Tuesday, June 27, 2006

Harmonia rege o universo


Pedro J. Bondaczuk


A mente do homem pode ser maravilhosa ou tétrica, dependendo onde ele coloca o seu empenho. Se em empreendimentos construtivos, ela engendra as artes, a filosofia, a ciência e a tecnologia. Desvenda o âmago dos átomos, para dali extrair energia. Abre as portas da natureza, com a chave do seu talento, para dali extrair abundância. Desenvolve remédios, que curam doenças e prolongam a vida. Troca um coração, com êxito, em seu semelhante e mapeia os genes, para curar enfermidades de pessoas ainda em estado fetal.

Constrói naves maravilhosas, como as duas Voyagers, que examinam de perto os planetas do Sistema Solar e revelam os seus segredos. Pode-se dizer, sem medo de equívoco, que não há nada que a mente humana não possa fazer, a não ser livrar o homem da sua morte.

Mas existe o outro lado da personalidade humana. Todos nós temos um pouco dessa dualidade. Somos todos, dependendo das circunstâncias, o "médico" e o "monstro". O que cura e o que mata. O que ajuda e o que explora. O amigo fraternal e desprendido e o adversário mais cruel e implacável.

Alguns conseguem dominar o instinto de fera que o ser humano, enquanto animal, possui, e se tornam santos. Outros, no entanto, sufocam a parte boa que possuem, cultivam a irascibilidade, o espírito de vingança, a cobiça desmedida e se tornam verdugos de seus semelhantes. Seres que todos desejariam ver pelas costas, quando não sepultados sob sete palmos de terra.

Estas considerações vêm a propósito do magnífico êxito da sonda Voyager 2 (mais do que aquele, há anos louvado, de sua "irmã gêmea", a Voyager 1, a esta altura viajando na imensidão cósmica, numa jornada sem fim), que está desvendando para o homem os mistérios da natureza. Alguns, evidentemente, já que o universo é um desafio permanente e infinito à mente desse misto de semideus e semimacaco, deste meio gênio e meia fera, desse ser contraditório e por isso mesmo fascinante, destinado a se perpetuar por milênios afora, mas que criou, com suas próprias mãos, a arma que o pode levar à destruição, enquanto espécie.

Como tudo seria mais fácil se este ente tão complexo conseguisse resolver suas contradições! Se pudesse acorrentar para sempre a besta que traz solta dentro de si, para ressaltar a sua genialidade! Se entendesse de vez que a lei que rege os astros, os mundos, as galáxias mais distantes e maiores se baseia na cooperação e não no conflito! No trabalho conjunto, não no isolamento suicida! Na harmonia, e não no caos!

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