Uma guerra em que todos
ganham
Pedro
J. Bondaczuk
A área com maior
competição, atualmente, na TV brasileira, é a esportiva, em que cada um dos
sete canais tem o seu trunfo e não existe uma nítida superioridade de quem quer
que seja. A TVS, até aqui, estava fora da parada. Estava, é bem o termo, pois a
emissora da Vila Guilherme acaba de reativar o seu Departamento de Esportes,
entregando-o a um nome expressivo do rádio, Otávio Pìmentel, cuja experiência é
por si só uma grande recomendação.
Para comentarista, a
TVS foi buscar no jornalismo o talento de Juca Kfoury, editor da revista
Placar, homem conhecedor dos macetes do esporte. Completando o seu pequeno, mas nem por isso
menos valioso time, o canal 4 trouxe para fazer as reportagens da “zona do
agrião”, ou seja, do campo, um radialista desconhecido dos paulistas, mas com
vasta atuação em Goiás. E os resultados não se fizeram esperar. Na segunda
transmissão que efetuou, ou seja, do jogo Palmeiras x Portuguesa, a TVS teve um
aumento, em seu índice de audiência, de 150%. Isso prova, acima de tudo, o
acerto da emissora ma reativação do Departamento Esportivo.
Mas não foi apenas a
TVS que investiu bem nos esportes nos últimos dias. Também a TV Gazeta recorreu
à bem sucedida fórmula de buscar bons profissionais no rádio, e trouxe para a
chefia do seu jornalismo esportivo Edson
Scatamacchia, disposto a repetir no vídeo o grande sucesso obtido no áudio,
usando a fórmula óbvia, mas nem sempre aplicada, das simplicidade. Clareza e
concisão é o seu lema, principalmente levando em conta a heterogeneidade do
telespectador que assiste esporte.
As grandes emissoras, é
verdade, não reforçaram seus elencos. Mas acossadas pela igualdade de forças
que se verifica no gênero (o único no qual o poder econômico não vem provocando
grandes disparidades) procuram variar na escolha de eventos. E sempre que
possível, buscam conseguir a exclusividade de transmissão, fato que lhes
garante tranqüilo predomínio. É o caso, por exemplo, do Campeonato Mundial de
Fórmula Um, no qual, aliás, a Globo mostra-se imbatível. Supera, inclusive,
emissoras de grande porte do Exterior.
De todas as corridas
deste ano, a melhor imagem, as tomadzs mais precisas e originais, o maior
número de informações, foram, justamente, as do “Grande Prêmio do Brasil”,
cobertura que ficou a cargo da emissora brasileira. Nos demais eventos dessa
competição, as transmissões deixaram muito a desejar e em algumas, chegaram a
ser monótonas e cansativas, tal a inabilidade dos “cameramen” do Exterior para captar
o melhor do espetáculo., A Globo, inclusive, será reconhecida publicamente, em
âmbito internacional, por sua competência, quando da realização do último
grande prêmio desta temporada, o de Lisboa, oportunidade em que receberá uma
homenagem pelo trabalho que realizou no ‘Grande Prêmio do Brasil”.
Quem saiu ganhando com
essa “guerra” de qualidade dos canais de TV na área esportiva foram os esportes
amadores, sempre relegados a segundo plano e que agora ascendem à categoria
principal, em termos de interesse público. Alguns, inclusive, como é o caso do
voleibol, já ensaiam desbancar o futebol como a grande vedete nacional.
Méritos, neste sentido, devem ser dados, principalmente, ao narrador (e hoje
empresário) Luciano do Valle, que nos três canais por onde passou (Globo,
Record e Bandeirantes) levou o seu entusiasmo pelos esportes amadores às
últimas conseqüências. Se hoje o vôlei, o basquete, o futebol de salão e até o
hóquei sobre patins despertam interesse (se não similar ao futebol, muito
próximo disso), o fato se deve à sua visão e à sua coragem. Crescendo o
interesse por esses notáveis atletas amadores, que o País sempre teve e nem
mesmo sabia, cresceram as arrecadações nos ginásios. Estas aumentando, as
federações passaram a contar com mais recursos para assistir aos clubes e aos
atletas. E a qualidade dos espetáculos evoluiu na mesma proporção do apoio
dado. Por essas razão, não será surpresa nenhuma se modalidades como o vôlei, o
basquete ou até mesmo o atletismo trouxerem medalhas de ouro de Los Ângeles,
embora o Brasil esteja ainda muito longe do ideal em termos de assistência aos
esportes amadores.
Mas voltando à “guerra”
dos canais de TV, na área esportiva, a grande batalha pela conquista do público
vai, sem dúvida nenhuma, ser travada a partir de sábado, com o início dos Jogos
Olímpicos. Nesse evento, em particular, ao nosso ver, o poder econômico deverá
desequilibrar a competição. Dificilmente emissoras como a Record, Manchete,
Bandeirantes, TVS e Gazeta conseguirão, sequer, ameaçar a Globo, que vai a Los
Ângeles com 101 profissionais, quantidade maior de gente, inclusive, do que o
total geral de funcionários da maioria das concorrentes. Mas temos a absoluta
certeza de que o telespectador que por um motivo ou outro (ou melhor captação
de imagem, ou mera simpatia, ou idiossincrasia em relação à emissora do Jardim
Botânico) se ligar nos outros canais, não ficará decepcionado com o nível das
transmissões. As outras equipes, embora reduzidas, nas programações
preparatórias para as Olimpíadas, têm mostrado muita coesão e, sobretudo, muita
“garra”.
De uma coisa o
telespectador pode estar certo: a “guerra” pela audiência, até o final do ano,
deverá acirrar-se e o grande ganhador será ele próprio, que terá ao seu alcance
os grandes eventos nacionais e internacionais (a Globo, provavelmente,
transmitirá o Campeonato Italiano), com a voz e a imagem dos mais selecionados
profissionais do ramo. Pois viva esta “guerra”!!!
(Comentário
publicado na coluna Vídeo, página 19,
editoria de Arte e Variedades do Correio Popular, em 27 de julho de 1984).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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