Friday, June 23, 2006

TOQUE DE LETRA




Pedro J. Bondaczuk



SETE CAMPEÕES DO MUNDO NA PARADA

Terminada hoje a fase de classificação, começa, amanhã, de fato, a Copa do Mundo, desta feita com um tira-teima se não inédito, pelo menos raro. Estarão em campo, nestas oitavas-de-final, 15 títulos mundiais, representados pelos seis campeões que se classificaram para a competição (cinco do Brasil, três da Alemanha, três da Itália, dois da Argentina, um da Inglaterra e um da França). O único vencedor de Copa ausente é o Uruguai (que conquistou dois mundiais, em 1930 e 1950) eliminado na repescagem pela surpreendente Austrália, depois de se classificar em 5º lugar nas Eliminatórias sul-americanas. Os australianos queimaram a língua da maioria dos analistas. Contrariando quase todos os prognósticos, estão, como “estranhos no ninho”, entre as 16 seleções que disputarão a etapa do mata-mata. A grande decepção da fase de classificação foi a Sérvia-Montenegro, secundada pela Croácia, as duas, aliás, herdeiras da extinta Iugoslávia. A surpresa? Reitero, foi a Austrália, embora não deixe de ser surpreendente a performance da Suíça, a única seleção que não levou um único gol e que terminou essa etapa à frente da todo-poderosa França.

CORDILHEIRA DE OBSTÁCULOS

A Espanha, que ao derrotar, hoje, a mera coadjuvante Arábia Saudita por 1 a 0, com sua equipe reserva, teve aproveitamento de 100% na fase de classificação, ao lado de Brasil, Portugal e Alemanha, tem uma cordilheira de obstáculos, um verdadeiro Himalaia, para chegar pelo menos à semifinal. O primeiro desafio, sem dúvida, será a França, seu adversário, dia 27, nas oitavas-de-final. Os franceses, que escaparam por pouco do vexame de nova desclassificação prematura, vão entrar mordidos nesta etapa decisiva. Seu futebol começou a luzir um pouco tarde, a exemplo do que aconteceu com o Brasil, mas tende somente a crescer. Caso os espanhóis ultrapassem essa barreira, terão, como adversário, nas quartas-de-final, ou os pentacampeões mundiais dos dois Ronaldos & companhia ou Gana. Ou seja, o vencedor desse clássico, envolvendo sul-americanos e africanos, aguardado com enorme expectativa. Não se pode negar que a Espanha tem um excelente time-base. Não conta, todavia, com reservas à altura dos titulares. A prova foi dada hoje, no jogo contra os sauditas, que a encararam de igual para igual, perderam por 1 a 0, mas mereceram, até, um empate.

UCRÂNIA ENFRENTA DEFESA INDEVASSÁVEL

A Ucrânia, que no seu jogo de estréia nesta e em todas as Copas do Mundo levou uma surra histórica da Espanha, por 4 a 0, se recuperou, graças à fragilidade de sauditas e tunisianos. Venceu seu último jogo, hoje, contra a Tunísia, por 2 a 0, e encara, na segunda-feira, a surpreendente Suíça. Os suíços ostentam, como grande façanha, o fato de terminarem na primeira colocação em seu grupo, que tinha a França como a grande favorita e, de quebra, de terem a única defesa que não sofreu um só gol até aqui. Hoje, conseguiram uma convincente vitória sobre a veloz Coréia do Sul por 2 a 0. Por tudo o que vi, aposto todas as minhas fichas na seleção da Suíça, que deve passar, até com relativa tranqüilidade, para as quartas-de-final. Se a Ucrânia vencer vou considerar zebra.

PRESENTE AOS ANIVERSARIANTES

A França penou, deu um grande susto em sua torcida, mas arrancou, a fórceps, a sua classificação para as oitavas-de-final, com a vitória de hoje, por 2 a 0, sobre Togo. Foi um presentão para os aniversariantes do dia da sua seleção, Zinedine Zidane, que nem no banco de reservas ficou, por estar suspenso com dois cartões amarelos e Patrick Viera, que não somente esteve em campo, como ainda foi o fator decisivo para a vitória francesa, fazendo o primeiro gol e dando o passe para Henry fazer o segundo. Hoje, sim, os gauleses deixaram de lado o salto alto e jogaram com vontade, garra e determinação, embora ficassem devendo em técnica. O placar, na verdade, não refletiu o que foi o jogo. Os franceses praticamente alugaram o meio campo adversário e fizeram um bombardeio maciço à meta togolesa. O goleiro Agassa impediu que os africanos sofressem uma goleada de, no mínimo, 6 a 0, com defesas impossíveis.

TESTE PARA DOIS DOS FAVORITOS

Os dois jogos de hoje, pelas oitavas-de-final, vão testar a real capacidade de dois dos favoritos à conquista da Copa do Mundo: Alemanha e Argentina. Os alemães, mesmo sem jogar um futebol brilhante, classificaram-se com facilidade para esta fase, com 100% de aproveitamento e com o melhor ataque. Todavia, tomaram dois gols da única seleção que a atacou, a fragílima Costa Rica. Sua defesa, portanto, não inspira confiança nem aos mais fanático dos seus torcedores. A Alemanha encara a Suécia, que joga um futebol mascado, brigado, feio, chato que costuma dar muita dor de cabeça aos adversários. Os ingleses que o digam. A Argentina, por sua vez, teve, até aqui, como maior façanha, a aplicação da maior goleada da Copa, os 6 a 0 na Sérvia-Montenegro. Na última partida, jogando com vários reservas, não passou de um discreto empate sem gols com a Holanda, igualmente desfalcada, num jogo bastante parelho. O adversário dos argentinos, o México, que chegou à Alemanha todo prosa (foi até cabeça de chave) e chegou a ser apontado por muitos como a possível grande surpresa da Copa, decepcionou. Classificou-se na “bacia das almas”, após perder o seu matador Borgheti logo na estréia. “Los hermanos” são, sem dúvida, os favoritos. Mas não podem bobear. Qualquer vacilo e...

INGLESES ENCARAM MOLEZA, PORTUGUESES NÃO

É inegável que o futebol equatoriano está em franca evolução. Em sua segunda Copa do Mundo, a seleção do Equador já consegue passar de fase, o que não é pouca coisa. Mas não creio que possa superar a Inglaterra, neste domingo. Não que os ingleses estejam jogando barbaridades, longe disso. Nessas horas, porém, a tradição, a experiência e a camisa têm um peso muito grande. Claro, futebol são onze contra onze e se decide no campo. Mas não consigo vislumbrar, por mais boa vontade que tenha, os equatorianos nas quartas-de-final. Já Portugal, de Luiz Felipe Scolari, encara uma imensa pedreira. A Holanda atual pode não ser nem sombra da decantada “laranja mecânica” de 1974, que encantou e surpreendeu o mundo (e não é mesmo), mas é uma seleção certinha. E tem um jogador acima da média, que desequilibra: Roben. Os portugueses, contudo, também contam com seu fator de desequilíbrio, mas no banco de reservas: Felipão. Considerando todos esses fatores, ainda assim atribuo um discreto favoritismo aos holandeses. Mas não ficarei nada surpreso se for Portugal que passar para as quartas-de-final.

RESPINGOS...

· Que lambança a do árbitro inglês que apitou o jogo entre a Austrália e a Croácia! Entre outras coisas, o homem do apito deu três cartões amarelos a um mesmo jogador croata, antes de lhe aplicar o vermelho. Quem disse que esse cara tem competência para apitar na Copa?!
· Notei que os árbitros sul-americanos, todos os que apitaram jogos de seleções da África, foram extremamente rigorosos com os jogadores africanos na aplicação de cartões amarelos e vermelhos. Todavia, não usaram do mesmo rigor com atletas faltosos europeus. Por que? Seria mera coincidência? Talvez!
· O zagueiro italiano De Rossi foi punido pela Fifa com suspensão de quatro jogos pela cotovelada intencional e maldosa que aplicou no norte-americano McBride. E foi pouco!
· Aliás, esta vem sendo uma das Copas do Mundo menos violentas das 15 que tive a oportunidade de assistir. Claro que toda regra tem exceção. De Rossi, sem dúvida, é uma delas.
· A Ponte Preta dispensou mais dois jogadores, que tiveram rendimento muito ruim nas dez primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro. São eles o volante Da Silva e o lateral Paulo Rodrigues.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

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