Saturday, June 24, 2006

Poema das importâncias


Pedro J. Bondaczuk

Bolsa de valores da vida,
tenso pregão do acaso,
escassa escala de virtudes,
amplo leilão de emoções.

No quadro-negro do espaço,
painel luminoso de estrelas,
o tempo colhe e sedimenta
os valores e as importâncias.

São bem cotados o efêmero,
o trivial e o comezinho,
e a rotina do cotidiano,
e o fortuito e o casual.

São valiosas as sirenas
de abelhas, convocando
o labor proletário
de agitadas colméias.
Monarquia de insetos,
rígida hierarquia,
definição de funções
do nascimento à morte:
predomínio de instintos,
importância do efêmero.

São assustadores:
o labor noturno dos mochos
e seus lamentos de angústia;
a histeria das hienas,
a determinação dos lobos
a solidão das panteras
a covardia dos chacais
a algaravia dos cães
e o terror pânico das corças
dos coelhos e dos ratos.

Guerra da sobrevivência,
implacável ação do predador,
lei natural do mais forte:
importância da angústia.

Dolorosos os cris-cris
ultrassônicos dos grilos,
invisíveis, escondidos
nos labirintos da mente,
nas lapas do cerebelo,
nas espirais do ouvido.

Os por quês não respondidos,
a insignificância individual
na imensidão do conjunto,
o silêncio e a solidão
nas clausuras da alma:
falência dos valores!

Grilos que não se calam,
a sucessão das questões,
o caminhar desorientado,
o passo trôpego e incerto,
o gesto dúbio e medroso,
as idéias sem nenhum nexo,
olhos vidrados de pavor,
imposição dos sentidos:
importância das neuroses.

No quadro negro da mente,
painel luminoso de idéias,
o tempo escreve e sedimenta
as legítimas importâncias!

(Poema composto em Campinas, em 5 de maio de 1975).

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