Sunday, June 11, 2006

TOQUE DE LETRA



Pedro J. Bondaczuk



BAIXO NÍVEL E POUCA EMOÇÃO

No terceiro dia de disputas da Copa do Mundo, já tivemos a oportunidade de ver metade das 32 seleções que disputam a competição, ou seja, 16 delas, e pudemos constatar que o nível técnico é dos mais baixos. Se levarmos em conta a presença de seleções de futebol primaríssimo, como são os casos de Trinidad e Tobago e de Angola, o número de gols marcados foi muito baixo e decepcionante. A melhor partida, até aqui, sem nenhuma dúvida, foi a disputada entre a Argentina e a Costa do Marfim, que os argentinos venceram na base da experiência e da manha, com uma exibição apenas discreta. A pior, foi o empate da zebra caribenha, Trinidad e Tobago, com a Suécia, por 0 a 0. O ataque mais eficiente foi o da anfitriã da Copa, a Alemanha, (embora deva se levar em conta a fragilidade da defesa do adversário que enfrentou) que fez quatro contra a Costa Rica. Mas a grande decepção desse início de competição foi, sem dúvida, a equipe comandada pelo Filipão, a seleção de Portugal. Claro que se deve dar um desconto a todas as 16 seleções , levando em conta o nervosismo de um jogo de estréia. Mas eu esperava mais, muito mais de oito dos selecionados que vi: Portugal, Argentina, México, Holanda, Sérvia-Montenegro, Inglaterra, Polônia e Suécia.

SENSAÇÃO HOLANDESA

O jogador Roben constituiu-se na sensação holandesa, e da Copa do Mundo até aqui, no jogo em que o selecionado do seu país venceu Sérvia-Montenegro por 1 a 0. Aliás, foi a única atração entre os 22 jogadores e mais os que entraram no decorrer do jogo. A “laranja mecânica” até que começou a partida a mil por hora. Parecia que iria triturar a equipe sérvia. Teve dez ou quinze minutos brilhantes, dinâmicos, de alto quilate técnico. Após o belo gol de Roben, no entanto, estranhamente, parou de jogar. Foi reduzindo, reduzindo e reduzindo o seu ritmo, até quase parar. Terminou a partida se arrastando em campo. Pelo cartel dos dois contendores, eu esperava muito desse jogo. Decepcionei-me. A Sérvia, por sua vez, teve uma jornada de baixíssima inspiração ofensiva. Quase não incomodou a defesa holandesa. Ciscou, ciscou, ciscou, mas pouco produziu. Se apresentarem esse mesmo futebol da estréia, nenhuma das duas seleções será páreo nem para a Argentina e nem para a vibrante Costa do Marfim. Ou ambas melhoram no próximo jogo ou... voltarão mais cedo para casa.

FEZ A LIÇÃO DE CASA

O México, mesmo jogando apenas para “o gasto”, pelo menos fez a lição de casa e derrotou o esforçado Irã (que apresentou nítida evolução técnica em relação às copas passadas), por um convincente placar de 3 a 1. Perdeu, no entanto, sua maior estrela, o matador Borgheti, que saiu contundido e provavelmente não irá atuar contra Angola na próxima semana. Os mexicanos começaram o jogo nitidamente nervosos e demoraram para fazer o gol. O nervosismo cresceu ainda mais depois que os iranianos empataram a partida. A entrada do brasileiro Zinha, no início do segundo tempo, todavia, foi decisiva. Ele fez a assistência do gol de desempate e, de quebra, fez também o seu, com uma bela cabeçada. O Irã cansou no segundo tempo e não repetiu o bom futebol do primeiro. Tem que evoluir muito, portanto, no que diz respeito à preparação física. Mas não decepcionou. Fez o que se esperava dele, nada mais e nada menos.

PORTUGUESES TREMERAM NA BASE

Quando Portugal fez seu gol, logo aos quatro minutos de jogo, após uma sucessão de erros primários da defesa angolana, eu (e creio que o mundo todo) esperava uma goleada histórica e consagradora dos comandados de Felipão. Ledo engano! Os portugueses repetiram as mesmíssimas falhas da Copa passada. Cada jogador queria decidir a partida sozinho, se esquecendo que o futebol é um esporte coletivo. Muitos tremeram nitidamente na base, cometendo erros infantis, diante de um adversário muito ruim. Tecnicamente, a seleção de Angola conseguiu mostrar menos futebol até do que Trinidad e Tobago. Fosse, por exemplo, o México o adversário de Portugal, e a esta altura nossos patrícios estariam lamentando uma derrota e não comemorando uma magérrima vitória. A equipe provavelmente passará sem sustos para a fase seguinte, mas não terá vida longa nesta Copa. A menos que mude muito, mas muito mesmo, daqui para a frente e passe a jogar futebol. O que jogou ontem não passou de pelada, e das ruins, de final de semana.

DE OLHO NOS ADVERSÁRIOS

A principal atração de amanhã, na Copa do Mundo, para nós, brasileiros, obviamente é o jogo envolvendo dois dos nossos próximos adversários, Japão e Austrália. Será o confronto entre a velocidade japonesa e a marcação ríspida, não raro violenta, dos australianos. Claro que nenhuma das duas é uma seleção de ponta. Não espero, pois, um primor de técnica que, convenhamos, ambas sequer têm. A principal atração da partida, sem dúvida, será a presença de um dos maiores ídolos do futebol brasileiro de todos os tempos, Zico, agora no banco de reserva dos nipônicos, comandando o onze asiático. Pelo menos em teoria, se houver um vencedor, neste jogo de amanhã, este dará um passo decisivo para se classificar para a próxima fase da competição. Espero, pois, um jogo brigado, de muita correria e de um sem-número de faltas. Todavia, entre a força e a habilidade, aposto nesta última. Deve dar Japão, mas sem nenhuma folga.

TESTE PARA A AZURRA

O segundo, dos dois jogos de amanhã, entre República Checa e EUA, não promete ser grande coisa. Apesar dos norte-americanos serem useiros e vezeiros em aprontar surpresas em jogos da Copa, aposto todas as minhas fichas na seleção européia que vive, atualmente, um melhor momento. O jogo seguinte, o último do dia, envolvendo a sempre candidata ao título Itália e a estreante e boa equipe de Gana, sim promete muitas emoções. Será um grande teste para a esquadra azurra, principalmente para a sua peça ofensiva, que deixa ainda muitas dúvidas na cabeça dos torcedores. Os ganenses, embora compareçam pela primeira vez a uma Copa do Mundo, já conquistaram um ou dois mundiais Sub-20 e fizeram misérias em Olimpíadas. Se não sentirem a estréia, devem dar um calorão daqueles na Itália. Mas creio numa vitória apertada dos tricampeões mundiais. Nestas horas, camisa e tradição pesam demais.

RESPINGOS...

· O gol mais bonito da Copa, até aqui, foi o primeiro da Alemanha, contra a Costa Rica, marcado pelo lateral-esquerdo alemão Lahm. Um golaço!
· Ao contrário do que eu esperava, os oito jogos disputados até aqui quase não apresentaram lances violentos. O pior, e que mereceu a única expulsão ocorrida na competição, envolvendo um jogador de Trinidad e Tobago, cujo nome não me recordo, foi mais fruto de ruindade técnica do que de eventual maldade...
· O zagueiro que mais me chamou a atenção nos oito jogos da Copa foi Ayala, da Seleção Argentina. Sua atuação, diante da Costa do Marfim, foi impecável.
· O jogador que, de fato, desequilibrou uma partida, com uma atuação que chegou a entusiasmar, foi Roben, da Holanda, no jogo de hoje contra a Sérvia-Montenegro. Por isso, foi premiado com um belíssimo gol, aliás o único do jogo, que valeu a primeira vitória da sua seleção.
· A Seleção Brasileira já está em Berlim, palco da estréia dos comandados de Carlos Alberto Parreira, na terça-feira, diante da grande incógnita que é a Croácia.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

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