Wednesday, June 14, 2006
O velho e o mar
Pedro J. Bondaczuk
Mais de 40 anos após a sua morte, ocorrida em 1962, o romancista e aventureiro norte-americano Ernest Hemingway, amigo pessoal do presidente cubano Fidel Castro, continua despertando fascínio nas novas gerações. E não somente pela fluência e concisão dos seus textos, ou pela magistralidade dos seus romances ("Adeus às Armas", "Por quem os sinos dobram" etc.).
O que chama a atenção nesse intelectual polêmico e, sobretudo, personalidade altamente controvertida por sua postura e ações, é a sua vida aventuresca – como se não fosse real, mas o enredo de um dos seus "best-sellers" – onde se destacam, entre tantas outras aventuras, sua participação na guerra civil espanhola, sua constante presença nas corridas de touros realizadas anualmente nas ruas de Pamplona, na Espanha, na festa de San Firmino nos meses de julho e os safaris de que tomou parte na África.
Este é um dos raros casos em que vida e obra rivalizam em suspense e interesse. É difícil distinguir onde começa uma ou termina outra. Ou o quanto daquilo que Hemingway escreveu foi inspirado em fatos reais. Em dezembro de 1984, um pescador cubano lançou luz sobre a origem de uma das mais notáveis novelas escritas até hoje, não importa em que língua (seguramente das melhores da literatura norte-americana): "O Velho e o Mar". Esse livro valeu a Hemingway o Prêmio Nobel de Literatura. Sua magistralidade situa essa maravilhosa obra entre as melhores já escritas em todos os tempos.
Gregório Fuentes era piloto do veleiro "Pilar", pertencente ao escritor, na época em que este escreveu a história. No depoimento que deu, o pescador revelou que o velho Santiago e o menino, personagens da novela, realmente existiram (embora seus nomes verdadeiros não sejam os utilizados no enredo). Fuentes assegurou que a luta titânica do homem com o merlin de fato ocorreu. Trata-se, portanto, de uma história verídica, mas que ganhou em interesse e dramaticidade sob o enfoque de um escritor genial. O engraçado que li, não faz muito tempo, uma crítica que considero autêntica heresia, para não dizer estupidez.
O autor do texto (de cujo nome não me recordo, o que é indício da sua não importância), classificou, em texto publicado no suplemento literário de um grande jornal de São Paulo, Hemingway de "canastrão". É impressionante como determinadas pessoas não têm o mínimo senso de ridículo! Felizmente, não deram muita trela a esse infeliz! O editor que decidiu publicar essa herética e estúpida afirmação passou recibo, sem dúvida, à sua incompetência.
Mas, voltando ao assunto da veracidade da história que deu ensejo ao extraordinário livro do escritor norte-americano, o pescador cubano Gregório Fuentes disse, conforme divulgou a agência de notícias "United Press International" na ocasião: "Um dia Hemingway e eu nos encontramos a caminho de Pinar del Rio, balneário na região norte ocidental de Cuba, quando nos aproximamos de uma pequena embarcação de pesca. Vimos um velho e um menino em um bote, que lutavam com um peixe espada. O velho estava quase caindo do bote, lutando contra o peixe com grande determinação. Quando nos viu, começou a xingar".
E prosseguiu: "Dissemos que só desejávamos ajudar, mas o velho continuava nos xingando. Hemingway compreendeu e mandou que eu me afastasse para longe do local. Esperamos o epílogo de uma certa distância. Hemingway estava preocupado com o velho e o menino, porque sabia que eles estavam famintos e queria ajudá-los".
Fuentes concluiu: "Então me mandou até a despensa encher um par de bolsas de alimentos. Rumamos para lá e quando o velho descobriu o que se passava, já havíamos nos retirado. Vi, então, Hemingway fazer algumas anotações. O grande problema, enquanto escrevia o livro, foi que não tinha idéia do título. Um dia me perguntou o que eu pensava. 'Não sei', lhe disse. Mas ali estava o velho e ali estava o mar. Então Hemingway respondeu: 'é isso aí, já temos o título. Será O Velho e o Mar'. E assim foi".
As obras marcantes nascem, quase sempre, dessa forma: inspiradas em acontecimentos banais, que o talento de grandes artistas se encarrega de transformar em monumentos à inteligência e à sensibilidade. A chave para o sucesso de uma empreitada desse tipo, para o êxito da "aventura artística", está em uma fórmula resumida por três palavras: esforço, simplicidade e autenticidade. O resto...vem naturalmente. O clássico de Hemingway, "O Velho e o Mar", é prova disso. E pensar que há "intelectualóides" alienados e burros que classificam quem produz uma obra-prima desse porte de "canastrão"! Vá ter mau gosto assim (ou arrogância, ou oportunismo, ou sabe-se lá o quê) na Cochinchina!
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