Abordagem sumamente
informal
Pedro
J. Bondaczuk
Os esportes, fenômeno
característico da chamada “modernidade”, são um vasto e quase ilimitado tema
para escritores de todas as tendências. Para ter mínima noção de quanto se
escreve a respeito, basta consultar os catálogos das editoras (de qualquer uma
das maiores e mais tradicionais). Os interessados no assunto, portanto, não
podem se queixar de falta de opções. Há abordagens para todos os gostos e
necessidades. Há, em quantidade razoável, por exemplo, uma profusão de
biografias de astros e estrelas das mais variadas modalidades (e destaco que,
nas Olimpíadas de Londres, foram 29 as colocadas em disputa), muitos dos quais
se tornaram mitos, pelos seus feitos.
Mas os livros sobre
esportes não se limitam a isso. Há obras sobre regras, sobre técnicas de
treinamento, sobre táticas e vai por aí afora. Há, também, histórias de clubes
(no Brasil, a maioria das chamadas “grandes equipes” tem o seu relato) com
profusão de imagens e, mais raramente, relatos fictícios, em contos, novelas e
mais raramente romances, tendo por personagens figuras que poderiam estar
ligadas a alguma das tantas modalidades existentes caso não fossem
“inventadas”, via de regra, as mais populares. Há, até, poesias sobre astros e
estrelas (no Brasil, conheço, apenas, poemas, e raros, dedicados exclusivamente
a jogadores de futebol. Cito um, de cabeça, o que foi composto por João Cabral
de Melo Neto, exaltando os feitos técnicos do craque Ademir da Guia. Menciono,
ainda, uma espécie de ode que compus, em 1962, para Garrincha, o genial e
ingênuo Mané das pernas tortas, após a Copa do Mundo do Chile, em que foi o
principal responsável pela conquista). Não conheço, porém, nenhum livro do
gênero, tratando, especificamente, de forma poética, de eventual modalidade
esportiva. Nem mesmo de futebol. Enfim... não importa.
Embora eu possa
informar sobre a bibliografia esportiva no Brasil, por motivos óbvios, ou seja,
pela facilidade de pesquisa, nos Estados Unidos e na Europa os esportes merecem
a mesma atenção. Aliás, esta é muito maior, dada a quantidade muitíssimo mais
expressiva de leitores. O mesmo, provavelmente, ocorre na Ásia (mais
especificamente, no Japão e na China) e na Oceania (Austrália e Nova Zelândia),
cada qual focalizando as modalidades mais populares nos respectivos países
dessas regiões. Sou consumidor compulsivo desse tipo de literatura e não
somente na condição de amante de todo e qualquer tipo de leitura, mas de
pesquisador que tem como desafio redigir teses a propósito.
Qual a razão (na
verdade, razões, pois são muitas) de haver essa explosão dos esportes,
notadamente dos coletivos, a partir da segunda metade do século XVIII? O
primeiro motivo que vejo para isso (e posso ser contestado, ou melhor,
provavelmente serei) está na forma como o corpo humano foi encarado ao longo de
toda a Idade Média. Era visto, apenas, como invólucro do espírito, que era o
que importava. Tanto que, até o início do Renascimento, era praticamente vedado
aos artistas (pintores e escultores) enfatizarem a perfeição física (masculina
e/ou feminina). Alguns sacerdotes chegavam ao extremo de considerar alguma
eventual obra nesse sentido como “sacrílega”, como uma espécie de idolatria.
Absurda tolice, claro! Era considerada uma virtude a autoflagelação do corpo,
pois se entendia que do sofrimento deste, o espírito sairia fortalecido.
Besteira ainda maior, óbvio!!!.
O Renascimento voltou a
exaltar a perfeição física. Mas este foi apenas um dos fatores, e sequer sei se
o mais importante. Outra causa que detecto para a expansão da prática de
esportes foi a chamada Revolução Industrial, que começou na Inglaterra e logo
se espalhou por toda a Europa. Surgiram, nesse período, grandes indústrias, e
das mais variadas atividades, congregando dezenas, quando não centenas ou
milhares de operários em espaços relativamente restritos. Até então, toda a
produção dos principais bens de consumo restringia-se ao trabalho de artesãos
específicos de cada ramo e de seus relativamente escassos aprendizes. Os
ambientes das fábricas, com cada pessoa executando, não raro, uma única função,
em uma linha de montagem, era monótona para o espírito e sedentária para o
corpo, que não era exercitado devidamente. Para corrigir isso, nada como a
prática esportiva.
Muitas das modalidades
surgiram no âmbito estudantil, em escolas e universidades, e pelas mesmas
razões da indústria. Ou seja, como forma de promover o hábito dos exercícios
físicos. Aduza-se a esses fatores, os
avanços da Medicina e a melhoria da nutrição. Claro que os fatores não foram
apenas os que citei. Considero-os, porém (e posso estar equivocado, claro)
essenciais. Não por acaso, os três esportes coletivos praticados nos Estados
Unidos e na Europa, o basquete, o beisebol e o futebol americano, foram
“inventados” um no século XVIII e os outros dois, no século XIX.
O voleibol, outra
modalidade coletiva disseminada mundo afora, foi criado na mesma época, em 9 de
fevereiro de 1895. Seu criador foi o norte-americano William George Morgan.
Este, a exemplo de James Naismith, que criou o basquete, também era professor
da Associação Cristã de Moços. Sua preocupação principal era a de criar uma
modalidade que exigisse agilidade, domínio e concentração, mas que não tivesse
contatos físicos entre os jogadores. Ocorre que muita gente queria praticar
esportes, mas temia sofrer lesões, cada vez mais comuns entre os esportistas, à
medida que a prática esportiva se disseminava e se popularizava.
O pitoresco é que,
apesar dos Estados Unidos serem a pátria do inventor do vôlei, esse país não
conta com nenhum clube da modalidade e muito menos com campeonatos, embora suas
seleções sejam excelentes e hajam brilhado em várias Olimpíadas. Contudo, estão
longe de serem imbatíveis como são as de basquete. Há já três décadas, esse
esporte é o segundo mais popular no Brasil, abaixo, apenas, do futebol. E o
vôlei vem sendo, crescentemente, mais e mais popularizado entre nós, o que tem
resultado em expressivas conquistas em âmbito internacional. Há muito superou o
basquete como o segundo esporte mais popular do País.
Não sei o que o leitor
está achando desta série de textos abordando como a Literatura trata deste tema
onipresente em nossas vidas, pois (ainda) não recebi qualquer “feedback”, o
mínimo retorno a propósito. Ninguém me elogiou e nem criticou, sequer por
e-mail, como ocorre com freqüência com outros assuntos que trago à baila. Da
minha parte, estou me divertindo à beça em redigir estes textos. A idéia para
sua redação surgiu em uma das tantas reuniões informais de que participo com
amigos, em um discreto barzinho da periferia. Estou expondo aqui o que sei a
propósito exatamente da forma que expus à minha turma, só que ali, entre um
copo e outro de cerveja, acompanhado de respectivo tira-gosto, pois ninguém é
de ferro. Não estou, pois, preocupado com estilo, forma literária ou outra
firula qualquer. Enquanto continuar me divertindo... seguirei escrevendo sobre
esportes e literatura. Ou não...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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