Wednesday, June 21, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
FUTEBOL PRAGMÁTICO E DE RESULTADO
A seleção portuguesa tem a cara do seu treinador, Luiz Felipe Scolari. Não é brilhante, não joga um futebol vistoso, não é apontada por ninguém como favorita para chegar às finais e sequer foi escolhida como cabeça de chave na Copa do Mundo. Mas, até aqui, cumpriu com eficiência o seu papel. Ao lado da Alemanha, teve 100% de aproveitamento, somando os nove pontos possíveis. Nas oitavas-de-final, a Holanda, sem dúvida, goza de favoritismo. Isto não quer dizer que já ganhou e que Portugal vai embora para casa já neste final de semana. Felipão sabe o que faz e, mesmo se perder, certamente venderá muito caro a derrota. Hoje, diante do México, Portugal fez apenas o suficiente para vencer, mas com méritos, por 2 a 1, poupando alguns dos titulares. Já Angola, que chegou desacreditada à Alemanha, por ser estreante em copas, se despediu com dignidade da competição. Perdeu apenas uma partida, justamente a da estréia, para a seleção portuguesa por apenas 1 a 0. Mas arrancou dois empates: contra o México e hoje, contra o Irã (1 a 1). Os mexicanos, sim, decepcionaram. Esperava-se muito mais de uma seleção que chegou a ser apontada como uma das favoritas para chegar às finais e foi cabeça de chave. Se, contra a Argentina, jogar apenas o que jogou hoje, será, fatalmente, humilhada.
UM ZERO A ZERO ENGANADOR
Em geral, as partidas que terminam empatadas em 0 a 0 costumam ser sonolentas, chatas e sem graça. Não foi, porém, o que aconteceu no jogo de hoje entre a Argentina e a Holanda, o primeiro grande clássico desta Copa do Mundo. As duas equipes, cada qual com seu respectivo estilo, mereceram fazer pelo menos um golzinho. Este não saiu apenas por mera questão de circunstância. Chances, e muito boas, foram criadas por ambas as seleções. A Argentina mostrou um futebol mais técnico, mais vistoso, mais plástico e bonito de se ver, embora também tenha mostrado pegada. O que chamou em especial a atenção foi a sua velocidade, com muita movimentação de toda a equipe. Os méritos da Holanda, por seu turno, foram a ferrenha e implacável marcação da sua boa defesa e o acerto nos passes. Faltou-lhe, é verdade, agressividade no ataque, o que, provavelmente, aconteceu por causa da ausência do seu principal astro, Robben. Se jogar a metade do que jogou hoje, a Argentina passa, fácil, por cima do México.
SÉRVIA SÓ DEU VEXAME
De todas as 32 seleções presentes na Copa do Mundo, a grande decepção foi a da Sérvia-Montenegro, o que reflete a decadência da herdeira do grande futebol iugoslavo (o próprio país está decadente). Não somou nenhum ponto, marcou dois gols, tomou dez e volta mais cedo para casa, sem dizer a que veio. Depois do vexame do jogo anterior, quando levou uma inesquecível sova, de 6 a 0, da Argentina, hoje deu outra mancada. Ganhando por 2 a 0 da excelente equipe da Costa do Marfim, não teve forças, interesse e competência para segurar o resultado. Permitiu a virada dos marfinenses, com seu zagueiro cometendo dois pênaltis claros, absurdos, desnecessários e infantis. A seleção africana, por seu turno, fez uma estréia razoável em copas do mundo. Só não foi mais longe porque teve a infelicidade de cair num grupo que tinha Holanda e Argentina, o que foi uma pena. Pagou pelo noviciado. Mas mostrou que o futebol da África continua em evolução e que, não vai tardar muito, fatalmente terá um campeão do mundo. É mera questão de tempo.
DECISÃO DO VERDADEIRO “GRUPO DA MORTE”
Será amanhã a decisão do verdadeiro “Grupo da Morte”, o D, de onde vai sair o próximo adversário da Seleção Brasileira nas oitavas-de-final. Matematicamente, as quatro seleções têm chance, embora, teoricamente, as possibilidades maiores sejam as de Gana e da República Checa. Mas não ficarei nada surpreso se os dois classificados forem a Itália e os Estados Unidos. Italianos e checos terão um duelo de vida ou morte, em que qualquer erro pode ser fatal. Promete ser um jogo brigado, amarrado, viril, violento até, dificílimo de ser arbitrado. A despeito da enorme garra que os norte-americanos mostraram diante da Azurra, acredito que a técnica de Gana deverá prevalecer. Bem que a África merece que pelo menos um dos seus cinco representantes passe para as oitavas-de-final. A rigor, não se pode dizer que qualquer das seleções africanas (inclusive Togo) tenha decepcionado. Doravante, é mister que se fique de olho nesse futebol emergente, com vistas à Copa de 2010, que será disputada nesse continente, mais especificamente na África do Sul.
REDENÇÃO OU MAIS SOFRIMENTO?
Estivesse a Seleção Brasileira bem condicionada, com seus principais jogadores (como os dois Ronaldos e Adriano) na melhor forma física e técnica, e o jogo de amanhã, diante do Japão, não seria mais do que um treino de luxo para as oitavas-de-final. Como ficou devendo, e muito, nos jogos anteriores, diante da Croácia e da Austrália, essa partida será a das expectativas. Pode dissipar o pessimismo que já começa a tomar conta de boa parte dos brasileiros, caso os comandados de Carlos Alberto Parreira tenham uma atuação convincente, ou se constituir em mais sofrimentos para a torcida, frente a um adversário que tem se mostrado fatalista para o Brasil. Os japoneses já nos derrotaram em uma olimpíada e nos deram um calorão tremendo no ano passado, na Copa das Confederações, quando os eliminamos graças a um providencial erro de arbitragem. Em condições normais, o Japão não daria para o páreo. Atualmente... No outro jogo do grupo, minha expectativa é que a Austrália derrote a Croácia e passe para a próxima fase. Mostrou mais disposição e motivação do que os croatas, embora tecnicamente seja inferior à seleção européia.
DISTANTES DA ARTILHARIA
A menos que o ataque brasileiro desencante, já a partir de amanhã, e tenha atuações arrasadoras nos próximos jogos, dificilmente o Brasil conseguirá fazer o artilheiro desta Copa do Mundo. Nossa Seleção fez, até aqui, míseros três gols e com três jogadores diferentes: Kaká, Adriano e Fred. Enquanto isso, o alemão Klose já disparou na dianteira, fazendo quatro, seguido bem de perto pelo espanhol Fernando Torres, com três. É certo que as respectivas seleções dos dois goleadores do Mundial enfrentaram, até aqui, defesas medíocres, fáceis de serem vazadas. Já Ronaldo, o Fenômeno, a apenas três gols de se tornar o maior artilheiro de todas as copas, dificilmente conseguirá essa façanha. Está fora de forma, desmotivado e sobretudo agastado pelas críticas (algumas maldosas e descabidas) de que tem sido alvo há já um bom tempo. Adriano, outra aposta brasileira para disputar a artilharia, igualmente atravessa uma fase nada produtiva, desde a metade do Campeonato Italiano. Restaria Ronaldinho Gaúcho, que não é de marcar muitos gols. Vai daí...
RESPINGOS...
· Carlos Alberto Parreira resolveu fazer charminho e deixou para revelar a escalação da Seleção Brasileira somente amanhã, nos vestiários, momentos antes do jogo contra o Japão. Claro que é uma grande bobagem!
· O Corinthians está bobeando e pode perder o bom centro-avante Nilmar. A MSI havia anunciado o acerto com os franceses para ficar com o jogador. Só que, na verdade, ainda não acertou coisíssima alguma.
· O Guarani dispensou 13 jogadores do seu plantel e promete dispensar mais seis. Entre os mais conhecidos, deixaram o Brinco de Ouro o zagueiro Sandro, o lateral Nelsinho, o meio-campista Edmilson Jr (que voltou para o Santos) e o centro-avante Fábio Reis (devolvido ao São Caetano).
· A Ponte Preta também anunciou três dispensas. Alan, Leandro e Caio receberam o clássico bilhete azul.
· Por falar na Macaca, a torcida espera, com grande expectativa, a chegada de um zagueiro experiente, para ser o novo xerifão da defesa, em substituição a Rafael Santos, que será negociado com um time do exterior. Tudo indica que a missão vai recair nos ombros de César, aliás revelação da própria Ponte Preta, que joga, atualmente, no Tenerife da Espanha.
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
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