Saturday, June 17, 2006

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk



O VERDADEIRO GRUPO DA MORTE

O verdadeiro “grupo da morte” da Copa do Mundo não é o da Argentina, Holanda, Costa do Marfim e Sérvia-Montenegro, como a imprensa apregoou, com tanto alarde, antes do início da competição. Este, aliás, já está matematicamente decidido, faltando, apenas, a definição de quem será o primeiro colocado. Salvo qualquer surpresa (que nunca pode ser descartada), tudo indica que essa condição ficará, mesmo, com “los hermanos”. Têm muito mais futebol do que os holandeses. O verdadeiro grupo da morte é o “E”, que tem Itália, República Checa, Gana e Estados Unidos. Todos os seus quatro integrantes têm chances de se classificar para as oitavas-de-final, o que será definido apenas na semana que vem, na última rodada da fase de classificação. Apontar favoritos, a esta altura do campeonato, é puro chutômetro. Ainda assim, arrisco-me a prever, pelo que pude analisar da atuação das quatro seleções, que os classificados serão Gana e República Checa, com a definição do primeiro colocado ficando por conta dos critérios de desempate. Portanto, a Seleção Brasileira terá que esperar mais um pouco para saber quem será seu adversário na próxima fase. Alguém arrisca algum palpite?

COM A CARA DO FELIPÃO

A Seleção de Portugal não jogou uma partida soberba contra o Irã, mas ainda assim, não somente venceu, por 2 a 0, como convenceu. A equipe iraniana é muito melhor que a angolana, embora peque no quesito preparo físico. Nossos patrícios jogaram apenas para o gasto, é verdade, mas já estão na próxima fase da Copa do Mundo, o que não conseguiam há 40 anos, nas mãos de outro brasileiro, Otto Glória. O time atual tem a cara do Felipão. Pode não ser brilhante, mas é pragmático. E seu próximo adversário, seja ele a Argentina ou a Holanda, que se precavenha, pois no campo o time português conta com a eficiência de Deco, o oportunismo de Pauleta e, principalmente com a garra e com a condição técnica de Luiz Figo. Além do que, no banco, tem um treinador de muita, muitíssima estrela. Ou alguém ainda duvida? Dessa forma, Portugal já justificou sua presença na Copa e tem condições (por que não?) de ir muito mais longe. Figo é um capítulo à parte. Tanto contra Angola, quanto hoje, contra o Irã, foi, disparado, o melhor jogador em campo. Só faltou, mesmo, fazer um gol, para se consagrar de vez. Mas...ninguém é perfeito...

ÁFRICA MOSTRA SUA CARA

Eu esperava uma boa atuação da seleção de Gana, por tudo o que ela mostrou no jogo contra a Itália, mas fui surpreendido com uma atuação acima da média, na sua vitória de hoje, frente à República Checa, por 2 a 0. E olhem que os ganeses ainda perderam um pênalti (bem batido, por sinal). A bola, caprichosamente, não quis entrar e foi chocar-se contra a trave. Foi um jogo eletrizante, cheio de alternativas e os checos, mesmo não jogando um futebol brilhante, venderam caro a derrota. É verdade que foram surpreendidos pela velocidade e pela objetividade do adversário, que mostrou que é, tecnicamente, disparada a melhor seleção da África, mesmo sendo esta a sua primeira Copa do Mundo. Mas Gana tem em seu currículo dois títulos mundiais sub-17 e uma medalha de prata olímpica, nas Olimpíadas de Barcelona. Convenhamos, não é pouca coisa. O jogo entre a República Checa e a Itália, na semana que vem, decidindo vaga para a próxima fase, será, com certeza, de arrepiar. Os italianos levam ligeira vantagem, pelo menos em teoria, pois podem jogar por um empate. Isso, porém, numa Copa do Mundo, pode se constituir numa faca de dois gumes. O destaque da equipe checa, o meia Rosicky, ficou devendo bola hoje. Não que decepcionasse, mas não foi o mesmo jogador vibrante e criativo da estréia, contra os Estados Unidos.

FUTEBOL SOLIDÁRIO

O futebol solidário praticado, hoje, pela seleção dos Estados Unidos, surpreendeu a favorita Itália, que pode se dar por satisfeita por não ter saído de campo com uma derrota nas costas, mesmo jogando boa parte da partida com um jogador a mais. Foi um jogo disputado, brigado, aguerrido, às vezes até violento (tanto que teve três expulsões), que apresentou uma arbitragem soberba do uruguaio La Rionda, que deu verdadeira aula de como se apita uma partida de futebol. Na véspera, todos os prognósticos (inclusive os meus) apontavam os italianos como favoritos disparados à vitória, principalmente depois da decepcionante estréia norte-americana frente à República Checa, quando foram derrotados por 3 a 0, e da discreta vitória da Itália, diante de Gana (com providencial ajuda de Carlos Eugênio Simon, que deixou de anotar dois pênaltis a favor dos ganenses), por 2 a 0. Ocorre que futebol se decide em campo. E nele, pelo menos hoje, não prevaleceu a tradição. Mas, convenhamos, foi um jogão! Em termos de emoção foi, sem dúvida, o mais interessante desta Copa.

CHEGA A HORA DA VERDADE

Amanhã será a hora da verdade para a Seleção Brasileira. Ficaremos sabendo se é procedente todo o favoritismo dado aos comandados de Carlos Alberto Parreira ou se este é fruto meramente da nossa paixão pelo futebol. Não que a Austrália seja um adversário de assustar, longe disso. O que assustou todo mundo foi o futebolzinho que a nossa equipe jogou diante da Croácia, mesmo dando os devidos descontos para o fato de ter sido uma estréia em uma copa do mundo, que sempre implica num certo nervosismo. Há uma série de perguntas no ar para serem respondidas, na prática, em campo, pelos jogadores. Uma delas é se a apagada performance de Ronaldo Fenômeno diante dos croatas não passou de má jornada, a que todos estamos sujeitos, ou se reflete sua decadência. E Adriano, vai recuperar o seu bom futebol? E Ronaldinho Gaúcho, conseguirá jogar na seleção pelo menos 40% do que joga no Barcelona? Os australianos praticam um futebol tosco, primário, sem brilho, mas podem perfeitamente surpreender. Têm três jogadores experientes, que desequilibram: Viduka, Cahil e Aloisi. Serão suficientes para derrubar a favoritíssima pentacampeã mundial? Tomara que não!

NOTA TRISTE

A nota triste desta véspera de jogo do Brasil foi a morte do comediante Bussunda, do grupo Casseta&Planeta, ali mesmo em Munique, palco da partida de amanhã. Vários dos nossos jogadores eram não somente fãs, mas amigos do notável humorista. Principalmente Ronaldo, o Fenômeno, há tempos caricaturado pelo ator. Nossos craques, portanto, devem-lhe uma partida memorável, destas que ficam para sempre na história, e, notadamente, o nosso grande matador, que tem, dessa forma, mais um desafio pela frente. Que Ronaldo faça, pois, um ou mais gols, em homenagem a Bussunda. E que Adriano repita a dose e também deixe a sua marca, mas por outro motivo. Ou seja, como presente ao seu filho, que nasceu, ontem, no Rio e repita depois o gesto de Bebeto na Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos. Como se vê, além da classificação antecipada, não faltarão motivações para a Seleção Brasileira reencontrar o seu futebol e mostrar ao mundo a que veio. Mas nada de salto alto!

RESPINGOS...

· Com as três expulsões de hoje, no jogo entre Itália e Estados Unidos, dez jogadores já receberam o cartão vermelho, em nove dias de competição. Os árbitros não estão para brincadeiras.
· A seleção de Gana desmontou, logo de cara, o esquema de jogo da República Checa, ao fazer o gol mais rápido desta Copa do Mundo, com menos de dois minutos de jogo.
· Japão e Croácia, ambos do mesmo grupo do Brasil, fazem um jogo que deve ser muito interessante, excelente aperitivo para a nova exibição da Seleção Brasileira.
· O jogador De Rossi, da Itália, deu uma violenta e maldosa cotovelada no norte-americano McBride, no jogo de ontem entre as duas seleções. Para o azar dele, o árbitro estava bem pertinho e não titubeou em lhe dar o cartão vermelho. Foi super-merecido!
· Li, na internet, que a federação sérvia pretende multar os jogadores que fizeram corpo mole na vexatória goleada que sua seleção sofreu ontem, diante da Argentina, por 6 a 0. Se for verdade, não vai escapar ninguém. Nenhum deles quis nada com nada.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

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