Pedro J. Bondaczuk
Os atos de verdadeiro heroísmo, no mundo contemporâneo, caracterizado pela massificação e por uma enorme ausência de solidariedade, são cada vez mais escassos. Todavia, vez por outra, chega à imprensa alguma informação acerca de atitudes realmente grandiosas, que merecem registro, pela raridade.
Uma dessas foi a do piloto de helicóptero soviético Anatoly Grischshenko, de 53 anos. Os autênticos heróis aparecem somente nos momentos de necessidade. Antes, não possuem nenhum sinal especial, não ostentam qualquer “estrela na testa” que os distingam dos demais mortais. Quando surge a ocasião, lá estão eles presentes, praticando atos de bravura autêntica em favor dos semelhantes. Não se perdem em valentias ou bravatas.
Foi o que aconteceu com Grischshenko. Quando em 26 de abril de 1986 o reator número quatro da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu e pegou fogo (por causa da realização de experiências, não-autorizadas, por parte de alguns funcionários), todos os que podiam escapar do local fizeram isso mais do que depressa.
O acidente foi o mais grave da história do uso pacífico da energia atômica. Uma nuvem de radiação mortal escapou da unidade acidentada e foi de tal porte que deu várias voltas no mundo. Mas alguém precisava fazer alguma coisa para impedir que a tragédia ganhasse proporções maiores. A unidade acidentava precisava, por exemplo, ser sepultada sob um túmulo de toneladas de concreto. Mas quem faria isso?
Grischshenko aceitou essa tarefa. Sabia o que estava arriscando. Tinha consciência dos efeitos da radiação sobre o organismo humano. Mas milhares, talvez milhões de pessoas estavam correndo esse mesmo risco, impotentes, se algo não fosse feito urgentemente.
O piloto soviético não titubeou em arriscar a vida, mesmo tendo família para cuidar. Pilotando um helicóptero, sobrevoou por várias vezes o reator em chamas, lançando toneladas de concreto sobre ele. Não tardou muito para que a conseqüência do seu ato corajoso se manifestasse.
Ele adquiriu dois tipos de leucemia, em geral fatais. Mesmo assim, não se entregou. Passou a lutar, desesperadamente, desta vez pela própria sobrevivência, com a mesma garra empenhada na tarefa de salvar os outros.
Em abril de 1990, o piloto foi internado no Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson, em Seattle, no Estado norte-americano de Washington. Passou por dois transplantes de medula e quando parecia que iria se recuperar, foi acometido por fungos nos pulmões.
Resistiu, bravamente, mediante um respirador artificial, por 14 dias, quando normalmente qualquer pessoa morreria em dois. Em 2 de julho de 1990, finalmente, este raro herói contemporâneo morreu. Deixou o mundo com a mesma bravura com que viveu. Que possa descansar em paz, ciente de que sobreviverá na memória dos que salvou.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 4 de julho de 1990).
Os atos de verdadeiro heroísmo, no mundo contemporâneo, caracterizado pela massificação e por uma enorme ausência de solidariedade, são cada vez mais escassos. Todavia, vez por outra, chega à imprensa alguma informação acerca de atitudes realmente grandiosas, que merecem registro, pela raridade.
Uma dessas foi a do piloto de helicóptero soviético Anatoly Grischshenko, de 53 anos. Os autênticos heróis aparecem somente nos momentos de necessidade. Antes, não possuem nenhum sinal especial, não ostentam qualquer “estrela na testa” que os distingam dos demais mortais. Quando surge a ocasião, lá estão eles presentes, praticando atos de bravura autêntica em favor dos semelhantes. Não se perdem em valentias ou bravatas.
Foi o que aconteceu com Grischshenko. Quando em 26 de abril de 1986 o reator número quatro da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu e pegou fogo (por causa da realização de experiências, não-autorizadas, por parte de alguns funcionários), todos os que podiam escapar do local fizeram isso mais do que depressa.
O acidente foi o mais grave da história do uso pacífico da energia atômica. Uma nuvem de radiação mortal escapou da unidade acidentada e foi de tal porte que deu várias voltas no mundo. Mas alguém precisava fazer alguma coisa para impedir que a tragédia ganhasse proporções maiores. A unidade acidentava precisava, por exemplo, ser sepultada sob um túmulo de toneladas de concreto. Mas quem faria isso?
Grischshenko aceitou essa tarefa. Sabia o que estava arriscando. Tinha consciência dos efeitos da radiação sobre o organismo humano. Mas milhares, talvez milhões de pessoas estavam correndo esse mesmo risco, impotentes, se algo não fosse feito urgentemente.
O piloto soviético não titubeou em arriscar a vida, mesmo tendo família para cuidar. Pilotando um helicóptero, sobrevoou por várias vezes o reator em chamas, lançando toneladas de concreto sobre ele. Não tardou muito para que a conseqüência do seu ato corajoso se manifestasse.
Ele adquiriu dois tipos de leucemia, em geral fatais. Mesmo assim, não se entregou. Passou a lutar, desesperadamente, desta vez pela própria sobrevivência, com a mesma garra empenhada na tarefa de salvar os outros.
Em abril de 1990, o piloto foi internado no Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson, em Seattle, no Estado norte-americano de Washington. Passou por dois transplantes de medula e quando parecia que iria se recuperar, foi acometido por fungos nos pulmões.
Resistiu, bravamente, mediante um respirador artificial, por 14 dias, quando normalmente qualquer pessoa morreria em dois. Em 2 de julho de 1990, finalmente, este raro herói contemporâneo morreu. Deixou o mundo com a mesma bravura com que viveu. Que possa descansar em paz, ciente de que sobreviverá na memória dos que salvou.
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 4 de julho de 1990).
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