítico literário.
No Rio, trabalhou no
Correio da Manhã. Não tardou em ter suas críticas literárias requisitadas por
grandes jornais paulistas, nos cadernos da “Hora Presente” de São Paulo, em
1937 e no “A Manhã”, em 1944 e 1945. Anos depois, já bem mais experiente e
tarimbado e, sobretudo, com prestígio de crítico plenamente firmado, atuou
nessa função no “Jornal de Letras” (de 1955 a 1960) e no “Diário de Notícias”
(de 1958 a 1960). Mas colaborou, com bastante assiduidade, no tradicional “O
Estado de São Paulo” e na “Folha da Manhã”. Nesse ínterim, é mister que se
ressalte, publicou sete livros, a saber: “Renascimento do homem” (ensaio, 1937,
sua obra de estréia), “Tasso da Silveira e o tema da poesia eterna” (ensaio,
1940), “Os servos da morte” (primeiro romance, 1946), “Memórias de Lázaro
(segundo romance, 1952), “Jornal de um escritor (romance, 1954), “Modernos
ficcionistas brasileiros” (ensaio, 1958) e “Cornélio Pena” (crítica, 1960).
Note-se que nessa fase
sobressaiu o Adonias ensaísta, a despeito do estrondoso sucesso de crítica e de
vendas do “Memórias de Lázaro”. Todavia, em meio a tantas atividades, sempre
encontrava tempo para escrever e publicar em jornais e revistas diversos
contos. O curioso é que, apesar de ser considerado (e de fato ser) um dos mais
criativos, observadores e refinados contistas brasileiros, jamais publicou um
único livro que fosse desse gênero. Sua obra ficcional foi inspirada em fatos e
personagens da zona cacaueira próxima a Ilhéus, na Bahia, cenário da sua terra
de nascimento e, sobretudo, de sua infância. Não por acaso, a despeito de sua
erudição, ficou conhecido no mundo literário como “escritor grapiuna”. E que
escritor!!!
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