Sunday, June 11, 2006

Geração confiável


Pedro J. Bondaczuk


Os jovens têm sido terrivelmente injustiçados pelas pessoas mais velhas, quando estas querem manifestar sua descrença quanto ao futuro da espécie. São, via de regra, identificados pelos maus hábitos de alguns desgarrados. Os bons pagam pelos erros dos que se perdem nas drogas, na indolência, no sexo livre e irresponsável, e em outras deficiências, tidas e havidas como “sinais destes tempos”, mas que vêm de longe, de alguns séculos pra trás. São, sobretudo, vítimas de estúpida generalização.
Mas seria esta geração pior do que as que a precederam? Estaríamos, na verdade, todos num imenso beco sem saída, diante de uma hipotética carência de lideranças, novas e construtivas, para conduzir a sociedade a um rumo mais adequado e promissor? Estariam, os moços de hoje – como são freqüentemente acusados –, derrubando, destruindo e aniquilando todos os valores éticos e morais, sem criar outros, melhores, que os substituam? Não, não, não, absolutamente não!!!
Afirmar tudo isso, além de injusto, é, na melhor das hipóteses, imensa leviandade. As universidades têm acolhido, por exemplo, jovens extraordinários, que prometem muito e que dão, a todo o momento, inequívocas demonstrações de competência, de responsabilidade e de inegável valor.
A todo o instante (embora isso não seja divulgado pelos meios de comunicação) protagonizam atos sublimes, de extrema nobreza, valiosos, principalmente, por serem raros. Esses moços parecem ter (e tudo leva a crer que tenham) compreensão mais clara do que levou o mundo à situação atual, ou seja, à beira do precipício da catástrofe.
E a juventude atual tem uma virtude fundamental, com a qual supera, em muito, o modo de agir das gerações que a antecederam: a franqueza. Detesta a hipocrisia!! Abomina a atitude dúbia! Condena o ato dissimulado! Tem horror à camuflagem! Procura sempre agir às claras, para o bem ou para o mal. Claro que, como tudo na vida, esta regra também tem suas exceções.
Os jovens erram, e muito, como qualquer pessoa, não importa a sua idade. O erro, afinal, é condição humana e não decorrente (apenas) da quantidade de anos que se vive. Mas assumem quando erram. Não procuram imputar suas fraquezas e equívocos a ninguém. São, na verdade, vítimas da “civilização”, desta que aqueles que tanto os criticam lhes legaram.
Pagam, portanto, pela incompetência dos antepassados e pelo seu exacerbado egoísmo. Quando nasceram, as mazelas que nos atormentam já estavam aí, em um mundo onde a palavra solidariedade nada significava e soava como blasfêmia, como chacota, como o mais escandaloso dos palavrões. E, convenhamos, essa culpa não lhes pode ser imputada.
Ademais, os jovens acostumaram-se ao desamor, ao pouco caso, à negligência com que foram criados. Convivem, desde o berço, com um arremedo de afeto, comprado com presentes e com fartura de dinheiro (nas raras famílias com recursos para isso, claro), para compensar o que não se compensa e do que a maioria está privada: atenção, interesse, amizade.
Raros (raríssimos) são os que têm o privilégio de serem tratados com franqueza, com honestidade e com respeito em seus relacionamentos com os adultos. Dificilmente sentem-se, de fato, amados, compreendidos e apoiados em suas idéias e atitudes. A despeito de tudo isso, porém, são os jovens que erguem as bandeiras das grandes causas.
São os que lutam, com armas desiguais, pela justiça social, pela liberdade, pela democracia, pela solidariedade entre povos e nações. São os que morrem nas estúpidas e freqüentes guerras tramadas pelos líderes políticos. E, com tudo isso, são os que levam a culpa pelo que há de ruim, de perverso, de vicioso e de doentio no mundo.
É nesta juventude sofrida, abandonada, mal-amada e tão difamada, mas consciente, sincera, justa e participante, que estão depositadas todas as nossas esperanças. Ela é a nossa única chance de redenção, enquanto seres racionais. E, certamente, saberá encontrar soluções para os problemas causados por nossas desastrosas ações e, principalmente, por nossa criminosa omissão!

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 31 de dezembro de 1987).

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