Friday, June 30, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Johann Sebastian Bach, quando compôs a maravilhosa melodia de "Jesus alegria dos desejos humanos", certamente não pensou que, passados mais de trezentos anos, essa composição seria conhecida, apreciada, executada, e conservaria uma atualidade sem limites em todas as partes do mundo, através desse tempo. Tratava-se de um homem austero, com muitos filhos para criar e educar e sérias dificuldades econômicas. Sua preocupação lógica era com a sobrevivência, com o dia-a-dia, com o pão na mesa da sua família. Não tinha tempo para sonhar. A música era o seu meio de ganhar dinheiro. Mas não se limitava a fazer o que sabia mecanicamente, de forma rotineira, sem paixão, como tanta gente faz em suas atividades. Compunha, tocava e ensinava com amor, com empenho, com gosto e com alegria. Trabalhava com prazer. Sua enorme criatividade, somada ao fator "acaso" (que fez com que lhe aparecessem as oportunidades), tornaram Bach "imortal".

Olho gordo


Pedro J. Bondaczuk


A inveja é uma das emoções básicas, primitivas, do homem. Todos a temos, em maior ou menor medida, embora raros admitam este fato. A Bíblia coloca-a como a causa do primeiro homicídio ocorrido no mundo, o de Caim, que matou Abel porque a oferenda do irmão era de maior agrado a Deus do que a sua. Não percebia que o que importava era o sentimento que a acompanhava e não no que ela consistia. Faltava-lhe sinceridade e abundava antagonismo e exacerbado espírito de competição.
O povo, em sua simplicidade, criou uma expressão para esse sentimento: "olho gordo". Na Idade Média, houve até quem parou em uma fogueira por essa causa. Quando adquirimos uma casa nova, ou temos um carrão zero quilômetro recém-saído de uma concessionária ou qualquer outro bem de grande valor que seja símbolo de sucesso e de elevado "status" social, e alguém os observa com intensidade que entendemos ser maior do que a normal, é costume, até instintivo, batermos três vezes na madeira.
Pensamos, com isso, impedir que os "maus fluidos" do invejoso façam com que percamos ou estraguemos os objetos a que atribuímos tanto valor. Muitas vezes essa "inveja" sequer existe. Nosso afã de ostentação é tão grande que passamos a fantasiar as coisas. E o "olho gordo", nesses casos, está apenas em nossa cabeça.
Claro que essa atitude não passa de superstição. Interessante é que todos temos, mesmo que somente uma vez ou outra, inveja de alguém ou de alguma coisa, mas não há quem o admita às claras e com franqueza. "Invejoso, eu! Não! Jamais!", afirmam, ofendidos, os que são acusados de mostrar esse sentimento, que tentam a todo o custo disfarçar, mesmo quando sua atitude mostre o contrário.
Essas pessoas são capazes até de brigar por isso. Pura hipocrisia... (o que também é normal). Quando não invejamos os bens de alguém, o fazemos em relação à sua posição, a um seu talento que não possuímos, ou ao seu êxito profissional, artístico ou social (mesmo que passageiro ou ocasional) que tenha.
O escritor norte-americano, Gore Vidal, foi mais franco. Em um artigo que escreveu recentemente, admitiu: "Um amigo tem sucesso; algo dentro de mim morre". E o que é esse sentimento, essa mortificação, essa emoção intensa e negativa que expressou, senão a velha e conhecida inveja?
Todavia, quantos, como ele, teriam a coragem de confessar isso com tamanho desassombro? Nossa tendência é a de passarmos sempre uma imagem favorável aos que nos cercam, mesmo que saibamos, no íntimo, que é falsa e artificial. Aliás, nem sempre a amizade que nos declaram (e vice-versa) é genuína. Muitas vezes é mero coleguismo. Quando submetida ao mais simples teste, se esboroa com facilidade.
O poeta persa Omar Khayyam já aconselhava, em seus versos: "Contenta-te com poucos amigos./Não busques prolongar a simpatia que alguém te inspirou./Antes de apertares a mão de um homem,/considera se ela um dia não se erguerá contra ti". Na maioria das vezes se ergue. E nos momentos em que mais precisamos de apoio.
Confesso (e não é para me mostrar bonzinho) que não tenho inveja dos bens que os outros possuem, por mais preciosos que sejam, por não dar valor às coisas, às quais nunca me apeguei, por convicção e por temperamento. Meu apego é com pessoas. E invejo talentos que os outros possuem e eu não. Como os músicos, por exemplo, que tocam com maestria instrumentos que não sei sequer segurar, pois é algo que jamais conseguirei fazer. Ou pintores e escultores, que "recriam" o mundo com sua maravilhosa aptidão.
Embora considere-me um escritor, não posso deixar de invejar determinados textos que gostaria de ter escrito, mas que outros não ficaram só na intenção e os escreveram.
Aliás, Mário Quintana tem uns versos, intitulados "Três poemas que me roubaram", que expressam bem o que quero dizer: "Lá pelas tantas menos um quarto eu suspirei num poema:/`Vontade de escrever Sagesse de Verlaine...'/Mas o que eu tenho vontade mesmo/é de haver escrito a Pedra do Meio do Caminho/A Balada & Canha, a Estrela da Manhã,/se/--- ó Musa infiel,/não te houvessem possuído antes/Carlos, Augusto e Manuel".
Esse tipo de "inveja" é saudável e até recomendável. Estimula, quem o possui, ao estudo e às tentativas de imitação dos grandes mestres. Às vezes, isso dá certo. Na maioria dos casos, termina em frustração.

Thursday, June 29, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Há os que se aplicam naquilo que fazem somente por gosto. Pintam um quadro, fazem uma escultura, compõem uma sinfonia, escrevem um poema, criam um romance, conto ou novela, ou produzem qualquer outra coisa, sem preocupações, pelo menos no momento em que estão executando as obras, com seu resultado. Não pensam no sucesso comercial e no dinheiro que poderiam ganhar. Nem se lembram da possibilidade de que o que fizerem poderá durar anos, décadas, séculos, milênios, através de gerações. No instante em que estão agindo, não lhes passam pela cabeça as questões do lucro e da imortalidade. Querem é fazer o que apreciam: com alegria, com entusiasmo, com prazer. Depois da obra concluída é que, para muitos, vem o momento dessas ambições, dos resultados, da paga pelo seu esforço ou talento. E este é também o duro instante da frustração.

Conflito e interação


Pedro J. Bondaczuk


O relacionamento harmonioso entre as pessoas é o fator determinante do grau de civilização de um povo. Quanto mais respeito existe entre os indivíduos, sem que os diferenciais da posição social, da intelectual e da idade (entre outros), interfiram, mais civilizada é a sociedade. Esse entendimento, evidentemente, não pressupõe ausência de conflitos, mas sua sábia administração, naquilo que os sociólogos denominam de "interação".
A humanidade, na presente geração, está muito avançada, neste aspecto, em relação a um passado não tão remoto. A escravidão de pessoas era um fato normalíssimo no Brasil, por exemplo, até recentemente (1888). Hoje, embora exista, é tida como atitude abominável.
Mas a espécie humana ainda está extremamente atrasada se atentarmos para o ideal, para o ápice da civilização (a absoluta liberdade dentro dos limites democráticos, ou seja, onde a nossa termine no ponto em que a do próximo comece; a espontânea fraternidade entre todos os indivíduos e a solidariedade total) que talvez jamais venha a ser alcançado, mas que deve ser incansavelmente perseguido.
Enquanto houver dominadores e dominados, exploradores e explorados, privilegiados e excluídos, estaremos distantes "milhões de anos-luz" da absoluta racionalidade, que por enquanto continua sendo apenas aspiração e não realidade. O predomínio dos instintos sobre a razão está muito longe de ter acabado.
A diversidade de opiniões (seja a respeito do que for) é sempre salutar. Em raríssimos temas duas pessoas, livres para pensar e externar o que pensam, concordam integralmente. Até sobre o conceito que a lógica diz que deveria ser óbvio para todos e absolutamente consensual, o da existência de Deus, há discordâncias. Uma parte considerável dos quase seis bilhões de indivíduos que povoam o Planeta nega que haja qualquer divindade.
E entre os que crêem que ela exista, há profundas divergências, que vão desde a sua unicidade (muitos acreditam em muitos deuses), até sua forma, extensão e poder. E é bom que seja assim. É o homem exercendo sua racionalidade. Irracional é tentar fazer, a força, com que alguém pense como nós. E o número de vítimas de guerras, que tiveram por pretexto razões religiosas (envolvendo um grupo tentando impor seus pensamentos e conceitos a outro através de armas) ascende a milhões ao longo da história.
Claro que tais guerreiros não podem ser enquadrados na definição de "civilizados". As divergências (sejam de que natureza forem), em vez de conduzir as pessoas à confrontação e até ao homicídio (como ocorre), deveriam agir no sentido da sua aproximação, enquanto seres inteligentes e livres.
Os verdadeiros democratas sabem que democracia não é a ausência de conflitos. Esta só ocorre nas mais ferozes ditaduras, onde o pensamento do tirano conta com exclusividade. O ditador é o único "dono da verdade", até por definição. Sente-se senhor da vida e da morte dos que estão submetidos à sua tirania, amparado, é claro, na força bruta, tendo a cumplicidade de seguidores fiéis (que só mantêm fidelidade enquanto seus interesses são satisfeitos).
A história provou inúmeras vezes que sociedades desse tipo nunca prosperam. As maiores potências da atualidade são aquelas onde os conflitos não são extintos, mas administrados com sabedoria e relativa justiça por instituições criadas para esse fim. É o caso específico dos Estados Unidos. Ou dos países que integram a União Européia.
Mesmo ali, no entanto, ainda há muito, muitíssimo, exagerado autoritarismo, que nasce dentro da família (com a ausência de diálogo em casa de pais que "mandam" e não "ponderam") e se espraia por toda a sociedade.
O escritor britânico H. G. Wells destaca: "O estimulante conflito das individualidades é o fim último da vida pessoal e todas nossas utopias não são senão esquemas para melhorar essa interação".
O dramaturgo Nelson Rodrigues tem uma forma mais direta e saborosa de dizer isso. Afirma que "toda unanimidade é burra". E é mesmo. Na maioria dos casos, reflete unicamente "preguiça de pensar". Ou domínio de alguém sobre muitos, na maioria das vezes determinado por ameaças (sutis ou ostensivas, não importa).
A Carta Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, muito mencionada e pouquíssimo cumprida, sentencia que "todos os homens nascem livres, com igualdade de direitos e obrigações". Mas não é preciso ser nenhum gênio para perceber que isto não passa de "letra morta". Por incrível que possa parecer, e por maiores que tenham sido os avanços no relacionamento entre os indivíduos, ainda há escravidão --- explícita e disfarçada --- em várias partes do Planeta.
Estima-se por volta de 200 milhões o número de pessoas que têm sua liberdade e sua dignidade covardemente violadas, sem que ninguém faça nada para coibir ou evitar. Uma geração que age dessa maneira, que tolera tal comportamento, não pode ser considerada civilizada. Que todos os homens deveriam ser iguais em direitos e deveres é bastante óbvio, embora nem todos (ou raríssimos) entendam isso. Até porque, há um fator biológico que atua como argumento decisivo e que suprime na prática eventuais veleidades de superioridade: a morte. Quem pode contra esse nivelador?

Wednesday, June 28, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Albert Einstein, em um de seus livros, destacou: "O valor do homem é determinado, em primeira linha, pelo grau e pelo sentido em que ele se libertou do seu ego". Isto não significa se humilhar, mas ser humilde. O servir, ao contrário do que pensam os tolos, não implica em servilidade, mas em poder, quando feito espontaneamente, sem ser obrigado a essa prestação de serviço, ou sem que ela seja para ganhar dinheiro. É um ato de liberdade, de grandeza, de generosidade. É de gênios com essa característica que o mundo precisa. Por ausência de pessoas com essa virtude é que vemos tanta arrogância, tanto cinismo, tanta corrupção e tanta canalhice ao nosso redor.

É proibido...


Pedro J. Bondaczuk


As primeiras palavras que mentalizamos, na tenra infância, tão logo começamos a engatinhar e a tomar contato ativo com o mundo, é no sentido de restrição. "Não mexa nisso, não faça aquilo, não ponha isso na boca" e vai por aí afora.
Claro que os que nos dizem essas coisas (no caso nossos pais), agem no intuito de nos proteger. Mas é a nossa primeira "lição de ditadura". Muitas outras virão a partir de então, ao longo de toda a nossa vida. E as proibições vão aumentando de grau e de intensidade à medida em que crescemos. E passam a ser uma constante no lar, na escola, no trabalho, etc.
Trata-se de um duro aprendizado para a vida em comunidade, onde precisamos abrir mão de parcela considerável de liberdade individual, em favor do grupo. É óbvio que algumas proibições são exageradas, outras são tentativas de domínio de pessoas despreparadas, que extrapolam de sua autoridade para se impor e outras são tão ridículas, que só merecem risos.
É claro que as restrições são incômodas, antipáticas e impopulares. O homem, no entanto, somente é totalmente livre nos estritos limites da lei. Desde que ela seja, logicamente, justa, aplicável e que abranja a todos os indivíduos, indistintamente, sem exceções de quaisquer espécie.
No meu tempo de jovem, criou-se um slogan que refletia bem a rebeldia de minha geração contra certos tipos de imposição: "É proibido proibir". Tínhamos em mente uma liberdade que hoje sabemos ser impossível. Para existir, na intensidade que pretendíamos, seria necessário que não houvesse um único indivíduo que desconhecesse o limite do que pode ou não fazer, por estar violando direitos alheios.
Muitos utilizavam essa reivindicação (ou exigência?), para defender, por exemplo, a liberalização da maconha. É certo que uma proibição liminar nesse sentido tem se mostrado contraproducente. O que é preciso é convencer as pessoas da estupidez de se recorrer às drogas, que têm todas as desvantagens e perigos possíveis, sem a contrapartida de um único benefício.
Até por que, mentes mais fracas julgam que a violação de uma norma, mesmo que implique em prejuízos à própria saúde ou até em riscos à sua sobrevivência, é uma manifestação de ousadia, ou de coragem, ou sabe-se lá do quê. Neste caso (e na maioria dos outros) não é. Em geral, é um suicídio a médio prazo, um caminho sem retorno.
O padre Antônio Vieira tem um magnífico e lapidar sermão sobre a dureza da palavra "não". Há, é verdade, alguns impeditivos sem razão de ser e que acabam não vingando: ou pelo seu evidente exagero, ou por sua absoluta desnecessidade ou por falta de autoridade ou legitimidade dos que os procuram impor.
A esse propósito lembro-me de um incidente ocorrido em uma escola em que estudei. O colégio era cortado por amplas e sinuosas avenidas, que margeavam enormes gramados, em cujo centro havia a invariável placa: "É proibido pisar na grama". No entanto, esses imensos "tapetes verdes" possuíam trilhas bem marcadas, que mostravam que os alunos ignoravam a proibição, cortando caminho sobre eles. Como a menor distância entre dois pontos é a reta (já ensinava o geômetra grego Euclides há 400 anos antes de Cristo), o desrespeito a essa restrição era até questão de lógica.
Os responsáveis pela disciplina da instituição faziam freqüentes "sermões" nas salas de aula, apontando o fato de se pisar na grama como grave manifestação de "falta de educação" dos estudantes. Não haveria, no caso, brutal falta de respeito da escola para com os alunos?. Não seria mais lógico e racional fazer passar uma viela, ou travessa, ou passagem calçada, na parte do gramado em que todos transitavam, formando a referida trilha?
Esse é o tipo da proibição que sempre vai cair no vazio, pela desnecessidade. Aliás, sobre restrições, há um magnífico poema de Lewis Carrol, intitulado "Minha Fada", em que o autor de "Alice no País das Maravilhas" escreve:
"Tenho sempre uma fada do meu lado/que diz que não devo repousar./Quando chorei um dia de magoado,/censurou-me: 'não deve chorar'.//Se dou uma risada divertida,/ela ralha: 'Não deve alegrar-se'./Um dia eu quis tomar uma bebida,/impediu-me: 'Não deve embriagar-se'.//E quando eu quis provar alguns quitutes/proibiu-me: 'Não deve provar'./Quando fui para a guerra, disse-me:/ 'Escute, não deve, tampouco, guerrear'.//'Que posso então fazer?', gritei cansado/de tantas proibições conjuntas./A fada respondeu, sempre ao meu lado:/'Não deve é fazer essa pergunta'.//Moral: 'Você não deve'".
E não é sob esses exageros constantes, das pequenas às grandes coisas, que transcorre nossa vida? Restrições em casa, regras na escola, proibições no trabalho, sanções na sociedade, e vetos de toda a sorte até em nosso lazer, etc. E quando rompemos uma dessas normas estúpidas, impostas muitas vezes (quando não na maioria) por pessoas sem nenhuma autoridade para tal, procuram fazer com que nos sintamos culpados. Ou nos aplicam as mais variadas sanções, das físicas às patrimoniais. E, em casos extremos, a pena de morte...
O que deveria ser proibido (e banido do Planeta) é o ódio. É a intriga. É o preconceito. É o egoísmo. É o mau-humor. É a chatice. É a desonestidade em todos os sentidos. O romancista alemão Bruno Frank, no conto "O Besouro Dourado", resume com maestria o que queremos ressaltar: "Não somos separados uns dos outros como pensamos; onde estão os limites? Quem poderá se atrever a separar, a dividir, a dizer: assim é esse e assim é aquele, e isso é bom e aquilo é mau?". Sim, quem poderá?!!?

Tuesday, June 27, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Michael Drury afirma: "A humildade não indaga o que é correto fazer; age por instinto e sem barulho". Já o que se humilha, atua de forma diametralmente oposta. É incapaz de praticar qualquer ato sem antes consultar o "superior". Trata-se de uma forma de eximir-se da responsabilidade. Mesmo quando recebe uma ordem equivocada, cumpre-a cegamente, sem pestanejar, mas de forma "barulhenta", para chamar a atenção. Quando o equívoco é descoberto e apontado, tem como transferir (e transfere) a culpa.

Harmonia rege o universo


Pedro J. Bondaczuk


A mente do homem pode ser maravilhosa ou tétrica, dependendo onde ele coloca o seu empenho. Se em empreendimentos construtivos, ela engendra as artes, a filosofia, a ciência e a tecnologia. Desvenda o âmago dos átomos, para dali extrair energia. Abre as portas da natureza, com a chave do seu talento, para dali extrair abundância. Desenvolve remédios, que curam doenças e prolongam a vida. Troca um coração, com êxito, em seu semelhante e mapeia os genes, para curar enfermidades de pessoas ainda em estado fetal.

Constrói naves maravilhosas, como as duas Voyagers, que examinam de perto os planetas do Sistema Solar e revelam os seus segredos. Pode-se dizer, sem medo de equívoco, que não há nada que a mente humana não possa fazer, a não ser livrar o homem da sua morte.

Mas existe o outro lado da personalidade humana. Todos nós temos um pouco dessa dualidade. Somos todos, dependendo das circunstâncias, o "médico" e o "monstro". O que cura e o que mata. O que ajuda e o que explora. O amigo fraternal e desprendido e o adversário mais cruel e implacável.

Alguns conseguem dominar o instinto de fera que o ser humano, enquanto animal, possui, e se tornam santos. Outros, no entanto, sufocam a parte boa que possuem, cultivam a irascibilidade, o espírito de vingança, a cobiça desmedida e se tornam verdugos de seus semelhantes. Seres que todos desejariam ver pelas costas, quando não sepultados sob sete palmos de terra.

Estas considerações vêm a propósito do magnífico êxito da sonda Voyager 2 (mais do que aquele, há anos louvado, de sua "irmã gêmea", a Voyager 1, a esta altura viajando na imensidão cósmica, numa jornada sem fim), que está desvendando para o homem os mistérios da natureza. Alguns, evidentemente, já que o universo é um desafio permanente e infinito à mente desse misto de semideus e semimacaco, deste meio gênio e meia fera, desse ser contraditório e por isso mesmo fascinante, destinado a se perpetuar por milênios afora, mas que criou, com suas próprias mãos, a arma que o pode levar à destruição, enquanto espécie.

Como tudo seria mais fácil se este ente tão complexo conseguisse resolver suas contradições! Se pudesse acorrentar para sempre a besta que traz solta dentro de si, para ressaltar a sua genialidade! Se entendesse de vez que a lei que rege os astros, os mundos, as galáxias mais distantes e maiores se baseia na cooperação e não no conflito! No trabalho conjunto, não no isolamento suicida! Na harmonia, e não no caos!

Monday, June 26, 2006

REFLEXÃO DO DIA


"O que o mundo precisa é de gênios com humildade". A afirmação não é minha, mas do comediante norte-americano Oscar Levant. Há , no entanto, uma distinção fundamental entre ser humilde e humilhar-se. No primeiro caso, a pessoa sabe o quanto vale, embora não saia por aí ostentando e nem alardeando suas virtudes, apesar de exercer plenamente suas aptidões. Está aberta às críticas, mas as aceita somente quando sejam válidas. É maleável e não se aferra dogma pré-estabelecido. Já a pessoa que se humilha abre mão de sua dignidade. Submete-se docilmente a alguém, que lhe seja superior em força ou na hierarquia profissional ou social, para colher meras migalhas da mesa desses poderosos. É interesseira, embora esconda isso com seus modos rastejantes. No primeiro caso, trata-se de uma virtude. No segundo, de uma deficiência grave de caráter. O povão tem uma palavra para designar esses indivíduos: "puxa sacos".

Outra grande ironia


Pedro J. Bondaczuk


A obra do mestre holandês Vincent Van Gogh mostra o quanto os contemporâneos de um gênio podem se equivocar na avaliação de um talento. Não cabe aqui discutir sobre seu possível distúrbio mental, que o levou a ser internado no asilo de Saint-Paul-de Mausolè, em Saint-Rémy, onde, aliás, pintou telas maravilhosas, hoje disputadas a peso de ouro pelos grandes museus e pelos colecionadores particulares do mundo todo.
O que se questiona é o senso estético do seu tempo, que fez com que esse homem atormentado por mil demônios tivesse uma existência profundamente infeliz. Não há amargura maior para um indivíduo, especialmente se for um artista, do que ver aquilo que acredita ser ridicularizado e diminuído pelos que o cercam.
Van Gogh passou por essa amarga experiência em inúmeras oportunidades. Bem que o seu irmão, Theo, um bem-sucedido marchand em Paris, tentou, por todas as formas e meios, transformar essa pessoa que tanto amava, mas que era encarada como ovelha negra da família, em um pintor de sucesso.
Quantos esnobes não adquiriram, nessa época, quadros que não passavam de mera empulhação, hoje completamente esquecidos (quando não utilizados, apenas, para aproveitar as telas ou as molduras e nada mais) como sendo trabalhos geniais! Como se sabe hoje, não eram! E, o pior de tudo, é que esses mesmos senhores emproados, com ares de entendidos, tiveram, sob seus narizes, uma autêntica obra de gênio, que não souberam entender. Pior para eles. A vida tem dessas ironias.
Em novembro de 1987, o atormentado mestre holandês do século XIX, amante das luzes, das cores e da gente simples dos campos, superou seu próprio recorde, quando o seu “Os lírios”, pintado num período em que era considerado i8rremediavelmente louco, foi arrematado, em um leilão, em Nova York, por US# 53,9 milhões (incluindo os 10% de comissão dos leiloeiros).
O quadro de maior valor anterior, por sinal, também era de Van Gogh: o famoso “Os girassóis”, adquirido por uma empresa de seguros japonesa, em março desse mesmo ano, por US$ 39,9 milhões. Cifras monumentais, como estas, não deixam de ser uma trágica ironia, envolvendo esse gênio, marcado, permanentemente, pela incompreensão e pela tragédia.
Quantas vezes Van Gogh não dependeu da boa vontade do irmão, ou dos amigos, e mesmo de pessoas caridosas, estranhas para ele, para ter, simplesmente, o que comer?! Quantas portas não lhe foram fechadas e quanta arrogância alheia, de pigmeus mentais, não teve que suportar?!
E, no entanto, era um desses seres raros, que de quando em quando os céus enviam ao mundo, para ilustrar os néscios e para encantar os tristes, criando beleza, virtualmente, do nada. Extraindo harmonia de cores e revérberos existentes somente na palheta de seus próprios sonhos.
Se esse pintor genial era, de fato, louco, como se chegou a acreditar, o que dizer das bilhões de pessoas que hoje apenas sobrevivem, sem sequer a mínima noção que de fato existam? Quem pode traçar, sem erros, os limites entre o normal e o anormal? E entre o gênio e o esquizofrênico? Sim, quem pode?

Sunday, June 25, 2006

REFLEXÃO DO DIA


Todos temos deficiências e imperfeições. Aldous Huxley, no livro "Ronda Grotesca", dedica várias páginas a analisá-las. Escreve, em determinado trecho: "Mas todo homem é ridículo quando visto de fora, sem levar em conta o que lhe vai no espírito e no coração. Pode-se transformar Hamlet numa farsa epigramática, com uma cena inimitável, quando ele surpreende sua adorada mãe em adultério. É uma questão de ponto de vista. Cada um de nós é uma farsa ambulante e uma tragédia ambulante ao mesmo tempo. O homem que escorrega numa casca de banana e fratura o crânio, descreve contra o céu, ao cair, o arabesco mais ricamente cômico". E não é isso o que acontece? Claro que sim! Por mais que isso nos fira o ego, somos um feixe de defeitos e imperfeições.

Entre Deus e a fera bronca


Pedro J. Bondaczuk


O homem, quando aplica os dotes de sua inteligência em uma obra construtiva e quando atua em equipe, opera verdadeiras maravilhas. Penetra, por exemplo, no coração de um átomo e decompõe essa porção infinitesimal de matéria em partículas cada vez menores e complexas, desvendando, no plano microscópico, os segredos do universo.
Interfere no código genético e dessa maneira impede doenças congênitas, ou cria novos animais e plantas, consertando falhas da própria natureza que o gerou. Troca, num seu semelhante, o coração e outros órgãos, permitindo que ele viva, produtivamente, muitos anos mais do que viveria caso não fizesse essa providencial intervenção. Aventura-se no espaço infinito e revela mistérios que seus ancestrais sequer atinavam que existissem.
A data de hoje, 20 de julho de 1989, marca um desses momentos excepcionais da humanidade, que foi a conquista da Lua. Muitos, hoje, investem contra esse projeto, que consumiu cerca de US$ 10 bilhões, garantindo que ele foi inútil, já que não trouxe os benefícios materiais com que contavam. Argumentam que o dinheiro gasto na empreitada seria melhor aplicado se investido, por exemplo, no socorro aos muitos milhões de miseráveis e famintos que há no Planeta.
Mas será que há alguém que acredite que se esses recursos não viessem a ser despendidos para uma façanha desse porte seriam destinados a alguma obra social, ou de benemerência? Se houver, tal pessoa será de uma ingenuidade atordoante. Ademais, se existe algum dinheiro mal aplicado no mundo, este, certamente, é o que sustenta essa macro estupidez chamada corrida armamentista nuclear.
Este, sim, é um buraco negro, que consumiu as energias de alguns bilhões de seres humanos, num projeto que, se posto em pleno andamento, redundará, fatalmente, na destruição não somente deste maravilhoso planeta azul, nosso domo cósmico, mas, e principalmente, dessa coisa rara em um raio de vários anos-luz (e quiçá única na imensidão universal), a vida e, especialmente, a deste ser pensante, tão contraditório, que traz, misturadas em seu âmago, a genialidade dos deuses e a estupidez das feras broncas.
O importante, na conquista da Lua, não foi a tomada de posse do satélite, mas a demonstração de que o homem é capaz de fazer isso e muito mais. Basta que volte sua inteligência para empreendimentos construtivos; que jamais deixe a ânsia da conquista de riquezas vazias, que nada valem, e de um hedonismo inconseqüente e sem sentido, embrutecer seu espírito de aventura; que não permita que ambições mesquinhas limitem seu horizonte aos pântanos, quando o infinito está à sua frente, como magnífico desafio.

(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 20 de julho de 1989)

Saturday, June 24, 2006

REFLEXÃO DO DIA


As pessoas nos admiram por nossas virtudes, mas apenas nos amam por nossas fraquezas. Não as grandes, mas aquelas pequenas, comuns, corriqueiras. Os lapsos de memória, as manias inocentes que não prejudicam ninguém, as deficiências físicas. Para os que nos cercam, mas não convivem conosco, é só nosso visual que aparece. Quando encontramos alguém assim, fragilizado, nosso primeiro sentimento é o de piedade. Para o objeto da pena, quando esta é mostrada ostensivamente, ela é ofensiva e humilhante. O que indivíduos assim esperam é reconhecimento por suas pequenas vitórias. Ou, na pior das hipóteses, respeito ou não-interferência. À medida que vamos convivendo com tais pessoas, esse sentimento inicial de piedade, instintivo, transforma-se em ternura. Sobretudo se elas não são agressivas e aceitam nossa ajuda. E quando são do sexo oposto, na maioria das vezes, findamos por nos apaixonar por elas.

Poema das importâncias


Pedro J. Bondaczuk

Bolsa de valores da vida,
tenso pregão do acaso,
escassa escala de virtudes,
amplo leilão de emoções.

No quadro-negro do espaço,
painel luminoso de estrelas,
o tempo colhe e sedimenta
os valores e as importâncias.

São bem cotados o efêmero,
o trivial e o comezinho,
e a rotina do cotidiano,
e o fortuito e o casual.

São valiosas as sirenas
de abelhas, convocando
o labor proletário
de agitadas colméias.
Monarquia de insetos,
rígida hierarquia,
definição de funções
do nascimento à morte:
predomínio de instintos,
importância do efêmero.

São assustadores:
o labor noturno dos mochos
e seus lamentos de angústia;
a histeria das hienas,
a determinação dos lobos
a solidão das panteras
a covardia dos chacais
a algaravia dos cães
e o terror pânico das corças
dos coelhos e dos ratos.

Guerra da sobrevivência,
implacável ação do predador,
lei natural do mais forte:
importância da angústia.

Dolorosos os cris-cris
ultrassônicos dos grilos,
invisíveis, escondidos
nos labirintos da mente,
nas lapas do cerebelo,
nas espirais do ouvido.

Os por quês não respondidos,
a insignificância individual
na imensidão do conjunto,
o silêncio e a solidão
nas clausuras da alma:
falência dos valores!

Grilos que não se calam,
a sucessão das questões,
o caminhar desorientado,
o passo trôpego e incerto,
o gesto dúbio e medroso,
as idéias sem nenhum nexo,
olhos vidrados de pavor,
imposição dos sentidos:
importância das neuroses.

No quadro negro da mente,
painel luminoso de idéias,
o tempo escreve e sedimenta
as legítimas importâncias!

(Poema composto em Campinas, em 5 de maio de 1975).

Friday, June 23, 2006

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk



SETE CAMPEÕES DO MUNDO NA PARADA

Terminada hoje a fase de classificação, começa, amanhã, de fato, a Copa do Mundo, desta feita com um tira-teima se não inédito, pelo menos raro. Estarão em campo, nestas oitavas-de-final, 15 títulos mundiais, representados pelos seis campeões que se classificaram para a competição (cinco do Brasil, três da Alemanha, três da Itália, dois da Argentina, um da Inglaterra e um da França). O único vencedor de Copa ausente é o Uruguai (que conquistou dois mundiais, em 1930 e 1950) eliminado na repescagem pela surpreendente Austrália, depois de se classificar em 5º lugar nas Eliminatórias sul-americanas. Os australianos queimaram a língua da maioria dos analistas. Contrariando quase todos os prognósticos, estão, como “estranhos no ninho”, entre as 16 seleções que disputarão a etapa do mata-mata. A grande decepção da fase de classificação foi a Sérvia-Montenegro, secundada pela Croácia, as duas, aliás, herdeiras da extinta Iugoslávia. A surpresa? Reitero, foi a Austrália, embora não deixe de ser surpreendente a performance da Suíça, a única seleção que não levou um único gol e que terminou essa etapa à frente da todo-poderosa França.

CORDILHEIRA DE OBSTÁCULOS

A Espanha, que ao derrotar, hoje, a mera coadjuvante Arábia Saudita por 1 a 0, com sua equipe reserva, teve aproveitamento de 100% na fase de classificação, ao lado de Brasil, Portugal e Alemanha, tem uma cordilheira de obstáculos, um verdadeiro Himalaia, para chegar pelo menos à semifinal. O primeiro desafio, sem dúvida, será a França, seu adversário, dia 27, nas oitavas-de-final. Os franceses, que escaparam por pouco do vexame de nova desclassificação prematura, vão entrar mordidos nesta etapa decisiva. Seu futebol começou a luzir um pouco tarde, a exemplo do que aconteceu com o Brasil, mas tende somente a crescer. Caso os espanhóis ultrapassem essa barreira, terão, como adversário, nas quartas-de-final, ou os pentacampeões mundiais dos dois Ronaldos & companhia ou Gana. Ou seja, o vencedor desse clássico, envolvendo sul-americanos e africanos, aguardado com enorme expectativa. Não se pode negar que a Espanha tem um excelente time-base. Não conta, todavia, com reservas à altura dos titulares. A prova foi dada hoje, no jogo contra os sauditas, que a encararam de igual para igual, perderam por 1 a 0, mas mereceram, até, um empate.

UCRÂNIA ENFRENTA DEFESA INDEVASSÁVEL

A Ucrânia, que no seu jogo de estréia nesta e em todas as Copas do Mundo levou uma surra histórica da Espanha, por 4 a 0, se recuperou, graças à fragilidade de sauditas e tunisianos. Venceu seu último jogo, hoje, contra a Tunísia, por 2 a 0, e encara, na segunda-feira, a surpreendente Suíça. Os suíços ostentam, como grande façanha, o fato de terminarem na primeira colocação em seu grupo, que tinha a França como a grande favorita e, de quebra, de terem a única defesa que não sofreu um só gol até aqui. Hoje, conseguiram uma convincente vitória sobre a veloz Coréia do Sul por 2 a 0. Por tudo o que vi, aposto todas as minhas fichas na seleção da Suíça, que deve passar, até com relativa tranqüilidade, para as quartas-de-final. Se a Ucrânia vencer vou considerar zebra.

PRESENTE AOS ANIVERSARIANTES

A França penou, deu um grande susto em sua torcida, mas arrancou, a fórceps, a sua classificação para as oitavas-de-final, com a vitória de hoje, por 2 a 0, sobre Togo. Foi um presentão para os aniversariantes do dia da sua seleção, Zinedine Zidane, que nem no banco de reservas ficou, por estar suspenso com dois cartões amarelos e Patrick Viera, que não somente esteve em campo, como ainda foi o fator decisivo para a vitória francesa, fazendo o primeiro gol e dando o passe para Henry fazer o segundo. Hoje, sim, os gauleses deixaram de lado o salto alto e jogaram com vontade, garra e determinação, embora ficassem devendo em técnica. O placar, na verdade, não refletiu o que foi o jogo. Os franceses praticamente alugaram o meio campo adversário e fizeram um bombardeio maciço à meta togolesa. O goleiro Agassa impediu que os africanos sofressem uma goleada de, no mínimo, 6 a 0, com defesas impossíveis.

TESTE PARA DOIS DOS FAVORITOS

Os dois jogos de hoje, pelas oitavas-de-final, vão testar a real capacidade de dois dos favoritos à conquista da Copa do Mundo: Alemanha e Argentina. Os alemães, mesmo sem jogar um futebol brilhante, classificaram-se com facilidade para esta fase, com 100% de aproveitamento e com o melhor ataque. Todavia, tomaram dois gols da única seleção que a atacou, a fragílima Costa Rica. Sua defesa, portanto, não inspira confiança nem aos mais fanático dos seus torcedores. A Alemanha encara a Suécia, que joga um futebol mascado, brigado, feio, chato que costuma dar muita dor de cabeça aos adversários. Os ingleses que o digam. A Argentina, por sua vez, teve, até aqui, como maior façanha, a aplicação da maior goleada da Copa, os 6 a 0 na Sérvia-Montenegro. Na última partida, jogando com vários reservas, não passou de um discreto empate sem gols com a Holanda, igualmente desfalcada, num jogo bastante parelho. O adversário dos argentinos, o México, que chegou à Alemanha todo prosa (foi até cabeça de chave) e chegou a ser apontado por muitos como a possível grande surpresa da Copa, decepcionou. Classificou-se na “bacia das almas”, após perder o seu matador Borgheti logo na estréia. “Los hermanos” são, sem dúvida, os favoritos. Mas não podem bobear. Qualquer vacilo e...

INGLESES ENCARAM MOLEZA, PORTUGUESES NÃO

É inegável que o futebol equatoriano está em franca evolução. Em sua segunda Copa do Mundo, a seleção do Equador já consegue passar de fase, o que não é pouca coisa. Mas não creio que possa superar a Inglaterra, neste domingo. Não que os ingleses estejam jogando barbaridades, longe disso. Nessas horas, porém, a tradição, a experiência e a camisa têm um peso muito grande. Claro, futebol são onze contra onze e se decide no campo. Mas não consigo vislumbrar, por mais boa vontade que tenha, os equatorianos nas quartas-de-final. Já Portugal, de Luiz Felipe Scolari, encara uma imensa pedreira. A Holanda atual pode não ser nem sombra da decantada “laranja mecânica” de 1974, que encantou e surpreendeu o mundo (e não é mesmo), mas é uma seleção certinha. E tem um jogador acima da média, que desequilibra: Roben. Os portugueses, contudo, também contam com seu fator de desequilíbrio, mas no banco de reservas: Felipão. Considerando todos esses fatores, ainda assim atribuo um discreto favoritismo aos holandeses. Mas não ficarei nada surpreso se for Portugal que passar para as quartas-de-final.

RESPINGOS...

· Que lambança a do árbitro inglês que apitou o jogo entre a Austrália e a Croácia! Entre outras coisas, o homem do apito deu três cartões amarelos a um mesmo jogador croata, antes de lhe aplicar o vermelho. Quem disse que esse cara tem competência para apitar na Copa?!
· Notei que os árbitros sul-americanos, todos os que apitaram jogos de seleções da África, foram extremamente rigorosos com os jogadores africanos na aplicação de cartões amarelos e vermelhos. Todavia, não usaram do mesmo rigor com atletas faltosos europeus. Por que? Seria mera coincidência? Talvez!
· O zagueiro italiano De Rossi foi punido pela Fifa com suspensão de quatro jogos pela cotovelada intencional e maldosa que aplicou no norte-americano McBride. E foi pouco!
· Aliás, esta vem sendo uma das Copas do Mundo menos violentas das 15 que tive a oportunidade de assistir. Claro que toda regra tem exceção. De Rossi, sem dúvida, é uma delas.
· A Ponte Preta dispensou mais dois jogadores, que tiveram rendimento muito ruim nas dez primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro. São eles o volante Da Silva e o lateral Paulo Rodrigues.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


Existe alguma forma do indivíduo moldar sua personalidade ou esta é produto da educação e do meio em que ele vive e, portanto, mera fatalidade? As opiniões a respeito divergem. Muitos educadores entendem que a moldagem é possível e a vontade tem um papel determinante nessa tarefa. Outros, por sua vez, acham que não. O pensador Balmes chegou a apresentar uma fórmula para essa construção de uma identidade positiva: "A verdadeira personalidade deve ter cabeça de gelo, coração de fogo e braços de ferro". Ou seja, frieza ao raciocinar, paixão ao sentir e energia ao agir.

Primitivismo artístico


Pedro J. Bondaczuk



A arte dita moderna (erudita ou popular) deriva, pelo menos em sua temática --- nestes tempos de violência e solidão --- para o lado mais primitivo, mais básico, mais essencial do homem: seus instintos. Basta ler um romance ou conto, assistir a uma peça de teatro ou filme, ver uma novela pela televisão, analisar a letra de alguma canção (não importa o gênero) ou os versos dos nossos melhores poetas para constatar isso.

Um assunto predomina e se destaca: sexo. Acompanhado ou não de amor (hoje em dia poucas vezes na companhia deste), está sempre presente. Parece que se tornou obsessão do artista contemporâneo. É como se tivesse tantas nuances quanto estes procuram dar a entender que tem. Mas na verdade não tem. Trata-se de um ato básico, instintivo, banal, comum, o mais "democrático" que possa existir, porquanto não requer qualquer conhecimento especial.

Todos os animais, dos mais evoluídos aos de menor complexidade biológica (insetos, amebas, bactérias) praticam-no com sucesso. Caso contrário, não teríamos tantas espécies sobre a Terra. A vida estaria em extinção. O ato em si, portanto, nada tem de original, de inusitado, de artístico. O que o acompanha (ou o precede ou o sucede) sim.

Mas não é este o aspecto que tem sido levado em conta. Não é o relacionamento macho-fêmea, homem-mulher, que costuma ser enfocado, com a nobreza que o deveria caracterizar. O foco está voltado, exclusivamente, para a cópula, para ato mecânico e, convenhamos, anti-estético.

O que levaria tanta gente talentosa a abrir mão desse talento para se apegar ao banal, ao comum, ao corriqueiro, ao instintivo? É um mistério! No caso do medíocre, ainda se explica. Mas no das pessoas criativas, constitui um desperdício. Quanto à linguagem, à forma de expressão, à simbologia empregada em uma obra de arte, são o que menos importa. Tudo isso depende, como ressaltou Mário de Andrade, da técnica. E supõe-se que quem se aventure por esse mundo complexo, mas maravilhoso, das artes tenha o domínio suficiente dela. É o tema que conta. É ele que se constitui na "alma" de uma obra. E claro, a maneira com que é abordado é fundamental. Ou seja, aquilo que chamam de "estilo" do artista.

Mário de Andrade, no ensaio intitulado "O artista moderno", publicado no livro "A escrava que não é Isaura", afirma: "Ainda não vi sublinhado com bastante descaramento e sinceridade esse caráter primitivista da nossa época artística. Somos na realidade uns primitivos. E como todos os primitivos, realistas e estilizadores". E não somente pela obsessão em torno do sexo.

Queremos reproduzir a vida como ela é, quando na verdade as outras pessoas estão esperando de nós, artistas (e nós, dos outros produtores de artes), reproduções da vida como "deveria ser". Estamos atolados até o pescoço na realidade. Vivemo-la a cada instante, do nascimento à morte. Na maioria das vezes, não é o que queríamos ver. Quase sempre tentamos fugir dela ou atenuá-la. Não é o que procuramos em uma obra de arte. Pelo menos não é o que eu procuro. Até porque ninguém reproduz a realidade como ela de fato é, com todas as suas nuances.

Heiner Müller, dramaturgo alemão, expressa o choque que a overdose de realismo produz nas pessoas sensíveis. Escreve: "Meus pensamentos são chagas em meu cérebro. O meu cérebro é uma cicatriz. Eu quero ser uma máquina. Braços para agarrar, pernas para andar, ou seja: nenhuma dor, nenhum pensamento".

Por que conduzir o leitor (ou ouvinte, ou espectador, etc. conforme o caso) a um mundo de horror, cinzento e perverso, povoado por crápulas, prostitutas e homicidas? Por que não o levar aos pés da beleza, mesmo que esta seja somente de fantasia, de faz-de-conta?

Mário de Andrade prossegue: "A realização sincera da matéria afetiva e do subconsciente é nosso realismo. Pela imaginação deformadora e sintética somos estilizadores. O problema é juntar num todo equilibrado essas tendências contraditórias. Contradigo-me. Erro. Firo-me. Tombo. Morrerei? É coisa que não me preocupa nem perturba. Em todos os períodos construtivos é assim". A arte não tem --- ou pelo menos não deve e nem pode ter --- um único caminho. O artista não pode se prender a regras ou modismos. Muito menos a tabus. Não se deve "engessar" a criatividade. Esta exige liberdade, como condição básica, para se realizar. Tem que ser solta, ágil, serena e leve como uma pluma.

Thursday, June 22, 2006

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk



VENCEU, CONVENCEU E DEU SHOW

Hoje sim o torcedor viu aquela Seleção Brasileira que queria ver desde o início da Copa do Mundo. A equipe jogou com garra, com pegada, mas também com leveza, com velocidade e com arte. Não somente venceu, como também convenceu e, de quebra, deu espetáculo. “Também, contra um adversário tão fraco!”, dirão, certamente, os malas que fazem questão de torcer contra seu próprio país (para aparecer, claro!). Gozado, quando a Argentina fez 6 a 0 na fraquíssima Sérvia-Montenegro, que deixou a competição sem somar um único pontinho, ninguém questionou a fragilidade da equipe européia. Cantaram loas ao futebol argentino, como se fosse o suprassumo da competência e da criatividade. A seleção japonesa, embora ingênua e sem tradição em copas do mundo, é muito melhor do que a atual da Sérvia, que não mostrou absolutamente nada e sequer justificou sua presença na Alemanha. “Então você acha que o Brasil será campeão?!”, voltará, certamente, à carga o tal do mala. Não acho e nem deixo de achar. A copa não é um campeonato de pontos corridos, em que todos os participantes jogam contra todos. Um tropeço, a partir das oitavas-de-final, numa tarde ruim, pode significar o fim de um sonho. O que importa é que o Brasil subiu o terceiro dos sete degraus que conduzem ao hexa. É um passo por vez.

NÓ NA CABEÇA DE PARREIRA

Dos sete teóricos reservas que Carlos Alberto Parreira utilizou no jogo de hoje, em Dortmund, contra o Japão (os cinco que começaram a partida e os dois que entraram no Segundo Tempo), pelo menos quatro tiveram uma atuação soberba e têm condições de permanecer na equipe (e dois deles, inclusive, fizeram gols). São eles: Gilberto Silva, Gilberto, Juninho Pernambucano e Robinho. Os outros três, Cicinho, Ricardinho e Rogério Ceni não comprometeram, embora o ala do Real Madrid tenha falhado no gol japonês. Certamente o treinador, a esta altura, deve estar pensando o que fazer na próxima terça-feira, quando a Seleção Brasileira encara Gana, com a obrigação de vencer. Pelo menos dois dos que entraram, Robinho e Juninho Pernambucano, já deveriam ser titulares desde a estréia. Atravessam fase muito melhor do que os que vinham jogando, notadamente Adriano. Afinal, seleção é momento. Deveria jogar, sempre, quem estivesse melhor. De qualquer forma, o Brasil mostrou, em especial para os basbaques que babam diante da equipe Argentina, que tem muito mais banco do que “los hermanos”.

SÉRVIA DESEQUILIBRA A COMPARAÇÃO

Não houvesse a Sérvia-Montenegro no caminho dos argentinos e, numa comparação para aferir a eficiência de Brasil e Argentina, a balança, certamente, pesaria para o nosso lado. O ataque de “los hermanos”, por exemplo, marcou oito gols (seis somente nos sérvios), enquanto o brasileiro fez sete. Ambas as defesas sofreram um. “É, mas o grupo da Argentina foi mais forte”, dirá o eterno mala, que só vê defeitos em nossa equipe e virtudes nas outras seleções. Azar dela! Aliás, o único adversário um pouquinho melhor, no caso a Holanda, deu um calorão nos argentinos. Ademais, se nosso grupo fosse mais forte, certamente a programação da nossa seleção para a Copa teria sido diferente. Ela entraria tinindo na competição, mas correria o risco de “virar o fio” na fase do mata-mata. Quem aspira a ser campeão precisa contar, também, com boa dose de sorte. E só não superamos, em muito, o número de gols marcados pelos “los hermanos”, porque o goleiro japonês, Kawaguchi, fez defesas impossíveis hoje. E digo mais, se bobear, a Argentina não passa pelo México, que certamente deve estar mordido por não ter feito, na fase de classificação, a campanha que o seu torcedor esperava.

JUSTIÇA COM O MATADOR

O que parcela expressiva da imprensa nacional vinha fazendo com Ronaldo, o Fenômeno, era uma baita sacanagem. Determinados “iluminados”, que me recuso a citar nominalmente, para não dar cartaz a medíocres, se esqueceram de tudo o que o jogador já fez pela Seleção Brasileira e chegaram a ridicularizar o nosso matador. Como ocorreu em outras oportunidades, porém, mais uma vez o centro-avante deu a volta por cima e, com os dois gols que fez hoje (um deles de cabeça, que nunca foi a sua especialidade), se tornou, ao lado do alemão Gerd Müller, o maior artilheiro da história em copas do mundo, à frente, até mesmo, de Pelé. Não precisa, pois, fazer mais nada. Só com esse feito, já mais do que justificou presença na Seleção Brasileira. E não ficarei nada surpreso se ainda se transformar no goleador deste mundial. Além dos dois gols, o Fenômeno se movimentou bastante em campo, apesar de sua visível dificuldade de locomoção, e fez uma tabela com o Ronaldinho Gaúcho que foi de cinema. Desde os tempos de Pelé e Coutinho que eu não via uma jogada tão bonita assim. Foi um pecado não ter resultado em gol!

JUSTIÇA COM ROGÉRIO CENI

O goleiro do São Paulo, Rogério Ceni, é um dos jogadores mais vitoriosos do futebol brasileiro (quiçá mundial). Pelo seu clube, conquistou tudo o que era possível e imaginável. Faltava-lhe, porém, uma façanha: jogar pelo menos uma partida de Copa do Mundo. Em 2002, esteve no mundial da Ásia, mas não teve a chance de entrar nem uns minutinhos no lugar de Marcos. Hoje, Carlos Alberto Parreira deu-lhe esta oportunidade. E Rogério Ceni pôde, assim, completar seu brilhantíssimo currículo. E olhem que nem mencionei uma característica dele que o torna um goleiro diferenciado entre todos os demais do mundo. Além de evitar gols adversários, ele os faz para o time em que joga. E não são poucos! Pelo contrário! Não sou sampaulino e todos sabem o amor que tenho pela Ponte Preta. Isto não me impede, porém, de ser fã de Rogério Ceni, um exemplo de atleta, dentro e fora de campo. Por isso, gostei da atitude de Parreira ao lhe dar esta chance, embora já no final do jogo.

CRÍTICOS NÃO VÊEM DIREITO OS JOGOS

Por fim, quero destacar as atuações de Ronaldinho Gaúcho nos três jogos da fase de classificação. Tenho ouvido e lido, a todo o momento e por toda parte, que o melhor jogador do mundo está devendo futebol nesta Copa do Mundo. Mas como! Essa turma toda ficou louca! Sei lá, acho que esse pessoal anda fazendo outras coisas que não sejam assistir aos jogos do Brasil. Dos sete gols já feitos pela Seleção Brasileira, pelo menos quatro saíram dos pés de Ronaldinho Gaúcho. É pouco?! Isso sem falar nas jogadas que criou e que seus companheiros desperdiçaram, ou por nervosismo ou por egoísmo. Se isso não é jogar bem, não entendo mais nada. Ah, já sei, essa turma quer ver malabarismos! Ora, que vá a um circo que verá piruetas e habilidades em profusão. Repito o que afirmei acima: a tabela que os dois Ronaldos fizeram, hoje, contra o Japão, com técnica, graça e leveza, foi uma das coisas mais bonitas que já vi nos 58 anos em que acompanho futebol. E olhem que peguei o auge de Pelé e de Garrincha, o que a maioria desses críticos malas não viram sequer em filme.

RESPINGOS...

· Não nego que Gana, que venceu os Estados Unidos hoje, por 2 a 1, e será a próxima adversária do Brasil, é uma boa seleção. Mas daí a temê-la acho um tremendo exagero.
· A Itália não deu a mínima chance para o azar e liquidou, logo de cara, a República Checa, com um merecido e convincente 2 a 0. E escapou de ter que enfrentar o Brasil logo de cara.
· Amanhã, será definido o Grupo H. A Espanha, certamente, vai dar um passeio na Arábia Saudita e se tornar a quarta seleção a alcançar performance de 100% na fase de classificação. As outras três são: Brasil, Alemanha e Portugal. A segunda classificada deve ser a Ucrânia, já refeita da sapatada que levou dos espanhóis na estréia.
· No Grupo G, a França garante, amanhã, sua classificação, frente à inocente seleção do Togo. A outra vaga, salvo surpresa, ficará, mesmo, com a Suíça.
· A Ponte Preta dispensou o atacante Adauto. A rigor, o jogador não disse a que veio ao Moisés Lucarelli. Só jogou alguma coisa contra o rebaixado Mogi Mirim, ainda no Campeonato Paulista. Depois...sumiu!

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


Haveria como determinar tipos de personalidade, como o ideal e o pernicioso? Temos, por exemplo, a questão da genialidade, que nunca foi bem entendida. O gênio, em geral, é incompreendido pelos seus contemporâneos. Alguns chegam a ser confundidos com loucos, posto que os comportamentos se assemelham na medida em que ambos diferem daquele convencionado como sendo o normal. Sua marca fica impressa na obra que deixa, que resiste à efemeridade e se perpetua na maioria das vezes muitos anos após a sua morte. Caso típico é o do pintor holandês Vincent Van Gogh. O gênio está muito à frente do seu tempo, daí ser incompreendido pelos seus contemporâneos.

Revolução brasileira


O Brasil, a despeito da crise que assola o País há um tempo razoável, passa por um período de profundas transformações, que costumam ser lentas e em geral traumáticas. É bem possível que esteja em andamento por aqui (sem que nos apercebamos disso, por sermos os personagens centrais do processo) uma “revolução” no sentido mais amplo do termo. Essa expressão, aliás, nem sempre é entendida em seu verdadeiro significado. De tanto ser impropriamente utilizado, tornou-se uma espécie de “golpe de Estado”, de violenta alteração da ordem institucional vigente.
Até o século XVII, a palavra expressava apenas “o movimento circular de corpos celestes em suas órbitas”. Era um termo restrito só ao campo da astronomia. “Revolução” passou a indicar uma mudança súbita na direção das coisas em movimento” há menos de cem anos. Daniel J. Boorstin tem um lúcido ensaio a esse propósito, no qual alerta os pseudomovimentos revolucionários, que costumam enganar facilmente os imediatistas, que não têm uma visão ampla, histórica dos acontecimentos.
Ressalta que a distinção muitas vezes não é identificada pelos agentes da mudança, mas reconhecida apenas uma, duas ou mais gerações à frente. Há, no meio da imensidão de notícias geradas nesta época de comunicação total, instantes decisivos e muitos apenas equívocos. O que é tido por “revolucionário”, hoje, no futuro talvez sequer mereça registro por parte dos historiadores. Ou, quando muito, obtenha apenas ligeira menção, de passagem, e nada mais.
A distinção das grandes vertentes mudancistas, em geral, atinge as massas apenas na fase final do processo. Boorstin ressalta: “Os momentos decisivos autênticos que chamamos revoluções têm raízes de séculos. A Revolução Americana de 1789 emergiu da migração de pessoas, de alterações na vida econômica e da mudança do raciocínio a respeito do homem e da sociedade”. Não é o que vem ocorrendo no Brasil contemporâneo?
Poucas vezes (ou talvez até mesmo nenhuma) o brasileiro se mostrou mais crítico a respeito do seu País como agora. O cidadão é bombardeado diariamente por uma infinidade de denúncias dando conta de mazelas políticas, econômicas, sociais e em praticamente todos os campos da atividade humana. Fica a impressão, aos mais desavisados, de que somos o povo mais aético, impatriota e incompetente do Planeta. Convenhamos, isso está longe, muito distante da verdade.
Os atos de corrupção, as omissões e as arbitrariedades denunciados hoje sequer são comportamentos distorcidos novos. Basta que se leia editoriais e artigos de jornais de 30 ou 40 anos atrás para constatar que já naquele tempo tudo isso ocorria, com maior ou menor gravidade e freqüência, com outros personagens que não os atuais. Ocorre que agora o brasileiro está mais informado, graças aos recursos da mídia eletrônica, e, por isso, mais consciente e politizado.
Boorstin, no seu mencionado ensaio, ressalta que os momentos decisivos em geral são ocultos, não-identificados como tal, “se alastrando quietamente para a História através de escritos herméticos endereçados a especialistas, e só muito lentamente chegando ao público”. Intuímos que uma “revolução” autêntica está em andamento no País, fazendo muitas vitimas (as 32 milhões de pessoas abaixo da linha da miséria em todo o Brasil), gerando as naturais tensões que caracterizam tais dramáticos processos, mas que, se formos competentes, determinados e sobretudo ativos, vai transformar esta sociedade para melhor, embora não seja possível prever em quanto tempo.


(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 111 e 113, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).

Wednesday, June 21, 2006

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk



FUTEBOL PRAGMÁTICO E DE RESULTADO

A seleção portuguesa tem a cara do seu treinador, Luiz Felipe Scolari. Não é brilhante, não joga um futebol vistoso, não é apontada por ninguém como favorita para chegar às finais e sequer foi escolhida como cabeça de chave na Copa do Mundo. Mas, até aqui, cumpriu com eficiência o seu papel. Ao lado da Alemanha, teve 100% de aproveitamento, somando os nove pontos possíveis. Nas oitavas-de-final, a Holanda, sem dúvida, goza de favoritismo. Isto não quer dizer que já ganhou e que Portugal vai embora para casa já neste final de semana. Felipão sabe o que faz e, mesmo se perder, certamente venderá muito caro a derrota. Hoje, diante do México, Portugal fez apenas o suficiente para vencer, mas com méritos, por 2 a 1, poupando alguns dos titulares. Já Angola, que chegou desacreditada à Alemanha, por ser estreante em copas, se despediu com dignidade da competição. Perdeu apenas uma partida, justamente a da estréia, para a seleção portuguesa por apenas 1 a 0. Mas arrancou dois empates: contra o México e hoje, contra o Irã (1 a 1). Os mexicanos, sim, decepcionaram. Esperava-se muito mais de uma seleção que chegou a ser apontada como uma das favoritas para chegar às finais e foi cabeça de chave. Se, contra a Argentina, jogar apenas o que jogou hoje, será, fatalmente, humilhada.

UM ZERO A ZERO ENGANADOR

Em geral, as partidas que terminam empatadas em 0 a 0 costumam ser sonolentas, chatas e sem graça. Não foi, porém, o que aconteceu no jogo de hoje entre a Argentina e a Holanda, o primeiro grande clássico desta Copa do Mundo. As duas equipes, cada qual com seu respectivo estilo, mereceram fazer pelo menos um golzinho. Este não saiu apenas por mera questão de circunstância. Chances, e muito boas, foram criadas por ambas as seleções. A Argentina mostrou um futebol mais técnico, mais vistoso, mais plástico e bonito de se ver, embora também tenha mostrado pegada. O que chamou em especial a atenção foi a sua velocidade, com muita movimentação de toda a equipe. Os méritos da Holanda, por seu turno, foram a ferrenha e implacável marcação da sua boa defesa e o acerto nos passes. Faltou-lhe, é verdade, agressividade no ataque, o que, provavelmente, aconteceu por causa da ausência do seu principal astro, Robben. Se jogar a metade do que jogou hoje, a Argentina passa, fácil, por cima do México.

SÉRVIA SÓ DEU VEXAME

De todas as 32 seleções presentes na Copa do Mundo, a grande decepção foi a da Sérvia-Montenegro, o que reflete a decadência da herdeira do grande futebol iugoslavo (o próprio país está decadente). Não somou nenhum ponto, marcou dois gols, tomou dez e volta mais cedo para casa, sem dizer a que veio. Depois do vexame do jogo anterior, quando levou uma inesquecível sova, de 6 a 0, da Argentina, hoje deu outra mancada. Ganhando por 2 a 0 da excelente equipe da Costa do Marfim, não teve forças, interesse e competência para segurar o resultado. Permitiu a virada dos marfinenses, com seu zagueiro cometendo dois pênaltis claros, absurdos, desnecessários e infantis. A seleção africana, por seu turno, fez uma estréia razoável em copas do mundo. Só não foi mais longe porque teve a infelicidade de cair num grupo que tinha Holanda e Argentina, o que foi uma pena. Pagou pelo noviciado. Mas mostrou que o futebol da África continua em evolução e que, não vai tardar muito, fatalmente terá um campeão do mundo. É mera questão de tempo.

DECISÃO DO VERDADEIRO “GRUPO DA MORTE”

Será amanhã a decisão do verdadeiro “Grupo da Morte”, o D, de onde vai sair o próximo adversário da Seleção Brasileira nas oitavas-de-final. Matematicamente, as quatro seleções têm chance, embora, teoricamente, as possibilidades maiores sejam as de Gana e da República Checa. Mas não ficarei nada surpreso se os dois classificados forem a Itália e os Estados Unidos. Italianos e checos terão um duelo de vida ou morte, em que qualquer erro pode ser fatal. Promete ser um jogo brigado, amarrado, viril, violento até, dificílimo de ser arbitrado. A despeito da enorme garra que os norte-americanos mostraram diante da Azurra, acredito que a técnica de Gana deverá prevalecer. Bem que a África merece que pelo menos um dos seus cinco representantes passe para as oitavas-de-final. A rigor, não se pode dizer que qualquer das seleções africanas (inclusive Togo) tenha decepcionado. Doravante, é mister que se fique de olho nesse futebol emergente, com vistas à Copa de 2010, que será disputada nesse continente, mais especificamente na África do Sul.

REDENÇÃO OU MAIS SOFRIMENTO?

Estivesse a Seleção Brasileira bem condicionada, com seus principais jogadores (como os dois Ronaldos e Adriano) na melhor forma física e técnica, e o jogo de amanhã, diante do Japão, não seria mais do que um treino de luxo para as oitavas-de-final. Como ficou devendo, e muito, nos jogos anteriores, diante da Croácia e da Austrália, essa partida será a das expectativas. Pode dissipar o pessimismo que já começa a tomar conta de boa parte dos brasileiros, caso os comandados de Carlos Alberto Parreira tenham uma atuação convincente, ou se constituir em mais sofrimentos para a torcida, frente a um adversário que tem se mostrado fatalista para o Brasil. Os japoneses já nos derrotaram em uma olimpíada e nos deram um calorão tremendo no ano passado, na Copa das Confederações, quando os eliminamos graças a um providencial erro de arbitragem. Em condições normais, o Japão não daria para o páreo. Atualmente... No outro jogo do grupo, minha expectativa é que a Austrália derrote a Croácia e passe para a próxima fase. Mostrou mais disposição e motivação do que os croatas, embora tecnicamente seja inferior à seleção européia.

DISTANTES DA ARTILHARIA

A menos que o ataque brasileiro desencante, já a partir de amanhã, e tenha atuações arrasadoras nos próximos jogos, dificilmente o Brasil conseguirá fazer o artilheiro desta Copa do Mundo. Nossa Seleção fez, até aqui, míseros três gols e com três jogadores diferentes: Kaká, Adriano e Fred. Enquanto isso, o alemão Klose já disparou na dianteira, fazendo quatro, seguido bem de perto pelo espanhol Fernando Torres, com três. É certo que as respectivas seleções dos dois goleadores do Mundial enfrentaram, até aqui, defesas medíocres, fáceis de serem vazadas. Já Ronaldo, o Fenômeno, a apenas três gols de se tornar o maior artilheiro de todas as copas, dificilmente conseguirá essa façanha. Está fora de forma, desmotivado e sobretudo agastado pelas críticas (algumas maldosas e descabidas) de que tem sido alvo há já um bom tempo. Adriano, outra aposta brasileira para disputar a artilharia, igualmente atravessa uma fase nada produtiva, desde a metade do Campeonato Italiano. Restaria Ronaldinho Gaúcho, que não é de marcar muitos gols. Vai daí...

RESPINGOS...

· Carlos Alberto Parreira resolveu fazer charminho e deixou para revelar a escalação da Seleção Brasileira somente amanhã, nos vestiários, momentos antes do jogo contra o Japão. Claro que é uma grande bobagem!
· O Corinthians está bobeando e pode perder o bom centro-avante Nilmar. A MSI havia anunciado o acerto com os franceses para ficar com o jogador. Só que, na verdade, ainda não acertou coisíssima alguma.
· O Guarani dispensou 13 jogadores do seu plantel e promete dispensar mais seis. Entre os mais conhecidos, deixaram o Brinco de Ouro o zagueiro Sandro, o lateral Nelsinho, o meio-campista Edmilson Jr (que voltou para o Santos) e o centro-avante Fábio Reis (devolvido ao São Caetano).
· A Ponte Preta também anunciou três dispensas. Alan, Leandro e Caio receberam o clássico bilhete azul.
· Por falar na Macaca, a torcida espera, com grande expectativa, a chegada de um zagueiro experiente, para ser o novo xerifão da defesa, em substituição a Rafael Santos, que será negociado com um time do exterior. Tudo indica que a missão vai recair nos ombros de César, aliás revelação da própria Ponte Preta, que joga, atualmente, no Tenerife da Espanha.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


Nunca a instituição da família esteve mais ameaçada do que agora. As pessoas perderam o senso de perspectiva. Valorizam o banal, o físico, o transitório, a satisfação dos sentidos em detrimento do importante, da razão, do permanente, da evolução espiritual. Daí serem tão infelizes, tão solitárias, tão carentes, tão violentas, tão perdidas e tão sem referencial de vida. Os objetivos que colocam à sua frente são vazios e imediatistas. Consistem, em geral, no acúmulo de bens (na verdade bugigangas descartáveis), na busca pelo poder (que nada pode, pois não livra ninguém da morte e, pelo contrário, a apressa) e na satisfação dos instintos, que após saciados deixam como subprodutos o vazio e a depressão. Daí a necessidade de valorização dos que têm caráter. E, principalmente, da imitação desses preciosos referenciais.

Ação meteorológica


Pedro J. Bondaczuk



A chuva e o frio acentuam a melancolia nas pessoas e ressaltam a solidão dos solitários, a angústia dos depressivos e a carência afetiva dos despojados de afeto. Aliás, o homem é um ser "meteorológico". O clima influi decisivamente em suas emoções e, por conseqüência, na sua forma de reagir aos estímulos externos. O calor, por exemplo, acentua a violência. Tanto que as estatísticas demonstram que a criminalidade aumenta muito no verão. Já no inverno, o que cresce é o número de suicídios. Em ambos os casos, é a vida que acaba por ser agredida. E no entanto ela é tão preciosa e bela!

Essa influência climática para um artista, seja de que arte for, contudo, costuma ser benéfica. Engendra obras que se tornam imortais. Há pinturas notáveis, de grandes mestres, mostrando a fúria das tempestades, ou campos nevados, ou, como Paul Gauguin, a luminosidade dos mares do Sul nas ilhas do Taiti que brotaram de seu pincel encantado.

No meu caso, funciono geralmente melhor na época do calor, quando fico descontraído e sem inibição. Daí expor-me com mais facilidade, sem muito receio ou escrúpulos, nessa ocasião. Conforme ressaltei recentemente em uma crônica, o verdadeiro escritor é aquele que se expõe por completo. Mas o faz com sinceridade e clareza. Com amor pelo próximo e grandeza.

Em termos de texto, é possível elaborar até mesmo uma alentada antologia, com trabalhos muito bons, tendo o clima por tema. Uma não, várias. Toda uma coleção, envolvendo escritores de todo o mundo. Isto se torna mais fácil ainda na poesia, onde a influência climática se faz sentir com maior intensidade, já que o gênero é quase todo ele sentimento, emoção, paixão.

Há alguns exemplos nesse sentido. Como estes versos de Cecília Meirelles: "E eis a névoa que chega, envolve as ruas,/ move a ilusão e figuras./A névoa que se adensa e vai formando/nublados reinos de saudade e prantos". Lindo poema, não é verdade? Como ele, há inúmeros, de poetas nacionais e estrangeiros.

Citaria, entre tantos que li e anotei, este outro, da mesma escritora, uma das minhas prediletas: "No meio do mundo faz frio/faz frio no meio do mundo/muito frio.//Mandei armar o meu navio/volveremos ao mar profundo/meu navio.//No meio das águas faz frio./Faz frio no meio das águas/muito frio". São versos melancólicos, envolventes, de intenso conteúdo emocional. São daqueles que nos dão inveja e dos quais gostaríamos de ser os autores.

Para não me ater apenas aos poetas brasileiros, poderia mencionar um poema que já transcrevi em outra crônica, de Fernando Gregh, com precisa e preciosa tradução de Guilherme de Almeida, intitulado "Chove": "Chove./A vidraça chora.//O vento põe no parque um soluço de outono./Range uma porta e bate, e parece que implora/numa voz de abandono./Chove.// Dir-se-ia que milhões de alfinetes acertam/nos vidros frios e se espetam.//Chove./A vidraça chora.//O sol esconde a última nesga azul, que existe,/sob um manto cinzento e móvel./Chove./A vida é triste.//---Que importa!/Ulule o vento, bata a porta/e tombe a chuva!/Que importa!//Tenho nos olhos um clarão que nada turva,/tenho na vida um céu azul e imóvel; tenho na alma um jardim ondulante de palmas/balançando em pleno anil por brisas calmas:/eu penso nela!//Chove...//--- A vida é bela!".

E é mesmo. E torna-se melhor diante da existência desses seres mágicos, que criam estrelas brilhantes mesmo tendo a lama dos pântanos por matéria-prima. De todas as atividades exercidas pelo homem, só a arte é nobre. Sua utilidade não é material. Sua finalidade é o enriquecimento do espírito humano. É um banquete delicioso de beleza, para saciar a fome estética das pessoas inteligentes e de bom gosto. Um povo é tanto mais civilizado quanto mais artistas tiver.

Enquanto o indivíduo comum faz da exasperação causada por uma onda de forte calor pretexto para agredir os semelhantes, o poeta elabora um poema. "Estou sozinho no quarto./ Estou sozinho na América...", desabafa Carlos Drummond de Andrade, em obra escrita em uma noite muito quente do Rio de Janeiro. Enquanto uma pessoa que não possua qualquer dote artístico pensa em se matar, com a exacerbação da carência afetiva que sofre num garoento e frio dia de inverno, um Fernando Gregh tece louvores às delícias do amor e conclui que a vida é bela. E é mesmo! Basta que tenhamos os olhos sempre abertos para apreciar o muito de bom que ocorre ao nosso redor.

Tuesday, June 20, 2006

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk



DEFINIÇÕES CONFIRMAM PROGNÓSTICOS

Hoje foram decididos os grupos A e B, na fase de classificação da Copa do Mundo e não houve nenhuma surpresa. Classificaram-se, e nas posições previstas por todo mundo antes do início da competição, os favoritos, que haviam sido apontados quase que por unanimidade. Que a Alemanha passaria por essa fase com 100% de aproveitamento não seria surpresa nem para o mais leigo dos leigos em futebol. E não deu outra. No seu grupo, o segundo melhorzinho, mas não muito, era o Equador. E foi a seleção que ficou, de fato, com a segunda vaga. Os equatorianos mostraram, hoje, diante da dona da casa, que apesar de terem evoluído, não passam ainda de meros coadjuvantes, sem maiores aspirações em termos mundiais. Perderam por 3 a 0 para a Alemanha e devem se dar por satisfeitos, porquanto o placar poderia ser mais elástico ainda e poderiam sair de campo absolutamente humilhados. Polônia e Costa Rica fizeram o “clássico da ruindade” e os poloneses se despediram, pelo menos, com uma (única e discreta) vitória por 2 a 1.

MESMO FUTEBOL DE SEMPRE

O futebol inglês continua o mesmo de sempre: baseado em chuveirinhos, força física, trancos e chutes de fora da área. Apesar da crítica especializada (nem tanto) tentar encher sua bola, não vi nada de especial nessa seleção, nos três jogos que disputou, no grupo B, com adversários fraquíssimos, que foram para a Copa do Mundo apenas para fazer figuração. Os ingleses venceram o Paraguai (em decadência) graças a um gol contra do zagueiro Gamarra, no comecinho do jogo. Fizeram 2 a 0 em Trinidad e Tobago, com quem estavam empatando até quase 40 minutos do segundo tempo, num sufoco tremendo. E quando pegaram uma seleção só um pouquinho mais organizada, mas limitadíssima, como é a Suécia, empataram, na bacia das almas, por 2 a 2, e conseguiram escapar, mas por muito pouco, de um confronto com a Alemanha nas oitavas-de-final. Muito sabichão, que anda falando cobras e lagartos da Seleção Brasileira, não atentou para o fato de que, exceção da Argentina, ninguém jogou absolutamente nada nesta fase de classificação. No outro jogo do grupo, o Paraguai despediu-se pelo menos com dignidade, ao derrotar Trinidad e Tobago por 2 a 0. Só faltava não ganhar essa!

CABEÇA-DE-BAGRE FAZ HISTÓRIA

Coube a um cabeça-de-bagre sueco, que nem titular da sua seleção era no início da competição, fazer história, hoje, no jogo entre Suécia e Inglaterra. Não que o gol feito por Albach mudasse a classificação do grupo. Não mudou! E sua equipe, a contragosto, terá que enfrentar a indigesta Alemanha, nas oitavas-de-final, com tudo para voltar para casa mais cedo. Ainda assim, Albach fez história. E sabem por que? Foi dele o gol de número 2.000, entre os marcados em todos os mundiais, desde o de 1930, disputado no Uruguai. Coisas do futebol! Sem querer desmerecer o avante sueco, essa marca histórica mereceria ter ficado nas mãos de um Saviola, de um Ronaldinho Gaúcho, de um Roben ou de um Shevchenko. Todavia, enquanto existir Copa do Mundo, os historiadores e os amantes de estatísticas e de curiosidades vão sempre se lembrar deste tremendo cabeça-de-bagre que, com o tempo, é capaz, até, de virar lenda.

“LOS HERMANOS” COM OS PÉS NAS COSTAS

O chamado “Grupo da Morte”, o C, acabou se revelando o mais óbvio de todos desta Copa do Mundo. Fico admirado como a imprensa especializada chegou a pôr em dúvida que Argentina e Holanda iriam se classificar, e com tremenda facilidade! Por isso, não me assusto quando eles fazem previsões sombrias para a Seleção Brasileira. Não sabem coisíssima alguma! É como o Felipão disse, num desabafo, após a vitória de Portugal sobre Angola por um magro 1 a 0, sobre os cronistas esportivos: “É capaz deles nem saberem que a bola é redonda”. A partida de amanhã, entre Argentina e Holanda, que em outras circunstâncias poderia ser um clássico para matar cardíacos, promete ser um joguinho de compadres, que não vai valer coisa alguma. “Ah, mas vai decidir quem será o primeiro do grupo”, dirá algum chato, buscando dar ao jogo a importância que ele não tem. E daí? Tanto faz a argentinos e holandeses enfrentarem portugueses ou mexicanos, e vice-versa, indiferentemente. Nenhum deles é páreo para os dois selecionados. E a segunda partida então? Vai envolver as desclassificadas Costa do Marfim e Sérvia-Montenegro, para efeito, apenas, de estatística. E pensar que este era o tão apregoado “Grupo da Morte”!

REMOTAS CHANCES DE ANGOLA

No Grupo D, a emoção depende do “se”. Ou seja, “se” Angola derrotar o Irã por 3 a 0 e o México perder para Portugal, os angolanos ficarão com a segunda vaga para as oitavas-de-final. Aposto, e dou lambuja, como isto não vai acontecer. Que a seleção comandada por Luiz Felipe Scolari seja favorita diante dos mexicanos, não tenho dúvidas. O que não creio é que essa inocente e tosca equipe angolana tenha capacidade para tamanha façanha. É certo que o futebol, não raro, apronta enormes surpresas. Mas tudo tem um limite. Principalmente nesta Copa do Mundo, caracterizada pela previsibilidade. México e Portugal, contudo, não serão páreos para a Argentina ou Holanda, seja lá quem vai pegar quem. Já fizeram seus papéis de coadjuvantes na competição e resta-lhes, somente, saírem dela com uma certa dignidade. Será que houve, mesmo, sorteio, para definir os grupos? As coisas ficaram fáceis demais para a Alemanha para terem sido frutos apenas do mero acaso.

CONFIANÇA TOTAL NO BRASIL

Li e ouvi tanta besteira sobre a Seleção Brasileira, nos jornais, revistas, sites da internet e emissoras de rádio e televisão, que fico com raiva de mim mesmo por ter perdido tanto tempo. O tom dos comentários, sem exceção, é de catastrofismo. Já estão dando os pentacampeões como eliminados por antecipação nas oitavas-de-final, como se isso já fossem favas contadas. O pior é que depois que suas previsões não se concretizarem (e não vão), esses babacas não terão humildade para reconhecer que erraram. E todas essas críticas e previsões vêm sendo feitas só porque os comandados de Carlos Alberto Parreira não deram show de bola nos jogos contra a Croácia e Austrália! Aliás, o torcedor brasileiro está pessimamente acostumado. A ele não basta mais que a seleção vença, mas que humilhe, massacre e pisoteie os adversários. Muitas das seleções que entraram “voando” na fase de classificação, vão virar o fio na etapa decisiva e voltar mais cedo para casa. Correndo o risco de cair em ridículo, ouso afirmar que o Brasil chegará às finais da Copa do Mundo. E aí...seja o que Deus quiser.

RESPINGOS...

· Não gostei da indicação do árbitro francês, Eric Poulat, para apitar o jogo do Brasil contra o Japão. Cheguei a vê-lo em alguns jogos do Campeonato Francês e achei-o muito fraco.
· Quatro dos principais times da Itália, Juventus, Milan, Fiorentina e Lazio, estão ameaçados de rebaixamento, acusados de fazerem “marmelada” para beneficiar apostadores na loteria esportiva italiana.
· O Guarani apresentou, hoje, mais três reforços para o Campeonato Brasileiro da Série B. São eles o lateral Parral e o meia Elton, vindos do Paraná Clube e o goleiro Deola, do Palmeiras B.
· Valeu a torcida. Sebastião Lapola foi definido como o novo diretor de futebol da Ponte Preta, na vaga deixada por Marco Antonio Eberlim. Este conhece!
· A Ponte Preta apresentou, hoje, uma jovem promessa vinda do Norte do País. Trata-se do atacante Daniel, do Clube do Remo, que chega ao Majestoso com excelentes referências. Como pontepretano apaixonado que sou, só posso desejar-lhe toda a sorte do mundo!

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


Caráter, em última análise, significa identidade, personalidade, distinção. No sentido que os educadores usam tem o significado de parâmetro de virtude, de modelo, de referencial. A esse propósito, James B. Stenson, professor da Universidade Georgetown, de Washington, observa: "Todos nós reconhecemos uma pessoa de caráter quando a encontramos. É o caráter que nos faz respeitá-la e admirá-la. Ao contrário do que muitos pais imaginam, porém, as virtudes que estruturam o caráter não se desenvolvem na vida dos filhos sem ajuda externa e por si sós. São necessários muitos anos de ensino consciente e de treinamento pratico para construir um caráter". Discordamos do mestre. Não negamos o papel da educação no desenvolvimento desse conjunto de virtudes. O que contestamos é a sua exclusividade no processo formativo. Fosse como Stenson diz, hoje em dia teríamos pouquíssimas pessoas, (quase nenhuma) dotadas de caráter.

De e-mails e de Sêneca


Pedro J. Bondaczuk


O telefone, há já um bom tempo, notadamente o celular, tornou-se instrumento essencial na vida da maioria das pessoas. Para algumas, até, se constitui praticamente na extensão do próprio corpo, tamanha é a sua utilização nas mais diversas circunstâncias e lugares. Sei que se trata de uma afirmação até acaciana, mas, estejam certos, tem lá sua razão de ser nestas descomprometidas considerações. Raros brasileiros não têm um, não importa sua condição econômica ou social.
Entre celulares regulares e irregulares, comprados e surrupiados, habilitados ou meramente clonados, o número desses aparelhinhos deve andar aí pela casa dos cem milhões ou mais. Oficialmente, fala-se numa cifra ligeiramente superior a 82 milhões de unidades. Se bem utilizados, resolvem problemas imensos. Se mal... Recorde-se o que ocorreu ainda recentemente, quando, do interior dos presídios onde cumprem pena, líderes de uma conhecida facção do crime organizado comandaram rebeliões em massa no sistema prisional paulista, além de mortais ataques contra a polícia e o patrimônio público.
Um conhecido meu, vítima de seqüestro, conseguiu se comunicar pelo celular com a PM (os seqüestradores não o revistaram e se deram mal) e foi resgatado ileso. O aparelhinho, nesse caso, provavelmente salvou-lhe a vida. Ou, no mínimo, livrou sua família de ser desfalcada de uma boa importância em dinheiro, a título de pagamento de resgate. São inúmeros os casos de pessoas socorridas com presteza em casos de acidentes ou de males súbitos, com a utilização desse importante meio de comunicação.
Por tudo isso, meus amigos ficam admirados, para não dizer pasmos, quando confesso que não tenho celular. Afinal, trata-se de um equipamento indispensável, hoje em dia, notadamente para jornalistas, cuja atividade requer máxima agilidade de comunicação. Até tive um, do qual me desfiz tão logo descobri que havia sido clonado, após tomar as providências de praxe para me livrar de problemas futuros. Aliás, mesmo o telefone fixo uso apenas em situações especialíssimas, de absoluta emergência. Sequer tenho um instalado na redação em que passo a maior parte dos meus dias (e não raro das minhas noites), onde produzo textos em profusão (cujas solicitações, felizmente, crescem em progressão geométrica). Tenho trauma em relação a esse meio de comunicação.
Explico a razão. Por mais de uma década acumulei, no Correio Popular de Campinas, as funções de editor e de comentarista político. Ao constatar, em fins dos anos 80, a expansão do tráfico de drogas nessa metrópole interiorana e em toda a região, dispus-me a escrever uma série de artigos, na tentativa de chamar a atenção das autoridades para o problema, para que estas cortassem o mal pela raiz. Não cortaram! Lá pelo oitavo ou décimo comentário publicado, porém, passei a receber telefonemas (obviamente anônimos), duros, incisivos e constantes como os ponteiros de um relógio, ameaçando a minha vida caso eu não interrompesse a campanha informal que havia iniciado. Não dei, na ocasião, maior importância às ameaças, que atribuí a meros trotes de desocupados. Provavelmente, não eram.
As advertências subiram de tom. E passei, finalmente, a levá-las a sério quando os telefonemas começaram a ser endereçados ao telefone da minha casa (até hoje não consegui descobrir quem, como e porque passou meu número, que sequer constava da lista telefônica, a estranhos), com o interlocutor mostrando que conhecia todos os movimentos da minha família (mulher, filhos e até cães e gatos) dizendo que eu não estranhasse “se algum deles fosse seqüestrado”. Mesmo assustado (diria, apavorado), mas como bom turrão, não dei o braço a torcer. Publiquei, ainda, mais uns quinze artigos. Felizmente, nada aconteceu. Desde então, porém, peguei trauma incurável de telefones.
Minhas comunicações, tanto as profissionais quanto as pessoais, são 99,9% feitas por e-mail. Gosto desse meio que, além de tudo, documenta as solicitações de trabalho, detalhando-as e permitindo que atenda rigorosamente o que o cliente quer (recebo, em média, dez solicitações de crônicas por semana, que atendo com método e com rigor). E os leitores dos vários veículos que reproduzem os meus textos têm se mostrado (salvo raríssimas exceções) assíduos e generosos.
A maioria das mensagens que recebo deles é de elogios. Bondade de quem age assim. Recebo, também, várias sugestões, na linha da interação entre cronista e seus destinatários, pautando os temas que desenvolvo. Procuro acolhê-las, na medida das minhas possibilidades e, principalmente, da minha capacidade. Alguns e-mails, claro, são de críticas, mas estas são tão generosas, e em plano tão elevado, que equivalem a elogios. Gostaria, é evidente, de responder, um a um, individualmente, a todos. A quantidade das mensagens, no entanto, (são centenas por dia), impede isso. Para não parecer que estou discriminando alguém (e não estou), fico devendo uma resposta pessoal a todos os que me escrevem. Periodicamente, porém, escrevo crônicas, como esta, para que meus leitores saibam que são acolhidos, respeitados e sobretudo estimados, apesar de não os conhecer pessoalmente.
A propósito da necessidade que as pessoas têm de serem ouvidas (neste caso, lidas) e da dificuldade disso ocorrer, descobri, num velho volume de clássicos latinos, um texto do escritor e filósofo romano Lucius Annaeus Sêneca (que viveu entre 4 a.C e 65 d.C), a esse respeito. O dito poeta, assinale-se, teve um fim trágico. Suspeito de cumplicidade na conspiração dos pisões contra Roma, foi condenado pelo imperador Nero a morrer, tendo as veias rasgadas com um punhal.
No poema "O Homem que ouve" (que traduzi, de forma mais ou menos livre, do latim) Sêneca escreveu: "E quem há de ouvir a nós em todo o mundo,/seja amigo ou professor, irmão ou pai,/mãe, irmã ou vizinho, filho, senhor,/ou servo? Quem há de ouvir: nosso advogado,/marido, esposa, os que nos são mais caros?/As estrelas ouvem, quando em desespero/fugimos do homem, os ventos ouvem, os mares,/as montanhas? A quem pode um homem dizer:/Aqui estou! Eis minha nudez, minhas chagas,/a dor secreta, o desespero, traição, tristeza,/a língua que não me serve para expressar/meus pesares, meu terror, meu abandono?//Que me ouçam por um dia – uma hora/um momento!/Para que eu não expire no terrível ermo,/no silêncio solitário! Ó Deus, há alguém para ouvir-me?//Não há ninguém para ouvir? – indagas. Há, sim,/há alguém que ouve, que sempre ouvirá./Corre até ele, meu amigo! está nas colinas esperando por ti./Por ti, sozinho".
Passam-se os anos, mudam-se os tempos, criam-se novos costumes e novos hábitos, sucedem-se as gerações, os povos evoluem materialmente, mas o homem, em sua essência, é intemporal. Naquilo que é básico, não muda jamais! Somos, como enfatiza a antropóloga norte-americana Loren Eiseley, "criaturas de muitas dimensões diferentes, passando pelas vidas uns dos outros como fantasmas passando por portas". Só não aceito, pelas razões que citei acima, ouvir e me fazer ouvido... por telefone. Idiossincrasia, claro, de um jornalista um tanto (para não dizer muito) excêntrico!!!

Monday, June 19, 2006

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk



OITO SELEÇÕES JÁ ESTÃO CLASSIFICADAS

Terminou, hoje, a segunda rodada da fase de classificação da Copa do Mundo e oito seleções já garantiram passagem para as oitavas-de-final. Em 2002, a esta altura, apenas duas estavam classificadas. Dos que deram vexame no Mundial da Ásia, apenas a França não aprendeu a lição. As demais seleções que fracassaram naquela oportunidade trataram de se garantir logo de cara, contando, claro, com a sorte de terem caído, salvo uma ou outra exceção, em grupos muito fracos. Alemanha, Equador, Inglaterra, Argentina, Holanda, Portugal, Brasil e Espanha entram na terceira rodada apenas para definir se serão primeiras ou segundas colocadas de seus respectivos grupos. Em contrapartida, Costa Rica, Polônia, Paraguai, Costa do Marfim, Irã e Togo vão tentar sair com honra da competição e vencer um joguinho que seja. A melhor performance, até aqui, nesta fase, foi a da Argentina, ajudada pela péssima apresentação da Sérvia-Montenegro. E a grande injustiçada foi a excelente seleção da Costa do Marfim que, além de cair num grupo duríssimo, foi muito prejudicada pelas arbitragens. Merecia ter ido mais longe. Enfim...

TOGO DEIXA BOA IMPRESSÃO

A seleção de Togo, estreante em Copa do Mundo, a despeito da desorganização, das brigas internas causadas pelas exigências dos jogadores por premiação antecipada e das injunções políticas na escalação, mesmo perdendo suas duas partidas (2 a 1 para a Coréia do Sul e 2 a 0, hoje, para a Suíça) deixou uma boa impressão. Com um pouquinho mais de seriedade, poderia ter ido mais longe. E a França, sua próxima adversária, que se cuide, pois pode ter uma amarga surpresa (repetindo o que já ocorreu em 2002) e voltar também mais cedo para casa. Hoje, Togo vendeu caro a derrota para a boa seleção suíça, que tem, como grande virtude, o conjunto, já que joga junta há já alguns anos, desde que conquistou um mundial sub-17. É uma das melhores gerações do seu futebol. Claro que não vou cair no exagero de achar que possa chegar à final. Mas que vai incomodar muitos dos considerados bichos-papões, disso não tenho a menor dúvida.

UCRÂNIA RESPIRA ALIVIADA

A Ucrânia, contando com uma atuação do seu principal astro, o atacante Shevchenko, à altura do seu prestígio internacional, deu a volta por cima da goleada por 4 a 0 que sofreu na estréia, diante da Espanha, e devolveu, hoje, o mesmíssimo placar, só que tendo por vítima a Arábia Saudita. O erro dos ucranianos na sua primeira partida foi a empolgação. Acharam que poderiam jogar de igual para igual, ofensivamente, contra a Fúria espanhola. Partiram, tresloucados, para o ataque, oferecendo o contra-ataque aos espanhóis. Deu no que deu. Pagaram, claro, o preço do noviciado. Afinal, esta é a primeira Copa do Mundo da Ucrânia. É certo que os sauditas, que os ucranianos massacraram, não servem de parâmetro para avaliar o potencial de ninguém. Já justificaram sua presença na Copa ao arrancarem um honroso empate, histórico para o seu futebol, na estréia, contra a boa seleção da Tunísia. A Ucrânia, porém, que se acautele no último jogo da fase de classificação. Que jogue com a cabeça se quiser ir mais longe neste Mundial. Os tunisinos, seus próximos adversários, mostraram, hoje, diante da Espanha, porque são considerados uma das duas melhores seleções africanas.

FÚRIA SEM CABEÇA NÃO BASTA

A Espanha encantou os olhos dos críticos nos dois jogos que disputou na Copa do Mundo. Conta com o segundo melhor ataque da competição e com o artilheiro. Mostrou que é uma seleção forte, capaz de aprontar muitas surpresas aos incautos. Pode, inclusive, vir a cruzar com o Brasil, nas quartas-de-final (óbvio, se ambos passarem para essa fase). Todavia, não creio que tenha cacife para disputar o título, como alguns apregoam. Mostrou muitas deficiências no jogo de hoje, notadamente em seu setor defensivo. Os espanhóis suaram frio, até os 28 minutos do segundo tempo diante da Tunísia, quando perdiam por 1 a 0. Só viraram o placar porque os tunisinos cometeram um erro crasso: abdicaram do ataque (ao contrário do que a Ucrânia havia feito diante dessa mesma Espanha). E, como diz o surrado clichê, água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Foi o que aconteceu. De tanto insistir, a Espanha encontrou brechas na defesa adversária e virou o resultado para 3 a 1 a seu favor. É uma seleção perigosa, mas mais visceral do que racional. Sobra-lhe coração, mas falta-lhe cabeça.

MOMENTO DE DECISÃO

De amanhã até sexta-feira, teremos o desenvolvimento da terceira e decisiva rodada da fase de classificação da Copa do Mundo. Será uma overdose de futebol, com quatro partidas diárias. Nos grupos cujos classificados já estão definidos, saberemos quem será o primeiro e quem será o segundo colocado. Vários deles, porém, ainda estão em aberto e tudo pode acontecer. No “B”, por exemplo, a Suécia, que enfrenta a Inglaterra, disputa vaga com a zebra do Caribe, Trinidad e Tobago. No “D”, mexicanos e angolanos decidem diretamente qual dos dois irá para as quartas-de-final. No “E”, todos os quatro, Estados Unidos, República Checa, Itália e Gana, têm chances de chegar. Acabou, portanto, por se constituir, ele sim, no “Grupo da Morte”. No “F”, croatas e australianos jogarão todas as suas cartadas para obter a vaga. No “G”, a disputa envolve França, Suíça e Coréia do Sul. E, finalmente, no Grupo “H”, ucranianos, tunisinos e sauditas tentarão a todo o custo a sua classificação.

JOGO IMPERDÍVEL

O jogo imperdível de amanhã vai envolver o já classificado English Team, diante da Suécia, que foi surpreendida na estréia, quando não passou de um empate sem gols com Trinidad e Tobago. Caso os ingleses percam e a Alemanha vença o Equador, os companheiros de Bekham e Owen terão que enfrentar os donos da casa na próxima fase. O mesmo pode ocorrer se o Equador, que vem jogando certinho, vencer ou empatar com os germânicos e a Inglaterra derrotar a Suécia. Os outros dois jogos, Costa Rica e Polônia e Paraguai e Trinidad e Tobago, têm pouco interesse. Este último, pelo menos, vai valer alguma coisa, já que os caribenhos, pelo menos matematicamente, têm chance de classificação e os paraguaios certamente vão querer se despedir de forma digna desta Copa do Mundo, à qual não disseram a que vieram.

RESPINGOS...

· Vocês repararam como os árbitros têm sido sumamente rigorosos com as seleções africanas, mostrando uma infinidade de cartões amarelos, por dá-cá-toma-lá, expulsando jogadores e apitando pênaltis contra, e não agem da mesma maneira com as européias? Para as penalidades a favor, sempre que existiram (e existiram muitas), fizeram vistas grossas.
· Esta tem sido uma Copa do Mundo em que a força tem prevalecido sobre a técnica. As seleções com melhor preparo físico estão levando nítida vantagem sobre as que não apresentam essa condição.
· Por enquanto, nenhum jogador se destacou nesta Copa do Mundo a ponto de poder-se dizer que é o grande personagem da competição. Quem foi bem na estréia, decepcionou no jogo seguinte. Por enquanto, é tudo japonês.
· Queiram, ou não, Ronaldo, o Fenômeno, está sendo, mais uma vez, o personagem da Seleção Brasileira nesta Copa. E, a exemplo de 1998, de novo de forma negativa.
· Os jogadores da Ponte Preta se reapresentaram, hoje, para os treinamentos com vistas à seqüência do Campeonato Brasileiro da Série A, que recomeça em exatos 23 dias. Não houve qualquer novidade na reapresentação.

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