Sunday, June 25, 2006
Entre Deus e a fera bronca
Pedro J. Bondaczuk
O homem, quando aplica os dotes de sua inteligência em uma obra construtiva e quando atua em equipe, opera verdadeiras maravilhas. Penetra, por exemplo, no coração de um átomo e decompõe essa porção infinitesimal de matéria em partículas cada vez menores e complexas, desvendando, no plano microscópico, os segredos do universo.
Interfere no código genético e dessa maneira impede doenças congênitas, ou cria novos animais e plantas, consertando falhas da própria natureza que o gerou. Troca, num seu semelhante, o coração e outros órgãos, permitindo que ele viva, produtivamente, muitos anos mais do que viveria caso não fizesse essa providencial intervenção. Aventura-se no espaço infinito e revela mistérios que seus ancestrais sequer atinavam que existissem.
A data de hoje, 20 de julho de 1989, marca um desses momentos excepcionais da humanidade, que foi a conquista da Lua. Muitos, hoje, investem contra esse projeto, que consumiu cerca de US$ 10 bilhões, garantindo que ele foi inútil, já que não trouxe os benefícios materiais com que contavam. Argumentam que o dinheiro gasto na empreitada seria melhor aplicado se investido, por exemplo, no socorro aos muitos milhões de miseráveis e famintos que há no Planeta.
Mas será que há alguém que acredite que se esses recursos não viessem a ser despendidos para uma façanha desse porte seriam destinados a alguma obra social, ou de benemerência? Se houver, tal pessoa será de uma ingenuidade atordoante. Ademais, se existe algum dinheiro mal aplicado no mundo, este, certamente, é o que sustenta essa macro estupidez chamada corrida armamentista nuclear.
Este, sim, é um buraco negro, que consumiu as energias de alguns bilhões de seres humanos, num projeto que, se posto em pleno andamento, redundará, fatalmente, na destruição não somente deste maravilhoso planeta azul, nosso domo cósmico, mas, e principalmente, dessa coisa rara em um raio de vários anos-luz (e quiçá única na imensidão universal), a vida e, especialmente, a deste ser pensante, tão contraditório, que traz, misturadas em seu âmago, a genialidade dos deuses e a estupidez das feras broncas.
O importante, na conquista da Lua, não foi a tomada de posse do satélite, mas a demonstração de que o homem é capaz de fazer isso e muito mais. Basta que volte sua inteligência para empreendimentos construtivos; que jamais deixe a ânsia da conquista de riquezas vazias, que nada valem, e de um hedonismo inconseqüente e sem sentido, embrutecer seu espírito de aventura; que não permita que ambições mesquinhas limitem seu horizonte aos pântanos, quando o infinito está à sua frente, como magnífico desafio.
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 20 de julho de 1989)
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