Wednesday, June 14, 2006

TOQUE DE LETRA



Pedro J. Bondaczuk



DEU APENAS PARA O GASTO

A Seleção Brasileira estreou, ontem, de forma apenas discreta (diria decepcionante), na Copa do Mundo, em jogo disputado em Berlim (palco das finais), diante da limitada, mas esforçada Croácia. Ainda assim venceu, posto que com um magérrimo 1 a 0, embora não tenha convencido a ninguém. Justo o setor mais frágil da equipe, muito criticado por todos e alvo das desconfianças gerais, ou seja, a defesa, foi o que garantiu a vitória, fazendo com que o Brasil desse o primeiro passo para a concretização do sonho do hexa. O chamado “quadrado mágico” não mostrou sua magia, por causa de uma jornada terrível de dois de seus integrantes, Ronaldo o Fenômeno e Adriano, e de uma partida apenas razoável de Ronaldinho Gaúcho. Quem brilhou foi Kaká, que além de jogar bem, garantiu o único gol da Seleção, de bela feitura, que valeu a primeira vitória dos comandados de Parreira. Aliás, o treinador já havia alertado a torcida para não esperar um futebol exuberante na estréia. Mas os jogadores não precisavam exagerar dessa forma, não é mesmo?! Enfim... o primeiro passo foi dado.

TRANQÜILIDADE EMBAIXO DA TRAVE

O goleiro Dida fez, no jogo de ontem, pelo menos três defesas decisivas, em três chutes à queima-roupa dos atacantes croatas. Trabalhou mais, portanto, do que seu colega adversário, que só pegou duas bolas difíceis, ambas de Ronaldinho Gaúcho: um arremate de fora da área e uma cabeçada. Isso demonstra a falta de pontaria dos nossos atacantes no jogo. O ataque até que chutou a gol, e muito mais do que a Croácia. Foram catorze ou quinze chutes, não tenho muita certeza. Poucos, porém, levaram perigo. O que me deixou pasmo foram as críticas de alguns comentaristas ao fato de Dida não haver segurado de primeira nenhum dos três chutes dos avantes croatas. Aí já é excesso de má vontade para com nosso eficiente goleiro, de uma frieza e de uma tranqüilidade impressionantes. Eles acham que precisam criticar sempre, mesmo o que não seja criticável. Se não houver motivos para críticas, certamente, inventarão algum. Por que esses caras não se tocam e não calam a boca?

CÃO PERDIGUEIRO

Outro que fez uma partida soberba, ontem, contra a Croácia, foi o volante Emerson, titular da Juventus de Turim. Foi um verdadeiro “cão perdigueiro” da nossa defesa, à caça dos atacantes croatas. Cobriu com eficiência a subida ao ataque de nossos dois alas, marcou, desarmou, saiu para o jogo e até chutou contra o gol adversário. Mostrou, sobretudo, muita garra, muita saúde e muita determinação. Embora a Fifa tenha considerado Kaká o melhor jogador em campo, concordo desta vez com os comentaristas (ufa, que estamos de acordo em alguma coisa!) que apontaram Emerson, praticamente por unanimidade, como o grande destaque da Seleção Brasileira nesse jogo. Com a agravante de não haver contado com a ajuda de Zé Roberto, que para Parreira é um segundo volante, mas que na prática atua como meia-armador e às vezes se reveza com Roberto Carlos na função de ala.

RONALDINHO GAÚCHO

Outro ponto em que discordo da análise da maioria dos comentaristas refere-se à atuação de Ronaldinho Gaúcho no jogo de ontem contra a Croácia. Para eles, o melhor jogador do mundo ficou devendo futebol. Tanto isso não é verdade, que as duas únicas defesas do goleiro croata foram de bolas mandadas para o gol pelo craque do Barcelona. Ademais, a falta de movimentação do Fenômeno e de Adriano limitaram bastante suas opções de jogada. Vi, no entanto, um Ronaldinho vibrante, ousado, atrevido e voluntarioso. Até marcou as saídas de bola adversárias, o que nunca foi sua característica e cobriu, em algumas oportunidades, os avanços de Roberto Carlos. Ocorre que, na prática, a Seleção jogou, ontem, com apenas nove jogadores. Ronaldo o Fenômeno e Adriano vestiram o uniforme, foram para o campo, cantaram o Hino Nacional, mas não jogaram. Foram espectadores privilegiados do jogo.

CORAÇÃO DE MENINO

O grande destaque do jogo de ontem contra a Croácia não foram nem Dida, nem Emerson, nem Kaká, nem Ronaldinho Gaúcho, que jogaram bem e garantiram a primeira vitória brasileira na Copa do Mundo. Foi um jogador muito contestado pelos torcedores e pela crítica, que garantem que ele está “velho” para jogar na Seleção Brasileira e vêm pedindo, há muito, sua substituição. No entanto, aos 43 minutos do segundo tempo, ele deu um pique da área do Brasil até a da Croácia, demonstrando um vigor físico invejável, num momento em que tanto seus companheiros, quanto os adversários, já se mostravam exaustos e com a língua de fora. Claro que me refiro ao capitão Cafu. Ontem, ele mostrou, mais do que nunca, uma aplicação, um empenho e uma técnica de causarem inveja. E isso aos 36 anos de idade! No último lance do ataque croata, no finzinho do jogo, quase aos 45 minutos do Segundo Tempo, foi ele que desarmou o perigoso Prso, da Croácia, praticamente na pequena área, quando este estava prestes a fazer o gol de empate, e quando o restante da defesa havia falhado. Cafu, o capitão, com a cabeça de um homem experiente, mas com coração de menino, é, portanto, o meu grande destaque desse jogo.

QUE VENHAM OS AUSTRALIANOS!

“Como será o próximo jogo do Brasil?”, perguntam, aflitos, os torcedores, preocupados com a Austrália. Minha expectativa é que a atuação da equipe seja melhor, muito melhor do que a da estréia. Que o Fenômeno, finalmente, desencante e pelo menos mostre a vontade que não mostrou ontem. Que Adriano sirva, realmente, de opção às jogadas feitas por Ronaldinho Gaúcho. Que Zé Roberto não se empolgue tanto e auxilie Emerson na cobertura da defesa, notadamente nos avanços de Roberto Carlos. E que aqueles que jogaram bem, repitam a boa performance. Não espero uma goleada, isto não. Espero, sim, um jogo duro, brigado, de muitas faltas, mas de muita garra da Seleção Brasileira. E que nossa equipe suba mais um degrau rumo ao hexa, não apenas no que se refere ao resultado, mas principalmente na evolução técnica. O que sair disso, para o bem ou para o mal, será para mim uma enorme surpresa!

RESPINGOS...

· Se a estréia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo não foi a esperada, a da França foi ainda pior. O empate, por 0 a 0, com a limitada Suíça, certamente não estava nos planos de nenhum francês.
· Com toda a bagunça, em termos de organização, fora de campo, gostei da seleção de Togo com a bola rolando. Mostrou lampejos de bom futebol, apesar da derrota para a Coréia do Sul, de virada, por 2 a 1. Faltou-lhe, é verdade, malícia. Mas isso ela só irá adquirir nas próximas Copas.
· Os sul-coreanos, por seu turno, mostraram o futebol de sempre: muita correria, muita marcação e muito empenho. Mas só. Mereceram vencer, é verdade, mas desta vez não irão muito longe.
· Zinedine Zidane “falou sozinho” no jogo de ontem contra a Suíça. Faltou “diálogo” dos demais jogadores. Foi, disparado, o destaque francês. Mas seus companheiros...não mostraram sequer vontade de ganhar.
· Acabo de assistir à estréia da “Fúria” espanhola contra a Ucrânia e sua atuação me encheu os olhos. Os 4 a 0 (a maior goleada da Copa) até que não fizeram justiça ao que a Espanha jogou. Será que está pintando a surpresa deste Mundial?

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

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