Tuesday, April 24, 2007

Triângulo das Bermudas - III


Pedro J. Bondaczuk

(Continuação)

Naufrágio de frota espanhola

Bem que Colombo tentou prevenir a esquadra do perigo iminente naqueles mares traiçoeiros. A uns dias os ventos vinham soprando do Oeste das Caraíbas, quando deveriam vir do Leste. Isso era um indicativo seguro de apenas uma coisa: da iminência de um furacão.

O navegador genovês bem que poderia passar ao largo da esquadra, comandada pela nau “El Dorado”, composta de 26 caravelas. Afinal, há dois anos Bobadilla mandara-o preso a ferros no porão de um navio, de regresso à Espanha, ficando com todas as glórias e vantagens materiais da descoberta do Novo Mundo.

Mas Colombo era, sobretudo, um marinheiro e preocupava-se com o destino de 800 lobos do mar, ameaçados pela fúria da natureza. Abordou o “El Dorado” e comunicou sua previsão ao arrogante Bobadilla, que simplesmente zombou de seu aviso. Apesar do almirante Torres ter mostrado preocupação, o governador aposentado da Ilha Hispaniola (onde hoje localizam-se o Haiti e a República Dominicana) convenceu-o de que tais ventos do Oeste seriam até benéficos. Fariam com que os navios chegassem mais depressa à Espanha.

Frise-se que apenas o “El Dorado” transportava tesouros em ouro e prata avaliados em US$ 2 milhões. E havia 25 outros navios abarrotados de riquezas. Mas Colombo tinha razão. Quando a esquadra chegou próxima a Porto Rico, foi colhida por uma tempestade como jamais marinheiro algum daquela frota tinha visto.

Chovia em sentido horizontal. O vento rasgava velas como se fossem de papel e rompia mastros com incrível facilidade. Os cascos quebraram-se como cascas de ovo, despejando toneladas de ouro no mar. Repentinamente, tudo se acalmou. Só o mar continuou agitado. Até o sol surgiu, brilhante e quente. Ondas gigantescas rolavam em direções opostas, chocando-se estrondosamente.

Metade da esquadra havia desaparecido. As caravelas restantes eram atiradas de um lado para outro, como frágeis cascas de nozes. De repente, sem qualquer aviso, o vento voltou mais furioso do que antes e do lado exatamente oposto de onde viera anteriormente. Uma sucessão de raios riscou os céus. Não se ouviam os trovões, contudo. O assobio do furacão os abafava.

A chuva caiu com tal intensidade, que os pingos de água arrancavam a tinta dos cascos dos barcos. Cabos arrebentados decapitavam pessoas e os marinheiros, aterrorizados, ajoelhavam-se nos navios pedindo clemência aos céus e morriam indefesos, esmagados pelos mastros que ruíam.

O vento era tão forte que arrancava os olhos das órbitas das pessoas, os jogando longe. Os marinheiros estavam nus. Suas roupas haviam sido estraçalhadas e feridas profundas eram feitas na carne. Muitos abriam a boca para gritar e só conseguiam cuspir sangue.

Ao final da tormenta, apenas cinco barcos haviam, milagrosamente, escapado do temporal. Vinte e um outros desapareceram sem deixar nenhum vestígio. Inclusive o “El Dorado”, com a sua preciosa mesa de ouro maciço de três mil arráteis. Esses seriam os primeiros desaparecimentos oficialmente registrados no “Triângulo do Diabo”. E um dos poucos desastres em que restaram testemunhas para narrar tudo o que aconteceu.

Em quase um milhar de outros tantos, ocorridos posteriormente, ninguém sobrou para explicar o motivo dos sumiços. E como o inexplicável aguça a imaginação, surgiram centenas de lendas envolvendo essa porção do Atlântico.

(Continua)

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