Saturday, January 11, 2014

Histórias da Bahia

Pedro J. Bondaczuk

A Literatura brasileira é riquíssima, porém, é rigorosamente desconhecida por nós próprios, os brasileiros, pelo menos em toda a sua extensão e riqueza. E sequer refiro-me aos clássicos, aos autores do século retrasado, por exemplo, boa parte dos quais é estudada nas escolas. Ademais, nem estes são conhecidos e entendidos devidamente. Imaginem os que sequer constem de boas (mas escassas) antologias e nem integrem livros de leitura de alunos de primeiro e segundo grau de nossas carentes redes de ensino!.

O desconhecimento é tamanho, que até especialistas em Literatura, professores e críticos, confessam, ou são forçados a confessar, quando se lhes apresenta determinado autor, de regiões mais distantes que tenha feita sucesso em âmbito regional (mas que no plano nacional não passam de ilustres desconhecidos, mesmo tendo a ostentar obras de grande relevância e inquestionável valor literário) seu contundente desconhecimento. Os próprios escritores do Sul, por exemplo, desconhecem a produção de colegas do Norte (ou Nordeste, Centro Oeste, Sudeste ou Leste, não importa) e vice-versa. Mesmo com as recentes facilidades tecnológicas de comunicação, essa continua sendo a realidade brasileira, embora ela tenha melhorado muito em relação, por exemplo, a apenas dez anos. Todavia, ainda é insuficiente.

Até os escritores mais recentes, que publicaram obras marcantes há, digamos, cinqüenta anos, que não é tempo tão longo assim, passam batidos, salvo um ou outro que teve a ventura de contar com relativa divulgação da mídia para suas respectivas obras. Ocorre que o País é enorme (o que, óbvio, não é novidade para ninguém), com dimensões de um continente. Só que os Estados Unidos, por exemplo, também, o são e lá esse desconhecimento, embora exista, é muito menos acentuado do que aqui, no Brasil. Ora, se nem os principais autores regionais são familiares aos leitores e especialistas em literatura brasileira, imaginem os estaduais, fora dos limites dos respectivos Estados! Aliás, essa ignorância, posto que compreensivelmente menor, é  realidade inclusive no âmbito das próprias unidades da Federação. As causas são múltiplas, mas a principal é sempre a mesma: falta de divulgação. Livro é tratado como “bem supérfluo”, embora, sem dúvida nenhuma, não o seja.

Um dos Estados com literatura riquíssima é a Bahia. E sequer me refiro aos seus poetas, do passado e atuais. Concentrei minha atenção em seus ficcionistas, alguns dos quais são conhecidos e admirados não somente além fronteiras estaduais, mas até além internacionais, como são os casos específicos de Jorge Amado e de João Ubaldo Ribeiro, para citar apenas dois dos seus maiores astros literários. Resolvi, pois, fazer ligeira pesquisa, sem o rigor dos especialistas, sobre alguns escritores baianos que lidam especificamente com ficção. Para facilitar minha tarefa, concentrei-me em contistas. E para torná-la mais fácil ainda, tomei, como referência, como ponto de partida, a antologia “Histórias da Bahia”.

Trata-se de um livro lançado, pelas Edições GDR do Rio de Janeiro, há exato meio século, em 1963, época em que o adquiri e o li pela primeira vez. É uma obra muito bem cuidada, com prefácio de um dos ficcionistas selecionados e cuja obra é tão relevante, que não precisa provar mais nada para ninguém, ou seja, Adonias Filho. A própria capa da antologia é, por si só, obra de arte, de autoria do artista plástico argentino mais baiano que já existiu, Hector Julio Paride Bernabó, o excepcionalíssimo (no sentido de excelência) Carybé.

O livro reúne contos de 23 escritores da Bahia, muitos dos quais, na época da publicação, eram quase estreantes no mundo das letras, e, praticamente a totalidade se consagrou, boa parte dos quais sendo eleita em algum ponto de suas carreiras para a Academia Brasileira de Letras. Vários (a maioria) já morreram e os remanescentes (pouquíssimos) são hoje nonagenários ou quase. Trata-se de um “timaço” de primeiríssima linha, integrado por: Adonias Filho, A. Mendes Netto, Aeiovaldo Matos, David Sales, Deoscóredes M. dos Santos, Dias da Costa, D. Martins de Oliveira, Elvira Foeppel, Hélio Pólvora, Herberto Salles, James Amado, João Ubaldo Ribeiro, Jorge Amado, Jorge Medauar, José Pedreira, Luís Henrique, Nelson Gallo, Noênio Spínola, Ruy Santos, Santos Moraes, Sônia Coutinho, Vasconcelos Maia e Xavier Marques. Este último foi o único incluído na antologia que quando da seleção de contos já havia morrido.

Fiz ligeiro estudo sobre cada qual deles – alguns com maior profundidade, outros com referências escassas – de acordo com o que consegui descobrir sobre a carreira de cada um deles em minhas pesquisas. São estes comentários à margem que pretendo partilhar com você, assíduo leitor, com o objetivo específico de demonstrar quantos e bons ficcionistas a Bahia já revelou, embora a amostragem seja, no máximo, 5% dos que poderiam e deveriam ser personagens de minhas bem intencionadas, posto que toscas, avaliações de amante das letras. Aguardem.


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