Duas
sombras no mundo
Pedro J. Bondaczuk
O assunto direitos humanos está sempre em evidência
no noticiário e quase nunca por fatos positivos, mas por suas crescentes e
continuadas violações. Ontem foi a vez de se saber que não somente no Leste
europeu, tido e havido como emérito violador da carta firmada por toda a
comunidade internacional nas Nações Unidas, mas também a Europa Ocidental
descumprem aquilo que juraram cumprir. Paralelamente, estudiosos do assunto
"terrorismo" (entre os quais modestamente nos incluímos) concluíram
que 1986 foi, provavelmente, o ano em que este flagelo se manifestou com maior
agudeza, batendo todos os recordes de violência.
A conclusão imediata a que se chega é que os dois
fenômenos têm íntima correlação. Ambos implicam em prejuízos para o cidadão
comum, que trabalha, paga seus impostos, elege (quando lhe permitem) seus
governantes e procura somente levar com decência e dignidade a sua vida, alheio
ao que ocorre nos bastidores (nem sempre agradáveis de se ver) do mundo político.
Nas duas situações, o ser humano se vê humilhado, torturado, amedrontado e
finalmente morto, sem poder fazer grandes coisas para reagir.
O pior de tudo é que as atrocidades cometidas tanto pelos
violadores dos direitos humanos, que se impõem sobre povos pela força ou pela
persuasão, quanto pelos extremistas, afirmam sempre que praticam os seus atos
atrabiliários exatamente em nome desse mesmo indivíduo que é sempre a sua
vítima. No primeiro caso, adotando instrumentos de exceção, ditos como de proteção
ao Estado, que lhes permitem efetuar prisões arbitrárias e sem as competentes
ordens judiciais; interrogar pessoas sem a presença de seus advogados, o que
lhes dá chances de torturar os que consideram suspeitos e outras tantas mazelas
do mesmo tipo, que eles garantem, com o maior desplante deste mundo, que são
necessárias. Os segundos, dizem atacar os governos constituídos em nome de algo
um tanto vago que denominam de "povo".
Para isso, lançam mão de todos os meios, atingindo
multidões, as mesmas que afirmam estar defendendo e de quem se juram amigos.
Ora, quem possui amizades desse tipo para quê irá precisar de inimigos?
Proteger cidadãos implica em explodir carros-bombas onde eles transitam,
suprimindo covardemente as suas vidas? Significa seqüestrar aviões e manter
como reféns inocentes viajantes? É capturar gente francamente alheia à
política, pelo menos no seu sentido mais comum (que implica em militância) para
chantagear governos?
Como se vê, as ameaças contra os cidadãos vêm hoje
de todas as partes e dos lugares mais insuspeitados possíveis. E sempre que a
violência governamental contra o indivíduo cresce, o terrorismo também se
alastra, e vice-versa. Foi o que ocorreu, por exemplo, neste ano, que
dificilmente irá deixar saudade a alguém. Assusta ao crítico tomar conhecimento
de que até na tida por liberal Europa Ocidental as violações aos direitos
humanos são tantas e tamanhas.
Dos 21 países da área, signatários de uma carta, na
qual se comprometeram em respeitá-los, apenas oito o fizeram. E os violadores
não foram países inexpressivos e sem tradição democrática. Foram sociedades
evoluídas, como a da Grã-Bretanha, da Alemanha Ocidental, da França, Bélgica e
Itália, todas elas integrantes, ao lado dos Estados Unidos, Japão e Canadá, do
seleto grupo das nações mais industrializadas do mundo ocidental. Ou seja,
teoricamente, sem maiores dificuldades econômicas e sociais. Essa prática,
portanto, é tão nefasta quanto as ações terroristas e ambas precisam ser
combatidas com todo o vigor por todos. Afinal, o Planeta não tem donos. É um
patrimônio de toda a humanidade, que por isso precisa reivindicar o respeito
dos violentos e dos que abusam da autoridade que os cidadãos lhes conferem.
(Artigo publicado na página 17, Internacional, do
Correio Popular, em 25 de dezembro de 1986)
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