Monday, April 30, 2007

TOQUE DE LETRA







Pedro J. Bondaczuk

(Fotos: Arquivo)

BYE, BYE, MATADOR

Encerrou-se, oficialmente, no sábado, o ciclo do matador Finazzi com a camisa da Ponte Preta. O atleta deixa o Majestoso, para defender o Corinthians no Campeonato Brasileiro da Série A, cumprindo o objetivo da sua contratação. Ou seja, fazendo gols. Foi, não somente, o artilheiro da Macaca, mas também o vice de toda a competição, o Paulistão da Série A-1, atrás, apenas, de Somália, do surpreendente São Caetano. Nada mau para um jogador de 33 anos, limitado tecnicamente, mas com incrível visão de gol. É verdade que tinha mais, muito mais futebol a oferecer à Ponte. Em diversas partidas teve atuações apenas discretas e em outras, muito ruins até. Ainda assim, cumpriu seu papel: acumulou 12 gols e, não houvesse perdido dois pênaltis, certamente seria o dono da artilharia do Campeonato Paulista. A Ponte Preta movimenta-se, agora, para contratar um substituto à altura para Finazzi. Dificilmente conseguirá um sequer parecido. Não sobram matadores por aí. Comenta-se a possibilidade da vinda de Clayton, que subiu para a Série A-1 com o Rio Preto. Entendo que seja uma boa pedida, sem dúvida. Mas que o Finagol fará muita falta, disso não tenho a menor dúvida. Boa sorte, matador!!!

TEREMOS DERBI EM 2008

O Guarani contrariou todos os prognósticos e, com um time tecnicamente limitado, mas contando com um técnico vencedor, conquistou o que há até uma semana parecia apenas um sonho: o seu retorno para a Série A-1 em 2008. A conquista deu-se com uma vitória suada, dramática, sofrida, ontem, a única da fase decisiva, diante do lutador São José que, mesmo atuando no Brinco de Ouro, vendeu caro a derrota por 2 a 1. Está de parabéns, portanto, toda a comunidade bugrina, em especial a sua fiel e apaixonada torcida, que não abandonou o Bugre nem nos seus piores momentos. Trata-se de uma vitória do futebol de Campinas, que teve um ano terrível em 2007. Com a volta do Guarani para a elite do futebol paulista, a cidade volta a ter seu grande derbi, na próxima temporada. Agora é a vez da Ponte Preta de se desdobrar, de fazer das tripas coração para assegurar o retorno à principal divisão do futebol brasileiro. Aposto todas as minhas fichas na Macaca!

À ESPERA DE REFORÇOS

O assunto de momento, pelos lados do Majestoso, é a possível chegada de reforços para o Campeonato Brasileiro da Série B. Por enquanto, apenas duas contratações estão confirmadas: Júlio César, ala direita do Bragantino e Ale, meio-campista do Guaratinguetá. Mas as especulações rolam soltas pela cidade e é grande a expectativa pela chegada de novos atletas, para suprir nítidas deficiências mostradas pela equipe no correr do recém-findo Campeonato Paulista. Com a saída, confirmada, de Finazzi, a prioridade, claro, passa a ser a vinda de um matador, para substituir o que deixa a Ponte Preta, onde já era ídolo. Falou-se, inicialmente, na contratação de Marcelo, do Madureira. Sua atuação no Campeonato Carioca, todavia, valorizou muito o atleta e tornou inviável, financeiramente, a sua aquisição. A bola da vez passa a ser Clayton, do Rio Preto, além de Otacílio Neto, do Noroeste. Comenta-se, também, que Michel e Alex, igualmente do Guaratinguetá, estariam de malas prontas, rumo ao Moisés Lucarelli. Só nos resta aguardar.

CRUZEIRO É GOLEADO NA DECISÃO

Que o atual time do Cruzeiro é fraco, em especial em seu sistema defensivo, não é novidade para ninguém. Todavia, nem o mais pessimista dos seus torcedores poderia prever o que aconteceu ontem, no Mineirão, no primeiro jogo das finais do Campeonato Mineiro. O time estrelado foi humilhado pelo rival, o Atlético, que lhe aplicou uma sonora goleada, por 4 a 0, com direito a olé. De quebra, a raposa perdeu seu treinador, Paulo Autuori, que entregou o cargo após o jogo, se dizendo “envergonhado” pelo vexame dos seus comandados. Há tempos que o Cruzeiro virou autêntico “balcão de negócios”. Mal algum jogador começa a se destacar, é logo negociado, quer no mercado interno, quer, e principalmente, no do exterior. Dessa forma, fica impossível formar um grupo entrosado e competitivo. A menos que a sua diretoria mude esse comportamento, o Cruzeiro terá sérios problemas no Campeonato Brasileiro da Série A, que começa em menos de duas semanas.

RESGATE DO FUTEBOL CARIOCA

O clássico de ontem, no Maracanã, envolvendo Flamengo e Botafogo, pela decisão do título do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro de 2007, pode significar o resgate do futebol carioca, que nos últimos anos esteve no fundo do poço, com seus times se limitando a lutar pela mera permanência na elite nacional. Foi um jogo emocionante, para ninguém botar defeito, e o resultado não poderia ser outro: empate, por 2 a 2. É verdade que Vasco e Fluminense continuam em crise, às vésperas do Brasileirão. Todavia, tratam-se de clubes tradicionais, que, certamente, vão procurar se reforçar, para não fazerem feio na principal competição das Américas. O Botafogo, além de se classificar para a disputa do bi-campeonato, tem grandes chances de conquistar a Copa do Brasil . Já o Flamengo se classificou, com folga, para a fase do mata-mata na Copa Libertadores da América e sonhar chegar mais longe. Que os clubes paulistas, portanto, se acautelem com os cariocas no próximo Campeonato Brasileiro, especialmente com o tradicional clube da estrela solitária e com o rubro-negro da Gávea, de tantas glórias e tradições.

AZULÃO A UM PASSO DO TÍTULO

O São Caetano confirmou, ontem, diante do Santos, no Morumbi, que a goleada que aplicou no São Paulo, há uma semana, não foi fruto do acaso. Dos quatro classificados para as finais do Campeonato Paulista desta temporada, foi o que mostrou futebol mais prático, eficiente e agressivo. O Azulão jogou, ontem, como autêntico campeão, embora nada ainda esteja decidido, vencendo os comandados de Wanderley Luxemburgo com propriedade, por 2 a 0. O Santos, para aspirar ao bi-campeonato, terá que vencer o jogo do próximo fim de semana, por uma diferença de, no mínimo, dois gols, tarefa que, convenhamos, se não é impossível, é dificílima, principalmente em decorrência do que o São Caetano vem jogando. Mas para reverter a desvantagem, terá que jogar mais, muito mais do que jogou nas últimas três partidas, quando se mostrou um time nervoso, burocrático, sonolento e sem vibração. Enfim... No futebol não há nem perdedores e nem vencedores de véspera. Mas pelo que vi ontem, me arrisco a dizer que a taça de campeão da temporada já tem um destino quase certo: a sala de troféus do Estádio Anacleto Campanella.

RESPINGOS...

· Outro pequeno, disposto a fazer história, é o Paranavaí. Venceu, ontem, o primeiro jogo da decisão do Campeonato Paranaense, diante do Paraná, por 1 a 0, em seus domínios.
· Jogo emocionante foi o disputado entre o Grêmio e o Juventude, em Caxias do Sul, pela disputa do título gaúcho da temporada. O empate de 3 a 3 reflete com precisão o que foi essa partida.
· E o Corinthians continua mais agitado do que um vespeiro. Fala-se, até, em pedido de impeachment do presidente Alberto Dualibi, e isso às vésperas do início do Campeonato Brasileiro.
· O São Paulo tem um desafio imenso, pela Copa Libertadores da América. Terá que eliminar o enjoado Grêmio, caso aspire alguma coisa a mais na competição. O primeiro jogo entre ambos já será depois de amanhã, no Morumbi.
· Um time que deve dar bastante trabalho no Campeonato Brasileiro da Série B, é o Vitória. Olho nele! O rubro-negro baiano está com um ataque arrasador, embora sua defesa não seja lá essas coisas.

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


O homem pode ter progredido tecnologicamente. Aliás, isto não há como negar. Produziu maravilhas, que no passado jamais passaram pela mais alucinada fantasia dos sonhadores. Mas, em termos morais, de profundidade de pensamento, de riqueza interior, caminhou (e muito) para trás. E alguns indícios demonstram que regrediu aos tempos anteriores até ao de seus ancestrais das cavernas, que cultuavam suas divindades e distinguiam, pelo menos, o sagrado do profano. Hoje, boa parte das pessoas já não sabe, não pode ou nem quer fazer essa distinção. Pobre mundo maluco e sem rumo...!!!

Ouse mostrar seu talento


Pedro J. Bondaczuk


A natureza dotou todos os seres humanos (sem nenhuma exceção) de determinadas aptidões, de um certo potencial produtivo, de um dom natural que precisa, no entanto, ser detectado, cultivado, aperfeiçoado, desenvolvido e exercitado, para poder produzir efeitos.
Uns têm facilidade, por exemplo, para trabalhos manuais, realizando maravilhas com as mãos, criando peças artesanais de surpreendente beleza e praticidade. Outros, têm ouvido para a música, ou para compor, ou para cantar, ou para executar um ou vários instrumentos. Há os que têm vocação para a literatura (poesia, conto, romance, teatro, ensaio), para as artes plásticas, para a economia e finanças, para a política, para o direito, para a medicina etc. Os dons são tantos quantos as pessoas que há no mundo.
Por mais humilde (e aparentemente bronco) que um indivíduo possa parecer, bem no fundo de sua mente, às vezes escondida nas profundezas do subconsciente, entre tantas idéias, tantos pensamentos e tantas emoções, ele possui alguma aptidão, por mínima que seja, que certamente não descobriu qual é, mas que está lá, à espera da descoberta, do cultivo e do desenvolvimento.
Raros, todavia, têm a felicidade de descobri-la(s) ainda na infância. Alguns fazem essa descoberta na juventude, desenvolvem esse potencial, batalham por seu sonho, ousam e findam por produzir obras marcantes, que sobrevivem ao tempo e ao espaço: à sua morte.
A maioria, chega a essa constatação na maturidade, recupera o tempo perdido e luze. Existem, porém, os que deixam as verdadeiras vocações, aquilo que sabem fazer de melhor, para ser cultivado mais tarde, muito mais tarde, depois que constituem família, geram, criam, educam e encaminham os filhos e cumprem, portanto, o que entendem como sua “principal missão” no mundo. Muitos têm tempo para isso e aproveitam. Outros são colhidos antes pela morte e deixam de concretizar seu verdadeiro potencial.
Há, é claro, os que nunca descobrem as verdadeiras aptidões, por uma série de motivos e de circunstâncias e que chegam à fase crítica de vida, quando deveriam colher os frutos do que semearam, sem ter qualquer colheita a fazer, a não ser a de cardos e de espinhos das decepções e das frustrações.
É a essa aptidão inata, a esse potencial a ser desenvolvido, que se denomina de “talento”. O significado dessa palavra, de acordo com o dicionário, é: “dom natural ou habilidade adquirida; inteligência excepcional”. Jesus Cristo, em sua passagem pelo mundo, legou à humanidade, entre tantos e sapientíssimos ensinamentos, uma das mais sublimes lições a esse respeito, através de memorável parábola.
Narrou que determinado senhor, tendo que viajar, deu uma quantia em dinheiro a três de seus servos (representada pela moeda romana de maior valor na época, o talento). Um recebeu três, outro duas e o terceiro apenas uma. Cada qual fez, com esse capital, o que achou melhor. Os ousados, procuraram multiplicá-lo. O tímido e inseguro, por seu turno, preferiu guardar o que havia ganhado, e de uma forma bastante peculiar e reveladora do seu caráter.
O primeiro dos servos aplicou seu dinheiro a juros. O segundo, emprestou-o, com a condição de receber dividendos desse empréstimo. O terceiro, porém, resolveu enterrar o que havia ganhado, para não correr o risco de perder esse capital ou de ser eventualmente roubado, já que seu senhor era extremamente severo nessas questões.
Quando o patrão regressou da viagem, exigiu a prestação de contas dos três servidores. O servo que aplicou o capital a juros pôde apresentar, como resultado, um lucro do dobro da quantia aplicada. Quem emprestou, teve resultado idêntico. Só não lucrou nada, no entanto, o que havia enterrado o seu talento. Desse, o senhor confiscou a única moeda que lhe havia dado, pois mostrou absoluta falta de iniciativa, o que ele não tolerava.
Assim somos nós. Alguns têm várias aptidões. Arriscam-se, expõem-se, fracassam às vezes, não raro sofrem frustrações, mas chegam, finalmente, ao sucesso, mesmo que por caminhos tortuosos. Adquirem, no meio da jornada, várias outras virtudes que não tinham no início. São vencedores!
Há os que não nascem com tantos dons assim, mas cultivam os que têm e também são bem-sucedidos. Todavia, a grande maioria das pessoas “enterra” o seu talento, joga o seu tempo fora, limita-se a procurar justificativas ou a apontar culpados para os fracassos que constroem com a própria inércia, covardia e medo de se expor e findam seus dias amargos, ressentidos e infelizes.
Nunca é tarde para descobrir, cultivar, desenvolver e expor suas aptidões. Estude, leia, raciocine, escreva, componha, toque algum instrumento, empenhe-se, trabalhe, planeje, sonhe, mas, sobretudo, viva! E execute! Tenha a idade que tiver (essa não é uma questão cronológica), aplique, com coragem e determinação, “o capital” que recebeu ao nascer. Não tenha medo de mostrar ao mundo o seu talento, seja ele qual for!

Sunday, April 29, 2007

REFLEXÃO DO DIA


A indústria cinematográfica vive, a exemplo de tantas outras atividades (políticas, econômicas ou artísticas) enorme crise de qualidade e, principalmente, de criatividade. Não é por acaso que baboseiras do tipo “Sexta-Feira 13”, “Rambo”, “Casa do Espanto” e tantas outras coisas tolas sejam produzidas em série, refletindo uma falta de imaginação contundente, infelizmente aceita, passivamente, pelo público. De uns tempos a esta parte, uma nova tendência vem se manifestando vagarosa, mas inexoravelmente, com algumas características piores ainda, perigosas, por se brincar com coisas muito sérias, que alguns celerados não sabem respeitar. Determinados produtores, ávidos por publicidade, estão investindo contra a religião. Misturam o sagrado e o profano em um único e podre balaio. E isso, além de não trazer proveito para ninguém, ofende os que têm convicções arraigadas e exigem respeito por suas crenças.

Heroísmo até na luta para viver


Pedro J. Bondaczuk


Os atos de verdadeiro heroísmo, no mundo contemporâneo, caracterizado pela massificação e por uma enorme ausência de solidariedade, são cada vez mais escassos. Todavia, vez por outra, chega à imprensa alguma informação acerca de atitudes realmente grandiosas, que merecem registro, pela raridade.

Uma dessas foi a do piloto de helicóptero soviético Anatoly Grischshenko, de 53 anos. Os autênticos heróis aparecem somente nos momentos de necessidade. Antes, não possuem nenhum sinal especial, não ostentam qualquer “estrela na testa” que os distingam dos demais mortais. Quando surge a ocasião, lá estão eles presentes, praticando atos de bravura autêntica em favor dos semelhantes. Não se perdem em valentias ou bravatas.

Foi o que aconteceu com Grischshenko. Quando em 26 de abril de 1986 o reator número quatro da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu e pegou fogo (por causa da realização de experiências, não-autorizadas, por parte de alguns funcionários), todos os que podiam escapar do local fizeram isso mais do que depressa.

O acidente foi o mais grave da história do uso pacífico da energia atômica. Uma nuvem de radiação mortal escapou da unidade acidentada e foi de tal porte que deu várias voltas no mundo. Mas alguém precisava fazer alguma coisa para impedir que a tragédia ganhasse proporções maiores. A unidade acidentava precisava, por exemplo, ser sepultada sob um túmulo de toneladas de concreto. Mas quem faria isso?

Grischshenko aceitou essa tarefa. Sabia o que estava arriscando. Tinha consciência dos efeitos da radiação sobre o organismo humano. Mas milhares, talvez milhões de pessoas estavam correndo esse mesmo risco, impotentes, se algo não fosse feito urgentemente.

O piloto soviético não titubeou em arriscar a vida, mesmo tendo família para cuidar. Pilotando um helicóptero, sobrevoou por várias vezes o reator em chamas, lançando toneladas de concreto sobre ele. Não tardou muito para que a conseqüência do seu ato corajoso se manifestasse.

Ele adquiriu dois tipos de leucemia, em geral fatais. Mesmo assim, não se entregou. Passou a lutar, desesperadamente, desta vez pela própria sobrevivência, com a mesma garra empenhada na tarefa de salvar os outros.

Em abril de 1990, o piloto foi internado no Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson, em Seattle, no Estado norte-americano de Washington. Passou por dois transplantes de medula e quando parecia que iria se recuperar, foi acometido por fungos nos pulmões.

Resistiu, bravamente, mediante um respirador artificial, por 14 dias, quando normalmente qualquer pessoa morreria em dois. Em 2 de julho de 1990, finalmente, este raro herói contemporâneo morreu. Deixou o mundo com a mesma bravura com que viveu. Que possa descansar em paz, ciente de que sobreviverá na memória dos que salvou.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 4 de julho de 1990).

Saturday, April 28, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Por qualquer parâmetro que se meça, não há um único fato que permita se classificar uma etnia como superior a outra, naquilo que as pessoas têm de fundamental: a sua capacidade de pensar. E essa verdade tão simples, cristalina e óbvia, parece ser de grande complexidade para cidadãos que se julgam muito inteligentes. Afinal, quem é superior a quem e por que? Somos seres transitórios e efêmeros e é loucura querermos nos igualar à divindade, julgando-nos mais fortes, ou mais belos, ou mais sábios ou qualquer outra coisa em que nos julguemos superiores aos nossos semelhantes. Devemos, isto sim, buscar ser os mais bondosos, os mais piedosos, os mais caridosos e os mais solidários. Aí, sim, reside um importante diferencial.

Impregnação


Pedro J. Bondaczuk


Na tarde sonolenta e fria
de inverno, meu pensamento,
agudo, insolente e vagabundo,
vagava na profunda amplidão azul.

Devassava os mistérios do tempo,
apossava-se de interditas lembranças,
revivia os momentos sepultos
sob o peso de toneladas de dias.

Uma canção dissonante, nostálgica,
soava, surdia e vibrava no ar,
exótica, selvagem, incontrolável
como ondas de irresistível tsunami.

Sutilima aura dançava, graciosa,
a lúbrica dança dos sete véus,
no palco dos meus cabelos revoltos:
mágica sensação de vigorosa euforia.

Um perfume adocicado de saudade
fazia-me zombar da atroz solidão.
Acompanhava-me um coro de fantasmas:
cantava hosanas a um imperecível amor.

Você é vida, você é desejo, você é eterna,
na pífia eternidade dos homens,
porquanto sua pele, seu perfume e sua voz
estão, pra sempre, impregnados em meu ser.

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 23 de junho de 1964).

Friday, April 27, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Há, neste momento, milhares de crianças driblando carros, nos cruzamentos das grandes avenidas, com uma flanela nas mãos ou carregando limões, chocolates, frutas ou balas para vender, à cata de alguns trocados. Algumas sequer sabem onde estão, drogadas com cola de sapateiro, quando não outros tóxicos mais fortes. Há quem esteja à espreita dos incautos, ou indefesos, para lhes surrupiar a carteira. Estes, em geral, estão a soldo de marginais adultos, que os exploram. Abordo problemas, como este, não por ser pessimista, mas porque acredito que só pessoas conscientes e bem-informadas são capazes de atuar com eficiência na realidade e mudar o que está errado. O tratamento de qualquer doença começa pelo rigoroso diagnóstico. Cá para nós: que terrível é a infância do abandono, do desamor, da ausência de perspectivas e de dignidade! Como fechar os olhos e escrever bem-humorado sobre isso?!!

Ganhos e perdas


Pedro J. Bondaczuk

A nossa vida é constituída de ganhos (poucos e transitórios) e perdas (muitas e inexoráveis e definitivas). Conquistamos (quando o fazemos), com imensos sacrifícios, sucessos, fama, fortuna, amizades e amores, mas raros de nós os usufruem por muito tempo. E ninguém os tem para sempre. Aliás, esta palavra “sempre” é por demais ambígua para ser utilizada por nós, seres perecíveis, efêmeros e passageiros. Nada, para nós, é duradouro, perpétuo e/ou permanente.
Entre as maiores perdas que se abatem sobre nós, está, claro, a morte. A nossa ou, então, a das pessoas que amamos. E esta última dói mais, já que, com a nossa, não sentimos mais nada. Deixamos de amar, de odiar, de ter ambições, de sentir alegrias, saudades ou raivas etc. Deixamos, em suma, de “ser”. Mas a morte de quem amamos, deixa-nos um sentimento de frustração, um buraco no peito, um vazio na alma que nada e ninguém conseguem preencher.
Amo extremadamente a vida, com todas as suas dores, circunstâncias e perdas. Por isso não gosto de falar e, sobretudo, de escrever sobre seu antípoda. A morte é um assunto que abomino. Claro que, por se tratar de uma realidade da nossa existência, há circunstâncias em que, por mais que queira, não consigo fugir do tema. Mas minha opinião sobre ela (se é que vale alguma coisa), é das piores. Assemelha-se, por exemplo, à do médico psiquiatra e escritor Roberto Freire (não confundir com seu homônimo político).
Numa memorável crônica, publicada em sua coluna diária no extinto jornal “Última Hora”, de São Paulo, intitulada “O post último S. S. Show”, sobre o falecimento do jornalista e entrevistador de TV Silveira Sampaio, no dia 25 de novembro de 1964, o citado colunista assim se expressou a respeito: “A morte é feia, burra, medíocre, suja, desleal, grossa, parcial, desonesta, arbitrária, injusta, covarde, chata, indecorosa, infiel, premeditada, viciosa, incômoda, óbvia, incomunicável, cafajeste, ladra, assassina, extorsiva, ingrata, irresponsável, pretensiosa, caloteira, agressiva, mentirosa, imoral, amoral, torpe, pérfida, cretina, reacionária, antipática, lúgubre, atrevida, alienada, gulosa, quadrada e pornográfica! Enfim, o que a gente pensa sobre a tinhosa, não fosse a necessidade de atendermos a certas imposições de ordem moral da lei de imprensa, poderia ser simplesmente resumido no mais eficiente e definitivo dos palavrões. Aquele, vocês sabem!”.
Peço licença ao prolífico e criativo escritor – autor dos livros “Cleo e Daniel” (transposto para o cinema com um elenco de famosos, entre os quais destaco Sônia Braga, John Herbert e Myriam Muniz), “Sem entrada e sem mais nada”, “Coiote”, “Utopia e paixão”, “Sem tesão não há solução” e “Ame e dê vexame” – para me apropriar dessas suas palavras.
Perdi, em 25 de março passado (há, portanto, apenas um mês), uma das pessoas que mais amei na vida (e continuarei amando enquanto existir), seguramente aquela com a qual mais me identifiquei, inclusive abstraindo a hierarquia familiar: meu pai, Ananii Bondaczuk. Foi o amigo mais leal, sincero, cristalino e nobre que já tive. A nossa era uma amizade total, absoluta e irrestrita. Falávamos de tudo. Não tínhamos temas tabus. Concordávamos na maioria dos assuntos. Divergíamos, óbvio, em muitos, mas sempre com o respeito devido às opiniões mútuas, prerrogativa de pessoas inteligentes e sensíveis que se amam, se admiram e se respeitam e que aprenderam a conviver com suas diferenças. Raros têm o privilégio de conquistar amizades desse tipo. Mais raros ainda são os que as conservam para sempre.
A despeito de nos tratarmos em absoluto pé de igualdade, tudo o que sou de bom devo a ele. E o que tenho de ruim... Bem, foi influência do meio, da minha realidade de vida, de algumas pessoas que conheci e que não deveria conhecer, de circunstâncias danosas que tive que enfrentar e que não o fiz com a devida competência e de uma certa cegueira, burrice ou seja lá o que for, ditadas pela teimosia em me recusar a enxergar o óbvio.
Aprendi a ler com ele, entre os quatro e cinco anos de idade, em uma velha Bíblia, que guardo como relíquia até hoje. Meu pai, russo de nascimento, vindo para o Brasil com os pais em 1937, havia, não fazia muito, aprendido a falar o português. E sozinho, por pura curiosidade. Com o tempo, se aperfeiçoou no novo e complexo idioma que passou a falar com pouco (ou nenhum) sotaque. Mas queria mais. Queria aprender a ler na nova língua. Prático, como era, matou dois coelhos com uma só cajadada. Ou seja, aproveitou o embalo para ensinar ao filho os mistérios da leitura.
Devo, pois, ao meu pai meu gosto pelos livros e, por extensão, pela escrita. Devo-lhe a profissão de jornalista que abracei e que transformei em missão de vida. Devo-lhe o meu decantado espírito de luta, que nada mais é do que uma imitação barata, mero “genérico” do dele. Devo-lhe meus princípios morais e religiosos, que me equilibram e valorizam. Devo-lhe o fato de ser cristalino e transparente em meus sentimentos, sem nunca dissimular emoções. Devo-lhe, sobretudo, a imensa paixão que tenho pela vida e por meus semelhantes, a despeito da sua maldade, estupidez e contradições (de alguns, evidentemente).
Mesmo correndo o risco de ser considerado piegas (o que, a esta altura, pouquíssimo me importa), rendo esta humilde, mas sentida, homenagem ao amigão de todas as horas e, principalmente, a essa figura humana ímpar, que sempre me serviu (e servirá) de paradigma e de inspiração. E nada mais apropriado para isso do que a letra de uma das canções mais belas do riquíssimo cancioneiro popular brasileiro, composta por Sergio Bitencourt, intitulada “Naquela mesa”, que diz:

“Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava estórias
E hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava a gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho, eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa no canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala no seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa no canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala no seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim”.

E como está doendo! Até um dia, amigão! Não sei como, quando e onde, mas estou certo, certíssimo, seguro, seguríssimo de que ainda nos reencontraremos e daremos, então, gostosas gargalhadas ao relembrar minhas tantas trapalhadas, gafes e contradições, como sempre fazíamos, com ternura e bom-humor, até há pouquíssimo tempo!!!

Thursday, April 26, 2007

REFLEXÃO DO DIA


O Brasil é o país de contrastes extremos. Olhando pela janela do meu gabinete de trabalho e vendo as brincadeiras despreocupadas das crianças na rua de casa – umas empinando papagaios, outras andando de bicicleta, outras, ainda, correndo atrás de uma bola, talvez sonhando em ser um Romário ou, quem sabe, até mesmo um Pelé – fico imaginando quantos desses pequenos sonhadores conseguirão transformar em realidade os seus sonhos. Esses meninos e meninas que vejo, por sinal, são uns privilegiados, por mais humildes que possam ser suas famílias. Têm infância! O mesmo não se pode dizer de milhões de brasileirinhos abandonados nas ruas das grandes cidades, expostos a toda a sorte de perigos e de vícios, sem nenhuma perspectiva de futuro. Raros passam dos 16 anos de idade. Morrem, precocemente, vítimas da violência, única realidade que conhecem do berço à tumba. Lamentável! Mas, ainda, é a triste realidade nacional.

Triângulo das Bermudas - V


Pedro J. Bondaczuk

(Continuação)

Teorias e especulações de cientistas e dos místicos

Muitas tentativas têm sido feitas para explicar o que acontece com esses navios e aviões desaparecidos no “Triângulo da Morte”. O Dr. Manmson Valentine, por exemplo, tem a sua teoria. Para esse ilustre explorador, de renome universal, especialista nas culturas dos aztecas e dos maias, “eles (os que sumiram na área) continuam aqui, mas noutra dimensão, em resultado de um fenômeno magnético que poderia ter sido provocado por um Óvni”.

Essa autoridade, detentora de um título de Ph.D, é a mesma que investigou aquilo que pode ser a ruína de uma cidade submersa nas proximidades das Bahamas. Para o oceanógrafo Henry White, da Nova University, a explicação pode ser através de causas naturais, de fenômenos atmosféricos ainda praticamente desconhecidos dos cientistas, dada a sua raridade.

Ele reforça sua tese com um detalhe numa mensagem captada de um dos TBMs norte-americanos desaparecidos em 1945. Em determinado instante, o piloto comunicou-se com a base na Flórida por rádio e mencionou as “águas brancas”. Para o oceanógrafo, esse fenômeno é um tipo de temporal característico do “Triângulo do Diabo”. Tratar-se-ia de uma imensa e violenta vaga, com ventos tão desenfreados, que a chuva se misturaria completamente com o oceano revolto, formando algo de tamanha violência que desintegraria facilmente não apenas cinco aviões, mas dez, vinte, cem ou mais. Seria literalmente um encontro das nuvens com as águas do mar, sendo essa força descomunal reforçada por ventos de até 800 quilômetros por hora.

Há outras tentativas de explicação dentro dessa mesma linha de raciocínio. Por exemplo, o cargueiro japonês Raifuku Maru, antes de sumir nas águas do “Triângulo”, em janeiro de 1921, conseguiu enviar uma mensagem em código captada por um outro navio que trafegava nas imediações. Esta dizia: “Perigo como punhal agora. Venham rápido”. Depois disso, nunca mais se ouviu falar do Raifuku Maru, que jamais foi encontrado e não se sabe nem qual foi o ponto exato em que desapareceu.

O que significaria esse derradeiro S. O. S desesperado? O que seria o “perigo como punhal”? Um Óvni certamente que não. Afinal, os entendidos no assunto têm descrito esses objetos de várias maneiras, menos desta. Eles são identificados ora com formatos de charutos, ora com de pires, ou com conformações ovais. Como punhais, nunca o foram.

Os meteorologistas levantam a hipótese do cargueiro japonês ter sido colhido por uma das “trombas d’água” devastadoras da região. Elas formam-se de repente, em dias de sol claro, através de nuvens cinzentas que compõem uma linha inicialmente fina no horizonte. Em poucos minutos, concentram-se numa única massa, acentuando a coloração escura. As camadas superiores parecem mesmo atingir a estratosfera, onde se espalham, na forma de uma bigorna.

Quando descem, o efeito é devastador. Muitos navios já conseguiram escapar dessas trombas d’água intactos. Outros, naufragaram e foram arrastados paras muito longe. O jornalista Richard Winer, em seu livro “O Triângulo do Diabo” (Editora Record) afirma: “mensuramentos por teodolito documentam evidências de trombas d’água que ultrapassaram 2.400 metros de altura, com chaminés medindo quatrocentos e cinqüenta metros de diâmetro...”

Para o paranormal Norman Slater, as pessoas não desaparecem nessa área, são simplesmente presas num túnel do tempo. Ele alega ter tido visões de três “lugares quentes” na costa Leste da Flórida, num raio de vinte milhas uns dos outros. “Há fortes possibilidades de que qualquer navio que se encontre nesses locais desapareça”.

As vítimas ficariam aprisionadas numa espécie de máquina do tempo, um tipo de túnel onde os objetos permaneceriam numa dimensão invisível por determinado período. Slater arremata: “O tempo não é a simples dimensão constante que supomos. Pode às vezes libertar os navios e aviões dessa outra dimensão onde se encontravam suspensos e eles voltarão ao tempo de onde haviam desaparecido. Não quero estar presente quando isso acontecer. Será horrível, pois as tripulações se transformarão em esqueletos”.

(Matéria especial publicada na página 52, do Correio Popular, em 7 de julho de 1985).

Wednesday, April 25, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Quantas das 900 milhões de pessoas que se dizem cristãs seriam capazes de salvar Cristo de ser levado perante tribunais, que decidem, invariavelmente, em detrimento dos humildes, caso Ele estivesse na Terra hoje? Quantos o livrariam de ser torturado como subversivo, por pregar o que já no tempo dos romanos era (e nos dias atuais é) uma mensagem insólita e desafiadora: o amor ao próximo? Quantos dos que fazem jejuns e penitências impediriam o Deus que se fez homem de perecer de fome? Poucos, muito poucos. Quem sabe, ninguém! Cristo tem sido diariamente assassinado pelos que se valem da violência em seu nome. É sacrificado, a todo o instante, não numa cruz, mas nos corações dos que se dizem discípulos, trocado pela inveja, cobiça, pornografia reles e barata e um inconfessável e profundo ódio pelos semelhantes. E, às vezes esse rancor patológico é pelos próprios pais, cônjuges e filhos.

Triângulo das Bermudas - IV


Pedro J. Bondaczuk

(Continuação)

Tapetes de plantas em pleno mar

Na área do “Triângulo do Diabo” está um dos mais espetaculares e belos mistérios da natureza. Num determinado trecho do Atlântico o marinheiro que nunca esteve por aqueles lados se surpreende quando vê à sua frente quilômetros de um “tapete verde” sobre as águas, como um enorme e irreal gramado, formado por um certo tipo de algas conhecido como “sargaços”.

Muitos já chegaram até a pensar que estavam delirando diante de tal visão. São plantas, com apêndices foliáceos, e vesículas redondas que agem como flutuadores, que se adaptam muito bem com uma altíssima salinidade. Elas manifestam-se de duas formas. Às vezes aparecem em tufos isolados, formando milhares de pequeninas “ilhas” verdejantes, de um efeito visual incrível.

Em outros casos, surgem como verdadeiros “campos” de vegetação marinha flutuando ao sabor dos ventos. É como se a gente visse um enorme pasto só que, ao invés de estar estático, balança de um lado para outro. Esse é o Mar dos Sargaços, que fica a meio caminho entre a América do Norte e a Europa.

Os tufos das algas raramente possuem, isolados, mais de 30 centímetros de diâmetro e uns poucos decímetros de altura. A coloração é verde oliva na parte superior. Em alguns trechos essa cor é clara ou amarelada. Na base, todos os sargaços são castanhos. Sobre a superfície, brotam milhões de cogumelos parasitas. Diversos pequenos animais sobrevivem à custa dessas algas e nelas os peixes voadores depositam suas ovas.

Sob essa capa verde oliva há muita vida. Crustáceos, de vários tipos e tamanhos, são encontrados. E milhões de peixes circulam debaixo dos sargaços, num dos mais expressivos exemplos de mimetismo.

O primeiro europeu a tomar ciência desses “campos” por sobre o mar foi Cristóvão Colombo, que a princípio nem acreditou no que viu. Afinal, é um fenômeno razoavelmente raro nos mares. Antes de descobrir a América, o genovês, portanto, ultrapassou o “guardião” do novo continente, o “Triângulo da Morte”, com seus mistérios e sua selvagem beleza.

Os casos de desaparecimento, sem que reste qualquer vestígio dos que sumiram, apenas nos derradeiros 40 anos, ascendem a várias centenas. Vão desde minúsculas chalupas, passando por veleiros de porte médio, e indo até a gigantescos e modernos navios. Podem ser tanto rústicos aviões de contrabandistas de rum das Antilhas, quanto esquadrilhas de combate, dotadas de moderna aparelhagem e de tripulação de grande experiência.

A Guarda Costeira dos Estados Unidos revela que, apenas um, em cada três desaparecimentos, é comunicado às autoridades. A área já foi palco de grandes buscas internacionais, onde cada palmo do traiçoeiro oceano foi vasculhado à procura das infelizes vítimas, sem qualquer sucesso.

Durante a Segunda Guerra Mundial, inúmeros aviões desapareceram no “Triângulo do Diabo”. A maioria, por motivo estratégico (é evidente que não se pode, num conflito, revelar nossas baixas ao inimigo) jamais foi informada ao público. Finda a conflagração, os desaparecimentos continuaram numa alarmante sucessão.

Neste momento em que o leitor estiver lendo este relato, é bastante provável que algumas pessoas estejam desaparecendo na região. E que nunca mais se encontrará qualquer vestígio, nem dos barcos ou aviões em que elas estiverem, e muito menos delas próprias.

Isso aconteceu, por exemplo, em 5 de dezembro de 1945, com uma ultratreinada esquadrilha de 5 TBMs (Torpedo Bomber Médium) da Marinha norte-americana, com 15 experientes aviadores. Um ano antes, havia acontecido algo semelhante com sete bombardeiros dos Estados Unidos. Estranhamente, também no mês de dezembro, quando se dá a maioria dessas ocorrências na área.

Duas horas depois que essas pesadas e eficientes aeronaves levantaram vôo, quando estavam a 300 milhas de Kindley Field, os pilotos encontraram estranhos fenômenos atmosféricos. Alguns desses avantajados aviões foram arrastados para cima, como se fossem feitos de papel e depois arremessados de centenas de metros. Dois conseguiram escapar e voltaram às Bermudas para informar a ocorrência. Cinco simplesmente sumiram, sem deixar qualquer vestígio.

Nenhum sinal de explosão. Nenhuma parte não-submergível flutuando na área. Nada que pudesse ao menos dar qualquer pista para sequer se conjeturar sobre o que aconteceu. Em dois anos, os britânicos perderam duas aeronaves Tudor IV na área nas mesmas circunstâncias. Tratava-se de um avião que tinha dado mostras sobejas de sua eficiência durante a guerra.

Eram Lancasters adaptados para funções civis e colocados no serviço do transporte de passageiros. O primeiro, um “Star Tiger”, com 31 pessoas a bordo (entre as quais o marechal-do-ar britânico Sir Arthur Cuningham), desapareceu no “Triângulo do Diabo” em 30 de janeiro de 1948. Cinco dias depois, quando o aparelho já não disporia de qualquer combustível, vinda de uma área sem nenhuma ilha em suas proximidades, em pleno Atlântico Norte, foi captada uma mensagem por um rádio-amador na costa Leste dos Estados Unidos. Uma voz apenas soletrou: “G-A-H-N-P”, que era justamente o prefixo do “Tiger” sumido. Que nunca foi encontrado.

Quase um ano depois, em 19 de janeiro de 1949, era a vez de um “Star Ariel” da British South American Airlines, desaparecer no “Triângulo das Bermudas”. Buscas gigantescas, envolvendo navios, aviões e lanchas de diversos países, praticamente varreram toda a região. Inutilmente. Não foi possível jamais se saber nem o que, e nem como se deu esse estranho desaparecimento. E muitos, muitos outros casos, inclusive bastante recentes, poderiam ser relatados. Todos com o mesmo resultado. Nenhum vestígio das pessoas e dos veículos.

(Continua)

Tuesday, April 24, 2007

REFLEXÃO DO DIA


As pessoas, no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo atravessa neste início de milênio, sequer param para pensar qual a razão de suas existências. Não especulam (salvo exceções, naturalmente) acerca do que estão fazendo sobre a face da Terra. Em suma, não se entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e nem se desestimam. Vivem porque vivem, e pronto! E se não têm um grau de estima genuíno por si próprias, não podem jamais sentir qualquer coisa de realmente profundo pelos outros. Daí a solidão que domina tanta gente. Daí a fuga para os “paraísos” artificiais de droga e do alcoolismo (na verdade infernos). Daí a violência crescente que pode nos destruir a todos. O que tais pessoas precisam é de objetivos claros e de um mínimo de auto-conhecimento, para não dizer, de bom senso.

Triângulo das Bermudas - III


Pedro J. Bondaczuk

(Continuação)

Naufrágio de frota espanhola

Bem que Colombo tentou prevenir a esquadra do perigo iminente naqueles mares traiçoeiros. A uns dias os ventos vinham soprando do Oeste das Caraíbas, quando deveriam vir do Leste. Isso era um indicativo seguro de apenas uma coisa: da iminência de um furacão.

O navegador genovês bem que poderia passar ao largo da esquadra, comandada pela nau “El Dorado”, composta de 26 caravelas. Afinal, há dois anos Bobadilla mandara-o preso a ferros no porão de um navio, de regresso à Espanha, ficando com todas as glórias e vantagens materiais da descoberta do Novo Mundo.

Mas Colombo era, sobretudo, um marinheiro e preocupava-se com o destino de 800 lobos do mar, ameaçados pela fúria da natureza. Abordou o “El Dorado” e comunicou sua previsão ao arrogante Bobadilla, que simplesmente zombou de seu aviso. Apesar do almirante Torres ter mostrado preocupação, o governador aposentado da Ilha Hispaniola (onde hoje localizam-se o Haiti e a República Dominicana) convenceu-o de que tais ventos do Oeste seriam até benéficos. Fariam com que os navios chegassem mais depressa à Espanha.

Frise-se que apenas o “El Dorado” transportava tesouros em ouro e prata avaliados em US$ 2 milhões. E havia 25 outros navios abarrotados de riquezas. Mas Colombo tinha razão. Quando a esquadra chegou próxima a Porto Rico, foi colhida por uma tempestade como jamais marinheiro algum daquela frota tinha visto.

Chovia em sentido horizontal. O vento rasgava velas como se fossem de papel e rompia mastros com incrível facilidade. Os cascos quebraram-se como cascas de ovo, despejando toneladas de ouro no mar. Repentinamente, tudo se acalmou. Só o mar continuou agitado. Até o sol surgiu, brilhante e quente. Ondas gigantescas rolavam em direções opostas, chocando-se estrondosamente.

Metade da esquadra havia desaparecido. As caravelas restantes eram atiradas de um lado para outro, como frágeis cascas de nozes. De repente, sem qualquer aviso, o vento voltou mais furioso do que antes e do lado exatamente oposto de onde viera anteriormente. Uma sucessão de raios riscou os céus. Não se ouviam os trovões, contudo. O assobio do furacão os abafava.

A chuva caiu com tal intensidade, que os pingos de água arrancavam a tinta dos cascos dos barcos. Cabos arrebentados decapitavam pessoas e os marinheiros, aterrorizados, ajoelhavam-se nos navios pedindo clemência aos céus e morriam indefesos, esmagados pelos mastros que ruíam.

O vento era tão forte que arrancava os olhos das órbitas das pessoas, os jogando longe. Os marinheiros estavam nus. Suas roupas haviam sido estraçalhadas e feridas profundas eram feitas na carne. Muitos abriam a boca para gritar e só conseguiam cuspir sangue.

Ao final da tormenta, apenas cinco barcos haviam, milagrosamente, escapado do temporal. Vinte e um outros desapareceram sem deixar nenhum vestígio. Inclusive o “El Dorado”, com a sua preciosa mesa de ouro maciço de três mil arráteis. Esses seriam os primeiros desaparecimentos oficialmente registrados no “Triângulo do Diabo”. E um dos poucos desastres em que restaram testemunhas para narrar tudo o que aconteceu.

Em quase um milhar de outros tantos, ocorridos posteriormente, ninguém sobrou para explicar o motivo dos sumiços. E como o inexplicável aguça a imaginação, surgiram centenas de lendas envolvendo essa porção do Atlântico.

(Continua)

Monday, April 23, 2007

TOQUE DE LETRA







Pedro J. Bondaczuk

(Fotos: Arquivo)

DESPEDIDA COM DIGNIDADE

A Ponte Preta despediu-se com dignidade do Campeonato Paulista, ontem, em Bauru, ao empatar com o Noroeste, no Estádio Alfredo de Castilho, por 1 a 1, e ver frustrado seu sonho de ir para as finais do torneio que apura o campeão do interior. A Macaca precisava vencer por dois gols de diferença, tarefa das mais complicadas para qualquer time, dada a qualidade do adversário. Todavia, fica, como saldo positivo, a recuperação pontepretana, que iniciou mal a competição, mas terminou no topo da tabela, e não na rabeira, como em anos anteriores. Só isso já é motivo para se festejar. É pouco? Talvez. Todavia, a Ponte Preta finda o Paulistão com moral elevado e, sobretudo, com um time-base para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série B, o que não ocorria em anos anteriores. Tenho muitas esperanças de que a veterana campineira consiga sua volta à elite do futebol nacional, de onde nunca deveria ter saído. O resultado de ontem, em Bauru, foi justo, ao contrário da derrota da semana passada, determinada por erros de arbitragem a dano da Macaca, por 2 a 1. Pena que o gol, ontem, tenha saído somente nos descontos. Todavia, como ferrenho torcedor pontepretano que sou, só posso dizer: valeu, Macaquinha do meu coração!

BUGRE NA ENCRUZILHADA

A derrota de sábado, no Canindé, frente à Portuguesa, por 1 a 0, deixou o Guarani numa encruzilhada. Tanto pode ver frustrada sua luta pelo retorno à Série A-1 do Campeonato Paulista, já na quarta-feira, em Birigui, no jogo diante do Bandeirante, também de olho na vaga, quanto dar uma grande alegria à torcida, caso vença essa partida e a de domingo, diante do São José, no Brinco de Ouro. O que preocupa o torcedor bugrino é a instabilidade do time, que nessa fase final não repetiu as excelentes atuações do final da fase de classificação. O Bugre vem mostrando, ao longo da campanha de 2007, as mesmíssimas deficiências da sua desastrosa caminhada do ano passado: falta de poder ofensivo. Tanto que o seu artilheiro é o volante Macaé, que não jogará em Birigui, com cinco gols, todos eles de pênalti. É muito pouco para quem aspira conquistas tão elevadas, convenhamos. Enfim... futebol se decide no campo e não no prognóstico dos críticos.

REFORMULAÇÃO NA PONTE PRETA

Findo o Campeonato Paulista, a Ponte Preta vai às compras, na tentativa de reforçar seu plantel para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série B. Desta vez, no entanto, já conta com um time-base, entrosado e competitivo, o que facilita as coisas. Propala-se que dois jogadores já estariam contratados: Júlio César, lateral-direito do Bragantino e Ale, meiocampista do Guaratinguetá. São dois excelentes reforços para o plantel, isso ninguém contesta. Conforme declarações, ontem, do técnico Nelsinho Baptista, além desses dois bons jogadores, a Macaca estaria com negociações adiantadas para a contratação de mais quatro atletas, cujos nomes se recusou a antecipar. Especulações na imprensa não faltam e, como sempre acontece, a maioria dá em nada. Agora não deve ser diferente. A dúvida entre a torcida é quanto à permanência ou não do centro-avante Finazzi, que mesmo com atuações irregulares, termina o Campeonato Paulista no topo da artilharia, ao lado de Edmundo, do Palmeiras, de Somália, do São Caetano e de Kleber Santana, do Santos, podendo ser ultrapassado pelos dois últimos, cujos clubes vão disputar o título paulista da temporada. Tenho a intuição de que o matador vai permanecer no Majestoso. Claro que se trata de mero palpite. Vamos ver o que acontece.

BELO TRABALHO DO CARBONE

Traga ou não o Guarani de volta para a Série A-1 do Campeonato Paulista, o técnico José Luís Carbone fez um ótimo trabalho no comando do time, perdendo somente duas partidas desde que assumiu. É pouco? Não acho. Sejamos realistas: o atual plantel bugrino é limitadíssimo. E mostrou isso nas mãos de Waguinho Dias, que fez o possível e o impossível para dar um padrão razoável de jogo à equipe. Não conseguiu. O grande mérito de Carbone foi a ousadia. Não teve dúvidas em recorrer às categorias de base do Bugre, que sempre fez um bom trabalho com os meninos, promovendo cinco ou seis deles para o time de cima. E os promovidos mostraram que, apesar da inexperiência, eram melhores, tecnicamente, do que os até então titulares. Prestigiados pelo treinador, agarraram a oportunidade com as duas mãos e podem fazer história (por que não?), ajudando o Guarani a voltar à elite do futebol paulista. Aconteça o que acontecer, portanto, Carbone mais do que justificou a sua contratação, a melhor feita pelo Bugre nos últimos quatro ou cinco anos.

BRAGA VENDE CARO A DESCLASSIFICAÇÃO

O Bragantino vendeu muito caro sua desclassificação para as finais do Campeonato Paulista da Série A-1 deste ano. Encarou o badalado e milionário Santos de igual para igual, nos dois jogos das semi-finais, e deixou a competição sem dar o gostinho de uma única vitória ao adversário. Se na primeira partida, sábado retrasado, no Pacaembu, o time de Bragança Paulista limitou-se a se defender, ontem, no Morumbi, mudou esse comportamento. Foi para a frente e, não fosse a ótima atuação do goleiro Fábio Costa – que além de tudo contou com a sorte no lance em que a bola chutada pelo zagueiro Zelão bateu, caprichosamente, na trave e não entrou, nos últimos minutos do jogo – seria ele, e não o lendário Santos, que enfrentaria o São Caetano na decisão do título. Pena que, ontem mesmo, começou a operação desmanche do Braga. É isso que diferencia os grandes clubes daqueles que se limitam a ser meros figurantes. Essa é a única razão de serem pequenos e de se assumirem como tal.

AZULÃO CALA O MORUMBI

O São Caetano volta a fazer história. Com uma partida impecável, goleou, no sábado, o badalado São Paulo, em pleno Morumbi, calando a torcida tricolor, que já dava como favas contadas a passagem do time para a final, para disputar mais um título com o Santos. Foi uma vitória que não deixou a mais remota margem para dúvidas, até pelo placar, surpreendente para jogos decisivos como este: 4 a 1. Quem diria?! Foi um belo “cala boca” para a bairrista e facciosa crônica esportiva paulistana. Qualquer pessoa que entenda um pouquinho que seja de futebol percebia que o São Paulo deste ano não era nem sombra da excelente equipe de 2006. Mas não era isso o que os colunistas e comentaristas esportivos da Capital passavam para seus leitores e ouvintes. E olhem que o placar até que ficou barato, pelas oportunidades criadas pelo incrível e cada vez mais surpreendente Azulão. O Santos que trate de jogar muito mais do que jogou contra o Bragantino para não ver um título, que estava praticamente em suas mãos, lhe escapar por entre os dedos.

RESPINGOS...

· Jogaço mesmo foi o clássico BaVI de ontem, no Estádio Fonte Nova, de Salvador, lotado por mais de 60 mil torcedores. O Vitória venceu o Bahia pelo exótico placar de 6 a 5. Foi jogo para ficar na história.
· No Rio de Janeiro, nenhuma novidade. O Botafogo venceu a Cabofriense por 3 a 1, conquistou a Taça Rio e qualificou-se para enfrentar o Flamengo na disputa pelo título fluminense da temporada.
· Em Minas Gerais, também não há surpresa. Cruzeiro e Atlético vão decidir mais um título. Êta campeonato monótono!
· Surpresa aconteceu no Paraná. O pequenino Paranavaí vai encarar o Paraná, na tentativa de conquistar o primeiro campeonato da sua curta história. São os pequenos mostrando as garras.
· O goleirão Felipe, do Bragantino, é o primeiro reforço do Corinthians na era Carpeggiani. Tudo indica que, mais uma vez, Jean dançou. Nunca vi um jogador mais pé frio do que ele!

* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.


pedrojbk@hotmail.com

REFLEXÃO DO DIA


É dever dos cidadãos, que vivem sob democracias estáveis, a cobrança de explicações dos desvios de conduta de seus governantes, quer no campo da ética política, quer no terreno dos direitos humanos. Que essas mazelas sejam exemplarmente punidas, ao amparo da lei, acima da qual ninguém pode estar (e rigorosamente sob a sua égide) para que o exemplo de respeito à dignidade humana frutifique e atinja às comunidades mais atrasadas e carentes. E para que haja um parâmetro factível, que possibilite uma contínua evolução no campo do Direito e que seja lançada a semente, pelo menos uma, que conduza toda a humanidade (mesmo que isso venha a demorar um milênio ou mais) a uma era de compreensão e de fraternidade, tendo a justiça por corolário. Está nas mãos dos cidadãos conscientes e participativos essa transformação.

Triângulo das Bermudas - II


Pedro J. Bondaczuk

(Continuação)

Colombo vê estranhas luzes

Conta-se que o navegador Cristóvão Colombo tomou o contato inicial com os mistérios que cercam o “Triângulo das Bermudas” exatamente na véspera de pisar a primeira terra do Novo Mundo, após meses de viagem no mar e de enfrentar um sério descontentamento entre os marujos que não confiavam no bom termo daquela aventura, para eles maluca.

Foi pouco antes que o marinheiro que estava na gávea de um dos três barcos da expedição visse as ilhas de Crooked e Rum Cay, que teriam sido as primeiras visões de um vasto e inexplorado continente, mais tarde chamado de América. Toda a tripulação teria visto, nessa noite tensa, estranhos clarões esverdeados na linha do horizonte, se movendo de um lado para o outro.

Para os marujos, já apavorados, isso seria o prenúncio de um próximo fim que estaria iminente para todos. Luzes semelhantes seriam posteriormente testemunhadas, séculos depois, por diversos navegadores, que escaparam dos perigos daquela área. Antropólogos modernos explicam essa visão, no caso de Colombo, como sendo reflexos de fogueiras acesas nas canoas dos habitantes das ilhas em sua pesca noturna. Elas não teriam, portanto, nada de sobrenatural.

Os oceanógrafos têm uma outra explicação para isso. Para eles, as luzes esverdeadas seriam originadas também por fogueiras, mas acesas pelos índios Caraíbas nas praias. E que o quebrar das ondas distorcia, tanto a cor das chamas, num tom esverdeado, como dava a sensação ilusória de movimento. Os defensores dos Óvnis também têm a sua e essa é até dispensável de se declinar.

Para eles, obviamente, a luz tinha origem extraterrestre, assinalando um momento de grande importância para toda a humanidade, ou seja, a iminência da descoberta da América. Tanto as ilhas Crooked e Hum Cay, como a de Guaanani, a primeira terra onde Colombo pisou e rebatizou de São Salvador (afinal, essa descoberta fora extremamente providencial para evitar um motim a bordo), pertencem ao Arquipélago das Bahamas, localizando-se a Leste da considerada principal.

E se esse incidente nada teve de sobrenatural, a experiência que a esquadra do navegador genovês teria em 1º de julho de 1502 seria, no mínimo, aterradora. Não tanto para ele, comandante experiente e acostumado com os caprichos do mar, mas para 800 marinheiros da esquadra, capitaneada pelo almirante espanhol Antonio de Torres, que levava, entre seus passageiros, Juan Domingos Bobadilla.

Todos os navios dessa frota estavam carregados de muito ouro para os monarcas da Espanha, inclusive uma mesa maciça, que pesava mais de três mil arráteis (1.287 quilos), inteiramente feita com o precioso metal.

(Continua)

Sunday, April 22, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Para muitos, o explosivo aumento populacional que ocorre no mundo é sinônimo de miséria, de dificuldades, de aperto. No terreno prático, com as coisas postas como estão atualmente, quando ninguém quer dividir nada com ninguém, às vezes nem com os próprios filhos, é isto realmente o que nos espera. Mas se o homem usar o seu imenso potencial de inteligência de forma ousada; se permitir que o instinto erótico em seu sentido lato, ou seja, o da preservação da espécie, fale mais alto e se conseguir sufocar o tânico; se der rédeas à imaginação e se dispuser a concretizar o seu sonho, poderá operar maravilhas. Terá condições de viajar para outros sistemas planetários, descobrir outros mundos e povoá-los. Se não fizer isso, o que o espera é a destruição irremediável. Através da violência, pela fome ou sufocado pelos maus odores do lixo, da poluição e dos esgotos das centenas de cidades, que ele próprio produz.

Triângulo das Bermudas - I


Pedro J. Bondaczuk

Desde quando o primeiro ser civilizado descobriu que poderia navegar, os mares têm despertado temor e fascínio nos homens. Em torno das atividades náuticas foram criadas lendas e mitos, dando conta de oceanos povoados por terríveis monstros marinhos, que tragavam embarcações inteiras com toda a sua tripulação de um só sorvo.

Águas ferventes e despenhadeiros infinitos, no local onde “o mundo acabava”, eram testemunhados por velhos marinheiros, nas longas conversas mantidas em tavernas fumarentas, onde as narrações de pseudofeitos gloriosos, com as de enormes bravatas, eram desfiadas, acompanhadas de generosas libações alcoólicas.

Até a histórica viagem de Cristóvão Colombo, que partindo da Europa visava a cruzar “oceanos desconhecidos” para aportar em Cypango (Japão), vasta região do Atlântico Norte permanecia praticamente inexplorada, pelo medo que os navegadores tinham do desconhecido.

Hoje, essa área é uma das de maior tráfego mundial, tanto aéreo, quanto naval. Mas nem por isso deixa de ser centro de controvérsias entre os cientistas, os místicos e o homem comum das ruas, fascinado por tudo o quanto não possa ser explicado de uma forma acessível ao seu entendimento.

Dos mares que mais despertam a imaginação das pessoas, está o que banha uma área abrangendo boa parte do Golfo do México, estendendo-se por toda a costa Leste dos Estados unidos, tendo o seu limite perto das Ilhas Açores, Atlântico adentro. É a região conhecida como Triângulo das Bermudas, “Da Morte”, ou “Do Diabo”, onde pelo menos 700 navios e aviões desapareceram nos últimos três séculos.

Uma parte considerável desses desaparecimentos pode ser explicada pelas peculiares condições atmosféricas existentes na região, caminho de devastadores furacões que periodicamente atingem o território norte-americano, traçando rastros de destruição e mortes na sua passagem. Outra é perfeitamente atribuível a naturais falhas humanas, causas de grandes desastres em todos os meios de transporte, principalmente nos terrestres, teoricamente os mais seguros.

Há, entretanto, diversos casos que têm desafiado todas as tentativas lógicas de explicação. E que, dadas as características das ocorrências, revelam-se sumamente misteriosos. Por isso tornam-se campos férteis de especulação dos místicos, dos “videntes”, dos malucos e dos oportunistas. Mais destes últimos que, se valendo da superstição alheia, auferem gordos dividendos fazendo sensacionalismo.

De qualquer forma, o chamado “Triângulo das Bermudas” (que na verdade é um trapézio de lados e ângulos irregulares), tem registrado acontecimentos que à luz da ciência moderna não são passivos de explicação. É bom frisar-se, todavia, que o homem, a despeito dos avanços em todas as áreas do conhecimento, ainda está muito longe de saber de tudo.

Muitos fenômenos naturais ainda estão por ser explicados e outros tantos até por ser descobertos. O quanto há de verdadeiro sobre tudo o que se diz dessa região? Até que ponto as explicações para os acidentes registrados nessas águas não são deliberadamente distorcidos, com o propósito de justificar determinadas “teorias”? O que de tão estranho e aterrador acontece ali para dar razão ao seu tétrico apelido?

(Continua)

Saturday, April 21, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Os instintos da vida, “erótico”, e da morte, “tânico”, em permanente conflito dentro do ser humano, manifestam-se, igualmente, em suas obras. Como, por exemplo, nas sociedades nacionais que ele criou. A despeito de duas grandes guerras mundiais que, juntas, causaram a extinção, de forma violenta, de pelo menos 40 milhões de indivíduos; apesar da violência urbana crescente, que redunda em muitas mortes, diariamente; mesmo com os conflitos regionais, cada vez mais sangrentos (e eles já foram mais de 200 desde 1945), este dom maravilhoso e inexplicável, que é a vida, prevalece. A população mundial está somente crescendo, assustando pessimistas e egoístas, os de visão estreita, que não cogitam de novas formas para acomodar, alimentar, instruir e dar condições de dignidade e grandeza a tantos seres humanos e pensam somente em expedientes mortais, como se estes fossem solução e não o verdadeiro problema. Mas a vida haverá de prevalecer.

Encontrei-me


Pedro J. Bondaczuk

Estranha Esfinge, indecifrável
enigma. Essência do verso,
e do átomo. Âmago da matéria
e da energia que move o Universo.

Macrocosmo de microcélulas,
tecidos, órgãos e sistemas,
força, impulso transcendental.
Sensibilidade e consciência,
emoção e inteligência,
síntese do bem e do mal.

Corrente imensurável no tempo,
paradigma da multiplicação,
carne e nervos, da carne gerada,
continuidade, seqüência, geração.

Unidade singular e inimitável,
reflexo de luz e de breu,
estranha Esfinge, indecifrável:
e este ser misterioso, sou EU!

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 23 de abril de 1963).

Friday, April 20, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Os meios de comunicação, fenômeno recente na vida das comunidades, adquiriram enorme importância no mundo moderno. Trazem até nossos lares, todos os dias, acontecimentos de todos os tipos. Projetam personagens em todas as áreas de atividade humana: políticos, economistas, financistas, esportistas, cientistas, artistas, tarados, ladrões, homicidas etc. Constroem, às vezes, falsos ídolos, de pés de barro, que acabam se esboroando. Mas ressaltam, igualmente, os verdadeiros. Com o passar do tempo, os principais personagens de uma geração tornam-se familiares. Passamos a conhecer suas vidas, obras, idéias, sonhos e decepções. Os que têm afinidade conosco se transformam em nossos “amigos”, mesmo que não os conheçamos pessoalmente. Vibramos com seus sucessos, lamentamos seus fracassos, os criticamos muitas vezes, lhes damos nosso carinho em outras. Estabelecemos com eles, de forma unilateral, relação de amor e ódio, dependendo das circunstâncias.

Quando nos subtraem até os sonhos


Pedro J. Bondaczuk


A norte-americana Vera Morton – que quando da ocorrência do fato que narro, em junho de 1989, estava com 74 anos de idade – e que vivia na cidade de Oklahoma City, certamente já havia passado na ocasião por maus momentos em sua então já relativamente longa existência. Vira parentes morrerem, sofrera com o marido durante a sua prolongada enfermidade, se preocupara com doenças dos filhos, com a educação dos netos e com tantas e tantas outras coisas que afligem gente comum, como nós, e como ela, no dia a dia.
Com certeza, em várias ocasiões deve ter manifestado horror com o mau-caratismo de determinadas pessoas, cujas ações nefastas foram (e são) diariamente notícias em jornais e na televisão. Assistira a filmes violentos, onde se irritara com os vilões e torcera pela vitória da justiça e do bem, como todos nós fazemos.
Todavia, Vera Morton nunca poderia imaginar que viesse um dia a ser atingida pessoalmente pela maldade humana, que em sua mente existia mais como ficção, do que como a dura realidade que é. Por estranho que pareça, existe gente assim, com essa inocência e candura, posto que pessoas desse tipo são (infelizmente) cada vez mais raras nos dias que correm.
Certamente ela achava que todos no mundo (ou pelo menos a maioria dos habitantes deste Planeta de tantos contrastes e conflitos) eram como ela e como o círculo restrito das suas relações: bons, gentis, solidários e amigáveis. Reitero: há muita gente, por incrível que pareça, que ainda raciocina dessa maneira.
Em junho de 1989, no entanto, a doce velhinha constatou, entre surpresa e apavorada, que as coisas não eram como ela sempre pensou que fossem, em seus 74 anos bem-vividos anos. E essa descoberta, para ela sumamente traumática, se deu num momento muito delicado: o da separação definitiva de alguém que a acompanhou por 55 anos, a quem amou extremosamente, cujos filhos gerou e ajudou a educar e que havia morrido no dia 20 desse mês e ano, ou seja, o marido Albert Morton.
É verdade que, nas circunstâncias em que se deu essa morte (embora a ausência do companheiro fosse muitíssimo dolorosa) o fato chegou a lhe causar um certo alívio. Vera não suportava mais ver seu amado parceiro sofrer tanto, vítima de uma doença insidiosa e incurável.
Mas o que de fato lhe doeu foi a descoberta de que a maldade humana não era uma ficção, como sempre achou. Telefonemas anônimos, por exemplo, com palavras cruéis e ofensivas, passaram a lhe causar perturbação constante, despertando-lhe terror e ressaltando o seu desamparo. Sentiu-se (com razão) ameaçada e desprotegida.
Propostas indecorosas foram feitas, sem nenhum respeito à sua condição e à sua dignidade, sem que ela pudesse sequer suspeitar quem fosse seu indigno interlocutor. E para culminar, no dia do sepultamento do esposo, alguém subtraiu o que ela possuía de mais precioso no mundo: suas lembranças.
Um ladrão entrou em sua casa, enquanto Vera estava no cemitério, vasculhou sua “intimidade” (ao rebuscar gavetas cheias de objetos sem valor material, mas de uma valia emocional que não tem preço) e levou consigo seus maiores tesouros: um velho relógio, que ela pretendia deixar por herança para o neto, e o que para ela era o bem mais precioso que havia: a aliança de Albert.
Deixou, em troca, mágoa, solidão, frustração e principalmente a dor de uma (para ela) traumática revelação. Deixou-lhe a certeza, incômoda, amarga e infeliz, de que a maldade, desgraçadamente, não era apenas mera ficção, criada por mentes perturbadas: existia, de fato. Quem dera que o mundo fosse habitado somente por pessoas com a candura, a inocência e a ingenuidade de Vera Morton! Sim, quem dera!!!

Thursday, April 19, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Se alguém duvidar dos riscos para a saúde humana do gás carbônico, subproduto final da gasolina, basta que acelere seu carro numa garagem fechada. Só que, se fizer isso, não conseguirá narrar a sua experiência para ninguém. Certamente morrerá envenenado. Pois é este tóxico terrível, que este ser, pretensamente inteligente, lança na atmosfera, que é absolutamente indispensável que se mantenha pura para que haja vida sobre a Terra, à razão de bilhões de toneladas por hora! Por causa desta agressão ao meio ambiente, o mundo corre, hoje, grave, gravíssimo perigo. Mas poucas pessoas se dão conta disso, e vão tocando suas vidinhas medíocres sem se preocupar com os riscos que correm.

Genialidade e simplicidade


A cultura, em seu verdadeiro significado, é a soma da informação com a vivência e a experiência. Não se restringe, portanto, como erroneamente se supõe, ao acúmulo de conhecimentos enciclopédicos, mal entendidos e pessimamente digeridos. Ou mesmo que bem assimilados, não importa. Não é necessário que um indivíduo galgue os degraus acadêmicos, freqüente universidades, faça cursos e mais cursos de pós-graduação, colecione diplomas, para ser verdadeiramente culto. Temos exemplos em profusão a esse respeito. O mais conhecido é o de Machado de Assis, que jamais cursou qualquer escola, e no entanto foi, sem favor algum, o maior dos nossos escritores. Foi um aplicado autodidata que soube o que fazer com aquilo que aprendeu.
Há mais de três décadas, no início dos anos 60, em São Caetano do Sul, onde passei parte da minha juventude, antes de me fixar nesta Campinas que tanto amo, conheci uma pessoa assim e que se tornou marcante em minha vida. Apesar de nos tornarmos amigos, nunca soube seu nome completo. Ele nunca o revelou. Era simplesmente o João. Tendo cursado apenas o primário, tinha uma cultura vasta, vastíssima, diria até massacrante. Citava, por exemplo, os clássicos da literatura mundial com uma familiaridade que só os que os freqüentaram assiduamente (e os entenderam) poderiam fazer. Tinha um nível de informação muito superior à média. Estava em dia com a política, com os filmes em cartaz, com as peças de teatro que estavam sendo apresentadas, com o panorama internacional, com os mais recentes lançamentos de livros no País e no Exterior, com a ciência, com os esportes, de todas as modalidades conhecidas e muitas coisas mais. Era, enfim, uma enciclopédia ambulante.
Mas não era desses intelectuais arrogantes, que olham a todos do alto de uma pseudo-superioridade, a citar, pedantemente, conceitos inacessíveis à maioria. O João era humilde, com uma humildade genuína e digna. Tinha consciência do seu valor. Apenas não desmerecia os semelhantes e achava que todos estavam no seu nível. Tanto, que se dizia um "apedeuta". Esperem aí ! Não se trata de nenhum palavrão impublicável! Antes que alguém que desconheça o significado da palavra, ou que não se disponha a consultar o dicionário, comece a pensar bobagem, é necessário um esclarecimento. O termo não designa qualquer doença nova e nem rotula alguma tendência sexual anormal. Significa somente "pessoa ignorante, sem instrução". Exatamente o que o João não era. Essa fonte de sabedoria costumava citar Ruy Barbosa a esse propósito. O insigne tribuno iniciava um de seus célebres discursos dizendo: "Eu, mísero apedeuta..." Claro que o gênio baiano não era isso. Muito pelo contrário! E o João afirmava que se Ruy Barbosa se confessava nessa condição, ele se sentia muitos furos abaixo dela. E pelo seu olhar, pela sua expressão, pelo seu procedimento, percebia-se que não estava sendo falsamente modesto.
Um dia, propôs às pessoas do nosso grupo – poetas, jornalistas, professores, artistas plásticos, músicos, estudantes universitários e toda a sorte de intelectuais – a criação do "Clube dos Apedeutas". Chegou a esboçar os estatutos e as regras dessa insólita entidade. Seu objetivo seria basicamente o estudo, o mais universalista possível, através da troca de experiências dos seus componentes. Entendia que somente através desse contato mais estreito, todos os membros conseguiriam ampliar seus horizontes culturais, ao ponto de deixar essa condição de "ignorância". Cada qual buscaria passar aos demais, de forma clara e inteligível, a essência da sua especialidade.
Um sonhador, esse João... Sobretudo, um crédulo. Acreditava que as pessoas seriam capazes de abrir mão, por breves momentos que fossem, da sua imensa vaidade. Cria que esses intelectuais boêmios – a maioria bem-sucedida em suas atividades e alguns, inclusive, hoje com renome nacional – fossem humildes o suficiente para assumir que eram apedeutas. Claro que a idéia do clube acabou não dando em nada, para a sua frustração (e a minha também). Aquele grupo provou que, pelo menos na ocasião, dispunha da informação, mas não de cultura. Carecia da vivência e da experiência, que apenas os anos posteriores confeririam aos seus membros. Hoje, quem sabe, é até possível que a idéia desse sábio anônimo, simplesmente João (com nome, mas sem sobrenome), vingasse.

Wednesday, April 18, 2007

REFLEXÃO DO DIA


A atmosfera terrestre é uma combinação raríssima e bem dosada de dois gases principais, o oxigênio e o nitrogênio, e mais alguns que não se sabe se existiam na composição original, antes que o homem começasse a poluir seu domo cósmico. Por isso, embora as probabilidades matemáticas sejam de que existam pelo menos 300 mil planetas como o nosso, com condições de existência de vida, os cientistas, com os dados que dispõem, duvidam disso. Acreditam que esse dom misterioso e maravilhoso possa existir aqui e tão somente aqui. Claro que essa informação ninguém jamais irá saber com certeza. Mas pela raridade da combinação gasosa da atmosfera, isto é o mais provável. Mesmo assim, o homem, que tem o dom de discernir acerca de tudo o rodeia, não se deu conta, ainda, da fragilidade desse produto, absolutamente vital, que denominou de “ar”. E polui, polui e polui a atmosfera, pondo em risco sua própria sobrevivência. Que insensatez!

Impossível regresso


Pedro J. Bondaczuk

A profilaxia de um dia normal da nossa vida, para expurgar da mente o mau-humor, o desânimo, o medo do fracasso e a tristeza, deve começar logo ao despertar. A primeira atitude sadia que devemos tomar é a de agradecer a Deus pelo privilégio de estarmos vivos. O segundo passo é o de cumprimentar quem cruzar em nosso caminho – cônjuge, filhos, empregada, vizinho ou um mero desconhecido – com amabilidade e um sorriso espontâneo nos lábios. O terceiro, é mentalizar que seremos bem-sucedidos em tudo o que tivermos de fazer, principalmente as coisas difíceis e os relacionamentos complicados.
Charles Baudelaire afirmou que “existem manhãs em que abrimos a janela e temos a impressão de que o dia nos está esperando”. Eu diria que todo amanhecer é um convite da vida para que a usufruamos com plenitude. O bom-humor pode não resolver todos nossos problemas (às vezes não resolve nenhum), mas evita, pelo menos, que eles se agravem. Por isso, sempre vale a pena.
A amabilidade, por seu turno, cria uma predisposição, nas pessoas com que nos relacionamos, ou com as quais, eventualmente, venhamos a cruzar, positiva, favorável ou, na pior das hipóteses, neutra. Não podemos esperar boa-vontade de quem tratamos com arrogância, desprezo ou pouco-caso, nem dos que encaramos carrancudos, como se o mundo tivesse alguma coisa a ver com os nossos problemas e frustrações. Às vezes, até tem, mas não será dessa forma que conseguiremos ajuda para sairmos de pequenas ou de enormes enrascadas, não importa.
Finalmente, se encararmos a vida com hostilidade, ela, de fato, nos será hostil. Aliás, nem é necessário que a encaremos dessa maneira para toparmos com obstáculos mil e dificuldades de toda a sorte em nosso caminho. Ela, por si só, já é complicada o suficiente, é um desafio permanente, um teste constante à nossa paciência e às nossas habilidades e convicções, sem que precisemos agravar ainda mais o seu grau de dificuldade.
Não será, contudo, com medos irracionais e com pessimismos prévios e despropositados que conseguiremos uma travessia suave, já não digo de anos, de décadas, de longos períodos, mas de um mísero e passageiro dia. Se iniciarmos uma tarefa, qualquer que seja, achando, no íntimo, que não seremos capazes de levar a cabo essa empreitada com competência e com sucesso, é melhor nem tentarmos realizá-la. O mesmo vale para relacionamentos de qualquer natureza. Será mera perda de tempo e de esforço.
Em geral, não valorizamos nossos dias, achando, inconscientemente, que teremos muitos e muitos outros pela frente para compensar os que forem desperdiçados. Até poderemos ter, mas de nada nos valerão se não soubermos o que fazer com eles. Vemos, a todo o momento, o cavalo das oportunidades passar selado à nossa frente, sem que o montemos e galopemos rumo ao sucesso e à satisfação pessoal de sermos úteis e produtivos. É possível que passem muitos outros e que montemos, em determinado momento, em um deles. O mais provável, contudo, é que o que passou seja o único, ou então o último. Para que arriscar?
Cada dia perdido é irrecuperável. Pode ser mais um, de muitos, na nossa vida, mas também tem possibilidades concretas de ser o derradeiro da nossa existência. Nunca saberemos. A volta ao passado é até possível, mas somente na ficção (há um filme famoso que trata disso) ou na memória. Ele não é mais um tempo de ação, mas somente de reflexão e de recordação. Cyro dos Anjos faz essa constatação, que coloca na boca de um personagem, no livro “Dois romances”, da seguinte maneira: “Inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo que já morreu e que, ai de nós, se nos tornou interdito, desde que deixou de existir, como presente, e se arremessou para trás”.
Da minha parte, sou mais incisivo que o excelente escritor mineiro, embora o que afirme não passe do “óbvio ululante” (como diria o saudoso Nelson Rodrigues): este é um regresso impossível! Daí a necessidade de encararmos cada dia, seja ele qual for, como se fosse único. Como se o prazo de nossas vidas fosse limitado a meras 24 horas, do nascimento à morte, passando pela infância, adolescência, maturidade, reprodução e justificação da nossa passagem pelo mundo, com uma obra sólida e inesquecível. Afinal, como afirmou, certa ocasião, William Faulkner, “o presente começou 10 mil anos atrás, mas o passado começou há um minuto”. Também retifico sua afirmação e asseguro que ele teve início há ínfima fração infinitesimal de segundo. Aliás, nunca pára de começar!

Tuesday, April 17, 2007

REFLEXÃO DO DIA


Jorge Luís Borges escreveu, em “O Aleph”, que “não há geração sem quatro homens retos, que secretamente sustentam o Universo e o justificam diante do Senhor. Um desses varões teria sido o juiz mais idôneo. Mas, onde encontrá-los, se andam perdidos e anônimos pelo mundo, e não se reconhecem quando se vêem, e nem eles mesmos sabem do alto ministério que cumprem?” Embora se trate de provocação intelectual, é um exagero dizer que há tão poucos justos. Nunca se sabe...A julgar pelo noticiário do dia-a-dia, até essa cifra torna-se questionável. Escândalos e acusações de suborno, de exploração da boa-fé alheia, de aberrações sexuais e de perversidade de toda a sorte desfilam nas manchetes. Onde estão os quatro justos desta geração? Estão por toda parte. Só o nosso pessimismo não permite que os vejamos. E não são apenas quatro. Talvez sejam 400, 4 mil, 400 mil, 4 milhões, 400 milhões!

Violência endêmica


Pedro J. Bondaczuk


A violência, em todas as suas formas e matizes, constitui-se numa das realidades mais duras, e no entanto mais presentes, com as quais as pessoas se confrontam no dia-a-dia. Registra-se nos lares, nas ruas das cidades, nas casas de espetáculo, nos campos de futebol, é inspiradora das artes e está presente em todos os atos humanos.
Ela acompanha o pretenso “Homo Sapiens” desde que este tomou consciência da sua existência e do mundo ao seu redor e cresce, na mesma proporção do crescimento populacional. Há momentos em que a violência se torna endêmica e atinge tamanha intensidade, fica tão generalizada, assume tamanhas dimensões, que deixa de sensibilizar até os mais sensíveis.
Cada qual passa a pensar apenas em si, buscando a segurança pessoal a qualquer custo (aliás, lícita), mas propondo, para isso, “soluções” violentas. A medida de civilização, no entanto, quer do indivíduo, quer da sociedade, é o grau de controle desse instinto básico, o tânico (em referência a Tanathos, a mitológica divindade da destruição), que todos possuímos.
Antes de sairmos à conquista do mundo, todos nós nos vemos confrontados com um desafio muito maior. Este é o autoconhecimento, com o conseqüente autodomínio. A cada crime mais chocante que freqüenta as manchetes dos meios de comunicação, ressurge, por exemplo, a pressão generalizada da sociedade para a implantação da pena de morte, como se esta resolvesse alguma coisa.
Contudo, não resolve. Não resolveu o problema da criminalidade em país algum em que existe. E jamais resolverá. Antes de ser solução, é nova complicação. O antídoto da violência não é mais violência, mas passa pela educação, em seu sentido lato.
Estas considerações vêm a propósito de recente conversa em roda de amigos, em que o tema foi levantado. Comentou-se, sobretudo, da necessidade ou não da construção de mais e mais presídios, em detrimento do investimento em novas escolas. Sabe-se que um preso custa à sociedade, em média, três vezes mais do que um aluno.
O que esperar, por exemplo, de indivíduos marginalizados pela sociedade, ferozes, revoltados contra tudo e contra todos, sem sensibilidade, ética ou moral, que perderam a noção do certo e do errado, confinados em jaulas, carregados de revolta, contrariando, inclusive, a natureza doutrinária das penas, que não é a da punição a quem delinqüe, de vingança do Estado contra o infrator, mas de reeducação? Mas hoje a cadeia educa? Só se for para a criminalidade.
Muitas pessoas que cometem pequenas infrações e são encarceradas, como bestas humanas absolutamente irrecuperáveis, saem do cárcere iguais aos que já estavam no cárcere. Ou seja, transformam-se em insensíveis e implacáveis predadores, revoltados com o mundo e com a humanidade, condicionados à perigosa idéia de que a força e a “esperteza” são seus únicos recursos de sobrevivência.
Ficam sem referenciais positivos e confundem violência com coragem, com destemor, com “macheza”. Invariavelmente, cumpridas suas penas, retornam para trás das grades, quando não terminam mortos em confrontos com a polícia ou com outros marginais.
O homem tem a tendência de realizar em sua vida as expectativas que as pessoas que o cercam têm dele. Se esperarem que seja um assaltante contumaz, um estuprador covarde ou um frio e insensível assassino, sem consideração pela integridade física, o patrimônio e a vida alheios, assim será.
Além disso, sofre inegável influência do meio em que convive. Se a sua realidade desde a infância for a violência, crescerá condicionado para ela. Será produto genuíno desse ambiente hostil, distorcido e aberrante. Achará normal, por exemplo, agredir o mais fraco, pois cresceu num lar onde muitas vezes o pai agia dessa maneira em relação a ele, aos irmãos e à mãe.
Apropriar-se de coisas que não lhe pertençam se constituirá em sinônimo de esperteza e não de delito, pois aprendeu, desde pequeno, a “se virar”. Verá no próximo um adversário, um inimigo, uma presa a abater, e não alguém que deva respeitar, amar e ajudar, já que nunca se sentiu respeitado ou amado e não se respeita e nem se gosta.
Isto independe de cultura ou da classe social de que provenha. Claro que as coisas não são tão simples e há muitos e muitos outros fatores em jogo. Vários deles, inclusive, são físicos, como desarranjos hormonais, problemas mentais etc. Mas o meio, a educação e as condições de vida vão determinar seu futuro.
Portanto, a solução verdadeira para a violência não passa pela construção de presídios, de maior ou menor segurança. E nem mesmo pelo endurecimento das leis. Seu caminho é o abandono do egoísmo, o que nos parece absolutamente utópico, principalmente nesta época em que as pessoas se mostram sem referenciais e cuja única ambição é consumir, consumir e consumir.
Valores penosamente construídos através de séculos são levados de roldão, numa permissividade bronca e suicida. A família nunca esteve tão frágil e em perigo quanto agora. E, caso não ocorra uma urgente revolução da racionalidade, os seres humanos tendem, mais cedo ou mais tarde, a se trucidarem, com armas nucleares, ou com as convencionais, ou com facas, ou com paus, ou com unhas e dentes...Lobo vai passar a comer lobo...